1926
RÉCITA DE ANIVERSÁRIO
Quando, na nossa última correspondência, dissemos que as festas comemorativas do 22º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense teriam grande brilhantismo, não nos enganámos. Pode dizer-se que Tavarede esteve em festa no sábado e no domingo, e o entusiasmo dos habitantes desta povoação – quási todos pertencendo à benemérita colectividade – exteriou-se duma forma evidente. Não admira. Há muitos anos que a Sociedade de Instrução Tavaredense vem realizando no nosso meio uma importante acção educativa. E por isso não lhe falta a simpatia pública.
RÉCITA DE ANIVERSÁRIO
Quando, na nossa última correspondência, dissemos que as festas comemorativas do 22º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense teriam grande brilhantismo, não nos enganámos. Pode dizer-se que Tavarede esteve em festa no sábado e no domingo, e o entusiasmo dos habitantes desta povoação – quási todos pertencendo à benemérita colectividade – exteriou-se duma forma evidente. Não admira. Há muitos anos que a Sociedade de Instrução Tavaredense vem realizando no nosso meio uma importante acção educativa. E por isso não lhe falta a simpatia pública.
O programa, duma simplicidade extrema, teve execução brilhante.
No sábado, o teatro encheu-se completamente. O interêsse pela récita de gala era enorme; a afluência foi tamanha que pelos corredores havia dezenas de pessoas de pé, por falta de lugar. A sala oferecia um aspecto atraente. Nas paredes havia espelhos e colgaduras de damasco; pendentes do teto, largas fitas das côres da Sociedade – azul e granada – vinham prender-se na parede, formando docel que realçava a luz crua do lustre central; a tôda a volta da galeria e no arco do proscénio, estendia-se uma fita de lampadas eléctricas também das côres da associação. O efeito da iluminação era excelente.
A récita abriu com a representação da peça de Bento Mântua Má Sina, que foi de novo aplaudida, seguindo-se-lhe a revista em 1 acto e 3 quadros Pátria Livre, do sr. João Gaspar de Lemos Amorim, música original e coordenada pelo sr. António Maria de Oliveira Simões.
Era esta a principal atracção da récita. Havia um grande interêsse pela representação da Pátria Livre, e pode dizer-se que a revista agradou plenamente. Os aplausos foram calorosos, entusiásticos, fazendo a assistência bisar quási todos os números de música. Houve chamadas ao autor, ao maestro e ao ensaiador. João Gaspar de Lemos Amorim e António Simões mereceram sem favor as prolongadas salvas de palmas que se ouviram – o primeiro, por ter escrito com alegre fantasia e uma certa irreverência o comentário ligeiro e gracioso dalguns acontecimentos e factos locais; e o segundo pela felicidade com que pôs e adaptou os números de música, alguns deles lindíssimos; mas não são menos dignos de elogio o espírito e a boa vontade com que os amadores se houveram, de modo a poderem representar a Pátria Livre apenas com 10 dias de ensaio. Não pode exigir-se mais de amadores de aldeia. A impressão geral da representação foi a melhor, sendo especialmente notadas a apresentação correcta e afinação dos córos. A orquestra, constituída por 14 figuras, magnífica. (Voz da Justiça – 01.19)
PÁTRIA LIVRE
No próximo sábado vai o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense ter mais uma enchente. Representa-se ali, pela segunda vez, a interessante revista em 1 acto e 3 quadros Pátria Livre, original do distinto poeta e escritor sr. João Gaspar de Lemos Amorim, com 9 números de linda música original e coordenada pelo hábil amador figueirense, sr. António Simões. Quando da sua primeira representação, a Pátria Livre agradou completamente. A revista tem côr local, tem fantasia e uma certa vivacidade de comentário que prendem o espectador, e gira à volta dêste acontecimento sensacional: a separação de Tavarede do concelho da Figueira, levada a cabo por uma revolução triunfante donde sai a proclamação da Republica do Limonete.
A música contribui muitíssimo para a excelente impressão deixada pela revista. Há alguns grupos de efeito nos quais tanto as raparigas como os rapazes se apresentam vestidos com fantasia muito expressiva. Dignos de nota, especialmente, o número da Fonte e côro das Bilhas e o côro de Ceifeiras e Cavadores, cantados com perfeita afinação por tôda a massa coral.
A orquestra é excelente, bem constituída por 14 figuras, sob a regência segura de António Simões.
Completando o espectáculo representar-se hão a opereta em 1 acto O Sol de Ouro, com magnífica partitura do sr. T Leroy, e a comédia em 1 acto Os Mentirosos, que é interpretada com alegria e vivacidade.
A concorrência vai ser grande, pela certa, pois muitas pessoas desta cidade têm empenho de ver a revista de Gaspar de Lemos e António Simões, e é esta a sua última representação por motivo de saída dum dos primeiros intérpretes. (Voz da Justiça – 01.26)
RÉCITA
Realizou-se no sábado a anunciada récita no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Casa cheia, como se esperava e aplausos calorosos.
O espectáculo agradou, e pode dizer-se que, tratando-se de amadores de aldeia, êles se houveram brilhantemente. A opereta O Sol de Ouro, que tem uma partitura lindíssima mas de difícil execução, foi admiravelmente cantada. Virginia Monteiro cantou com brilho o seu couplet, como foram tambem esplendidamente cantados os dois duetos desta com Francisco Carvalho. António Graça deu o preciso relêvo à canção militar. Os aplausos foram merecidos, dêles pertencendo grande quinhão à excelente orquestra, muito bem constituida e brilhando sob a batuta segura do distinto músico que é António Simões.
A comédia Os Mentirosos mais uma vez fez rir a assistência. É de justiça frizar o esplêndido trabalho que nela têm Jaime Broeiro e Virginia Monteiro. Jaime é um amador perfeito, consciencioso, não há que notar-lhe uma falha; tira todo o partido das situações cómicas, sem esfôrço, sem recorrer a exagêros; é duma sobriedade perfeita. E Virginia é uma bela promessa. Tem vivacidade, tem alegria. Se estudar e não se deixar tomar pela vaidade, pode vir a ser uma boa amadora. João Cascão, Emilia Monteiro (esta uma principiante muito aproveitável) e José Mota formaram um conjunto harmónico.
O espectáculo fechou com a revista Pátria Livre, do distinto poeta e escritor sr. João Gaspar de Lemos, com música original e coordenada pelo sr. António Simões, hábil amador dessa cidade. Não há que fazer referências especiais. Todos se houveram muito bem. Os diversos números de música foram cantados a primor, sendo alguns aplaudidos e bisada a Canção da Cotovia.
O guarda-roupa é apropriado e de muito efeito, contribuindo bastante, com a lindíssima música que António Simões compôs e adaptou com extrema felicidade, para o agrado com que a revista se vê.
Foi, emfim, um belo espectáculo.
A saída de João Cascão, que é um dos bons amadores do grupo, não permite que a Pátria Livre se represente novamente, como era desejo do público. (Voz da Justiça – 02.02)
NOITE DE S. JOÃO
Magnifica representação da opereta Noite de S. João, no último sábado, - não esquecendo, já se vê, que se trata de amadores. Foi, seguramente, um dos mais belos espectáculos que o esplêndido grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense nos tem proporcionado. A terrível noite de ventania impediu a enchente à cunha que estava assegurada, mas ainda assim a assistência foi animada, vendo-se bastantes pessoas de fora de Tavarede.
Os primeiros elogios e louvores pertencem, indubitavelmente, ao distinto amador musical sr. António Simões, cujo esfôrço triunfou brilhantemente. Dirigindo uma boa orquestra, constituída por amadores, conseguiu dar relêvo à belíssima partitura da opereta, tão rica de harmonia, de côr, de graça, de alegria encantadora. A sua interpretação é perfeita. Mas onde a competência e a inesgotável paciência de António Simões mais se evidenciaram, foi na forma como ensaiou as vozes, apresentando-nos coros firmes, cantando com bom relêvo, e fazendo ainda brilhar os solos, nos quais alguns amadores venceram admiravelmente as dificuldades da música.
Dêstes, devemos citar em primeiro lugar Helena da Silva Medina, a distinta e simpática amadora que reapareceu no seu antigo grupo. A ela se deve, principalmente, o brilho agora obtido, e que não se conseguira há dois anos, por falta duma amadora com recursos para cantar a parte de Rosária. O número de abertura do primeiro acto, que por êste motivo fôra então cortado em parte, cantou-o agora Helena da Silva Medina com grande correcção. Muito bem! Outra amadora de merecimento é Virgínia Monteiro, que fez com graça a característica. Jaime Broeiro, António Graça e António Santos, representaram duma maneira impecável. Maria Teresa de Oliveira, César Figueiredo, Francisco Carvalho, José Maria Marques, José Mota e os restantes, todos deram uma acertada colaboração. No regente do sol-e-dó mais uma vez se salientou António Dias Cachulo.
Foi uma récita magnífica, podendo dizer-se que não será fácil fazer-se aqui melhor, quer pela alta responsabilidade da partitura, quer pela harmonia do conjunto que agora pudemos apreciar e que não é possível ultrapassar – num grupo de amadores de aldeia, bem entendido.
A António Simões, a Helena da Silva Medina, que aqui não tem quem a substitua em opereta, não só pela sua linda voz como pela simplicidade e correcção como representa, e aos restantes amadores, os nossos sinceros parabéns. (Voz da Justiça – 04.16)
NOITE DE S. JOÃO
O teatro Parque teve anteontem grande concorrência, atraída pela opereta em 3 actos Noite de S. João, que os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense representaram de modo a merecer aplausos.
A plateia figueirense conhecia já êste grupo dramático pela representação das operetas Os Amores de Mariana e Em busca da Lúcia-Lima – e a mesma agradável impressão colheu agora desta terceira visita. É um grupo modesto, com deficiências que é muito difícil apontar em amadores de aldeia e que, aliás, em mais das vezes se encontram também na cidade. Tem, todavia, alguns magníficos elementos, à frente dos quais colocamos: Helena Nunes Medina, voz bem timbrada, muito agradável, e que a-pesar-de bastante doente mostrou quanto valia; Virgínia Monteiro, alegre, cheia de vivacidade, sabendo dar à frase a intenção própria; Jaime Broeiro, amador distinto que pode colocar-se ao lado dos mais distintos, vincando a nota cómica com uma naturalidade perfeita, sem exagêro nem desiquilíbrios; António Graça, sóbrio, correcto, ouvindo bem e mantendo um à-vontade com que valoriza as suas interpretações; e António Santos, que fez excelentemente o galã tímido da opereta, mantendo-se sempre bem dentro do tipo que acertadamente escolheu. Estas figuras principais são acompanhadas por outros amadores que, em papéis secundários, - como F. Carvalho, César Figueiredo, J. Maria Marques, J. Mota, etc., - formam um conjunto harmonioso, muito agradável, que quási faz esquecer as naturais deficiências que a uma crítica rigorosa – esquecida, bem entendido, a qualidade e a categoria dêste grupo dramático – não seria difícil apontar.
Acêrca do valor da Noite de S. João, que é reduzido quanto ao libreto mas que é grande quanto a música, já aqui dissemos o que pensávamos, a propósito da representação desta opereta em Tavarede. Não é ela isenta de dificuldades, mas deve dizer-se que o grupo de amadores tavaredenses, se nem tôdas consegue vencer em absoluto, doutras triunfa brilhantemente. A Noite de S. João exige um numeroso grupo coral, alegre, cheio de vida, sempre animado, dando ruido e côr aos 3 actos e principalmente ao quadro da romaria que é o 3º. – e isso não faltou agora, devendo ainda citar-se como elemento valioso para conseguir a boa impressão do público, o bom gôsto e o cuidado que se notavam na indumentária.
A partitura, obra artística do professor António Eduardo da Costa Ferreira, tem números admiráveis, cheios de beleza, encantadores pela expressão da frase musical, sempre adequada ao personagem e à intenção do verso, e pela magnífica orquestração.
Na interpretação desta primorosa e rica partitura brilha o trabalho extraordinário, feito de muita paciência e incontestável competência, do distinto amador nosso patrício sr. António Simões. O que êle conseguiu em tão pouco tempo da sua bem constituida orquestra de amadores, foi muito; mas o que êle realizou com as vozes, com os coros – firmes como os vimos mesmo em alguns números de grande dificuldade, equilibrados, afinados sempre – foi muitíssimo. Não nos dispensamos de felicitá-lo sinceramente, pela maneira como soube aproveitar estes amadores de aldeia – gente rude, sem a mais rudimentar cultura musical.
A assistência manifestou-se com muitas palmas nos finais de acto, sendo igualmente aplaudidos alguns números de música, especialmente o dueto do 2º acto de Rosário e João que foi admiravelmente cantado, e a Marcha do Sol-e-Dó, que teve de ser bisada e na qual o regente (António Cachulo) tem uma excelente rábula.
Os espectadores saíram satisfeitos do teatro, outro tanto sucedendo aos amadores, que souberam manter a tradição de que nesta cidade goza o grupo a que pertencem. (Voz da Justiça – 05.18)
1926.05.20 - NOITE DE S. JOÃO, NA FIGUEIRA
Cartas sem moral – Exmo. Sr. Custodio, Regedor de L... Alentejo – Meu presado amigo: Depois de uma viagem encomoda, sentado no nº 9 da fila A, cá cheguei são e escorreito e cheio de saudades da boa pinga do amigo Jeronimo.
1926.05.20 - NOITE DE S. JOÃO, NA FIGUEIRA
Cartas sem moral – Exmo. Sr. Custodio, Regedor de L... Alentejo – Meu presado amigo: Depois de uma viagem encomoda, sentado no nº 9 da fila A, cá cheguei são e escorreito e cheio de saudades da boa pinga do amigo Jeronimo.
V. é que deve estar ainda estafadissimo do pagode d’essa noite de S. João.
Acredite, meu amigo, que fiquei admirado com a sua presença de espirito, pois que v. é um teso a valer. E tão teso que um tipo qualquer que andava de noite a roubar galinhas, embrulhado num lençol lhe meteu um susto que o fez bater com os calcanhares no pescoço.
Os seus homens é que são uns cobardes incapazes de fazer frente a um homem, e tão estupidos que não sabem distinguir os impáres dos páres.
O que eu lhe gabo é o seu bom humor e o á vontade com que se mantem na frente d’aquela sucia de alarves tão selvagens como lobos. O Jeronimo é que chuchou valentemente com o meu amigo: mas aquilo não foi por mal, pode acreditar, pois que o mesmo sucedeu à mana Perpetua.
E agora por falar em Perpetua: ela sempre casa ou não?
Um caso que me deixou bastante intrigado, foi o seguinte: quando o João pediu a Rosarinho em casamento houve aqueles brindes regados a vinho, e o trouxa do Serafim que já tinha levado com a tampa ainda ali ficou junto dos noivos e a brindar tambem. Isso com certeza é uso lá da terra.
E a proposito dos roubos do fantasma, tambem lhe quero contar uma historia dum roubo aqui praticado, (mas desta vez não foi azeite ou galinhas) um roubo intrincado como os diabos e que deu volta ao miolo d’um afamado detetive que tinha o habito de mecher muito com os braços e que não fumava sempre de cachimbo como pretendia um certo jornalista que fez a narração desta aventura que eu lhe passo a contar.
Ora o caso é que foram roubados uns vinte mil dolares (olhe que sempre é mais do que todos os roubos do tal lobis-homem) às ordens terminantes de uma certa dama da capital que julgo ser atris ou coisa parecida e que meteu uma catrefa de rapazes sérios neste enorme sarilho.
Mas meteu-os de tal forma que o dinheirinho foi roubado mal e porcamente, sendo tudo descoberto, devido à má orientação da tal dama, o que levou o citado jornalista a terminar a sua reportagem, não dando os parabens áquela distinta artista.
Mas tudo isto se relaciona, embora não o pareça, com a festa da sua aldeia que foi orientada pelo narrador do roubo que, é bom frisar, estava de passagem na Figueira.
E foi ele que o meteu a v. naquele sarilho que o fez deitar os bofes pela boca fóra e bem assim a todos os seus patricios que podiam muito bem ter festejado o santo casamenteiro d’uma maneira mais correcta. V. ainda meteu alguma figura porque cantou pouco: mas acredite que as lindas canções da sua terra foram cantadas muito a fugir não deixando brilhar algumas lindas musicas que tive o prazer de ouvir.
No entanto a menina Rosaria fez um poucochinho de figura, pois que cantou o que lhe coube com uma certa graça e boa vós, não lhe sucedendo o mesmo quando fala, pois que atira muito a atris de teatro a valer.
As canções ao desafio, essas foram uma lastimasinha que até faziam pôr em pé os poucos cabelos do maestro Simões, para quem o João olhava muito, esperando que a musica saísse da batuta...
Mas lá na terra não há quem cante? Se não há, é para lamentar, pois que para as cantigas ao desafio quer-se bôa vóz, vóz sã e cristalina, pois que as cantigas assim cantadas são sempre o caracteristico de uma aldeia quando há festa de arraial.
De resto todos os seus patricios se houveram como puderam e embora não tivessem desacertado muito, bem podiam ter dado mais um pouco de brilho á festa.
Um abraço para o amigo Jeronimo e diga-lhe que dispense do seu serviço alguns dos creados pois que aquilo é gente de mais, apezar do pato ser grande... E agora para terminar, peço-lhe que diga ao seu amigo jornalista que eu não lhe dou os parabens pela organisação da vossa festa; mas que dos 20.000 dolares foram muito melhor roubados...
Quando houver outro arraial, mas que seja bom, avise que eu lá estarei fixe.
Um abraço do seu amigo certo AGFA
PS – A sua encomenda do tal aparelho para obrigar o João a andar direitinho, já está feita. A (O Figueirense – 05/20)
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