Manda V.Exª. que individualmente dê eu conta do que nesta freguesia de Tavarede se observou nos terramotos passados. Respondendo distintamente aos interrogatórios de um papel, que da parte de V.Exª. me foi entregue, e deixando de expressar os movimentos do fluxo e refluxo do mar, pois neste ponto era V.Exª. informado pelo padre Teles, pároco da Figueira e Buarcos, terras a ele mais vizinhas, só dou conta a V.Exª. do que nesta freguesia se observou:
Ao 1º. – O terramoto sucedido em o primeiro de Novembro, teve o seu prinxcípio das 9 para as 10 horas da manhã, e sentiu-se lentamente tremer a terra, se foi aumentando o tremor com maior impeto, de sorte que abalando os edifícios, por forma que mostravam que iam arruinar-se, obrigaram a que seus habitantes se recolher à Igreja a orar a Deus, e chegando a maior parte deles à mesma, ainda dentro do tempo da duração do terramoto (cujo, pouco mais ou menos, existiria por espaço de um quarto de hora), se viu também tremer em tal forma, que as lâmpadas, com os seus vais e vens, chegavam quase a tocar as paredes, caindo a este mesmo algumas “esquírolas” de pedra do fecho do arco da capela-mor.
Ao 2º. - Quanto aos impulsos do dito terramoto, só se sentiram maiores do norte para o sul, ou pelo centro, nesta parte não houve pleno conhecimento, e só se viu que o tremor vinha da parte do sul.
Ao 3º. – Nesta dita freguesia não houve edifício que experimentasse ruína maior e só um em todos se divisam “vimolas”, mais ou menos, de sorte parecer que não ficaram necessitando ser especados, nem dão motivo aos seus habitadores se saiam deles a assistir no campo.
Ao 4º. – Não morreu nesta freguesia pessoa alguma nem tão pouco experimentou o menor dano.
Ao 5º. – Nas fontes não se viu mais do que turvação das águas.
Ao 7º. – Não rebentou fonte alguma de novo nem mesmo a terra abriu brechas e só se viu correr das mesmas fontes água em mais abundância.
Ao 8º. – Não houveram providências pelos militares e ministros por não haver necessidade que a tanto os obrigasse e da parte do culto só estive a intimar que o sucedido era ira do Altíssimo e provocar o povo a penitência e preces, que executaram e continuam.
Ao 9º. – No primeiro dia de Novembro, depois do terramoto já expressado, se sentiram mais dois de menos força. A 14 do mês de Janeiro, pela uma para as duas depois da meia noite, se sentiu um terramoto mais violento que o primeiro e obrigou auqse todo o povo a sair das casas para o monte, porém com menos duração, e finalmente, desde aquele primeiro dia de Novembro até ao presente tempo, não tem passado noite em que se não tenham percebido lentos terramotos, uns maiores outros menores e alguns deles quase imperceptíveis, por não terem dos mesmos conhecimento algumas pessoas, e não se tem experimentado dano em todos estes que ao primeiro se têm seguido.
Ao 10º. – A este não respondo por dizer respeito a lembrança de algum terramoto antigo e seu dano, do que não tenho notícia.
Ao 11º. – Há nesta freguesia 504 pessoas de um e outro sexo, sendo grandes e pequenos, a saber do sexo masculino 249 e do femínino 247, em cujo número se incluem 4 escravos e 4 escravas. Ao 12º. – Não se tem experimentado nesta freguesia falta alguma de mantimentos, antes com comodidade se têm comprado e compram.
Ao 13º. – Não houve incêndio algum.
É só o que se me oferece dizer a V.Exa. sobre os interrogatórios a que me preceitou responder e o faço dentro do tempo que me foi constituído. Deus guarde a V.Exa. como deseja e lhe com um que a Sua Graça para o bom regime dos seus súbditos.
Tavarede, 6 de Março de 1756. De V.Exa. muito atento e fiel súbdito. O cura, Manuel Gomes Chumbo.
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