sábado, 27 de outubro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 51


1996.02.02     -     O DIA SEGUINTE (A LINHA DO OESTE)

                O SIT – Sociedade de Instrução Tavaredense levou à cena no passado dia 27 de Janeiro a peça “O dia seguinte” de Luís Francisco Rebelo.
                Nesta peça, que constitui um hino de incitamento à vida, um jovem casal flagelado pelas agruras da vida – o desemprego, o abandono, as dificuldades económicas – sucumbe e opta pelo suicidio. Tendo escolhido pelo “Direito à Morte” o casal é julgado por ter desistido da vida. Convencidos de que o seu futuro poderia ser diferente daquele que então vislumbravam, querem voltar à vida. O Juiz dita então a sua sentença: impossível, só se vive uma vez.
                Embora a sustentação da idea que a peça defende seja frágil, o texto é de inegável qualidade literária. Com um elenco razoável para amadores destacam-se as interpretações de João José Silva e José Lopes Medina; seguros, sabem enfatizar no tom e nos gestos o seu papel. Rosa Paz exagerou no pendor declamativo com que diz o papel e interioriza de forma mecânica os sentimentos da sua personagem.
                A luz e o som, sóbrios, bastam ao desenrolar da cena. A cenografia extravasa o essencial criando referências no espaço cénico que não têm qualquer uso – um banco de jardim, uma árvore, dois candeeiros.
                O SIT continua a ser uma referência para o teatro no concelho, quanto mais não seja pela frequência com que encena e monta espectáculos. O público tavaredense é generoso para com o seu grupo, que bem merece o carinho que lhe dispensam.

1996.09.20     -     JOSÉ DA SILVA RIBEIRO (O FIGUEIRENSE)

                E José da Silva Ribeiro regressou a Tavarede na noite do passado sábado, tendo conseguido o milagre, cada vez mais inviável de concretizar, de esgotar a lotação possível da SIT, de tal forma que o nosso jornal (que se esquecera de marcar bilhete) passou a noite sentado (e bem) numa cadeira solta que, por simpatia da casa, conseguiu encostar a uma das paredes laterais da sala de espectáculos.
                Que bom seria que da próxima ida a Tavarede nos sucedesse o mesmo!
                Como referimos da última edição de “O Figueirense”, no passado dia 13, sexta-feira, completavam-se dez anos sobre o falecimento de Mestre José da Silva Ribeiro, tavaredense que acreditamos ser o mais ilustre que a terra, dita do limonete, viu nascer.
                Dele não iremos ora traçar o bilhete de identidade de nobre cidadão, até porque, também no último jornal, o fez já – e com brilho – o dr. Pires de Azevedo.
                Apenas recordamos hoje que José da Silva Ribeiro tinha na Sociedade de Instrução Tavaredense o seu segundo lar, e que  sua gente (palavra para ele tão querida) era toda aquela que com ele criava e irradiava cultura através do Teatro, no palco e na plateia.
                Pois bem, a sua gente, mesmo alguma que nunca viu o Mestre, marcou de forma extraordináriamente digna a saudade de 10 anos.
                E como o fez?
                Criando e divulgando cultura através do Teatro – tal como desde 1916 o fez Mestre José Ribeiro -.
                Pelas tábuas da SIT, num fim de semana super cultural, passaram os amadores de teatro da Chã. de Carritos e de Tavarede, prova provada que as sementes lançadas pelo homenageado, ao largo de uma vida, continuam  frutificar em agradável crescendo de vitalidade.
                Assistiu o O Figueirense ao sarau inaugural deste ciclo de teatro e algumas notas, retiradas com certa emoção, terão certamente mais peso neste despretencioso apontamento de reportagem.
                E a primeira radica-se, desde logo, no facto da SIT não ter deixado passar em claro em evento que seria criminoso esquecer. Assinalou-o agregando à festa da gratidão mais duas colectividades teatrais da freguesia, numa divisão de honras que enobrece a SIT e, particularmente, a figura do evocado.
                Depois, já o escrevemos, não nos recordamos, mesmo olhando anos para trás, de encontrar na SIT uma casa tão repleta e tão participativa, verdadeiro oásis na desertificação que consome os campos da cultura.
                Depois ainda, - reconfortante e esperançosa realidade – as nossas palmas ecoaram mais forte quando olhavamos para a quantidade de gente jovem – e talentosa – que os responsáveis da SIT tiveram a magia de apresentar em palco.
                Como Zé Ribeiro se sentiria feliz se pudesse (será que não pôde?!) aplaudir esta sua “nova gente”!
                Sem juventude não há futuro e de tal se aperceberam, até pedagogicamente, os continuadores do Mestre.
                Uma palavra mais para os minutos “sofridos” pela plateia na primeira parte desta noite de evocação, quando em ecrã gigante se projectou parte de um filme no qual a personagem é o próprio José Ribeiro, falando de si, do Teatro, d SIT e “da minha gente”.
                O silêncio na sala durante a projecção da películo e a bombástica ovação final... para bom entendedor.
                Mas, e o espectáculo?
                Lembranças, de seu nome, ele é corporizado por um conjunto de curtas e variadas representações a que o Mestre em vida deu vida e que agora em palco (re)vivem com “gente velha e gente nova”, gente discípula directa do Mestre e gente (repetimos intencionalmente o termo) que José Rinbeiro gostaria de ensinar.
                Também intencionalmente não falamos em nomes, pois tal não desejariam os amadores envolvidos nesta homenagem.
                Pensamos, finalmente, que este magnífico espectáculo, mesmo desatempadamente inserido na data que lhe deu razão de existir, necessitava de ser aplaudido uma outra vez, até porque certamente na SIT não esteve toda a “minha gente” de Zé Ribeiro.

1997.01.24     -     LEMBRANÇAS (A LINHA DO OESTE)

                A peça “Lembranças”, encenada por Ana Maria Caetano, foi primeiro representada por altura do décimo aniversário sobre a morte de José Ribeiro.
Pressionada pela população, o grupo cénico da SIT (Sociedade de Instrução Tavaredense) decidiu repetir esta peça, que teve imenso sucesso em Setembro, nesta altura em que a SIT celebra mais um aniversário.
A peça “Lembranças” é apenas e simplesmente uma compilação de textos escritos por José Ribeiro, encenador desde 1916. Um homem que marcou profundamente a mentalidade das pessoas e que foi o “professor” da actual encenadora do grupo de teatro, Ana Maria Caetano.

1998.01.28     -     A FORJA (A LINHA DO OESTE)

                A SIT estreou no passado dia 24 uma reposição de uma peça já levada à cena em 1971. Trata-se de “A forja” de Alves Redol que naquele ano foi encenada por Mestre José Ribeiro, tendo como personagem principal a também conhecida Violinda Medina.
                Vinte e sete anos depois o papel masculino foi novamente interpretado pelo mesmo actor, João Medina, que cumpre agora 50 anos de palco. O papel que então pertenceu a Violinda foi desta feita defendido por Ilda Simões.
                Fazendo jus ao nome da peça, ficou bem patente, pelo trabalho apresentado, que a forja da SIT continua em boa actividade. Assim assistimos a três estreias absolutas: Ilda Simões na encenação e os jovens actores Miguel Louro e Pedro Louro, este último com apenas 11 anos e já integrante do teatro infantil da SIT, que se mostraram seguros e bem dirigidos. Dos outros actores vimos interpretações equilibradas, à imagem da tradição da colectividade.
                Este trabalho revestiu-se de várias dificuldades tendo sido a encenação prejudicada pela falta de meios que obrigou os responsáveis da SIT a utilizar o mesmo dispositivo cénico de há 27 anos atrás, suavizada embora pela utilização de outras técnicas, na altura inexistentes: a luz e o som.
                Na interpretação, João Medina esteve bem a altura dos seus 50 anos de palco e Ilda Simões também com uma boa interpretação, ensombrada a espaços com momentos menos seguros, irregularidade essa que poderá ter explicação no facto de também acumular a responsabilidade da encenação.
                Ressalvando esta reposição, que não deixa de ser interessante por isso mesmo, teme-se que a SIT venha a perder o ensejo de alguma inovação e “ar fresco”, na escolha de textos mais actualizados e interventivos.
                De qualquer maneira um trabalho “limpo”, na linha da colectividade de José Ribeiro. Valeu pelos novos actores e por uma oportunidade de revermos o talentoso João Medina.

1998.02.05     -     A FORJA (O DEVER)

                Com a peça de Alves Redol reposta em cena vinte e seis anos depois da sua estreia em Tavarede, encerrou com chave de ouro a Sociedade de Instrução Tavaredense as comemorações do seu 94º aniversário.
                Fazendo jus à celebrada escola de Mestre José Ribeiro que fez de Tavarede a capital do Teatro Amador, a representação de A Forja constituiu mais um êxito, saudado com rasgados aplausos dos muitos assistentes.
                Certamente que Alves Redol, o escritor que tirava da “tragédia de vida” o enredo para as suas obras, se reveria na representação memorável de João Medina, o Pai que, tiranizado pela revolta duma prepotência cometida sobre os bens familiares, transportou para a sua nova família o estigma dessa afronta onde a esposa (outro excepcional desempenho de Ilda Simões e os filhos não passavam de simples peças daquele xadrez de sobrevivência que nem a iminência de mortes fazia vergar.
                Com João José Silva e António Silva a incarnarem os papéis de filhos na oposição à visão doentia de pseudo-dignidade do pai, activamente, o primeiro, ao optar pelo “salto” à forja e mais passivamente, o segundo, ao resignar-se ao jugo da dureza do trabalho e do tratamento que já matara o irmão Miguel (representado com segurança por Miguel Lontro), também a Mãe soube mostrar  quanto vale a razão e o direito ao defender o filho mais novo (promissora estreia de Pedro Louro) das garras daquela “forja assassina” para onde o pai o empurrava em detrimento da Escola.
                Com Manuela Mendes (vizinha) a mostrar naturalidade e a Morte (Rosa Paz) a desempenhar “condignamente” o papel de diabo, não há dúvida que merece o maior realce o trabalho de encenação (Ilda Simões) sem esquecer a quota-parte que tiveram no brilho do espectáculo José Maltez e Jorge Monteiro Sousa (montagem de cenários), Nuno Pinto e José Miguel Lontro (luz e som), Otília Cordeiro (ponto), João Pedro Monteiro (contra-regra e o coro (Alice Mendes, Susana Neves, Cristina Almeida e Vanda Oliveira).
                “Cátedra” de tão grande lição, aquele “palco da vida” passou a mensagem esperançosa de Alves Redol na medida em que, ao exaltar com tanta realidade o dom da vida, não deixou de realçar o peso dum ambiente familiar onde  diálogo aberto constitui obstáculo à prepotência doentia de “forjas” humanas, mensagem que humedeceu os olhos e contraíu corações.
                Fazer calar tantas vocações seria um atentado ao nome prestigiado daquela casa, uma afronta à memória de José da Silva Ribeiro, um crime de lesa Cultura.
                Que ninguém deixe fechar “aquela forja” do nosso Teatro Amador!

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 27






João Carlos Emílio Vicente Francisco de Almada Quadros de Sousa Lencastre Fonseca Saldanha e Albuquerque

3º. Conde de Tavarede


            Querendo perpetuar a memória dos bons serviços prestados ao país pelo Conde de Tavarede, Francisco de Almada Quadros Sousa e Lencastre, Par do Reino e Governador Civil do Distrito da Lisboa, que acaba de falecer, e daqueles com que seus maiores já se haviam assinalado e distinguido com proveito do Estado, e atendendo a que João Carlos Emílio Vicente Francisco de Almada Quadros Sousa Lencastre Fonseca Saldanha e Albuquerque é o filho primogénito do referido Conde e neto do Duque de Saldanha, presidente do Conselho de Ministros e marechal em chefe do Exército; por estes respeitos e por esperar que, imitando os exemplos de honra e lealdade de quem descende, procurará tornar-se benemérito da Pátria, hei por bem, em nome de El-Rei, fazer-lhe mercê de o elevar a Grandeza destes reinos com o mesmo título de Conde de Tavarede em sua vida.

            Tem este decreto a data de 26 de Novembro de 1853, dia imediato à morte de seu pai. João Carlos Emílio nascera no dia 15 de Abril de 1849, em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel, onde seus pais residiam. Fez os seus primeiros estudos no Colégio Francês de S. Luís e, depois de ter prosseguido os estudos no Funchal, para onde fôra sua mãe com o seu padrasto, e em Lisboa, no Liceu Nacional, matriculou-se no Curso Superior de Letras, no qual se licenciou.

            Fidalgo da Casa Real, foi igualmente comendador das Ordens de Nossa Senhora de Vila Viçosa e de Carlos III, de Espanha. Nos anos 60 do século XIX, foi secretário particular de seu avô, o Duque de Saldanha, e foi nomeado governador civil do distrito da Guarda em 1870, cargo que exerceu até Fevereiro do ano seguinte.

            Por morte de seu avô, o 1º. Conde de Tavarede, no ano de 1861, sucedeu-lhe no senhorio da Casa de Tavarede. Em 1872, depois de abolídos todos os vínculos, os bens pertencentes à Casa de Tavarede foram avaliados em 6 400 000 reis, tendo também recebido de herança os seguintes bens: Palácio e quinta do Grilo, quinta da Ameixoeira e foro da quinta do Castelo Picão, no concelho dos Olivais; um prazo, em Santarém; um prazo, em Lisboa; um prazo, em Arruda dos Vinhos; um prazo, no Cartaxo; foros em Santarém, Torres Vedras e Mafra; um maninho chamado Malheiros, em Alcácer do Sal; foros diversos no morgado de Moura, Serpa e Beja; herdade do Monte do Gato, em Évora; e diversos foros em Serpa (caderno IX, do Dr. Mesquita de Figueiredo).

            O Conde de Tavarede viveu em Lisboa até finais do ano de 1869, passando, depois, a residir em Trancoso, embora fizesse vários períodos em Tavarede e na capital.

            No dia 26 de Novembro de 1869 casou com D. Maria da Piedade Lodi, nascida em Lisboa a 27 de Fevereiro de 1847, que era filha do Anselmo Lodi e de D. Senhorinha Leite Lodi. Enviuvou de D. Maria da Piedade em 22 de Outubro de 1870, menos de um ano após o casamento. Foi sepultada em Trancoso, por sua vontade em campa rasa, ficando ali conhecida como Santa Condessinha, pela sua misericórdia e que por muitos anos ficou na memória dos trancosenses.

            A 7 de Janeiro de 1875, o Conde de Tavarede casou novamente, com D. Maria Justina Ribeiro de Melo, filha de João Ribeiro Álvares de Melo, comendador da Ordem de Cristo e escrivão do Direito, em Trancoso, e de D. Maria Joana Augusta de Almeida e Sousa. O casamento teve lugar na capela do seu solar em Trancoso.

            Foi membro de uma comissão promotora do ensino primário e presidente da Escola Popular. Também foi membro do Conselho Municipal e presidente da Câmara de Trancoso. No ano de 1883, o Conde de Tavarede resolveu ausentar-se, com a família, de Trancoso, vindo residir para a nossa terra, para o seu solar, onde mandou fazer grandes alterações. O estilo das obras realizadas é o mesmo que se encontra em finais do século XIX, por exemplo em Sintra. Trata-se de um estilo sem grandes regras, essencialmente imitador do manuelino mas sem a grandeza e carácter deste.

sábado, 20 de outubro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 50


1993.04.02     -     DIA MUNDIAL DO TEATRO (O FIGUEIRENSE)

                E Tavarede não esqueceu que 27 de Março é o Dia Mundial do Teatro, efeméride que no nosso concelho, e ao que até neste momento sabemos, apenas foi assinalada, com uma representação, na catedral do Teatro Amador, vulgo Sociedade de Instrução Tavaredense.
                Mas a primeira nota agradável desta noite de Teatro talvez se possa situar na feliz circunstância da sala da SIT haver esgotado a sua capacidade de acolhimento, com alguns dos espectadores, de pé, nos corredores laterais da plateia, numa demonstração de que o Teatro tavaredense continua bem vivo, de que José Ribeiro também foi mestre na arte de cultivar continuadores, como confirmado ficou pela qualidade de encenação e representação da peça apresentada.
                Mas antes que o pano subisse, a presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense, drª Ilda Manuela Simões, surgiu em palco para explicar a razão daquela noite de Teatro, dedicada acima de tudo aos amadores dos diversos grupos cénicos do concelho, que haviam aceite o convite para estarem presentes.
                A drª Ilda Manuela relembrou também João José da Costa, um presidente da Câmara (1862/1863 e 1864/65) que havia procedido à remodelação da Casa do Terreiro (local onde nos encontramos, disse), fazendo dela uma sala pra Teatro.
                Mas hoje a SIT, embora lutando com dificuldades naturalmente económicas (e daí o seu apelo à Câmara e à Secretaria de Estado da Cultura) continua a representar, pois tem gente, quer “não visível”, que para além da cena tudo executa para que aconteça Teatro, quer gente que no palco “dá a cara”, para posteriormente chamar Jorge Monteiro de Sousa, um homem que faz mexer os cenários desde há longos anos, e João Medina, um amador que há 45 anos serve o Teatro.
                Ambos foram homenageados, tanto pela SIT, como pela assistência que lhes rendeu fortes aplausos. Eles simbolizam bem o espírito do Teatro Amador Tavaredense.
                Contudo os momentos altos deste serão cultural na Sociedade de Instrução Tavaredense não se quedaram por aqui, antes que “Támar” pisasse as tábuas.
                A drª Ana Maria, responsável pelas actividades cénicas da SIT, leu a mensagem, momentos antes recebida via fax (?!), referente ao Dia Mundial do Teatro.
                E ao proscénio seri ainda chamado o dr. António Gomes Marques, da Secretaria de Estado da Cultura, um homem a Tavarede ligado por elos afectivos e familiares, e de Teatro desde há muito amador.
                Com arte no gesto e com dom no lançar da palavra, o orador ofereceu à atenta plateia uma ponderada e pedagógica motivação para que sobre o próprio Teatro se reflectisse, advogando com alma e com razão um movimento que leve a que o Teatro seja uma realidade na Escola.
                E se, como transcreveu, “para fazer Teatro basta a matéria humana”, à Sociedade de Instrução Tavaredense nada falta para continuar a pontuar como santuário concelhio (só concelhio?) do Teatro, dado que “a matéria humana”, muita dela novata nestas andanças, se definiu, na peça de Alfredo Cortez, como de primeira água, digna continuadora da escola de José Ribeiro-
                “Tamar” é a representação que a SIT vai levar às Jornadas de Teatro Amador; “Támar” é a peça que o público concelhio amador do Teatro não pode deixar de aplaudir, caso não queira cometer um pecado cultural.

1994.01.14     -     SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE (O FIGUEIRENSE)

                Considerada por muitos como a catedral do teatro amador do nosso concelho, a Sociedade de Instrução Tavaredense está a comemorar noventa anos de existência brilhante, sendo unanimemente realçada a sua acção dentro do movimento associativo, a influência pedagógica que, ao longo dos anos, tem positivamente exercido dentro da sua comunidade e, a sua faceta culturalmente mais válida, o trabalho que desde sempre desenvolveu em prol do Teatro.
                E hoje a SIT, neste seu ciclo “post José Ribeiro”, soube continuar a lição do Mestre, para nos voltar a surgir com uma pujança e validade que certos “velhos do Restelo” talvez ousassem arquivar na descrença.
                Bastaria atentar no programa comemorativo deste aniversário para se ter a certeza de que o concelho da Figueira pode continuar a orgulhar-se deste colectividade, que, numa renovada leitura e interpretação dos desejos dos tavaredenses, não busca apenas no Teatro corresponder às solicitações dos seus associados.
                Amanhã, vai assinalar-se a Grande Noite do Teatro, com a estreia da peça de Sigfredo Gordon “Omara”, numa tradução de José Ribeiro.
                Em Omara, peça de premente realismo, o autor oferece-nos o drama de uma mãe que ama o seu filho com tão excessivo e doentio ardor, que não se resigna ao perdê-lo quando descobre que ele tem uma noiva.
                O Figueirense assistiu a um dos ensaios e atreve-se, pelo que constatou, a recomendar uma ida até à SIT, onde “Omara” vos espera.
                No domingo, para além da clássica alvorada e visita aos sócios, a cargo da Tuna de Tavarede, outro momento alto se regista: a sessão solene, às 16,00 horas, na qual o Professor Oliveira Barata, um estudioso do Teatro, será o orador oficial.
                E “Omara” voltará ao palco nos dias 22 e 29 deste mês, enquanto que na tarde do dia 23, domingo, decorrerá um espectáculo a cargo do Grupo Típico do Sport Clube de Lavos e da sua Escola de Música.
                Ainda a destacar, na tal renovada leitura solicitações dos tavaredenses, a inauguração, pelas 15,30 horas do dia 30, do Pavilhão Gimnodesportivo, um espaço de que Tavarede – em particular a sua juventude – necessitava.
                Parabéns, pois, Sociedade de Instrução Tavaredense, na pessoa da sua Presidente, já reconduzida – e bem, para mais um mandato.

1994.01.2     -      O TEATRO EM TAVAREDE (O FIGUEIRENSE)

                Há trinta anos vivia eu a cerca de seis léguas da Figueira, mas chegavam ali ecos da actividade teatral em Tavarede...
                Amado, de nome, e amador de uns tantos ofícios em minha vida, houve uma altura em que me deu, também, para ensaiar uns “teatros”. Preparação específica não tinha, pelo que tive de estudar umas coisitas, aproximar-me de entendidos nestas áreas e... avançar!
                Sei que um dos primeiros passos que foi na direcção da terra do limonete. E aí vinha eu, com os homens do clube lá da terra (os quais pouco mais tinham em seus horizontes que uns bailes de vez em quando...), até à capital do Teatro, que era, na altura, muito justamente, e continua hoje a ser, a freguesia de Tavarede.
                Figura emblemática de todas estas andanças era a pessoa de José da Silva Ribeiro com quem tive o privilégio de contactar por diversas vezes; em algumas delas recebi preciosos ensinamentos e prestimosa colaboração na cedência de adereços e cenários diversos.
                Os anos iam passando, a minha situação sócio-profissional haveria de ser também alterada, até que... não sei por que bula, vim a cair, de novo, por onde havia começado a minha vida prática – a Figueira da Foz.
                Uma vez aqui, e desde há uma dezena de anos, mais e mais venho admirando Tavarede, quero dizer, todo o interesse e carinho que as suas gentes vêm manifestando pela arte de Talma. Faleceu, entretanto, o grande mestre, mas a escola por ele criada continua, em ritmo apreciável e agora mais adulta, porque liberta, também, de um certo trauma de orfandade por que, naturalmente, passou.
                A peça presentemente ali em cena não desmerece, em nada, quantas ali já tive oportunidade de presenciar. Da autoria de um notável escritor mexicano, numa tradução de José Ribeiro, o seu desempenho foi confiado a verdadeiros artistas na arte de pisar o palco. Curioso que nela figuram elementos que entraram na primeira representação, já lá vão 28 anos, ainda que, agora, vestindo outras peles (caso de João Medina, ora o dr. Ayala, e, na altura, o jardineiro Tobias).
                Como figura central, desta vez, a drª Ilda Manuela Simões, com a gana que se lhe conhece, em substituição da imortal Violinda Medina. Arrogante e altiva no seu orgulho solitário, sempre pronta a enfrentar as lutas, “Omara” foi muito bem interpretada(?) por Ilda Manuela. Despeitada e roída de ciúmes, deixa-se, no entanto, vencer, no final, ao “entregar-se” no caso que a atormentava devido ao patológico e possessivo sentimento que nutria pelo filho, quando este pretendeu amar uma mulher, à qual “Omara” apenas vaticinava pureza, candura, virgindade...
                Teatro de primeira água, também desta vez, em Tavarede.

1994.11.25     -     PARABÉNS, JOSÉ RIBEIRO (O FIGUEIRENSE)

                E Tavarede cantou os parabéns a José da Silva Ribeiro no dia em que o Mestre atingiu, no coração e na memória dos seus inúmeros amigos, os cem anos de vida.
                Pouco a pouco, no findar da tarde do passado dia 18, a sede da Sociedade de Instrução Tavaredense foi-se tornando pequena para acolher as pessoas que, vindas de tantos sítios, juntaram sentimentos, de saudade, é verdade, mas também de um certo orgulho por puderem testemunhar ao Amigo, apenas fisicamente ausente, algo do muito que dele haviam recebido, e que agora tinham sentida ocasião em retribuir.
                E a todos não passou ao lado a significativa presença da Tuna de Tavarede, também ela uma página patrimonial da vila, que com os seus acordes de outrora, nos conduziu ao salão de Teatro, local privilegiado para se viver José Ribeiro.
                Em palco, em sessão solene presidida pelo engº Aguiar de Carvalho, tomaram lugar um sem número de entidades, e também mais uma dezena de estandartes oriundos de colectividades do concelho.
                Caberiam à drª Ilda Manuela as palavras iniciais, e desde logo o lamento por as comemorações ficarem aquém do desejado, mas, como disse “a Cultura custa dinheiro e a SIT não o possui”, acrescentando, como exemplo, que a aluguer do guarda-roupa da representação teatral dessa noite custara duzentos contos!
                Mesmo assim,  presidente da SIT agradeceu as várias boas vontades os apoios recebidos, dos quais destacou o da Secretaria de Estado da Cultura.
                Lidas as cartas recebidas relacionadas com esta comemoração, escutou-se uma composição poética de Isaura Morais, para de imediato a drª Ana Maria, hoje responsável pela continuidade do Teatro em Tavarede, dissertar, emocionada, sobre a sua vivência com José Ribeiro, que  acompanhou “do Jardim Escola à Universidade”.
                Depoimento quase sempre transmitido de lágrimas nos olhos, e no qual agradeceria ao homenageado tudo o que por ela havia feito.
                De realçar a mensagem recebida e lida, que o Grande Oriente Lusitano remeteu, enaltecendo o “irmão republicano”, o seu empenhamento na Maçonaria, a luta pelos valores em que acreditava, o ilustre maçon continuador dos ideais de Manuel Fernandes Tomás, João de Barros, Joaquim de Carvalho e Manuel Gaspar de Lemos, também eles membros da Maçonaria Figueirense.
                António Simões Baltazar trouxe a mensagem da Junta de Freguesia de Tavarede, a expressão do reconhecimento “oficial” de Tavarede a Mestre José Ribeiro, realçando ainda o trabalho dos Lions e dos Rotários na exaltação do homenageado.
                E justo é assinalar a publicação que o Lions Clube da Figueira da Foz executou biografando José Ribeiro, num texto de Jorge Traqueia Bracourt, sendo a mesma distribuida durante a sessão solene.
                Ainda, como oradores, registamos a exposição do dr. Deolindo Pessoa, dele destacando a sugestão, como melhor forma de homenagear José Ribeiro, da criação de um Instituto de Teatro com o seu nome.
                Da Secretaria de Estado da Cultura, pela voz do Dr. Pedro Abreu, chegou a pública homenagem “a esse grande vulto da cultura figueirense” e igualmente “à agremiação que durante sete décadas teve o privilégio de o contar como o seu maior”.
                A sessão terminaria com a intervenção do presidente da Câmara, no preito do concelho ao grande tavaredense.
                Após a sessão solene, fechada com o hino da colectividade executado pela Tuna, foi descerrada, por D. Guilhermina Ribeiro, irmã de José Ribeiro, uma placa assinaladora da efeméride.
                Ainda na SIT procedeu-se à inauguração de uma valiosa exposição de cenários de teatro, algo de importante a merecer uma visita.
                Com uma lotação esgotada, a SIT assistiu, na noite do dia 18, ao regresso, às tábuas do seu palco, de Mestre José Ribeiro, sempre presente mercê de uma feliz encenação, que transportou para o palco objectos do Mestre, como a sua secretária, a sua cadeira, o seu candeeiro... o seu lugar de trabalho. Depois, bastaria um pouco de imaginação.
                E essa não faltou aos que conceberam esta represeentação, estas “Palavras de Uma Vida”, baseada em textos retirados do diário do homenageado, de passagens de algumas cartas, de peças que o Mestre levou à cema.
                Depois de tudo o que vivemos no dia 18,... Tavarede cantou os parabéns a José da Silva Ribeiro.

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 26


Francisco de Almada e Quadros Sousa de Lencastre

2º. Barão e 2º. Conde de Tavarede

            Nasceu em Trancoso a 6 de Março de 1818, filho de João de Almada Quadros de Sousa Lencastre de D. Maria Emília da Fonseca Pinto de Albuquerque. Foi nomeado 2º. Barão de Tavarede por decreto de 23 de Setembro de 1846 e Conde de Tavarede, por decreto de 23 de Março de 1848.

            Foi conselheiro do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, moço fidalgo da Casa Real, par do Reino, comendador da Ordem de Cristo, governador civil do distrito de Lisboa, exercendo, ainda, outros cargos públicos. Casou, a 25 de Maio de 1848, com D. Eugénia de Saldanha de Oliveira e Daun, filha do primeiro Duque de Saldanha, João Carlos de Saldanha de Oliveira e Daun e de D. Maria Teresa de Horan Fitzgerald. A futura Baronesa e Condessa de Tavarede era dama de honor da rainha e pertencia às Ordens de Damas Nobres de Maria Luísa, de Espanha, e de S. Carlos, do México.

            Deste casamento nasceram dois filhos, um casal, João Carlos Emílio Vicente Francisco de Almada Quadros Sousa Lencastre de Saldanha e Albuquerque e D. Maria Teresa Emília de Almada Quadros Sousa Lencastre Fonseca de Saldanha e Albuquerque, mais tarde Condessa do Prado da Selva.

            Francisco de Almada e Quadros faleceu no dia 25 de Novembro de 1853, apenas com 35 anos de idade. Sua viúva, cerca de ano e meio após a sua morte, casou em segundas núpcias com o Conde de Farrobo, Joaquim Pedro Quintela.

            Pouco saudável, passou toda a sua meninice em Trancoso. De carácter romântico dedicou o seu muito tempo livre a escrever poesia e aprendeu música, tocando rabeca. Tinha, contudo, posição privilegiada naquela terra, interessando-se, desde muito novo, pela política. Assumiu-se liberal e cartista. Foi vereador camarário, sendo escolhido para presidente da Câmara local em Janeiro de 1843. No ano de 1846 foi eleito procurador à Junta Geral dos Distritos, pelos concelhos de Trancoso e Aguiar da Beira. Também foi comandante do Batalhão Nacional de Caçadores da Rainha, na Guarda.

            Foi nomeado, ainda em vida de seu pai, o 2º. Barão de Tavarede, por decreto 1846. A propósito desta nomeação, o Dr. Pedro de Quadros e Saldanha, em ‘A Casa de Tavarede’, escreve … a história da concessão deste título é reveladora da prosápia e vaidade de D. Francisco. Assistindo em Lisboa no segundo andar do prédio com o número 71 da Rua do Arco da Bandeira, em 4 de Setembro de 1846, remeteu por carta ao Ministro dos Negócios do Reino, segundo se julga, um requerimento em que pedia a concessão do título de Visconde de Condeixa ou de Vale de Mouro. Naquela carta pedia o favor do ministro para que lhe fosse atendido o requerimento, dizendo porém que se julgava no direito de pedir o título. Para justificar esta falta de humildade dizia que vinha servindo a Rainha desde havia uns poucos de anos , ‘e nunca servi n’outro tempo’, e que lhe pertencia o titulo dos pais e tios, os Viscondes de Condeixa.

            Em Janeiro de 1848 tomou posse do mandato de deputado eleito pela Beira Baixa. No ano de 1852 tomou assento na Câmara dos Pares, depois de ter exercido o lugar de Governador Civil do Distrito da Guarda e no dia 1 de Setembro de 1852, foi empossado no cargo de Governador Civil do Distrito de Lisboa.

            Era reconhecido como sendo um cavalheiro que possuia bons princípios e dotado de muita tolerância. Como era pouco saudável, foi, em Abril de 1853 e a conselho dos seus médicos, algum tempo para a ilha da Madeira, na esperança de obter melhoras. Não o conseguiu, porém, e no dia 25 de Novembro de 1853, faleceu em casa de seu sogro, e foi sepultado no cemitério dos Prazeres em Lisboa.

            Como faleceu ainda em vida de seu pai, não foi considerado como Senhor de Tavarede. Não se sabe se chegou a visitar alguma vez a nossa terra. A propósito de sua mulher, D. Eugénia de Saldanha de Oliveira e Daun, Pinho Leal, no seu Dicionário de Portugal Antigo e Moderno, dá-lhe o dia 25 como azarento, escrevendo que nasceu a 25 de Maio, casou a 25, também de Maio, enviuvou a 25 de Novembro e faleceu, tuberculosa, no dia 25 de Março de 1876.
           
            D. Fernando, marido da rainha D. Maria II, mandou ao Duque de Saldanha a seguinte carta: Meu Duque: Agora mesmo acabo de saber da triste morte do Conde de Tavarede. Quando se tem o coração tão aflito e cheio de saudade como o meu, ainda se torna mais sincera parte na dor dos outros. Esteja o Duque certo que deveras lamento a morte de seu honrado genro e que partilho a sua mágoa e aquela da pobre Condessa de Tavarede tão digna de ser bem feliz

sábado, 13 de outubro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 49


1991.04.05     -     TAVAREDE EVOCOU TEATRO (O FIGUEIRENSE)

                Tavarede, santuário de muito teatro, não esqueceu (como podia?) de assinalar o Dia Mundil do Teatro, que ocorreu na passada semana, no dia 27.
                Não sabemos de outras iniciativas que tenham decorrido no nosso concelho, mas, se eles acaso não se desenvolveram, Tavarede salvou, como se diz, a honra do convento, ao promover, na sua sede, uma noite em que o Teatro e José da Silva Ribeiro voltaram a dar mãos, encheram a Sociedade de Instrução Tavaredense e reconfortaram o espírito de todos que participaram nesta comemoração.
                Presidiu à sessão o Dr. Luís de Melo Biscaia, vereador do pelouro da Cultura, o qual, em mesa de honra, estava rodeado pelo presidente da Junta de Tavarede, António Baltazar, e pelas drªs. Ilda Manuela e Ana Maria Caetano, bem como pelo presidente da SIT, Manuel Lontro.
                E seriam de Manuel Lontro as primeiras palavras explicativas da razão desta sessão, na qual a comissão promotora da homenagem a José Ribeiro resolveu aproveitar o Dia Mundial do Teatro não só para evocar o Mestre, mas também para do Teatro falar, como se os dois, adiantamos nós, se pudessem separar.
A Drª Ilda Manuela leu depois a mensagem do Director Geral da Unesco, Frederico Mayor, relativa à data que se assinalava e na qual aquele responsável distinguiu o instinto criador de todas as mulheres e de todos os homens, enunciando seguidamente alguns dos grandes desafios do nosso tempo, recordando também o valor da comunidade teatral internacional, incitando às manifestações desta arte ímpar, na contribuição do advento de um mundo mais criador e mais fraterno.
                A intervenção de fundo coube à Drª Ana Maria, actual ensaiadora da SIT, discípula de Mestre José Ribeiro, a qual, corajosa, mas conscientemente, pegou nas rédeas da colectividade após o falecimento de João de Oliveira, outro homem grande do Teatro tavaredense.
                E a palestrante traçou um cuidadoso retrato destes dois grandes e indissolúveis triunfos culturais de Tavarede, isto é, historiou a fecunda actividade teatral e evocou José da Silva Ribeiro.
                Recordou os tempos da fundação da SIT, lembrando as sociedades dramáticas que se representavam de casa a casa, a acção de João José da Costa e a contribuição que este ex-presidente da Câmara deu à actividade teatral transformando a Casa do Terreiro em Teatro do Terreiro, a escola nocturna que o antigo regime encerrou em 1942, as representações, as dificuldades...
                Mas 1916 é marco histórico-cultural de Tavarede, pois é nesse ano que José da Silva Ribeiro, com apenas 18 (?) anos, se assume como ensaiador da SIT, estreando-se com a opereta “Entre duas Avé-Marias”.
                E pelo palco de Tavarede passou uma população que se cultivou, educou, progrediu, tomando características próprias que se haviam de reflectir no dia a dia da vida real.
                E neste Dia Mundial do Teatro foi bom aprender e recordar muito do que o Teatro deve a Tavarede, muito do que Tavarede deve a Mestre José da Silva Ribeiro, viajando ciceroniado pela Drª Ana Maria, num agradável passeio cultural que nos conduziu dos primórdios teatrais tavaredenses até aos nossos dias, havendo ainda tempo para saudar Violinda Medina, João Cascão, os irmãos Broeiros, Manuel Nogueira, Francisco Carvalho e tantos outros pilares humanos da SIT.
                E a palestrante concluiria as suas palavras com a certeza de que “em Tavarede deixou bem colocada a semente do Teatro”, finalizando com um viva ao Teatro.
                O Dr. Luís de Melo Biscaia encerraria a primeira parte desta sessão evocativa do Dia Mundial do Teatro, declarando “que hoje sabe bem revivermos José da Silva Ribeiro neste Dia Mundial do Teatro”, realçando posteriormente quer a sua acção, quer a de todos os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense, felicitando, por fim, a oradora pelo seu brilhante trabalho.
                A derradeira parte desta reunião foi toda ela ocupada pela passagem de um vídeo, no qual nos foi apresentada uma completa entrevista realizada ainda com o Mestre José Ribeiro, ora situada em sua casa, ora localizada na sua segunda casa, a SIT.
                E se soube bem reviver Mestre José Ribeiro nas palavras da Drª Ana Maria, como afirmou Luís Biscaia, não menos emotivo foi revê-lo nas imagens, sentir toda a sua determinação, vontade, todo o seu “amor ao Teatro e às suas gentes de Tavarede”.
                Tavarede não esqueceu o Dia Mundial do Teatro. Bastou que do Mestre José Ribeiro se falasse...

1992.01.24     -     SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE (O FIGUEIRENSE)

                Como temos vindo  divulgar, a Sociedade de Instrução Tavaredense está a festejar o seu 88º aniversário.
                Colectividade de características muito particulares, a SIT tem sido, o longo dos anos, como que o santuário do teatro de amadores do nosso concelho, não apenas (o que já seria muito) pelo facto de tradicionalmente possuir um conjunto de intérpretes de elevado nível, mas também pela influência positiva e apoio que sempre transmitiu a outras associações mais carenciadas.
                É hoje inviável falar-se da Sociedade de Instrução Tavaredense sem que vários nomes dos brilhantes tavaredenses nos ocorram ao pensamento. Mas temendo não relembrar  totalidade, o que seria injusto, evocamos colectivamente a sua memória, recordando Mestre José Ribeiro, um Homem que cultivou as gentes de Tavarede através do Teatro, Arte que levaria o nome da SIT, de Tavarede e da Figueira da Foz a ultrapassarem barreiras culturais que, “na época”, constituíam grave obstáculo ao natural desenvolvimento de arte de representar.
                E por falar em Teatro, lembramos que amanhã sobe ao palco da SIT a peça de Molière “O Avarento”, comédia em 5 actos, numa tradução do Prof. Paulo Quintela, e numa representação dos amadores da colectividade em festa.
                Recordamos ainda que no domingo, com início às 17 horas, decorrerá a sessão solene, que contará com a presença de diversas entidades oficiais e convidados.
                Na impossibilidade de estarmos presentes, desde já felicitamos a Sociedade de Instrução Tavaredense.

1992.02.07     -     TAVAREDE, ONDE O TEATRO É TEATRO (O FIGUEIRENSE)

                Considerada como o santuário do teatro de amadores, a Sociedade de Instrução Tabvaredense acaba de encerrar um ciclo de actividades que marcaram a passagem do seu 88º aniversário, porquanto, ao correr dos anos, como uma das agremiações que maior acção educativa terá exercido na sua comunidade, particularmente pela via do teatro.
                E a sessão solene, que decorreu na sua acolhedora sede, mais não foi que o culminar de variadas iniciativas, das quais é justo destacar a Estafeta do Teatro, durante a qual gentes de Tavarede ligaram o palco do Teatro de Mestre Gil Vicente, em Coimbra, com o de Mestre José Ribeiro, em Tavarede, num percurso tão rico de significado, pois entre a meta e a chegada, os sócios da SIT recordaram o distinto tavaredense que foi João de Oliveira Júnior, falecido, na rua, bem perto do local da partida. Mas ainda se saudou o Grupo de Teatro Amador de Taveiro na passagem por aquela povoação e, mais adiante, tendo como testemunha o vetusto castelo, os caminheiros prestaram honras ao Centro de Iniciação Teatral Ester de Carvalho, em Montemor-o-Velho.
                Finalmente, ao aproximar-se Maiorca, as palavras de admiração encaminharam-se para o Actor Dias, símbolo cultural daquela vila.
                Ainda no programa de aniversário constava uma representação de “O Avarento” de Molière, a cargo dos amadores da sociedade em festa. Mas tal não foi possível, pois razões de saúde, ao que nos afirmaram, impediram dois amadores de subirem ao palco, ainda que em palco, numa oportuna substituição, tivessemos igualmente Molière, mas agora no “Médico á Força”, trazido pelos briosos amadores do Grupo Instrução e Recreio Quiaiense, uma associação onde também o teatro é... Teatro.
                Falemos da sessão solene, que teve a presidi-la o vereador do pelouro das colectividades, Carlos Alberto Gonçalves, representando a Câmara Municipal.
                Perante um público demasiadamente pouco numeroso para os pergaminhos (e necessidades) da Sociedade de Instrução Tavaredense, iniciou a parte dos discursos o presidente da Junta de Freguesia, António Simões Baltazar que, em nome da entidade que representava, cumprimentou a SIT, tendo igualmente tecido alguns justos comentários relativos ao associativismo vivido em Tavarede, que anseia mais dinamismo, declarando que gostava que a SIT fosse conhecida não somente pelo seu Passado (brilhante), mas igualmente pelo seu Presente. Lembrou a existência do pavilhão desportivo não suficientemente aproveitado, exprimiu o desejo que o grupo cénico se mantenha unido como outrora, para prestígio de Tavarede.
                A Drª Ana Maria Caetano, um dos actuais pilares da casa, para além de muito frontalmente ter lamentado a ausência do público na plateia, justificou, sem que do problema fizesse um drama, a não representação de “O Avarento”.
                Nestas sessões solenes de Tavarede desde há longos anos que um dos clássicos oradores é Carlos Cardoso, desta vez impedido, por motivos de saúde (falta de) em estar presente. Contudo, a Drª Ana Maria não o esqueceu, tendo-lhe dedicado uma saudação muito especial.
                Como orador oficial os tavaredenses contaram com um nome grande do teatro, a nível concelhio, isto é, Alfredo Cardoso, um homem que em Brenha tem desenvolvido uma dinâmica teatral digna dos maiores encómios. Pois Mestre Alfredo Cardoso brindou aqueles que tiveram a sorte de o escutar com uma notável intervenção, cujo tema geral, claro, era o Teatro, tendo focado particularmente o teatro da SIT, evocando muito das suas vivências que, desde há longos anos, com ele manteve, muito particularmente com José da Silva Ribeiro.
                A sessão terminaria com palavras do vereador Carlos Gonçalves que apelou para um associativismo mais forte, destacando a sua função dentro de uma comunidade como Tavarede.

1992.04.03     -     DIA MUNDIAL DO TEATRO (O FIGUEIRENSE)

                Tavarede, capital do nosso teatro amador concelhio, não poderia, como sucedeu em tantas localidades, deixar de assinalar o Dia Mundial do Teatro, que se comemorou no passado dia 27 de Março.
                É que se Tavarede tem tradições teatrais como ninguém, a verdade é que todo um Passado glorioso e um Presente não menos digno aumentou as responsabilidades da Sociedade de Instrução Tavaredense.
                Assim o entenderam, e muito bem, os seus actuais dirigentes, fazendo subir ao palco, na passada sexta-feira, um senhor chamado Molière, um homem que a todos deu o privilégio da alegria, traduzida e provocada pela magia da arte teatral.
                E não resistimos a transcrever afirmações de Mestre José Ribeiro, em carta a um amigo, a respeito deste autor universal: “Pois o Molière é um bom anigo. A graça com que ele se ri! A ironia com que ele critica! A profundidade do seu estudo da sociedade do seu tempo! Tenho rido com ele. E tenho pensado”.
                E estamos certos que com Molière riram os muitos assistentes que na sede da SIT quase, quase enchiam o salão de espectáculos, numa noite em que o ingresso era livre, tal como o riso que os amadores de Tavarede souberam extrair de um texto, a que somaram a postura natural própria, ou só própria, daqueles que sentem Molière.
                Mas Molière não faz apenas rir (o que já era suficientemente saudável), mas também provoca a reflexão. A reflexão sobre o acto de viver, nas suas mais contrastantes situações, o repensar de atitudes no diálogo quotidiano que o Homem trava com o Homem.
                E “O Avarento”, peça em 5 actos, é (pode ser) o espelhar do que antes afirmámos, e embora ela decorra no século XVII, nem por isso o dia a dia... dos nossos dias evita o encontrar de posições similares. É tudo uma questão imaginativa.
                Antes de representação subiu ao palco o Dr. Pedrosa Russo, presidente do Lions, um clube de serviço que tanto tem feito, com as suas Jornadas de Teatro Amador, para o agarrar do Teatro. Com ele a Drª Ana Maria Caetano, ilustre e dedicada continuadora da linha teatral da SIT.
                Ambos falaram de Teatro, Teatro que é esperança, que é sonho, que é mentira, que é necessidade; Teatro que desperta a solidariedade, que confere dignidade  e combate o racismo.
                Teatro que também é um modo de estar na vida.
                Teatro de que Coimbra vai ser capital, mas que bom seria, foi afirmado, não esquecer o restante distrito, não esquecer, acrescentamos nós. Tavarede.

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 25


O desentendimento terá tido lugar ainda antes de Maio de 1810, pois já no dia 23 desse mês, D. Antónia Madalena obtinha certidão da escritura do dote, sem dúvida para fazer valer os seus direitos. Abandonando Tavarede, D. Antónia Madalena entrou no Convento de Santos, a que a sua família estava há muito ligada. A partir dessa altura a história da relação entre D. Antónia Madalena e seus filhos, é um rol de ódios, de vinganças, de perseguições. Tudo indica que aquela e seu filho João de Almada nunca mais se viram, apesar de D. Antónia ainda ter vivido 25 anos (A Casa de Tavarede).

            Tudo isto levou à requisição de administração judicial da Casa de Tavarede e ao seu declínio. Foram muitas as questões judiciais levantadas tanto pela mãe como pelo filho. Chegou ao ponto de, em Maio de 1821, D. Antónia se queixar que logo em Julho do mesmo ano me foi novamente arrebatada das mãos a minha casa em virtude de requerimento de meu ingrato filho, que obteve do Revolucionário Governo de 1820, a bárbara medida de ser posta em curadoria a minha pessoa e bens, sem eu ser ouvida e nem, ao menos, de tal ter notícia, conseguindo o mesmo meu filho, por meio desta destruidora providência, confirmar a ruína de minha Casa e a opressão de minha pessoa. Julga-se, no entanto, que a iniciativa não terá sido só do filho mas, sim, também de sua filha Ana Felícia.

            O Barão de Tavarede, juntamente com seu sogro, aderiu à causa do rei D. Miguel. Foram muitos os processos que levantou contra sua mãe, a quem acusava de dissipadora e causadora da ruína da Casa, mas sempre viu as questões serem decididas a seu desfavor.

            Num documento existente, refere-se que quando o Barão de Tavarede e sua família decidiram mudar-se para Trancoso levaram consigo o bom e melhor que D. Antónia deixara em casa, nomeadamente todos os móveis. E ainda refere uma nota de D. Antónia. Que … estando eu em Tavarede e tendo casa arrendada na Rua Formosa (Lisboa), onde tinha os títulos, algumas pinturas e móveis, o Barão, vindo escondido a Lisboa, entrou na casa num dia da Semana Santa e, arrombando portas e armários, levou os títulos e tudo o que achou de precioso, com geral escândalo da vizinhança… (A Casa de Tavarede)
           
            Estes pequenos retalhos que transcrevo, servem perfeitamente para revelar como terão sido as relações entre mãe e filhos. De notar que D. Ana Felícia, talvez influenciada por seu marido, aliou-se a seu irmão, contra sua mãe, de tal forma que, em certos processos, ainda foi mais agressiva que o Barão de Tavarede. Mas só faço esta referência como simples comentário, pois a história que pretendo aqui deixar recordada é só a dos ‘Senhores de Tavarede’ e não seus familiares. No entanto, aqui e ali, não deixa de ser necessário incluir algumas notas, unicamente com o fim de procurar melhor esclarecer determinados casos ou situações.

            Com a sua ida para Trancoso, tornou-se o Barão de Tavarede pessoa muito influente naquela região, embora continuasse sob a influência de seu sogro. Foi contrariado que, em Janeiro de 1827, assinou a Carta Constitucional. Foi eleito procurador do concelho de Trancoso e em Junho de 1828 recebeu o comando da primeira companhia do terceiro Batalhão do Corpo de Voluntários Realistas.  Quando em Outubro seguinte, a Câmara de Trancoso resolveu formar um Corpo de Voluntários, foi o Barão de Tavarede nomeado seu comandante, com o posto de coronel. Combateu ao lado das forças miguelistas, tento tomado parte do cerco do Porto. Com a queda de D. Miguel abandonou a política.

            Acabou por jurar a Constituição em Outubro de 1836, tendo exercido o cargo de vereador da Câmara trancosense e fez parte do Conselho Municipal, exercendo, durante algum tempo, as funções de presidente da Câmara. Foi irmão da Santa Casa da Misericórdia daquela localidade e da Confraria do Santíssimo Sacramento.

            Com a instalação do regime liberal, a Casa de Tavarede perdeu muito dos seus privilégios, nomeadamento o dos fornos da poia, que passaram a ser livres, assim como as comendas de que era titular. Também já D. João de Almada não sucedeu no padroado da Capela mor do Convento de Santo António, na Figueira, que foi extinto.

            Teve diversas desinteligências com sua irmã, sobre as questões da herança, muito em especial as marinhas da Morraceira, que pertenciam ao vínculo do morgado. Julga-se que só terá vindo a Tavarede uma única vez, depois da morte de sua mãe. Entretanto, por decreto de 18 de Março de 1848, recebeu o título de Conde de Tavarede.

            Atendendo aos merecimentos do Barão de Tavarede, João de Almada Quadros Sousa e Lencastre, à sua qualidade, e a ser filho primogénito e sucessor de Francisco de Almada e Mendonça, do Conselho de El-Rei Meu Senhor e Avô, e seu Desembargador do Paço, Comendador da Ordem de Cristo, Alcaide Mor de Marialva e donatário da vila da Barca, segundogénito da mui nobre e antiga Casa titular de Vila Nova de Souto de El-Rei, da mesma origem que a dos Condes Mestres salas da Real Casa de Meus Augustos Avós, e de Dona Antónia Madalena de Quadros, representante de outra família muito qualificada por antiguidade de linhagem e gloriosos feitos militares, obrados em Ceuta na menoridade de El-Rei D. Afonso V, e na praça de Azamor em dias de El-Rei D. João III; tendo em particular consideração os distintos e relevantes serviços que, durante a sua longa carreira de Magistratura, foram prestados pelo pai do mencionado Barão, no exercício dos lugares que ocupou e no desempenho de muitas e diversas comissões de que fôra encarregado; assinalando-se especialmente assim pela edificação de muitos edifícios monumentais e de outras obras gloriosas e de manifesta utilidade pública, feitas na cidade do Porto, em Vila do Conde e Foz do Douro, como pelos gastos em hospedar, na sua casa em Setubal e Salvaterra a Meus Augustos Avós, havendo-se em tudo com grande inteligência, zelo e desinteresse, e correspondendo sempre às obrigações do seu nascimento, e à íntima confiança que dele faziam os Soberanos; e querendo Eu perpectuar a memória de tão valiosos serviços na pessoa do filho e sucessor de tão benemérito servidor do Estado, e completar a remuneração deles com uma mercê igual à sua importância: Hei por bem elevar o Barão de Tavarede João de Almada Quadros Sousa e Lencastre à Grandeza destes Reinos, com o título de Conde de Tavarede em sua vida

            Como se vê, foram necessários decorrerem quarenta e tal anos após a sua morte, para ser reconhecida a obra e o talento de D. Francisco de Almada e Mendonça, marido da 10ª. Senhora de Tavarede, D. Antónia Madalena Quadros e Sousa.

            Faleceu o primeiro Conde de Tavarede a 13 de Fevereiro de 1861, sendo sepultado do lado norte da  igreja de Nossa Senhora da Fresta, em Trancoso.

            De ‘A Casa de Tavarede’, permito-me transcrever a certidão de óbito deste nosso titular. Aos treze dias do mês de Fevereiro do ano de mil oitocentos e sessenta e um, pelas oito horas da manhã, no sítio da Rua Nova desta vila e freguesia, concelho e distrito eclesiástico de Trancoso, diocese de Pinhel, faleceu D. João de Almada Quadros Sousa de Lencastre, décimo terceiro Senhor de Tavarede, primeiro Conde e primeiro Barão de Tavarede, alcaide mor de Marialva, Senhor da vila da Barca, comendador de S. Martinho do Bispo, proprietário, de idade de sessenta e seis anos, casado com D. Maria Emília da Fonseca Pinto de Albuquerque e Meneses, Condessa do mesmo título, filho legítimo de D. Francisco de Almada Sousa de Lencastre e de D. Antónia Madalena de Quadros, Senhora de Tavarede; neto paterno de D. João de Almada e de D. Ana de Lencastre; e materno do Doutor José Juzarte e de D. Joana de Quadros. Não fez testamento, não deixou filhos mas sim dois netos. Não recebeu sacramento algum porque morreu quase de repente. E para constar lavrei este assento, em duplicado, que assinei. Era ut supra. O presbítero, Brunulfo Teixeira de Azevedo.