E também nos parece oportuno recordar que
as primeiras festas de arraial com iluminação eléctrica, tiveram lugar nos dias
13, 14 e 15 de Setembro de 1924, no antigo Largo do Forno. Parte da tuna do Grupo Musical executou, num vistoso pavilhão,
iluminado a electricidade, um magnífico programa, ao som do qual numerosíssima
massa de forasteiros rodopiou alegremente toda a noite de sábado e no domingo,
das 19 horas à meia noite.
As obras do Grupo demoraram para além do
previsto, pelo que a inauguração teve de ser adiada. Entretanto, a Sociedade de
Instrução repõe em cena a opereta Os
amores de Mariana, em Outubro daquele mesmo ano.
OIas amores de Mariana - Grupo feminino
Foi uma noite
esplêndidamente passada a de anteontem. O teatro da Sociedade de Instrução
Tavaredense teve uma enchente colossal, e a linda opereta Os Amores de Mariana
foi mais uma vez ouvida com o maior agrado. Os aplausos foram entusiasticos em
todos os finais de acto e nalguns números de música, que tiveram de ser
bisados.
O
desempenho bom, mantendo os créditos do nosso festejado grupo de amadores.
Helena Figueiredo, a distinta amadora que agora reapareceu no seu antigo papel
e que foi acolhida com uma quente ovação e muitas flores, cantou admiravelmente
a dificil parte de Mariana. Idalina de Oliveira soube, como sempre, fazer-se
aplaudir na Morgada, que interpretou com grande naturalidade e muita graça.
António Coelho, o apaixonado Zé Piteira; António Silva, no seu caricatural e
tão expressivo Morgado do Freixo; Jaime Broeiro, no sacrista sabichão de
latinório; António Graça, insubstituivel no brasileiro Barnabé; António Santos,
que fez o janota conquistador; e Francisco Carvalho, com muita naturalidade no
Manuel d’Abalada – souberam manter a alegria da peça através dos três actos,
devendo dizer-se que os amadores que se incumbiram de papéis secundários
ajudaram bem, dando um agradável conjunto. Os coros estiveram afinados e
certos, o que poderosamente contribuiu para a boa impressão geral.
Entre
a assistência estavam muitas pessoas da Figueira e Buarcos. No próximo domingo
vão os nossos amadores representar esta opereta a Quiaios, no teatro do Grupo
Instrução e Recreio onde, estamos certos, Os Amores de Mariana agradarão
plenamente.
No espectáculo realizado em Quiaios, o
grupo cénico foi alvo de justos aplausos,
não só pelo mérito da peça, como pelo desempenho, que foi óptimo. Por sua
vez e no dia 1 de Novembro, coube aos amadores do Grupo irem à sede da
Filarmónica Figueirense representarem as peças Um erro judicial e a comédia Medicomania.
Foi o princípio de uma campanha de angariação de fundos destinados a fazer face
ao custo do edifício da sede e das obras ali feitas. Seguiram-se deslocações a
Quiaios, Brenha e Maiorca. Os esforços feitos pelo pessoal do teatro e pelos
componentes da tuna foram inexcedíveis, mas as receitas obtidas, apesar de
terem sempre as lotações esgotadas, não eram grandes, mostrando-se mesmo
insuficientes para fazer face aos compromissos assumidos. Por este tempo, a
tuna era dirigida pelo professor de música Eduardo Pinto de Almeida.
Entretanto, na Sociedade foi levada à cena
uma nova opereta, Noite de S. João, peça de grande responsabilidade, tanto pelo
que diz respeito à encenação e à interpretação de alguns papéis, como pelas
dificuldades da partitura, que é uma belíssima obra musical, de inspiração
felicíssima.
Os amores de Mariana - Grupo dos homens
Igualmente para angariar fundos para o seu cofre, o teatro
da Sociedade foi representar à Figueira, ao Parque, a opereta Os amores de Mariana. Aqui reproduzimos
a notícia sobre esta deslocação. Um grupo de amadores dramáticos de Tavarêde veio no
sábado ultimo ao Parque-Cine dar um espectáculo com uma opereta regional, cuja
acção se passa nos arredores de Coimbra, segundo rezam os programas, e por
tanto paredes meias com a nossa terra.
Fui assistir com um certo interesse, porque
sempre gostei do teatro musicado, principalmente quando a acção se passa em
qualquer das nossas províncias, algumas delas tão ricas em motivos para uma boa
partitura. Os bons auctores é que vão escasseando.
As operetas do Pereira Correia são-me
familiares, porque nunca deixei de assistir às suas representações, e apezar de bastante vista, ainda gosto do Barão de Antanholes, que tem musica bonita e bastante movimento
de personagens. É uma opereta que vinca sempre em todos os que assistem às suas
representações. O que não se dá com Os
Amores de Mariana,
que é uma opereta inferior e com passagens até pouco decentes,
diga-se a verdade.
Do desempenho pouco há a dizer, porque se
tirarmos António Coelho, que se mecheu à vontade, e Helena de Figueiredo, que tem geito, nada mais se aproveitou. Pena
foi que o primeiro se não tivesse mantido na scena da embriaguez, porque teria sido perfeito e que a segunda
tivesse pronunciado um tromento que
a meu ver devia ter dito tormento. De resto, tem boa voz e canta
com certo gosto. A marcação pareceu-me deficiente. Não percebi que o André, charlatão, surgisse no palco
com a massa coral, em lugar de ali aparecer
casualmente, o que deu a impressão de que entre ele e os camponios havia o
melhor entendimento. Ou não?
Também não compreendi a situação de Ernesto de Melo (António Santos)
depois de Mariana (Helena de
Figueiredo) lhe ter dado com a tampa ter-se
mantido no palco, assistindo à alegria que reinou à volta do Zé Piteira (António
Coelho), quando este teve a certeza do amor
de Mariana. Julgo que
ele devia ter desaparecido, porque havia sido preterido pelo rival. E para terminar com os meus reparos devo dizer que
não achei próprio que no coro Brazileiro
di água doce, os comparsas, todos dos arrabaldes de Coimbra, quebrassem tão harmonicamente a modinha brazileira. Lá que o Pancracio a exibisse e a massa coral se manifestasse de qualquer maneira própria do
seu temperamento e educação, compreendia-se, agora que a secundassem com
tanta geiteira é que se tornou reparavel.
Em Tavarede é natural que estes senões não se notem, agora nesta
cidade, onde nem sempre agradam os nossos melhores amadores e muitas vezes até
artistas de carreira, foi arrojo exibir uma opereta inferior, mesmo muito inferior.
A musica, além de cediça, está coordenada
muito à ligeira e foi interpretada muito deficientemente. Pena foi que assim
sucedesse, porque a orquestra estava bem organisada e apta a executar uma
partitura de mais vulto. Mas o fim principal
dos amadores tavaredenses foi arranjar dinheiro para o seu cofre, e esse
atingiram-no, porque a casa estava quasi cheia, o que devia ter
produzido uma boa receita. Felicito-os por tal motivo.
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