1966.06.29 - ENTREVISTA COM JOSÉ RIBEIRO, ENSAIADOR DO GRUPO CÉNICO DA SIT. (MAR ALTO)
Os Tavaredenses não são profissionais de Teatro; alguns labutam as doze horas por dia e, mal jantam, vão viver a sua paixão - ouvir, comentar, ensaiar ou representar -, até pela noite fora.
Pois bem: por mais estranho que tal pareça, constituiram um grupo cénico de apreciável categoria, do melhor que vai pelo País, em amadorismo puro: hoje possuem uma casa de trabalho e de espectáculos bastante boa - auxílio da Fundação Gulbenkian -, e vão a toda a parte onde lhes é solicitada a presença, sem intenções lucrativas.
O milagre é de todos: de José Ribeiro, o director e o elemento essencial, corpo e alma dados ao Teatro; e de cada um dos seus companheiros e colaboradores, alguns com uma vida toda amarrada às tábuas do palco ou às cordas dos cenários.
Só graças a esse espírito devoto se torna possível realizar, com felicidade, obra difícil como representar bem uma peça de Pirandello. Num trabalho de equilíbrio, como este, as principais figuras contracenam de facto, situando-se num belo e harmonioso plano.
Interessados no assunto, quisemos fazer perguntas a José Ribeiro, que gentilmente a isso se prontificou, sabendo embora que estava falando para um leigo apenas curioso.
Salvo o respeito pela opinião contrária, cuidamos que um director cénico precisa de possuir sempre uma razoável dose de tirania; quando procede à primeira leitura de qualquer peça ao seu grupo, salvo raras excepções isso quer dizer que a obra vai para a frente, que a coisa está decidida...
_ Senhor José Ribeiro, quais as suas intenções, ensaiando Pirandello? Apenas o intuito de fomentar a cultura teatral entre os seus companheiros e o seu público?
_ Principalmente isso, sim. Nesse sentido, Pirandello importava sobretudo porque, tendo revolucionado profundamente o estilo cénico permitia ensaiar uma peça diferente do muito que temos representado.
_ E que motivos presidiram à escolha de "Para cada um sua verdade", entre todas as peças do escritor italiano?
_ Primeiramente, o facto de tal peça ser, talvez, aquela que apresenta a diferença referida no grau mais acessível ao nosso público; porque nós trabalhamos para o nosso público. E depois, porque em outras peças do mesmo autor a representação de algumas cenas levanta, para os intérpretes tavaredenses, inibição de carácter moral, que insisto em respeitar.
_ Sabemos que a peça tardou a ensaiar mais do que é habitual, em Tavarede. Quanto tempo andou a obra em ensaio? E quantos ensaios se fizeram dela?
_ Trabalhámos na peça uns três meses, com uma média de quatro ensaios por semana. Muitos destes, entretanto e como é natural entre nós, foram ensaios parciais, ensaios de acto.
_ E em regra, em que dias e a que horas ensaiam?
_ Todos os dias da semana. Menos às quartas e sábados. E sempre depois do jantar, mais ou menos entre as nove e meia e as onze e meia. Não é possível ir mais além, pois temos quem principie o seu dia de trabalho às seis e meia da manhã...
_ Uma vez apresentada a peça, continuam a treiná-la num ritmo certo, ou não?
_ Enquanto a peça anda pouco rodada, na semana anterior a cada representação ensaiamos três dias, pelo menos. Depois de a dominarmos bem, esse ritmo abranda. Mas nunca vamos para qualquer representação sem, pelo menos, um ensaio.
De um modo geral, quase todas as personagens que já conheciamos de outras peças, nos parecereram mais evoluidas.
_ Qual a ocupação profissional ou habitual dos actores de Tavarede?
_ Há ocupações várias, mas todas modestas. As mulheres são domésticas, costureiras, vendedeiras, empregadas de balcão. Os homens são empregados de escritório, tipógrafos, barbeiros, serralheiros.
_ Teremos razão para afirmar o sentimento de progresso que referimos antes, ou não?
_ Sem dúvida que sim. Reconheço isso e fico muito contente, por ser notado pelos outros. Os Amadores de Tavarede são modestos, mas gostam de representar. Por aí, todos vão melhorando a sua maneira de pensar, o seu modo de sentir, tudo. Eu mesmo, tenho aprendido muito com eles e por sua causa.
Se Violinda Medina nos oferece uma Senhora Frola com alguns desdobramentos felizes, como quando joga com as palavras para um lado e os olhos ou os gestos para outro, simultâneamente representando dois papéis, António Jorge dá-nos um Ponza convicto e, às vezes, cheio de intensidade e vibração. Por outro lado, João de Oliveira Júnior, sempre em cena, representa um perfeito Laudisi.
_ Não lhe parece, senhor José Ribeiro, que papéis como o quem tem nesta peça, de tipo burguês familiar, são aqueles em que Violinda melhor se enquadra? Melhor, mesmo, do que no género popular de rua, em que a artista justamente é famosa?
_ Não; sinceramente, não me parece. Violinda integra-se em qualquer papel e tem alguns extraordinários. O de Madalena de Vilhena ou o de Maria Parda, por exemplo. Considero qualquer desses superior ao que ela tem em Pirandello; sem negar, entretanto, a qualidade deste.
_ Tem razão. Mas, falando agora de António Jorge, diga-nos, por favor: já antes alguma vez ele foi chamado a papel de tamanha responsabilidade, como o que tem aqui?
_ Já: António Jorge tem um papel magistral em "Os Velhos", na figura de Bento.
_ E não é de opinião que este Senhor tem dado provas de apreciável facilidade de acesso a papéis de tipo vário, como um Telmo Pais, um João Mortinheira ou um Ponza?
_ Sem dúvida que sim. E o Telmo de António Jorge é outro dos seus melhores papéis.
_ Por outro lado: atentemos em João de Oliveira: aquele seu tom seco e longilíneo, e o seu metal de voz ligar-se-ão melhor à céptica ironia de Laudisi, de Pirandelo, ou à seráfica figura de Frei Jorge, de Garrett?
_ Bem: Frei Jorge é, talvez, o melhor papel de Oliveira Júnior, o mais perfeito. Mas concordo em que a sua figura e a sua voz dizem muito bem com o papel que tem em "Para cada um sua verdade".
_ Vamos concluir este apontamento sobre as personagens, sim? Em nosso entender, a curiosidade de que se alimenta toda a série de mulheres da peça é deliciosa; mas os maridos representam, em nível nada inferior, a sua condição de dominados...; eles e o próprio Perfeito, cheio de elegância, de distinção, no papel de julgar sem suscitar melindres. A família Agazzi, a família Sirelli e o par Senhora Cini-Senhora Nenni, são dos tais citados elementos progressivos. Não lhe parece isto, Senhor José Ribeiro?
_ Relativamente a todas essas figuras, estamos completamente de acordo.
_ E como explica o Senhor tal equilíbrio? Só pela peça?
_ Primeiramente, pela peça, claro. Depois, pelo aproveitamento que fazemos dos elementos disponíveis; não representamos qualquer obra, mas sim aquelas para as quais parece que temos gente adaptável.
Claro que a peça não é para o grande público, o das revistas e dos folhetins publicitários; mas é para o público bom, aquele que gosta de pensar e apreciar bom Teatro.
_ Quando projecta trazer à Figueira "Para cada um sua verdade"?
_ Por agora, não; "O Processo de Jesus", que andamos a ensaiar é tão absorvente que não dá margem a saídas. De resto, o melhor para nós seria que a Figueira fosse a Tavarede: dispomos de uma casa não muito grande, mas, assim mesmo, suficiente; as cadeiras não são estufadas, mas são limpas, cómodas e todas iguais; finalmente, a representação em Tavarede fica-nos muito mais barata.
_ Como é isso, Senhor José Ribeiro? Então, quando vêm representar à Figueira, não vêm solicitados pelas casas de espectáculos? Certamente, elas haveriam de ter interesse em contratar os tavaredenses, para proporcionar ao público da época balnear, ao menos de 15 em 15 dias, entre Julho e Setembro, uma sessão de teatro autêntico, como é este de Pirandello...
_ Até hoje, isso não aconteceu: quando vimos, vimos por nossa conta, ou a pedido de qualquer instituição de beneficência ou cultural (a Biblioteca Municipal, por exemplo); no primeiro caso, o aluguer da casa e todas as demais despesas, que são grandes, correm por nossa conta; no segundo, o nosso concurso é sempre dado a título gratuito. Ora as despesas são enormes e as quotizações dos sócios são as nossas únicas fontes de receita. Por isso...
Deixámos José Ribeiro, com o vivo sentimento de culpa, de quem faz perder muito tempo aos outros: faltava um quarto para as nove da noite, às nove e meia começava o ensaio, e ainda havia que ir até Tavarede e jantar.
Mas quando o vimos seguir ligeiro, a pé, jovem nos seus quase setenta e dois anos, o corpo e a alma dados ao Teatro, sentimo-nos desculpados. A tarde pareceu-nos mais amena, o Mundo à nossa volta mais harmonioso e o gosto de sonhar belas coisas cantou mais alto.
Evidentemente, porque não iremos todos nós a Tavarede, ver Pirandello? Porque não levamos lá todos os que gostam de teatro? Um caminho suave, um palácio antigo, uma sala boa, uma peça esplêndida, uma alma unindo tanta gente sã... Com luar ou sem luar...
1966.08.27 - O PROCESSO DE JESUS (O FIGUEIRENSE)
A estreia na bela casa de espectáculos da Sociedade de Instrução Tavaredense, no pretérito sábado, da célebre peça de Diego Fabbri, tradução do dr. Agostinho Veloso, “O Processo de Jesus”, constituiu êxito extraordinário para o grupo cénico da prestimosa colectividade.
Os sócios esgotaram a lotação, tanto no sábado como no domingo. É verdade que a sala, apesar das regulares dimensões, não corresponde ao grande número de associados, pois estes ultrapassam os setecentos...
A representação decorreu em nível superior. O escolhido conjunto de intérpretes das difíceis figuras, ensaiados pelo mestre de teatro que é José da Silva Ribeiro, houve-se de tal forma que soube prender a atenção da numerosa assistência, que, embevecida, assistia às representações.
Não há dúvida que estamos na presença dum grande espectáculo, por isso que os sócios da SIT não devem deixar de o ver, pela sublime lição que “O Processo de Jesus” lhes oferece.
Palmas entusiásticas. Ovações calorosas. Chamadas especiais a José Ribeiro, traduzem insofismavelmente o valor dramático da obra e o mérito da representação, pelo que a todos envolvemos num sincero abraço de parabéns.
1966.09.14 - O PROCESSO DE JESUS (MAR ALTO)
Esta peça de Diego Fabbri, parece-nos perfeitamente em dia com os rumos mais actuais do pensamento católico; se não respeitássemos a cronologia, poderiamos ver até nela um "fruto conciliar". A tomada de uma consciência moral, como verdadeira mensagem de Cristo; a geral irreflexão, em actos que arrastam a consequências imprevistas, às vezes trágicas - convite implícito a uma benevolência universal -; a soma de preconceitos de que enfermam algumas atitudes anti-cristãs; uma versão quase "positiva" de Judas, como síntese de um judaísmo messiânico imperialista, e o seu decalque frequente, em casos do dia-a-dia; a revisão do papel histórico dos judeus, à luz de um simbolismo ecuménico; etc....; exemplificam o que afirmamos.
Tecnicamente, a novidade da peça consiste na disseminação de actores entre o público.
Afiguram-se-nos facilidades dela o constante apoio, para cada actor no palco, da presença dos restantes, sempre ali com ele, assim como o intenso estatismo em cena, quase sem entradas, saídas e deambulações.
Em compensação, cuidamos que a dificuldade maior da obra não é o tema, senão que o seu tratamento: uma dialéctica mais para ler-se que para ouvir-se, e um primeiro acto muito parado, com certas figuras obrigadas a autênticos discursos, longos, num quase desafio à monotonia...
Estes motivos e outros, favoráveis ou contrariantes, assim como a "necessidade" de fazer vingar uma peça da estirpe desta, é que, muito possivelmente haverão determinado a Companhia do Teatro Nacional D. Maria II a abrir-se, distribuindo papéis não só entre os seus actores, mas também entre algumas das mais distintas figuras de outras empresas cénicas da capital.
Todos os citados factores se alinhavam dentro de nós, numa expectativa quase pungente: como iria a Sociedade de Instrução Tavaredense, com as suas naturais exiguidades e limitações, sair-se da aventura de representar "O processo de Jesus"?
Antes de nos abalançarmos a esta impressão escrita, duas vezes necessitámos de ver a representação. Assim mesmo, releve-se, em nossa defesa, que jamais pretendemos ser críticos de teatro: somos apenas curiosos, interessados em instruir-nos e cultivar-nos. Este enunciado de condições é indispensável.
Nesta representação, uma vez ainda e como é seu timbre, os Tavaredenses realizaram trabalho perfeitamente honesto. Algumas figuras situam-se em nível modesto, outras alternam o razoável com o menos bom, outras ainda atingem uma alta craveira; todas, porém, se esforçam por cumprir.
E ninguém que se interesse por coisas de teatro e vá a Tavarede poderá deixar de perguntar como terá sido possível pôr em cena uma peça de tal responsabilidade. Há ali três ou quatro artistas, é certo; mas, em contrapartida, ali há, também, "actores" que nunca antes haviam representado... Como terá sido possível?
Será esse um dos segredos de José Ribeiro? Uma das virtudes é, com certeza.
No "tribunal", João Medina está perfeito, no papel de presidente, com figura, voz e gestos próprios. José Medina realiza bastante bem a função de acusador (melhor, talvez, que a de culpado); e Maria Inês, num papel também difícil, tem movimentos dignos de apreço; estes dois elementos frequentemente já atingem o grau de naturalidade que imprime verdade a uma representação.
Entre as "testemunhas", o papel mais a nosso gosto é o do veterano João Cascão que representa um Pedro autêntico, desde as atitudes à emotividade. Mas Fernando Reis adaptou-se muito bem ao ingrato papel de Judas; e a José Luiz do Nascimento, para ser um Caifás praticamente exacto, só lhe falta uma atitude mais hierática. Glória Maria de Sousa (cujo porte subiu sensivelmente entre as duas representações a que assistimos, e que possui uma voz timbrada e elegante), alcançou uma gentil figuração de Maria; a sua contracena com José da Silva Maltês é linda e de belo efeito lírico.
No "público", Violinda Medina e Silva e João de Oliveira Júnior naturalmente ultrapassam os restantes actores. Este último, às vezes talvez demasiado exuberante de atitudes, para um intelectual, possui a voz dialética, às vezes metalicamente satânica, e a viveza própria para o papel. Violinda está muito bem, de princípio a fim; aliás, precisamente porque ela existe, a representação tavaredense tem uma intensidade final difícil de atingir em qualquer outra companhia.
Neste ponto, achamos curioso anotar o facto de, na representação do D. Maria II, a velhinha nem sequer aparecer incluída entre as figuras destacadas, quando é certo que ela possui mais de um motivo para distinguir-se: tempo e modo de entrada, função cénica, etc.. Será este um lapso do texto que tivémos à mão?; será assim também na distribuição original do italiano? Qualquer que seja a hipótese, Violinda deu à figura o melhor de si mesma.
"O processo de Jesus" bem pode ser mais um motivo de exaltação da escola de teatro de José Ribeiro.
1966.09.24 - O PROCESSO DE JESUS (O FIGUEIRENSE)
No elegante e confortável teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, terminaram no passado sábado, as representações da célebre e discutida peça do grande dramaturgo Diego Fabri, intitulada “O Processo de Jesus”, que constitui um novo e assinalado êxito do distinto grupo de amadores daquela prestigiosa e benemérita Sociedade, dirigido magistralmente por José da Silva Ribeiro, incontestavelmente um mestre de Teatro, como o afirmou de novo nesta obra de Fabri, plena de dignidade, beleza e ternura, ao conseguir o “milagre” de fazer intervir no debate em que se analisam e discutem à distância de quase dois mil anos os milagres, o alcance e o resultado das pregações de Jesus Cristo, as circunstâncias sociais e políticas que rodearam o seu julgamento e morte, mais de duas dezenas de personagens, alguns deles misturados com o público, em tiradas de grande responsabilidade.
A peça agradou plenamente, assim o demonstrou o público com os seus quentes aplausos aos distintos amadores.
Naturalmente, entre tantos intérpretes do ousado trabalho de Fabri, uns se salientaram mais que outros, contando-se entre estes alguns principiantes que, no entanto, souberam imprimir perfeita harmonia ao conjunto.
João Medina, em Elias, o presidente; Maria Inês Barosa Lavos (Sara); José R. Medina (David); António Santos (o Padre); João de Oliveira Junior (o Intelectual); José Luís do Nascimento (Caifás); Glória Maria de Sousa (Maria); João da Silva Cascão (Pedro); Violinda Medina ( Velhinha); José da Silva Maltês (José); Fernando Reis (Judas); Maria de Lurdes Moura (a Ruiva), para só citar estes, souberam conduzir com inteligência as suas intervenções em obra tão apaixonante e de grande beleza e dignidade em que se evocam os passos do grande drama bíblico à luz de um critério impregnado de poesia e humanidade em que, como disse o “Diário de Notícias” há nos, quando “O Processo de Jesus” foi “discutido” no Teatro Nacional, “as razões de Caifás, a traição de Judas, o alheamento de Pilatos, as hesitações de Pedro adquirem, na obra de Diego Fabri, sentido bem diferente do que a lenda e o rodar dos séculos lhe emprestaram”.
1966.11.23 - ARTIMANHAS DE SCAPINO (MAR ALTO)
Quando há dias procurámos José Ribeiro (nosso mestre há mais de 30 anos) fomos encontrá-lo na sua casa - a Sociedade de Instrução Tavaredense.
Ali estava com os seus discípulos num dos camarins do belo teatro de Tavarede, dado que, nesta altura, a temperatura nocturna é bastante fria e, assim, agasalhados e comprimidos, pode resistir-se melhor.
Tivémos então o prazer de assistir à leitura da sua nova peça - "Artimanhas de Scapino" - uma magnífica comédia do célebre dramaturgo Molière.
Dizemos prazer, porque realmente assistir à leitura duma peça por José Ribeiro, é quase a mesma coisa que ver uma representação, tal a verdade que imprime a cada personagem e o ambiente que dá a cada cena.
Poucas pessoas terão tido a satisfação de assistir àquele espectáculo. Quando lê, interpreta o velho, o galã, a ingénua, a pessoa bondosa ou má, assim como o cínico ou o avarento.
Todas as reacções, todos os gestos, ele os faz quase insconcientemente, mas os amadores, ao ouvi-lo atentamente, vão gradualmente aprendendo nos sorrisos, nas lágrimas (às vezes chora), na ternura como na violência.
E é assim que trabalha, é assim que consegue verdadeiros milagres dos seus velhos amadores ou dos seus estreantes.
Uns e outros beneficiam sempre da sua cultura teatral. Uns e outros aprendem sempre com as suas lições antes e durante as leituras ou, mais tarde, nos ensaios de palco, que ele conduz do seu lugar na plateia.
Naquele teatro tem ele concentrado todo o seu saber, toda a sua ternura pelos seus pupilos, mesmo quando se exalta e ralha, esquecendo-se - com o seu entusiasmo - que muitas vezes esses rapazes e raparigas ali se encontram já fartos da dura labuta diária, não tendo - quantas vezes - pegado no seu papel.
Nesse palco (no mesmo lugar) tem o público de Tavarede assistido a espectáculos de alto nível. Por ali têm passado as peças mais exigentes, e nele se têm realizado verdadeiras noites de glória.
Sim, de glória, porque na verdade José Ribeiro conseguiu que algumas peças, tais como "Frei Luiz de Sousa", "Entre Giestas", "Os Velhos", e tantas outras, fossem representadas ao nível dos melhores grupos profissionais.
Papéis e rábulas como têm sido interpretados por uma Violinda Medina, irmãos António e Jaime Broeiro (f), António Graça (f), João Cascão, Manuel Nogueira (f), Francisco Carvalho ou Maria Teresa, para falar só dos mais velhos e ao correr da pena, dignificam o Teatro Português.
No decorrer dessas representações pode então ver-se José Ribeiro preso, encantado - por verificar que não foi inútil o seu trabalho, e não foi em vão que tantas horas ele perdeu ao pôr de pé uma peça que estudou para os seus amadores e para o seu público.
É esse o melhor prémio dos seus colaboradores: vê-lo satisfeito no final das representações.
Pois hoje temos o prazer de anunciar aos leitores de "Mar Alto", que se está a ensaiar em Tavarede "Artimanhas de Scapino" - uma das peças do grande clássico Molière, autor que os amadores já conhecem há muito, mas que nunca tiveram a honra de representar.
Lá estavam no camarim, à volta do Mestre, João de Oliveira, João e José Medina, Manuel Cerveira, Fernando Reis, José Luís, Maria Inês (uma nova revelação), Carmina e a Piedade, que serão os intérpretes desta célebre comédia.
Espera-se que seja representada em Dezembro.
Às pessoas que gostarem de um bom e alegre serão, "Mar Alto" anunciará o dia em que subirá o pano.
"ARTIMANHAS DE SCAPINO" (MAR ALTO)
Conforme tinhamos anunciado, representou a Sociedade de Instrução Tavaredense, na sua sede, no passado dia 31, esta magnífica peça do célebre dramaturgo Molière.
Trata-se de uma esplêndida comédia clássica, em que o autor não perde a oportunidade para glosar certo tipo de sociedade como, aliás, são quase todas as suas obras.
Representada em bom nível, com indumentária própria e cenários de bom efeito, a peça agradou em cheio.
Está bem interpretada, destacando-se Fernando Reis, João e José Medina, José Luís do Nascimento, Manuel Cerveira e Maria Inês Barosa e, em plano mais elevado, João de Oliveira Júnior no seu magnífico "Scapino".
Casa cheia. Ovações estrondosas. Chamadas ao encenador. Manifestações de riso e gargalhadas quase permanentes durante a representação.
A peça repete-se no próximo dia 8, em matinée, às 16,30 horas, sendo de esperar uma grande enchente.
Mais uma vez recomendamos aos nossos leitores esta esplêndida e hilariante comédia, que José Ribeiro montou com a sua marca, e que constitui mais um grande êxito do seu grupo.
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