As
primeiras notas do Associativismo - 2
Em Janeiro de 1880, em “O Comércio da
Figueira” escreve-se que “A Sociedade Recreativa que este ano já tem dado
algumas representações em Tavarede, leva no próximo sábado, dia 10, à cena o
“Auto dos Reis Magos” e termina o espectáculo com o desempenho de algumas
comédias”. Esta Sociedade Recreativa pensamos que estivesse instalada na Casa
do Terreiro, de João José da Costa, o grande benemérito da nossa terra. “…
vendo as péssimas condições em que os amadores de Tavarede davam as suas
récitas na desmantelada casa do Terreiro (sociedade antiga?), e convencido das
vantagens do teatro como meio de cultura e educação do povo, transformou o
prédio num, para o tempo, excelente teatro“.
E continuemos com Mestre José Ribeiro
em “50 Anos ao Serviço do Povo”: “… Por certo não haveria melhor em terras
pequenas como a nossa. Todos os lugares para os espectadores eram numerados,
distribuídos pela plateia, um balcão em volta desta e, por cima, um outro
balcão que ainda existe. O palco era dividido em planos e construído em corpos.
Apetrechado com varanda e urdimento com suas carreiras equipadas de girelas
e cordas para bambolinas e panos. Quanto
a cenários, ainda ali conhecemos 3 salas
pintadas em pano, primorosamente montadas em boa madeira, e bastidores de campo aplicáveis a tangões que giravam em calhas;
dispunha-se ainda duma rotunda, o que
bem revela o desejo de que nada ali faltasse. A iluminação era a petróleo, para
o que foram mandados fazer candeeiros próprios aplicáveis às gambiarras e ribaltas. O pano de boca, tendo pintada uma vista do palacete dos
Condados, onde João José da Costa residia com sua esposa, é o mesmo que ainda
hoje está a servir nos espectáculos da Sociedade de Instrução Tavaredense
(1954)”. Que diferença para a antiga sala de espectáculos da “Casa do
Ferreira”!!! Este teatro terá sido construído entre os anos de 1882/1884.
Alguns anos mais tarde foi o 3º. Conde
de Tavarede que, quando mandou fazer as obras de remodelação no Palácio, ali
instalou uma nova sala de teatro a que deu o nome de “Teatro Duque de
Saldanha”. Como se pode observar, as velhas associações dramáticas foram-se
dissolvendo, agrupando-se os amadores nos novos teatros, que lhes ofereciam melhores
condições para a sua actividade amadora.
Mas aquelas velhas associações não
acabaram de todo. Em Dezembro de 1884, “… na noite de quinta para sexta-feira
(25) houve presépio em Tavarede, porém, no meio do espectáculo, abateu parte do
soalho da casa, indo parar à loja alguns dos espectadores! Houve ferimentos,
mas de pequena importância. Assim foi bom”. Publicou esta notícia o jornal
Comércio da Figueira. Também não conseguimos localizar a associação onde houve
este pequeno acidente.
Como se verifica, são muito reduzidas
as notícias publicadas sobre o associativismo na nossa terra. Há a certeza, no
entanto, de que tanto o teatro como a música estiveram sempre em actividade, em
diversos locais dos já mencionados. E não eram somente os tavaredenses que aqui
apresentavam os seus espectáculos. Em Fevereiro de 1885, “… num teatro em
Tavarede, dá o seu espectáculo uma troupe
de artistas dramáticos que ultimamente trabalharam em Montemor. Levam à cena as
engraçadas comédias em um acto “Não há fumo sem fogo”, “Criada impagável”,
“Triste fado” e “Descasca milho” e, dias depois, a mesma companhia aqui
representará as comédias “A cerração do mar”, “Uma experiência”, “União
ibérica”, sendo também recitada uma poesia dramática.
Uma outra notícia, também de Fevereiro
de 1885, diz que “no próximo sábado, 28, vai à cena pela primeira vez no novo
teatro de Tavarede, o drama em 3 actos “O Coração dum bandido”. Deduzimos que o
referido novo teatro seria o que João José da Costa mandou construir na sua
casa do Terreiro. Este espectáculo repetiu-se no domingo seguinte, 1 de Março,
e, além do referido drama, o programa era completado com “O meu nariz”, cena
cómica e ainda uma farsa. Acrescenta a notícia que “tomam parte nos
espectáculos alguns curiosos da localidade”.
Os espectáculos sucediam-se. Poucos
dias depois foi levado à cena, no mesmo “novo teatro de Tavarede”, o drama em 3
actos “Justiça de Deus” e a comédia em 1 acto “O cego avarento”. Digno de nota
o facto de João José da Costa, depois de ter exercido os mais altos cargos
administrativos na Figueira da Foz, ter aceitado e exercido o lugar de
presidente da Junta da Paróquia de Tavarede, durante a primeira metade de
década de 1880/1890. Mas a actividade de João Costa na nossa terra foi mais
longe. Além de ter mandado construir o teatro, também foi ensaiador do seu
grupo cénico. Vejamos uma notícia inserida no jornal “Comércio da Figueira”, em
Abril de 1885:
“Hoje à noite dá uma troupe de curiosos uma récita particular
no teatro de Tavarede, levando à cena o drama em 3 actos “A associação na
família” e a comédia num acto “Malifício na família”. É de crer que o
desempenho seja correcto, devido aos esforços do nosso respeitável amigo, o
exmo. Sr. João José da Costa, que da melhor vontade acedeu ao pedido que lhe
fizeram para tomar a direcção dos ensaios. Folgamos em ver a dedicação daqueles
filhos do trabalho, que tão bem empregam as horas que lhes restam, no seu labor
associativo, colhendo assim bastante instrução”.
Os elementos escasseiam. Continuava a
haver teatro e, certamente, a música já era uma realidade. Mas, como adiante
veremos, foi na década seguinte (1890/1900) que o associativismo se firmou, com
sólidas raízes em Tavarede. Já sabemos que, além do Teatro do Terreiro e do
Teatro do Palácio, ainda resistiam algumas das velhinhas “associações
dramáticas”, que funcionavam nas lojas de algumas casas particulares. Ainda
seriam associações de familiares, mas com toda a certeza já abertas a amigos e
vizinhos. Prossigamos com as nossas notas.
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