Recunhecimento
de aprovação
Saibão
quantos este publico instrumento de aprovação de testamento, como em direito
mais valer, virem, que no Anno de Nosso Senhor Jesus Christo de 1665, aos 3
dias do mes de setembro neste lugar da Figueira, termo da villa de Montemor-o-Velho,
e casas de murada de Fernão Gomes de Quadros, Fidalgo da Casa de S. Mag.de,
Cavalleiro da Ordem de Christo; aonde eu Tabaliam fui chamado por mandado do
dito Fernam Gomes de Quadros e elle estava em sua cama doente, de doença que
Deus lhe deu, com todo o seu juizo perfeito, segundo o parecer de mim Tabalião,
e das Test.as ao diante numeadas e neste testamento assinadas todos chamados
por mandado do ditto Fernão Gomes de Quadros, e presentes todos, logo pelo dito
Fernão Gomes de Quadros me foi dado da sua mão a de mim Tabalião, cinco folhas
de papel, dizendo que nellas estava feito seu testamento, escripto em seis meas
folhas, com esta sette com a do encerramento, que lhe approvasse e fizesse
judicial, que tudo o que nelle tinha ditto, e relatado, queria que se cumprisse
e guardasse e pedia às justiças de S. Magestade, assim o houvessem por bom, e
lhe fizessem em tudo cumprir, porquanto hera sua ultima e derradeira vontade e
revogava todos os mais feitos antes delle, cedula ou codicilio assim o entregue e delle mandou ser
feito este instrumento e o ditto testamento
todo de verbrumada verbo, vi, e não tem entrelinha, nem borrão
algum e forão a tudo test.as presentes, que assinaram comigo Tab.am e o
Doutor Antonio Mendes, m.or na cidade de Coimbra e o Revº. Simão Rodrigues
Portugal, m.or no lugar de Tavarede e M.el Esteves da villa de
Montemor-o-velho, e Sebastião Fernandes e Miguel Ribeiro do Couto de Tavarede e
M.el de Mesquita de Loureiro e M.el d’Almeida de villa Verde, e o dito
Testamento, esta assinado pelo testador e pelo Padre Freire Ricardo da Madre de
Deus, e todas as test.as são pessoas reconhecidas de mim Tab.am, e logo eu
Tab.am aprovei o dito testamento, tanto quanto em direito devo e posso lho
fichei e sessei com seis pingos de lacre e o tornei a entregar ao dito Fernam
Gomes de Quadros, fechado e serrado. Diogo Fernando Negrão, Tab.am o escrevi =
Doutor Antonio Mendes = Simão Rodrigues Portugal = Miguel Ribeiro = Sebastião
Fez = Manoel d’Almeida = Manuel Esteves = Manuel de Mesquita Loureiro.
Abertura
do testamento
Aos
6 de setembro de 1665 annos neste lugar da Figueira, onde eu escrivam fui
chamado, por Precatorio deste Juizo com portador onde vim: e Fernão
Gomes de Quadros, que Deus tem, onde estava o licenciado Simão Rodrigues
Portugal, Juiz ordinario e dos orfãos do presente anno; ahi estava ainda o
corpo de Fernam Gomes de Quadros, por enterrar, e ahi se apresentou a mim
escrivam o testamento atras que tinha feito o dito Fernão Gomes de Quadros, o
quel eu escrivão abri, e por estar fechado e lacrado e sendo elle aberto o
Reverendo Padre Vigario de Boarcos o leo em alta vóz, estando presente o
Provedor da Santa Casa da Mizericordia da villa de Buarcos, e mais Irmandade da
ditta Santa Casa, e pelo dito juiz foi mandado se cumprisse, como nelle se
contem, e se tirassem os treslados necessarios, e assinou com o dito Padre
Vigario e o Provedor, Antonio Cardozo d’Azambuja, o escrevi = Simão Rodrigues
Portugal, o qual testamento, aprovação e abertura eu Antº. Cardozo da Azambuja,
Tab.am do publico, judicial e notas em esta villa de Buarcos pelo Duque de
Cadaval, Senhor della fiz escrever, e escrevi, bem e fielmente do proprio a que
me reporto e está em meu poder aos 18 do mes de setembro de 1665 annos. Antº.
Cardozo da Azambuja, o escrevi e assinei em publico de meu sinal de que uzo
fazer = lugar do sinal publico = hu testemunho e fé de verdade, aqui me
assignei tambem Antº. Cardozo da Azambuja.
Com
o falecimento de Fernão Gomes de Quadros, em 1665, “encerra-se um dos mais importantes períodos da história da
Casa de Tavarede. Pode-se dizer que esta finalmente estava instalada na zona. A
sua administração, tal como a de seu pai e avós, foi caracterizada por
permanentes conflitos, que agora deixaram de existir. Àquele período, que durou
mais de cem anos, seguiu-se outro em que a administração da Casa foi
essencialmente pacífica. Durante várias décadas a Casa de Tavarede pouco
aumentará e não se reconvertará. Porque era sólida, os administradores terão
procurado gosar o seu rendimento em vez de o aumentar”. (A Casa de
Tavarede)
Mas,
antes de passarmos ao seguinte morgado de Tavarede, não podemos deixar de
referir alguns apontamentos sobre Pero Lopes de Quadros, que seria o herdeiro
do morgado se não tivesse falecido antes de seu pai.
Nasceu
em Tavarede e foi baptizado na Igreja de S. Martinho no dia 16 de Junho de
1625. Faleceu, também em Tavarede, a 27 de Dezembro de 1663, portanto, ainda em
vida de seu pai.
Casou
na Corte, onde era moço fidalgo, no ano de 1651, com D. Maria Teles de Menezes,
dama da rainha D. Leonor de Gusmão, filha do Desembargador dos Agravos, Antão
Carotom e de sua mulher, D. Leonor de Faria. Tiveram os seguintes filhos:
- Fernão Gomes de Quadros, que foi o
herdeiro de seu avô, baptizado na igreja de Tavarede no dia 3 de Janeiro de
1655;
- Pedro de Melo
Pereira de Quadros e Sousa, baptizado na mesma igreja, em 12 de Março de 1656.
Foi irmão da Misericórdia de Redondos e Buarcos. Fez-se frade leigo, entrando
para o convento franciscano do Varatojo;
- D. Leonor,
baptizada na igreja de Tavarede, no dia 3 de Fevereiro de 1659. Não encontrámos
mais elementos sobre ela, pelo que admitimos tenha falecido em criança;
- D. Isabel de
Távora Coutinho, baptizada em, 1 de Julho de 1660. Casou com José de Sousa
Pereira, familiar do Santo Ofício;
- Álvaro Teles,
nascido e baptizado em Tavarede, a 6 de Janeiro de 1662, Foi confessor no
convento do Lorvão. Frade Bernardo, foi depois para o Mosteiro de Alcobaça,
onde foi mestre de Teologia. Foi promovido a abade do Mosteiro de Seiça e,
depois, prior do Mosteiro de Alcobaça;
- D. Bernarda
Teles, baptizada em 6 de Janeiro de 1663. Foi casada com Francisco de Miranda
de Castelo Branco, e, tendo enviuvado, entrou para o convento do Lorvão, onde
fora noviça antes do seu casamento. Foi escolhida para abadessa deste convento
por três vezes. “… mandou fazer o refeitório e tirou
dele a passagem para a cerca e a fez no claustro; mandou fazer a hospedaria e o
muro da cerca fora e no fim do seu triénio, solicitou, com muitas diligências e
trabalhos, a trasladação que se fez de Nossa Rainha Santa, vencendo-se muitas
dificuldades que se fizeram em 1714. Segunda vez abadessa, mandou fazer o celeiro
e consertar também a porta de baixo, aonde fez casa para que estivessem
religiosas, que até esse tempo se não costumava, pela tal porta ter pouca
serventia”.
Em 1713, substituiu os primitivos túmulos das infantas D. Teresa e D. Sancha,
por dois cofres de prata lavrada, que ficaram na capela mor.
Terão
tido ainda D. Luísa Teles e D. Maria Teles, que professaram no convento de
Santa Clara, em Coimbra, e D. Brígida Teles, freira em Lorvão.
Por
intervenção da rainha D. Leonor de Gusmão, Pero Lopes de Quadros foi investido na
comenda da Ordem de Cristo, das Alhadas, instituida na igreja daquele Couto,
que lhe trazia alguns rendimentos, provenientes dos dízimos do lugar.
Fernão
Gomes de Quadros não conseguiu que lhe fosse reconhecido o direito ao prazo de
Vila Verde, no qual teria sido, segundo se supõe, investido por seu pai. Aliás,
reconhece-se que se até então tinha havido o cuidado em aumentar o morgado com
todos os possíveis emprazamentos ou aquisições, foi a partir deste morgado que
essa tendência terá desaparecido. A sua última aquisição terá sido o prazo de
Lares, sito no limite de Maiorca, por 4 400 000 reis, a D. Diogo de Castro,
conde de Basto.
Teve
desentimentos vários com seus irmãos, que se afastaram desmembrando a família
até então muito unida. Foi esta desunião que acabou por, formando novas
famílias, o apelido Quadros se tenhm espalhado por diversos locais da região.
Com
o aproximar do seu fim, também seguiu a tradicional tendência dos seus
antepassados, quanto à sua religiosidade e devoção. Vê-se isso no seu
testamento, pois como era cavaleiro da Ordem de Cristo queria que seu corpo fosse em
hábito desta Ordem e debaixo o de S. Francisco, de que era muito devoto. Deixou também
diversos legados para esmolas a pobres.
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