Escrevemos,
atrás, da polémica travada entre os directores do Grupo e o correspondente
local, Anibal Cruz. Tal como as colectividades, também Anibal Cruz fez as pazes
com os seus antigos consócios. Um dia, um tavaredense emigrado no Brasil,
saudoso da nossa terra, procurou notícias. Foi aquele correspondente que lhe
respondeu e vale a pena aqui deixar recolhidas as notas que publicou na
imprensa figueirense, sobre as nossas associações e para informação daquele
conterrâneo. Perguntas-me
como vae a Sociedade d’Instrucção, a collectividade que, com o teu esforço,
ajudas-te a fundar. Dizer-te-ei que tem tido grandes progressos nos ultimos
annos, principalmente no meio theatral, onde se evidenciaram alguns dos nossos
prezados conterraneos, taes como o José Ribeiro (o filho mais velho do Gentil,
conheces?) o Armeniosito, como lhe chamavas, e o nosso pandego Jayme Broeiro,
que trabalharam pela Sociedade d’Instrucção com amor, sabendo assim erguel-a ao
nivel das boas aggremiações educativas. Hoje não há tanto enthusiasmo, porque o
Zé Ribeiro foi como sargento para as longinquas paragens africanas defender o
nosso dominio colonial, e o Armenio Santos e outros socios foram tambem
chamados ás fileiras militares.
Olha
que os nossos rapazes já representaram aqui o Amor de Perdição, aquella soberba
peça de Camillo que tu, de quando em vez, me falavas e dizias não haver coisa
melhor. E representaram-na muito correctamente, ensaiados por um distincto
amador e meu amigo sr. Vicente Ferreira, da Figueira. N’esse dia foi uma
enchente á cunha. Pessoas de muitas partes do concelho a Tavarede vieram para
assistir ao espectaculo. E eu ao admirar as bellas scenas do drama, muita vez
me lembrei de ti, que, apaixonado como és de tudo que seja de Camillo, devias
gostar de vêr os nossos patricios a interpretar a sua melhor obra sem a
anavalhar como se costuma dizer.
Pois
a Sociedade d’Instrucção tem já uma boa folha de serviços prestados ao nosso
povo, ora instruindo-o pela escola, ora educando-o pelo palco. Mas ainda mais
fez: - promovem na sua séde algumas conferencias interessantes, sendo
conferente o dr. José Cruz que muito tem feito em prol do bem-estar do povo
trabalhador. A sua palavra auctorisada combate os vicios prejudiciaes á saude e
á bolsa do operario que, n’este meio pequeno, passa o tempo nas tabernas. Emfim
já vês que a tua Sociedade vae progredindo consideravelmente.
O
Grupo Musical é uma aggremiação que está em principio, mas já com progressos
rasoaveis. Fundou-se sem meios e installou a sua séde n’uma casa pequena, onde
construiu um theatrito para as familias dos associados passarem as noites
grandes. E foi vivendo com este auxilio e com qualquer donativo recebido quando
a sua tuna fazia serviço em festas, e que hoje, dizem me, já vive mais
desafogadamente. O sr. Manuel da Silva Jordão, dos Carritos, cidadão de
fortuna, offereceu lhe para séde a casa que pertencia ao sr. João Aguas, na rua
Direita, e a direcção do Grupo, n’um impulso de vontade, ao receber tão valiosa
offerta, metteu obras na casa e construiu um elegante theatro. Mas avalias
pelas coisas do teu tempo, o interesse com que os rapazes trabalhavam na
realisação das obras. Trabalhavam de noite e aos domingos, os socios, que eram
pedreiros, carpinteiros, pintores, etc., sem quererem um centavo sequer. O
interesse d’elles era só que a sua sociedade progredisse e isso assim tem
acontecido, pois que, o theatro acabado, ali teem effectuado récitas
magnificas, representando se dramas de sensação, d’aquellas peças tragicas de
que tu eras apaixonado. Os Medinas (principalmente o Zé), são as fabricas do
riso d’esses espectaculos. Que fartadella tu apanhavas se o visses na comedia O
Cabo de Ordens...
O
João da Simôa é o regente da tuna e, tem sido incansavel, os rapazes
apresentam-se afinadinhos e executam módinhas de gosto. O Antonito Medina, o
filho do Antonio que tu, por certo, conheces, é tambem muito activo e dedicado
socio do Grupo Musical e vem a ser ainda outro tio... Ora aqui tens mais uma
sociedade com futuro.
Enquanto o Grupo Musical prosseguia
activamente, com o teatro e com a música, a Sociedade de Instrução, pelos
motivos que já referimos, pouca actividade tinha além da sua escola nocturna.
Talvez por isso começassem a surgir os mexericos e, para esclarecer a situação,
o correspondente local de um peródico figueirense fez publicar a seguinte
notícia. Alguem terá dito que esta briosa
colectividade morreu, isto por não se ter ouvido falar nela há muito tempo.
Não, senhores. Ela vive e viverá sempre, continuando na sua obra altruista de
há já 13 anos.
Abriu
na segunda-feira as portas da sua escola nóturna, não só para os associados e
filhos destes, mas para todos que queiram arrancar-se ao analfabetismo. Os
alunos são já em numero de 25, e espera-se que seja aumentado. Na abertura da
escola fez-se uma preléção aos alunos, estando tambem presentes varios socios,
a todos se dizendo o fim para que se fundou aquela Sociedade e o caminho que
ela tem seguido e seguirá sempre, os deveres que a todos compete satisfazer
para serem homens dignos, etc., etc.
A
Sociedade d’Instrução Tavaredense está a cumprir a sua obra em prole da
educação do povo. Da sua escola teem saído elementos que agora sabem honrar o
seu nome. Vendo isto, eis porque ela, querendo continuar a afirmar a sua boa
vontade, auxiliando o progresso dos filhos desta terra, abriu agora as suas
aulas Os paes não teem razão de se
queixar da falta de escolas.
O
que é preciso é que ali mandem os filhos todas as noites e saibam dar o valor
ao sacrificio daqueles que estão ali para os educar e os querem vêr seguir bom
caminho.
A
obra da Sociedade d’Instrução Tavaredense foi sempre baseada na educação do
povo e no levantamento moral da sua terra. Mas para elevar o excelente nome da
Sociedade é preciso que todos trabalhem, cumprindo os seus deveres, não
desprezando, não pondo ao canto o que tanto trabalho tem levado a exaltar. A
Sociedade d’Instrução Tavaredense tem dentro do seu gremio homens firmes. Há de
viver sempre e cumprir o seu honrado programa. Levantar, pois, a Sociedade
d’Instrução Tavaredense, é erguer o bom nome da nossa terra!
Depois de fazer a habitual
representação do Presépio, pelo Natal, em Janeiro de 1918 o Grupo Musical repôs
em cena o Auto dos Reis Magos. E apesar das dificuldades, o grupo da Sociedade,
por ocasião do seu 14º. aniversário, representou o emocionante drama social Honra e Dever e a chistosa comédia Um
julgamento no Samouco.
E
depois de uma enorme série de representações com o drama Erro judicial, o Grupo Musical saíu fora do concelho, para ir dar
um espectáculo com esta peça a Verride, terra natal dos seus fundadores, os
irmãos Medina. Foi uma noite bem passada
e há muito tempo que nas tábuas do nosso velho palco não são executadas peças
com tanta correcção. O programa constou do citado drama e da comédia Os gagos.
Em Junho de 1918, o Associativismo tavaredense e a Sociedade de
Instrução, em especial, sofreram um rude abalo com o falecimento de Gentil
Ribeiro, pai do ensaiador, ausente em África, no cumprimento do serviço
militar, regente da sua orquestra, autor do hino da colectividade e que havia
sido um dos fundadores da Estudantina, chegando a ser regente da sua tuna.
Mas em Maio de 1919 regressou a
Tavarede, José Ribeiro. A colectividade, plena de regozijo, realizou uma festa
de homenagem. Subiram á scena chistosas
comedias, cujo desempenho nada deixou a desejar, salientando-se os excellentes
amadores Jayme, Graça, Coelho, Emygdio, etc., e a simpatica amadora Helena de
Figueiredo que, interpretando varios papeis com toda a correcção, mais uma vez
deu provas abundantes das suas largas aptidões para a famosa Arte de Talma.
Todas
as sallas, lindamente ornadas de verdura e flôres naturaes, ostentavam varios
retratos do homenageado, caprichosamente engalanados, com sêdas preciosissimas,
rosas, cravos, etc., dispostos com fino gosto por mãos habeis de sympathicas
meninas da nossa terra, o que dava ás mesmas sallas um aspecto bonito e
encantador.
Foi
sem duvida uma festa muito sympathica, reinando sempre a mais franca e sincera
alegria em todos os corações dos que a ella assistiram. Foi uma festa familiar.
Foi uma festa que deu jus aos homenageandos, que tendo em consideração que José
Ribeiro foi para a Sociedade d’Instrucção, antes de se auzentar para Africa, um
dos melhores, senão o melhor elemento e um incansavel e desinteressado
trabalhador, quizeram provar-lhe que com a festa em sua honra o seu
inesquecivel reconhecimento e a sympathia que lhe dedicam.
Não
somos socios d’aquella collectividade, nem tampouco contribuimos com a nossa
modesta cooperação, mas, com franqueza, gostámos immenso; a nossa satisfação é
tão grande, que não podemos de forma alguma deixar de felicitar os seus
organisadores, sendo extensivos até á pessoa do homenageado os protestos do
nosso jubilo não só pelo seu feliz regresso, mas ainda por ser alvo d’uma
manifestação que revestiu a maior imponencia e brilhantismo.
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