Embora não dependentes das nossas
colectividades, estavam organizados, na nossa terra, dois ranchos, que animavam
as tradicionais festas a S. João de Tavarede. Eram o Rancho da Alegria e o
Rancho Flores da Mocidade, qualquer deles tendo as suas orquestras formadas por
músicos pertencentes às duas associações. E, entre estes ranchos, havia grande
rivalidade. Habitualmente o primeiro actuava num pavilhão instalado no Largo do
Forno, enquanto o segundo se exibia no Largo do Paço. E, na verdade, essa
rivalidade chegou a levar à confrontação física...
Também novas actividades surgiram,
especialmente no Grupo Musical e de Instrução, entre as quais o desporto. Um
tavaredense, que veio a desempenhar o cargo de responsável pelas práticas
desportivas nesta associação, bem como outros de que mais adiante daremos nota,
sagrou-se campeão distrital na corrida da légua disputada em Coimbra, mas em
representação do Ginásio Figueirense. Foi ele António de Oliveira Lopes.
António Oliveira Lopes, na homenagem à primeira professora primária em Tavarede, D. Maria Amália de Carvalho
O Associativismo progredia na nossa terra. Devemos registar,
igualmente, as boas relações que continuavam entre as nossas colectividades,
bem como com as mais diversas colectividades do concelho. Como exemplo,
referimos uma nota publicada na imprensa concelhia e que relata uma visita de
retribuição feita pela tuna de Vila Verde. Embora
tardiamente, não quero olvidar o facto de a simpática e bem organisada tuna do
G.R.M.V, num dever que se lhe impunha cumprir,
ter vindo no passado dia 11 do corrente cumprimentar a sua congénere d'aqui -
Grupo Musical Tavaredense -, que há mezes havia visitado aquela
colectividade irmã, de passagem propositada por Vila Verde.
Deviam ser aproximadamente 13 horas e meia
quando ao ar subiam alguns foguetes anunciadores da vinda dos nossos
vizitantes, os quaes fizeram a sua entrada pelo lado da Chã, onde a Direção do
Grupo Musical os foi receber. O bandeireiro da tuna Vilaverdense aceita troca
dos estandartes representativos das colectividades amigas, depois do que a tuna
começou de executar uma primorosa marcha até à sede do Grupo Musical.
Convidados os vilaverdenses a entrar, o
auctor destas linhas deu-lhes as cordeais boas-vindas, seguindo-se António Victor Guerra, que improvisando um brilhante
discurso, terminou por enaltecer, de uma forma aliás bem digna e justa, as excelentes qualidades do homem que
competentemente dirige a tuna de Vila Verde - a figura simpática e respeitável do sr. Abinadab Nunes da Silva, a quem em
parte aquele povo deve o inesquecível favor de, em tão curto espaço
de tempo, o fazer acordar de vez da imperdoável letargia e indolência em que se
debatia há tantissimos anos...
Termina o amigo Guerra por levantar, de uma
forma franca e sincera, um viva ao Grémio Recreativo Musical Vilaverdense,
que foi secundado por todos os tavaredenses que o ouviram. O sr. Abinadab Nunes da Silva agradece
reconhecido, de uma forma fácil e fluente, aos rapazes que em palavras tão imerecidas, o estão a colocar assim a uma culminância
tamanha. Diz que o convidaram para aquela Obra, portanto, já que faz parte dela, tem por dever envidar todos os
esforços por que ela saia sã e forte, ou pelo menos a não o deixar mal colocado,
pois que, se os seus rapazes continuarem a compreendel-o e a obedecer-lhe, como
presume que sim, tem a quasi certeza que atingirá com eles a maior das
distancias que seja possivel à sua modesta competência na sublime Arte de David
de Sousa.
Ao terminar, uma estridente e prolongada
salva de palmas cobre as suas palavras, ao mesmo tempo que as notas do
Hino Vilaverdense imprimiam ao acto, modesto mas solene, uma certa nota
apoteótica. Foram convidados a um copo d'agua, o qual decorreu debaixo da maior
animação e da mais franca alegria e bem-estar.
Quer dizer: este feliz momento veiu
contribuir para uma maior aproximação e uma mais cordeal e intensa amizade entre os grupos congéneres, senão para um laço mais
vinculado das duas aldeiasinhas, tão fortemente unidas pela inquebrantável
corda da tradição...
Também
o mesmo grupo vizitou a Sociedade d'Instrução Tavaredense, onde foi bem
recebida. Os meus sinceros e veementes votos
são para que a simpática colétividade que nos vizitou continue a progredir à medida dos seus desejos, pois que, com a boa
vontade que lhe é peculiar, e com a competência do sr. Abinadab à sua frente, ela
tem a obrigação restricta de vencer qualquer dificuldade que porventura se lhe
possa atolhar.
Apesar de começar a ser muito criticado,
como espectáculo teatral, o Grupo Musical e de Instrução, chegada a época
natalícia, repunha em cena O Presépio,
conquanto já fosse aborrecido tanto Presepe, é certo que, chegada esta ocasião,
ele sempre lembra. Por outro lado, dá muito dinheiro, muito, e é dele que
precisam todas as colectividades que, como o Grupo Musical, só vivem da
quotização e do esforço que por elas envidem os seus sócios mais apaixonados.
Vamos, pois, prepararmo-nos para a monumental ‘injecção’.
Entretanto, a Sociedade de Instrução,
sempre que tinha possibilidades de o fazer, apelava aos tavaredenses para o
associativismo. A sede da S.I.T. abre
todas as noites, e ali se reunem alguns associados, que passam umas horas de
bom convívio. Porque não deixam as tabernas aqueles que nesta se reunem à
noite, envenenando a saúde e contraindo vícios perniciosos a si próprios e à
sociedade?
Em Abril de 1924, o Grupo Musical e de
Instrução resolveu, em assembleia realizada no dia 21, comprar o edifício onde se encontrava instalado havia dez anos,
e que lhes havia sido cedido, gratuitamente, pelo seu sócio benemérito Manuel
da Silva Jordão. Como sabemos, era a casa que, muito anteriormente, havia
servido a Joaquim Águas para ali dar alguns espectáculos, nomeadamente o Presépio, de que era um fervoroso
entusiasta, e, anos mais tarde, sede do Bijou Tavaredense.
Embora tivessem sido feitos alguns
melhoramentos aquando da mudança, entenderam os directores da colectividade que
havia necessidade de novas obras, para que pudessem desenvolver a sua acção
educacional, cultural e recreativa. Para tal, e aceitando uma proposta que lhes
foi feita pelo proprietário do imóvel, resolveram adquirir o mesmo.
... Comquanto seja um pesado encargo para a
Direcção, ela está vencendo as peores dificuldades que se lhe teem antolhado,
vendo que os seus desejos ora correm de forma bem lisongeira. A compra é feita
por acções de 50 escudos, vendo-se já inscritos no respectivo livro grande
numero de sócios mais devotados daquela
colectividade.
Para aqueles dos sócios que não possam
comprar já acções, foi criada uma caixa económica, para a qual eles são obrigados
a pagar 1 escudo, ou mais, todas as semanas, sob pena de serem considerados
demissionários. A iniciativa é boa,
porquanto é um ensejo para se conhecerem os bons e leais amigos do Grupo
Musical Tavaredense... Oxalá os
directores desta sociedade local consigam levar a cabo os seus louváveis
propósitos, para o bom nome da sua associação e engrandecimento desta
tão encantadora aldeia.
Foi o início de um projecto muito importante para esta
associação tavaredense. Coincidiu com a instalação da rede eléctrica em
Tavarede, o que, aliás, foi de imediato utilizado por ambas as colectividades.
Ao mesmo tempo que as obras, ainda que a escritura da compra não estivesse
feita, estas prosseguiam em bom ritmo, começaram a preparar o espectáculo a
realizar para a inauguração dos melhoramentos efectuados, apontando os festejos
para a data do 13º. aniversário da sua
fundação.
Como curiosidade, aqui inserimos uma nota
publicada na imprensa figueirense e relativa à inauguração da luz eléctrica. Temos,
finalmente, luz eléctrica em Tavarede. Está montada a rêde e há feitas já
algumas instalações em casas particulares. A primeira instalação a fazer-se foi
a da Sociedade Instrução Tavaredense, que é completa e perfeita, ficando o
teatro com todos os recursos de iluminação que podem exigir-se em casas desta
natureza.
A
luz ficou ligada no último sábado, despertando o facto um interêsse
extraordinário nesta localidade. Muitas pessoas foram à sede da Sociedade de
Instrução ver o efeito da nova iluminação, que é deslumbrante. Alguns
associados até se reuniram, não ocultando o seu regosijo. A inauguração da luz
eléctrica far-se há no dia 13 do corrente, com uma récita dedicada aos sócios.
No domingo, 14, haverá baile. Tem a população de Tavarede motivos para estar
grata à Sociedade de Instrução Tavaredense, pois, sem o esforço desinteressado
de um grupo de sócios desta agremiação, não disfrutaria ainda hoje êste grande
melhoramento. A Companhia Eléctrica, trazendo a energia a Tavarede muito antes
do prazo a que era obrigada pelo contrato, deu provas duma grande boa vontade,
sendo valiosamente auxiliada por aquele grupo de sócios da S.I.T. a que nos
referimos, que conseguiu, com donativos vários – entre os quais avulta o de
500$00 da Cerâmica e Exportadora, do Senhor da Arieira – adquirir todos os
postes necessários para a montagem da rêde, podendo avaliar-se êste auxilio em
1.500$00.
Está
claro que há mariolas que, não contribuindo com o mais insignificante esfôrço
para melhoramentos desta natureza, são depois os primeiros a quererem tirar
dêles todo o proveito. Foi sempre assim, e por isso mesmo não estranhamos. A
Companhia está prosseguindo activamente na montagem das instalações
particulares e na ligação destas à rêde.
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