Entre Giestas
O
reportório seguiu com nova peça O grande
industrial. “Casa completamente cheia, - e um ambiente de interêsse a
retratar-se nos rostos que, nestas coisas de teatro, sabem separar o trigo do
joio: interêsse muito justificado, por que do “Le Maitre de Lorges”, do
consagrado e popularíssimo romancista Georges Ohnet, só se poderia extraír uma
peça de grandes responsabilidades cénicas, passado num ambiente de
aristocracia, e o grupo de amadores dramáticos da Sociedade de Instrução
Tavaredense é constituído, na sua maior parte, por gente do campo, por gente do
trabalho – dos campos e das oficinas.
Como é que gente tão modesta e tão
humilde poderia dar-nos uma Marquesa de Beaulieu, uma Baroneza de Préfont, um
Duque de Bligny e um Barão de Préfont, sem essa “gaucherie” que é sempre
ridícula?
Pois deu – e deu-nos muito bem a
interessante peça, cujos quatro actos foram belamente aproveitados por Ilda
Stichini, e cuja interpretação, por parte de alguns dos amadores – num conjunto
muito harmónico -, foi além da nossa espectativa: se bem que, pelo que temos
visto fazer a tão distinto grupo cénico noutras peças de grande
responsabilidade, fôssemos dos espectadores que mais convencidos estavam, dum
bom êxito.
Como se operarão milagres assim?, qual
o segrêdo dessa alquimia que transforma, no palco, à luz da ribalta, um
iletrado, um humilde operário ou um trabalhador da gleba, num artista da
cena que muitos artistas, consagrados
profissionais, não deixarão de ter inveja?
...............
Se é certo que tudo aquilo que nós
temos visto fazer ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, na
interpretação de “O Grande Industrial”, do “Sonho do Cavador”, etc., é o
resultado das competências seleccionadas, para a obtenção dum tão brilhante
conjunto……
................
Lição, bem eloquente, do muitíssimo que
pode conseguir-se, dispondo de boas vontades e de competências – é o que se
aprende com êste muito distinto grupo de amadores dramáticos; e as
boas-vontades criam-se subordinando os espíritos e disciplinando-os, e as
competências, procurando-as, também, na massa anónima, como entre gangas
lamacentas se procuram diamantes.
Onde foram buscar António Pedro e muitos
outros dos nossos maiores artistas de cena?
Um apontamento, recolhido num jornal de
Coimbra, em Maio de 1937, comentando a representação naquela cidade da peça Os fidalgos da Casa Mourisca, pela
Companhia Berta Bivar – Alves da Cunha, não podia deixar-nos indiferentes. ... Mas sobre o desempenho, se nos sobrasse o
espaço, teríamos de gastar soma larga de considerações, tanta tristeza nos
produziu a figura genial de Alves da Cunha, encravada num conjunto que veio
aumentar largamente, por todos os motivos, os créditos justos que entre nós
disfruta o grupo de amadores de Tavarede. É bastante positivo para a
categoria atingida pelos nossos amadores teatrais.
Ainda vamos referir as peças Entre Giestas, Génio Alegre, Recompensa
e Envelhecer, com as quais, durante
os últimos anos desta década, realizaram diversas saídas e muitos espectáculos.
Génio Alegre
Pelo Grupo Musical, em Janeiro de 1939,
pediu a demissão de regente da tuna José Francisco da Silva, tendo sido
convidado para o substituir Carlos Rodrigues dos Santos. E em Maio daquele ano,
reatando um velho costume, a tuna deslocou-se ao Buçaco, no dia de Ascenção,
numa deslocação organizada pela Direcção e oferecida aos componentes da tuna.
Colhemos a informação de que a despesa, com esta iniciativa, foi de 231$85 e a
de que foi esta a última actuação deste agrupamento musical.
Como os conjuntos para abrilhantar as
festas dançantes já eram algo onerosos, tentou o Grupo organizar um conjunto
privativo. Teve o título de Os Refinados,
mas não vingou. E no dia 13 de Abril de 1940, fez a sua estreia um novo
conjunto, o Lúcia – Lima – Jazz. Desta
vez obtiveram sucesso. Durante várias décadas, este grupo musical alcançou
excelente reputação. E a década acabou com o recordar de uma velhissima
tradição. O Grupo Musical, uma vez mais pediu a sede da Sociedade e ali fez
representar, com a participação de alguns dos seus antigos amadores, o Presépio. Foi um triunfo, que acabou por
ser repetido no ano seguinte.
A última saída da tuna do Grupo Musical e de Instrução
Tavaredense
Lúcia Lima Jazz - 1941
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