sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Histórias e Lendes - 4

Santos da Terra do Limonete
Recordando mais alguns



Santo Aleixo

         Desde tempos bastante antigos que Tavarede tem venerado diversos santos. E se recordámos em primeiro lugar o ‘nosso’ S. Martinho, padroeiro da nossa terra, é oportuno agora tentar recordar a história, ou alguma coisa, de outros que aqui tiveram a sua festa ou que, de qualquer forma, são ou foram referências na Terra do Limonete.

         Principiemos pelo Santo Aleixo.

         Segundo a lenda, Santo Aleixo era filho do senador Eufeniano e de Aglae, e fugiu secretamento da casa de seus pais na noite do seu casamento, refugiando-se em Edessa, onde levou uma vida de mendigo. Decorridos dezassete anos, Nossa Senhora revelou a sua santidade designando-o ‘Homem de Deus’.

Santo Aleixo  resolveu regressar em segredo à casa de seus pais, em Roma, apresentando-se como pedinte. Não sendo reconhecido, deram-lhe um recanto onde viveu outros dezassete anos, sendo muitas vezes maltratado pelos servos. Quando morreu foi encontrado, junto do seu corpo, um escrito que revelava a sua qualidade e a sua vida. Celebra-se o seu dia a 17 de Julho.

Ernesto Tomás, nas suas ‘Recordações de Tavarede’, a propósito da capela ao Santo Aleixo existente na nossa terra, escreveu: “... descendo do Terreiro em direcção à igreja, encontramos perto desta a capela de Santo Aleixo, que se diz ter pertencido ao cabido da Sé de Coimbra. É pequeno o seu ambito pois que apenas poderá ter uns dez mentros de fundo, por quatro a cinco de frente.

Restam dela as quatro paredes que formam o rectângulo em superfície e tem ainda a porta sobrepujada por uma pequeníssima janela, e lá dentro uma vegetação robusta e espessa de silvas, crescendo e elevando-se acima da altura das paredes circundantes. Nesta capela eram feitos antes de 1875 os enterramentos dos falecidos na freguesia até que, depois de construído o novo cemitério, na estrada que segue para Brenha, e para o nascente da igreja, lá se principiaram a fazer os enterramentos”.

Acrescenta ainda: “... passando, e vendo que ela apenas se achava vedada por quatro tábuas, e uma mais que o tempo deixou cair, entrámos a custo para ver interiormente o que restava deste edifício religioso. Apenas uma pia de água benta, no seu lugar primitivo, embebida na parede à direita da entrada. Para o fundo da capela nada se poderia ver conquistado pelas silvas”.
 
Diz a tradição que esta capela servia de hospício aos peregrinos que por aqui passavam. Serviu, ainda, de sede à Junta de Freguesia e, actualmente, encontra-se ao serviço da igreja tavaredense.

* * *


                                                                                          S.Paio

         Próximo do extremo norte da freguesia e perto da nascente chamada Olho de Perdiz onde brota o ribeiro de Tavarede, encontramos lugares convidativos ‘à preguicite’, à sombra de velhas árvores que, nas quentes tardes de verão, tão apelativos e convidativos se tornam.

Quando, há já algumas centenas de anos, o cabido da Sé de Coimbra vendeu a vasta propriedade que possuia naquela zona, denominada ‘Prazo’, impôs a condição de ali ser reconstruida uma pequena capela devotada a S. Paio, muito venerado na região centro do país. Quem foi este S. Paio?

“Pelágio ou Paio (S.) - Mártir; festa litúrgica na diocese de Coimbra, a 26 de Junho. Era, ao que parece, originário de Tui. Tendo ficado cativo na batalha de Val de Junquera seu tio Hermoíglo, bispo de Tui, foi o jovem Pelágio, que contava apenas 10 anos de idade, dado em reféns pela sua libertação. Enviado para Córdova, esteve encarcerado três anos, ao fim dos quais foi martirizado por ordem de Abderramão III.
As actas do martírio foram escritas por um presbítero chamado Ragnel, pouco depois do acontecimento.Aí se diz que o menino passava o tempo na prisão lendo as “Escrituras” e conversando com outros cristãos cativos ou que iam visitá-lo. Um dia foram ao cárcere uns ministros de Abderramão que, encantados pela sua beleza, falaram nele ao califa. Mandou este que o levassem à sua presença e tentou convertê-lo às práticas muçulmanas e atraí-lo a actos desonestos. Como o menino resistisse, mandou-o matar.
 Os algozes cortaram-no aos pedaços, ainda vivo, em horroroso suplício que durou três horas, das 11,30 h. da manhã às 2,30 h. da tarde, no domingo 25.VI.925. Os cristãos de Córdova recolheram as relíquias, colocando a cabeça na igreja de S. Cipriano e o resto na de S. Gens. A fama do martírio espalhou-se rapidamente por toda a Península e em breve ultrapassou as fronteiras. Pelo ano de 960, uma poetisa, de origem saxónica, chamada Rowinta, consagrou-lhe uma composição em versos latinos. O culto de S. Paio tornou-se muito popular em Portugal, passados poucos anos depois do seu martírio. Há umas sessenta e cinco igrejas paroquiais que o têm como titular”.
        
     Ernesto Tomás, já anteriormente citado nestas histórias, deixou-nos o seguinte apontamento: “Para o nordeste da povoação, a perto de quatro kilometros, e na proximidade do regato que corre ao fundo do Valle de Sampaio ou de S. Paio, existiu em tempo uma capellita com a invocação do Santo que deu o nome ao valle. Pequena, acanhadinha, abrigava o santo a quem os visinhos dedicavam extremosa devoção. Sampaio ou S. Paio, era remedio infalivel para a cura de varios achaques, especialisando - o desapparecimento rapido das verrugas d’aquelles a que a elle recorriam com a necessaria fé. N’uma ribanceira, erma, lá estava o santinho solitario, posto n’um terreno pertencente aos frades cruzios de Coimbra.
            O tempo foi fazendo dos seus fregueses uns descrentes desleixados, e a capella foi-se arruinando a pouco e pouco até deixar apenas o vestigio de alicerces.
            Tendo sido comprada mais tarde a propriedade pelo fallecido sr. Caetano Gaspar Pestana, d’esta cidade, mandou este, obedecendo a uma obrigação antiga escripturada, levantar de novo a capella e refazer o santo.
            S. Paio, era e é de pedra, e andando por uma adega da propriedade a servir, profanamente, de calço a pipas, foi-se aos poucos deteriorando, até que, o sr. Pestana, o mandou concertar collocando-o em seguida na capella em que hoje é venerado.
            Pertence hoje a capella e terra circumjacente a António Monteiro, canteiro de Quiaios.
            Ha coisa de quatro annos ainda lá foi feita festa ao santo pelo povo da freguesia”

Nas pesquisas que efectuámos encontrámos mais estas notas: “No “Focus” aparece um Pelágio, ou Paio, como tendo sido: “Monge irlandês que, tendo ido para Roma por volta do ano 400, entrou em controvérsias com Santo Agostinho a respeito da doutrina sobre o pecado original”. No “Lello Universal, a descrição deste Pelágio é: “heresiarca bretão (360-449). Relacionou-se com Santo Agostinho e foi fundador do pelagianismo, doutrina que atribuía, na questão da graça, uma parte escessiva à liberdade humana”. Mas ainda temos outra hipótese: “Pelágio ou Paio (Frei) Primeiro prior do convento de S. Domingos, de Coimbra. Os cronistas dominicanos tratam-no por santo, mas da sua vida nada contam de concreto. Alguns supõem-no falecido cerca do ano de 1240, enquanto Frei Luis de Sousa prefere a data de 1257”.

Não nos parece que o santo venerado nesta capela seja um destes dois últimos, inclinando-nos para o primeiro. Ocorre-nos, porém, uma questão. A imagem que se encontrava na capela, foi roubada há meses e nunca mais apareceu, era de um santo já idoso com compridas barbas pretas. Não sabemos se esta imagem seria a inicial, venerada pelos frades cruzios. Julgamos que não e admitimos, sem que o possamos confirmar, que a imagem terá sido trocada aquando da reconstrução da capela. 

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