sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 53

     Como se previa há bastante tempo, o padre Cruz Dinis acabou por solicitar a sua transferência, em Setembro de 1935, e, com a sua saída, acabou toda a actividade do Grémio Educativo que, como se refere, teve uma existência bastante efémera. E a sua sede acabou, três anos depois, a um estado ruinoso, acabando a Diocese de Coimbra por vender o imóvel, onde acabou por ser instalado um estabelecimento de mercearia e vinhos. Foi este o fim que teve a casa do velho Joaquim Águas, do Bijou Tavaredense e reconstruída pelo Grupo Musical com tantos sacrifícios. Esta venda deu origem a mais uma violenta polémica, pois pretendia-se que, naquele edifício, fosse instalada uma Casa do Povo. Também já contámos esta história, pelo que nos não vamos repetir.

         A partir de então, Tavarede passou a dispôr de teatro, na Sociedade, e de música, no Grupo. Claro que nos referimos à pequena aldeia, pois o Grupo Musical Carritense continuava activo e, dentro das suas possibilidades, a desenvolver a instrução pelos habitantes locais.

         O grupo cénico da SIT passou a melhorar, cada vez mais, o seu já vasto reportório. Referiremos algumas das peças representadas. A Morgadinha de Valflor, entre  muitos outros, teve este apontamento sobre uma apresentação em Coimbra. A última récita da Sociedade de Instrução Tavaredense em Coimbra, no Teatro Avenida, ficou ali assinalada com um brilhante êxito dos amadores tavaredenses. Os aplausos e as chamadas calorosas com que a exigente plateia coimbrã se manifestou consagraram a representação da Morgadinha de Valflor como um honroso triunfo artístico.
         É esta mesma peça – célebre na história do teatro romântico em Portugal – com o mesmo excelente desempenho, que o público figueirense vai ter ensejo de apreciar no domingo, no Teatro Peninsular.
         A Sociedade de Instrução Tavaredense, abalançando-se a pôr em cena a obra-prima de Pinheiro Chagas, fê-lo com a sua habitual probidade e conhecido critério artístico, com o respeito e carinho devidos à peça e à memória do autor.. A montagem cénica é cuidada em todos os pormenores, e em Coimbra foi especialmente elogiado o esplêndido guarda-roupa, executado primorosamente sôbre figurinos da época (fins do século XVIII).



 A Morgadinha de Valflor

         Nota curiosa: muitas pessoas que aqui têm visto a Morgadinha de Valflor representada por várias companhias, encontrarão agora alguma coisa de novo: o grupo tavaredense apresenta o 3º acto como Pinheiro Chagas o escreveu, com as cenas da romaria, de ambiente pitoresco, com as danças, os descantes, a musicata com rabeca e violas, o estrondo com o característico gaiteiro, etc.
         Será, sem dúvida nenhuma, um belo espectáculo a récita de domingo no Peninsular, para a qual está aberta a inscrição na Tabacaria Africana.
         Continuam os jornais de Coimbra a referir-se nos mais elogiosos têrmos à representação da Morgadinha de Valflor, pelo grupo tavaredense. O Notícias de Coimbra e Ecos dos Olivais exprimem a sua admiração pelo primoroso desempenho que tiveram ensejo de apreciar.

         Um caso interessante ocorreu com a realização de mais um espectáculo na Figueira, em benefício da Misericórdia. A peça “Canção do Berço”, admirável obra-prima da literatura teatral espanhola que o distinto poeta Carlos Amaro primorosamente traduziu para português, está posta em cena com o esmêro e o proverbial cuidado do grupo tavaredense; e o desempenho é excelente, revelando um conjunto que vence brilhantemente as dificuldades da obra. Mas, valorizando o espectáculo, tornando-o particularmente curioso, dando-lhe característica até hoje inédita na Figueira e cremos que em Portugal, há o facto de, depois da peça teatral, ser exibida a versão cinematográfica americana da mesma obra – um filme Paramount, magistralmente realizado – “Filha de Maria”.
         Eis um programa de arte, absolutamente recomendável. É certo que o fim do espectáculo – ajudar a Santa Casa da Misericórdia a manter o seu hospital – é altamente simpático, e só por isso o público figueirense acorrerá no sábado ao Peninsular; mas o espectáculo, só por si, tem uma feição artística e um valor que o impõem.

         O Grupo Musical, com a anuência do proprietário do edifício, fez obras para aumentar o seu salão de festas, que passou a ter dimensões óptimas para as festas dançantes ali realizadas e que atraíam sempre muita assistência.  Foi em Dezembro de 1936 que teve lugar mais uma reposição, na Sociedade. Da fantasia O sonho do cavador. E foram, uma vez mais, à Figueira com esta peça. O Sonho do Cavador levou ao teatro do Casino Peninsular, no domingo, uma enchente, o que era de prever, pois alguns dias antes estavam já esgotados os bilhetes de 2ª plateia e cadeiras.
         Ao êxito da bilheteira correspondeu, em tôda a linha, o êxito artístico, proclamado na expontânea afirmação do público, que retirou do teatro agradavelmente impressionado.
         Precisamente à hora marcada, com a pontualidade que é característica das récitas do grupo tavaredense, o espectáculo começou; e logo no 1º quadro, ao terminar a linda valsa do Sonho, a assistência manifestou-se com uma grande salva de palmas; manifestação que amiúde se ouvia sublinhando muitos números de música ou cenas declamadas, como O Sulfato e Enxôfre, diálogos dos Dois homens honrados e das Comadres, a cena, no 1º acto, de Manuel da Fonte com os dois camponeses que João Cascão fêz magistralmente, Concurso Hípico, Batota, Bolinha de Marfim, côro dos Moinhos, canção da Fonte, dueto do 3º acto, o côro de cavadores e ceifeiras, etc.
         Tôda a interpretação é brilhante e mostra a homogeneidade do grupo, não havendo citações especiais a fazer. Devemos, todavia, acrescentar que para a esplêndida impressão de conjunto contribuíu poderosamente a linda partitura, que evidencia a competência e o bom gôsto do distinto amador António Simões, o primoroso guarda-roupa e os belos cenários, nos quais há trabalhos valiosos de Rogério Reynaud.

         Nos finais de acto a assistência aplaudiu mais demoradamente, atingindo as ovações grande entusiasmo, com repetidas chamadas, no fim da peça

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