Passemos, agora, à
inauguração da nova sede com a transcrição de uma das reportagens relativas a
este acto. É um pouco longa, é certo, mas julgamos que não poderíamos omitir
este acontecimento do associativismo em Tavarede.
Embora tardiamente, pois já vão volvidos mais
de oito dias, não queremos nem devemos deixar no olvido a noticia
das festas que o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense levou a efeito nos
dias 20, 21 e 22 do mez corrente.
É certo que pouco mais podemos adiantar que o
digno redactor deste jornal que a eles assistiu. No entanto, e na qualidade de seu correspondente nesta encantadora aldeia
- que nos foi berço e por quem nutrimos aquele inabalável amor de bairrista que se presa - no entanto sempre nos queremos
ocupar de tão palpitante assunto - não passando, todavia, o nosso
propósito, de noticia lacónica e despretenciosa.
Devemos principiar por dizer que o Grupo Musical e d’Instrução,
organizando, para os seus festejos, um programa fora do vulgar, o cumpriu á
risca, ou antes, ainda o ampliou para melhor. Assim,
podemos afoitamente dizer - sem receio de desmentidos - que ainda se não fez em
Tavarede uma festa associativa tão simpática e tão completa como a que o
Grupo Musical agora levou a efeito. Sim,
senhores, honra lhes seja!...
No dia 20, á noite, teve lugar um sarau musico-teatral, que
constituiu um galhardo serão. Apresentou-se a
tuna no palco que executou, sob a proficiente direcção do maestro sr. Pinto
d’Almeida, nosso particular amigo, um repertório escolhido, que a
numerosissima assistência se não cançou de aplaudir. Um grupo de gentis senhoras e de loiras criancinhas surgem no palco, com
muitas fitas de seda, para serem colocadas
no estandarte glorioso da colectividade em festa que tem estampado um soberbo e
honroso trabalho a óleo do saudoso
António Ramalho, maravilhoso pintor que tão bem soube enaltecer a sua e nossa
Pátria, após o que António Augusto
Esteves, bom e leal amigo, usando da palavra, improvisa um brilhante discurso,
entrecortado, por vezes, com as aclamações
da assistência.
Ao findar, a tuna toca o seu hino,
confundindo-se os acordes com os entusiásticos "vivas" que a
expontaneidade fez sair do peito de todos os amigos do Grupo Musical, dessa
simpática colectividade para onde lançam ódios revoltantes certas nulidades que
se esquecem propositadamente do bom nome da sua terra - das freguezias do
concelho da Figueira aquela que ainda hoje caminha na vanguarda
da instrução - para só pôr em prática covardes propósitos que se traduzem em
reles bairrismo da parte de quem não tem a ombridade de se apresentar de fronte
levantada, a fazer traficancias contra uma Associação
que nasceu ha 13 anos e que portanto já tem raízes fecundas que dificilmente
deixam tombar tão bemdita Arvore...
Porque, se para uns a capa do anonimato serve
de pretexto para encobrir a figura meiga e pura da Caridade, para outros,
então, é o melhor recurso para pôr em execução planos traiçoeiros que só
prestigiam a covardia!
João d’Oliveira, brioso presidente da
direcção, surge no palco, com outros directores, e oferece ao maestro um
simpático brinde, que este agradece sensibilisado, abraçando-o cordealmente.
Uma prolongada salva de palmas ressôa na plateia, confundido-se de
novo as aclamações. A tuna executa a 2a. parte do seu escolhido
programa, seguindo-se a representação duma comedia em 1 acto, que muito agradou.
A 3a. parte do espectáculo é
composta de recitativos e guitarradas. Os maiores aplausos foram para o
distinto guitarrista-amador
Manuel da Cunha Paredes, de Coimbra, que a amizade do autor destas modestas
linhas trouxe até Tavarede. Acompanhado
a viola por Alberto d’Oliveira, da Figueira, faz um sucesso. Cantou alguns
fados de Coimbra, daqueles fadinhos bem portugueses que enebriam a nossa alma e
que o Paredes tão bem sabe cantar, sendo-lhe oferecido, como
ao Alberto, um "bouquet" de flores naturais, por duas inocentes
criancinhas.
Segue-se
a opereta em 1 acto - "A Herança do 103" - ornada de 7 números de
fina musica, que agrada. A orquestra muito
concorreu para o feliz sucesso obtido, graças á sua boa organisação e á batuta
proficiente de Pinto d’Almeida.
Para terminar - uma Apoteose. Não pôde a nossa pobre pena descrever o que foi o fim deste
sarau. Uma Apoteose explendida, deslumbrante, mesmo. Tudo se deve ao fino
gosto dos srs. Manuel Mesquita e Adelino Joaquim de Faria, da Figueira. Tudo! Num alto pedestal, uma coroa de loiros e uma lira,
a oiro, ladeadas de lâmpadas de variadas cores, dispostas por Aníbal Caldas,
electricista do Grupo. Violinda Medina, junto do pedestal, empunhando o
estandarte do Grupo. Mais uns pedestais, sobre o que estavam pousadas uns
tenros inocentes simbolisando a instrução das letras, da musica e do teatro. Mais
criancinhas, muitas criancinhas, envoltas em festões de loiro e flores,
empunham os gloriosos estandartes da Naval, do Ginásio, dos Caixeiros, da Cruz Vermelha, dos Caras Direitas, da
Filantrópica, do Instrução e Sport, etc, etc. No proscénio, significando a
"Fama", duas meninas, com trombetas. Catadupas de luz por todo o
palco imprimem ao significativo áto o
maior e mais completo brilhantismo, exalçando então a magnificência dos ricos
fatos alegóricos, em seda, que as
crianças vestiam.
Emquanto a orquestra executa o hino do Grupo,
a assistência irrompe em delirantes aclamações á associação em festa,
a Tavarede, ao Progresso, á Instrução, etc, etc, havendo lagrimas de
satisfação, das lagrimas que do coração acodem aos olhos, a embaciar orbitas de pessoas que experimentaram naquela
ocasião um dos momentos mais felizes, mais alegres, mais sublimes que na
vida se é dado gosar! E assim terminou
aquele serão de belo e invulgar passa tempo espiritual, que marcou bem
claramente mais um passo agigantado no
caminho do Progresso e da Instrução - por onde a nossa terra, que estremecemos,
tão digna e caprichosamente tem sabido trilhar.
No domingo, 21, ás 7 horas, uma salva de 21
morteiros põe em sobressalto toda a povoação. Uma fanfarra percorre as ruas da terra, soltando ao ar as notas
estridentes do hino do Grupo. Foguetorio rijo corta vertiginosamente o espaço
em direcção ao ceu azul que com um sol claro e quente quiz também associar-se á
nossa festa.
São 10 horas. A Filarmónica "10 de
Agosto" entra em Tavarede, tocando o hino do Grupo. É recebida de braços abertos. Após o "copo-d'agua" retirou para essa
cidade, na altura em que a jovem mas esperançosa tuna do Grémio Recreativo União Caceirense dava entrada na aldeia. Ha os
cumprimentos do estilo e os caceirenses ingressam no Grupo, onde
se demoram até á noite.
O Grupo Musical também quiz dar um Bodo aos
pobres, numero sempre simpático em todas as festas - e deu-o. Havia
destinado a distribuição de 2$50 a 25 pobres. Porém, apareceram 30, mais 5
portanto, que também levaram esmola. Saíram
satisfeitos, balbuciando palavras de agradecimento e pedindo a Deus muitas
felicidades para o Grupo Musical. Sentiam-se
alegres, os pobresinhos, como alegres se sentiam todos aqueles que estavam a
ver coroado do mais feliz resultado a boa organização de tão simpáticos
festejos, que tanto prestigiam a nossa terra.
Ás 4 horas da
tarde foi ainda dada recepção á benemerita Filarmonica Figueirense que vinha
assistir á sessão solene. Esta foi das melhores que se teem realisado em
Tavarede não só pelas figuras que n’ela falaram como tambem pelas afirmações
que lá se fizeram. Presidiu o exmo. sr. Francisco Martins Cardoso, grande amigo
d’esta colectividade, e secretariaram os srs. Pedro Collet-Meygret e João Maria
Pereira de Sousa representantes, respectivamente, do Gymnasio Club Figueirense
e da Associação Humanitaria dos Bombeiros Voluntarios d’essa cidade. Lido o
expediente, no qual se via um eloquente discurso do exmo. Sr. Antonio Argel de
Mello encitando os socios do Grupo a que não desanimem e que continuem sempre
na obra verdadeiramente filantropica que se impuzeram porque só assim se pode
erguer bem alto o nome da nossa querida Patria, e um oficio da Troupe
Recreativa Brenhense, usando da palavra alem dos srs. presidente da assembleia
e Eduardo Soares Catita os socios srs. Antonio Victor Guerra, que fez o
panegirico da socia há pouco falecida e da qual foi descerrada a fotografia por
ter sido uma dos fundadores e grande benemerita do Grupo, srª D. Maria Aguas
Ferreira; Joaquim Gomes de Almeida, que representava o jornal O Figueirense de
que é director e proprietario; Antonio Medina Junior e Antonio Lopes. Todos os
oradores se referiram ao significado moral d’esta festa enaltecendo com
palavras bastante elogiosas a obra realisada pela actual direcção. A seguir foi
servido a todos os convidados um excelente copo d’agua.
À
noite nos intervalos do baile que, como dissémos, foi servido e bastante
concorrido, o nosso presado amigo Candido José de Ferreira, da Anadia, que é um
verdadeiro excentrico, e que tambem a convite do nosso amigo Antonio Medina
Junior nos quis obsequiar com o seu valioso concurso, cantou e assobiou com
muita mestria, algumas peças de musica, tributando-lhe a assistencia, por tal
motivo, uma grande manifestação de aplauso, fazendo-o bizar alguns numeros.
Tambem cantaram e tocaram alguns fados os nossos dedicados amigos Carlos Pinto
da Silva e José Esteves Martins.
Na
segunda-feira teve logar o almoço de confraternização o qual decorreu sempre
dentro do maior enthusiasmo, tendo-se levantado diversos brindes. É merecedor dos maiores encomios o socio e
grande amigo do Grupo sr. Adelino Joaquim de Faria pela fórma artistica como
apresentou a séde ornamentada.
Estamos
certos de que a Direcção se há de sentir satisfeita pela maneira como tudo
decorreu e orgulhosa por ter proporcionado aos seus consocios 3 dias de
autentica festa associativa. Nós, como socios do Grupo Musical e d’Instrucção
Tavaredense, d’aqui lhe enviamos sinceros parabens em signal de regosijo pela
victoria alcançada, fazendo votos sinceros para que continue a trabalhar com a
mesma vontade e a mesma fé que hoje o anima.
Das centenas de pessoas que visitaram o Grupo Musical, engalanado
a capricho pelo sócio Adelino Joaquim de Faria, cremos não haver uma só que
dele não se refira em abonatórios termos.
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