As
primeiras associações (1)
Com
o andar dos anos e com o benefício das novas salas de espectáculos, estou a
referir-me ao Teatro do Terreiro, ao Teatro Duque da Saldanha e ao teatrinho
Bijou Tavaredense, o Associativismo melhorou, e muito, na terra do limonete. Os
tavaredenses compreenderam que beneficiariam imenso unindo esforços e, assim,
não tardou a surgirem as associações devidamente organizadas e legalizadas.
Os amadores das velhas ‘associações
dramáticas, uniram-se, como referi, nas novas associações, conforme estas iam
surgindo. Entretanto, e no dia 28 de Março de 1893, faleceu, na sua Quinta dos
Condados, João José da Costa, grande impulsionador do associativismo em
Tavarede. A sua obra, porém, prosseguiu, pois João dos Santos, que era seu
procurador e foi, depois do falecimento de D. Emília Duarte da Costa, o
herdeiro daquele benemérito tavaredense, adoptivo.
Estandarte da Estudantina Tavaredense
E no dia 22 de Março de 1893 foi
fundada a ‘Estudantina Tavaredense 22 de Março’, a primeira que surgiu na nossa
terra, estruturada para desenvolver a actividade associativa. Instalou-se numa
das antigas sociedades dramáticas, mas não sabemos em qual. A primeira nota que
se encontrou referente a esta associação, em 23 de Abril daquele ano, refere o
seguinte: ”O progresso, na sua marcha constante, vai invadindo tudo. Da cidade
à vila e desta à mais remota aldeia vão-se observando vestígios da sua
passagem. Vêm a pelo estas palavras porque, em Tavarede, pequena povoação perto
desta cidade, se está organizando uma estudantina de operários que, nas horas
vagas, se entreteem na música, inocentemente, e muito melhor do que gastando o
seu tempo em diversões perniciosas. Caminhai, caminhai. Adiante! Assim é que é
andar. Escrevendo assim parece-nos
divisar umas caretas de taberneiros ofendidos… que sentem a concorrência dos
cobres à gaveta. É assim; tenham paciência”.
E logo no mês seguinte, 28 de Maio, a
tuna teve a sua primeira deslocação. Foi a Montemor-o-Velho, abrilhantar as
festas em honra da Senhora do Desterro. “…
Atrás deles vinham também alguns de
Tavarede, sendo logo seguidos pela Estudantina Tavaredense 22 de Março, que na
melhor ordem e tocando muito harmoniosamente, entrou na dita praça. Parando um
bocado neste local ali executou distintamente uma linda valsa e tão afinadinha
que conquistou gerais aplausos de todos os circunstantes, que até hoje não têm
cessado de admirar como na pequena povoação de Tavarede se organizou uma
sociedade assim e que esta, durante o curto prazo de dois mezes, avançasse
tanto, pelo que damos ao digno regente as nossas cordeais felicitações. Seguiu
depois rua Direita acima na mesma ordem, debandando no largo da igreja dos
Anjos, onde se realizou a festa, retirando para a estrada real, defronte do pátio
do convento do mesmo nome, onde estiveram em alegre pic-nic à sombra de umas árvores”.
Também
nós, na verdade, nos admiramos do progresso verificado na nossa terra no campo
musical. Não esqueçamos que, menos de vinte anos antes, a orquestra dos teatros
era composta por uma flauta, um violão e uma viola, e que noutros espectáculos
vinham rapazes da Figueira tocar. E logo a seguir foram à Figueira tocar às
festas ao Santo António: “O que podem
violas e guitarras mostrou-nol-o a Tuna Tavaredense, que nessa noite veio
visitar-nos, tocando harmoniosamente aqueles instrumentos e alcançando um
verdadeiro successo. Muito bem! E viva a rapaziada de Tavarede!!”.
Para melhor prosseguir na sua
actividade artística, a ‘Estudantina Tavaredense’ resolveu alugar o Teatro
Duque de Saldanha, no Palácio dos Condes de Tavarede, onde se estreou em Julho
de 1894, com um espectáculo teatral, apresentando as comédias ‘Por um triz’,
‘Creado distraído’, ‘Dois curiosos como há poucos’ e a cena cómica ‘José Galo
na cidade’.
Não podiam deixar de abrilhantar as
festas populares na nossa terra. Nem sempre eram totalmente pacíficas mas… “… As moçoilas da aldeia,
vermelhas, tisnadas, contentes, acasaladas ou não, lá dançavam espertamente,
como se uma noite de estopantes bailações não fosse mais que suficiente para
alquebrar o mais vigoroso organismo. Houve também música, p’ra cá e p’ra lá, na
rua Direita (por signal que é bem torta, como todas as ruas Direitas),
foguetes, e algumas tiranas que eram de se lhe tirar o chapéu. Bordoada,
pouca; apenas algumas bolachas e biscoitos ministrados com a maior convicção
por um rapazelho cá da freguesia, por sinal que é pedreiro, nas lustrosas
bochechas de um pimpão campesino. Resultado: Avaria na cara dum, e fatiota
rasgada no corpo do outro. A polícia interveio, prudentemente, prendendo o
avariador das bolachas do próximo, mas outro pedreiro interveio também, e duma
forma tão habilidosa e louvável que o rapaz filado pelos gatázios do
mantenedor da ordem conseguiu esgueirar-se, dirigindo-se a penates, por causa
das dúvidas”.
Em Outubro de 1894 subiram à cena as peças ‘Choro ou rio?’, ‘O
creado distraído’, ‘Um filho para três pais’ e novamente a cena cómica ‘José
Galo na cidade’. Uma nota diz-nos que “os
rapazes foram habilmente ensaiados pelo sr. Manuel Gomes Cruz, estudante da
Universidade, e natural daquela povoação, onde tem passado as férias, e a orquestra
foi dirigida pelo seu irmão o sr. José Gomes Cruz, também estudante da
Universidade, tocando este sr. nos intervalos alguns trechos musicais no
bandolim, acompanhado ao violão pelo sr. Gentil Ribeiro, e que lhes mereceram
justos aplausos pela correcção com que foram executados”.
Sem comentários:
Enviar um comentário