Como
se previa há bastante tempo, o padre Cruz Dinis acabou por solicitar a sua
transferência, em Setembro de 1935, e, com a sua saída, acabou toda a
actividade do Grémio Educativo que, como se refere, teve uma existência
bastante efémera. E a sua sede acabou, três anos depois, a um estado ruinoso,
acabando a Diocese de Coimbra por vender o imóvel, onde acabou por ser
instalado um estabelecimento de mercearia e vinhos. Foi este o fim que teve a
casa do velho Joaquim Águas, do Bijou Tavaredense e reconstruída pelo Grupo
Musical com tantos sacrifícios. Esta venda deu origem a mais uma violenta polémica,
pois pretendia-se que, naquele edifício, fosse instalada uma Casa do Povo.
Também já contámos esta história, pelo que nos não vamos repetir.
A partir de então, Tavarede passou a
dispôr de teatro, na Sociedade, e de música, no Grupo. Claro que nos referimos
à pequena aldeia, pois o Grupo Musical Carritense continuava activo e, dentro
das suas possibilidades, a desenvolver a instrução pelos habitantes locais.
O grupo cénico da SIT passou a
melhorar, cada vez mais, o seu já vasto reportório. Referiremos algumas das
peças representadas. A Morgadinha de
Valflor, entre muitos outros, teve
este apontamento sobre uma apresentação em Coimbra. A última récita da Sociedade de Instrução Tavaredense em Coimbra, no
Teatro Avenida, ficou ali assinalada com um brilhante êxito dos amadores
tavaredenses. Os aplausos e as chamadas calorosas com que a exigente plateia
coimbrã se manifestou consagraram a representação da Morgadinha de Valflor como
um honroso triunfo artístico.
É esta mesma peça – célebre na história
do teatro romântico em Portugal – com o mesmo excelente desempenho, que o
público figueirense vai ter ensejo de apreciar no domingo, no Teatro
Peninsular.
A Sociedade de Instrução Tavaredense,
abalançando-se a pôr em cena a obra-prima de Pinheiro Chagas, fê-lo com a sua
habitual probidade e conhecido critério artístico, com o respeito e carinho
devidos à peça e à memória do autor.. A montagem cénica é cuidada em todos os
pormenores, e em Coimbra foi especialmente elogiado o esplêndido guarda-roupa,
executado primorosamente sôbre figurinos da época (fins do século XVIII).
A Morgadinha de Valflor
Nota curiosa: muitas pessoas que aqui
têm visto a Morgadinha de Valflor representada por várias companhias,
encontrarão agora alguma coisa de novo: o grupo tavaredense apresenta o 3º acto
como Pinheiro Chagas o escreveu, com as cenas da romaria, de ambiente
pitoresco, com as danças, os descantes, a musicata com rabeca e violas, o
estrondo com o característico gaiteiro, etc.
Será, sem dúvida nenhuma, um belo
espectáculo a récita de domingo no Peninsular, para a qual está aberta a
inscrição na Tabacaria Africana.
Continuam os jornais de Coimbra a
referir-se nos mais elogiosos têrmos à representação da Morgadinha de Valflor,
pelo grupo tavaredense. O Notícias de Coimbra e Ecos dos Olivais exprimem a sua
admiração pelo primoroso desempenho que tiveram ensejo de apreciar.
Um caso interessante ocorreu com a realização
de mais um espectáculo na Figueira, em benefício da Misericórdia. A peça “Canção do Berço”, admirável
obra-prima da literatura teatral espanhola que o distinto poeta Carlos Amaro
primorosamente traduziu para português, está posta em cena com o esmêro e o
proverbial cuidado do grupo tavaredense; e o desempenho é excelente, revelando
um conjunto que vence brilhantemente as dificuldades da obra. Mas, valorizando
o espectáculo, tornando-o particularmente curioso, dando-lhe característica até
hoje inédita na Figueira e cremos que em Portugal, há o facto de, depois da
peça teatral, ser exibida a versão cinematográfica americana da mesma obra – um
filme Paramount, magistralmente realizado – “Filha de Maria”.
Eis um programa de arte, absolutamente
recomendável. É certo que o fim do espectáculo – ajudar a Santa Casa da
Misericórdia a manter o seu hospital – é altamente simpático, e só por isso o
público figueirense acorrerá no sábado ao Peninsular; mas o espectáculo, só por
si, tem uma feição artística e um valor que o impõem.
O Grupo Musical, com a anuência do proprietário
do edifício, fez obras para aumentar o seu salão de festas, que passou a ter
dimensões óptimas para as festas dançantes ali realizadas e que atraíam sempre
muita assistência. Foi em Dezembro de
1936 que teve lugar mais uma reposição, na Sociedade. Da fantasia O sonho do cavador. E foram, uma vez
mais, à Figueira com esta peça. O Sonho
do Cavador levou ao teatro do Casino Peninsular, no domingo, uma enchente, o
que era de prever, pois alguns dias antes estavam já esgotados os bilhetes de
2ª plateia e cadeiras.
Ao êxito da bilheteira correspondeu, em
tôda a linha, o êxito artístico, proclamado na expontânea afirmação do público,
que retirou do teatro agradavelmente impressionado.
Precisamente à hora marcada, com a
pontualidade que é característica das récitas do grupo tavaredense, o
espectáculo começou; e logo no 1º quadro, ao terminar a linda valsa do Sonho, a
assistência manifestou-se com uma grande salva de palmas; manifestação que
amiúde se ouvia sublinhando muitos números de música ou cenas declamadas, como
O Sulfato e Enxôfre, diálogos dos Dois homens honrados e das Comadres, a cena,
no 1º acto, de Manuel da Fonte com os dois camponeses que João Cascão fêz
magistralmente, Concurso Hípico, Batota, Bolinha de Marfim, côro dos Moinhos,
canção da Fonte, dueto do 3º acto, o côro de cavadores e ceifeiras, etc.
Tôda a
interpretação é brilhante e mostra a homogeneidade do grupo, não havendo
citações especiais a fazer. Devemos, todavia, acrescentar que para a esplêndida
impressão de conjunto contribuíu poderosamente a linda partitura, que evidencia
a competência e o bom gôsto do distinto amador António Simões, o primoroso
guarda-roupa e os belos cenários, nos quais há trabalhos valiosos de Rogério
Reynaud.
Nos finais de acto a assistência
aplaudiu mais demoradamente, atingindo as ovações grande entusiasmo, com
repetidas chamadas, no fim da peça
Sem comentários:
Enviar um comentário