sábado, 21 de setembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 41

         E o Grupo Musical levou a efeito mais uma garraiada. O tempo esteve agradável e a garraiada foi brilhante. Todos os rapazes desempenharam o melhor que puderam os papéis de que estavam encarregados, e salientamos os cavaleiros que se portaram galhardamente. Mas, como já sabemos, os resultados financeiros foram insuficientes. Também já referimos que o cinema foi outra tentativa de angariar fundos. Registemos, para a história, o programa da primeira sessão que teve lugar na sua sede. O VI Portugal – Espanha em futebol, Rin-Tin-Tin e os lobos e Charlot na Rua da Paz. E acrescente-se que, logo na primeira sessão, a máquina avariou, pelo que o programa teve que ser repetido no domingo seguinte.

         Chegados à data habitual, realizaram-se as habituais comemorações dos aniversários. Vamos recordar essas festas. Primeiro foi o Grupo Musical. Como noticiámos, o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, colectividade da visinha povoação de Tavarede, comemorou no passado sábado e domingo, o 18º aniversario da sua fundação.
         Sem dúvida, revestiram-se de brilho as suas festas, chamando ali uma concorrencia extraordinaria, o que mais imponentemente fez realçar os numeros que constituiram o programa, que foram cumpridos na integra.
         Bem mereceu o simpático Grupo Tavaredense, esta distinção, dado o valor em que exerce a sua acção, de tão úteis e beneficentes resultados para o povo daquela risonha terra.
         E renovando os nossos agradecimentos pelo seu amavel convite, que gentilmente enviaram ao nosso jornal, passamos a descrever resumidamente, o que foram as festas da simpatica colectividade.
         Sábado, 21 – ao 21 horas, hora marcada para o Espectaculo de Gala. O salão teatro oferecia um aspecto empolgante. Uma massa apinhada de povo, enchia por completo o elegante teatrinho, como alguem lhe chamou, vendo-se ainda de pé, muitas dezenas de pessoas que não tiveram logar. À volta, colgaduras damascadas num recorte de fino gosto, ornamentavam as paredes. Dum lado, pendiam os retratos do Grupo Scenico, de João Chagas e da srª D. Maria Aguas Ferreira. Do outro, o do saudoso maestro David de Sousa, maestro distincto, que no auge da sua brilhante carreira, tombou no leito da morte; de Antonio Medina, fundador e dedicado amigo desta colectividade, e em ultimo logar, senão o primeiro, a figura simpatica e inexquecivel de José Medina, do excelente amador tavaredense. Ao fundo pendia um largo galhardete do Grupo Musical, contendo as suas iniciais, e atravessada, uma facha com a palavra Amigos. Era a oferta e homenagem do “Grupo dos Amigos”.
         E no palco pendia o estandarte, como que sorrindo de contentamento pela ofegante atmosfera que ali se respirava e parecia querer abençoar aqueles que há 18 anos lhe vêm dispensando o seu carinho e auxilio desinteressados.

Maria Águas Ferreira

         A assistencia, de pé e religioso silencio, ouve o hino que irrompe executado pela orquestra, sob a direcção de Antonio Cordeiro.
         Segue-se a representação da comédia, Os dois Nénés, que agradou, sendo ainda Violinda Medina, o alvo dos aplausos. Terminada que foi a exibição do film Billy, carinha n’agua, teve logar a representação da chistosa opereta em 1 acto Herança do 103, que terminou a recita de gala.
         Calculamos que toda a existencia saíu satisfeita e bem disposta.
         Passamos agora ao Domingo, 22.
         De manhã. houve alvorada, anunciada por uma fanfarra, acompanhada de foguetes, que deram a Tavarede um ar festivo.
         Ao meio dia, teve logar o bôdo aos pobres, sem duvida o número mais simpatico dos que constituiam o programa das festas.
         Esperava-se a Sessão Solene.
         Eram 5 horas, quando apareceu no palco o sr. Antonio d’Oliveira Cordeiro, que convidou a presidir àquela sessão, o sr. Pedro dos Santos Moreira, dignissimo professor oficial naquela terra.
         Sua Exª que é recebido com palmas, convidou para o secretariarem os srs. Augusto d’Oliveira Santos, representante da Troupe Recreativa Brenhense, e Pedro Collet Meygret representante da Sociedade Columbofila da Figueira.
         Seguidamente, procedeu-se à leitura do expediente, que era longo, e do qual desejamos salientar as ultimas duas cartas, vindas de Sintra. A primeira era da pequenita Almira, filha do nosso amigo Antonio Medina Junior, e a segunda, deste mesmo senhor, que era escrita num estilo proprio daqueles que, embora longe, não se esquecem daquilo que há 18 anos lhe tem absorvido uma parte do seu sentir.
         E foi dada a palavra ao sr. Manuel d’Oliveira Cordeiro, que leu um discurso de sua auctoria em que fez referencia especial à Mocidade desta colectividade. Seguidamente falaram os srs. Antonio d’Oliveira Lopes, presidente da Direcção cessante que tambem leu um bem urdido discurso, e José Maria de Carvalho, que recordou, com saudade, a alma de José Medina e agradeceu em nome dos socios do Grupo Musical ao sr. Moreira, o carinho desinteressado que vem prestando ao povo Tavaredense, mantendo-lhe e admnistrando-lhe as suas aulas de instrução.
         E em ultimo lugar, usou da palavra o sr. Rui Fernandes Martins, professor oficial em Brenha, que demonstrou quaes os beneficios que das colectividades de Instrução, advem, e a necessidade de se manterem, integralmente unidos, para bem da Patria e da Republica. Terminou por afirmar que, se por ventura, a vida e a saude lhe permitirem, tomará parte na festa do proximo ano.
         Seguidamente, o sr. Presidente fez uma alocução ao acto que se estava passando, e, encerrou a Sessão.
         Depois teve logar no gabinete da Direcção, um copo d’agua, oferecido aos novos corpos gerentes, oradores e representantes de colectividades, tendo ainda brindado os srs. Rui Martins e Antonio Maria Lopes Anadio.
         Representavam colectividades os srs.: Augusto Santos, a Troupe Recreativa Brenhense; Pedro Collet Meygret, a Sociedade Columbófila da Figueira; José Lopes Custódio, a Associação dos Caixeiros; Antonio Correia, União Foot-ball de Buarcos; e Antonio M. Lopes Anadio, a Boa União Alhadense.
         À noite teve logar o Baile de Gala, que esteve muitissimo concorrido tendo terminado já bastante tarde.
         Felicitamos a briosa colectividade Tavaredense, e oxalá que à medida que os anos se vão sucedendo, a sua acção beneficente aumente na mesma proporção para o povo daquela risonha terra aproveitar tal beneficio.

         Seguiu-se, pouco depois, a comemoração do 26º aniversário da Sociedade. A obra, verdadeiramente notável no capítulo da educação popular, que a Sociedade de Instrução Tavaredense realiza na vizinha povoação de Tavarede, é bem conhecida. Devemos filiar nesta circunstância a expressiva e calorosa simpatia que o público dedica a esta colectividade e que se não dispensa de lhe testemunhar por ocasião dos seus aniversários.
         Na verdade, a acção desenvolvida pela Sociedade de Instrução Tavaredense é admirável sob todos os pontos de vista. Mantém, há quási três dezenas de anos, uma escola nocturna onde se recebem alunos, menores e adultos, sócios ou não sócios, aos quais é fornecido gratuitamente todo o material escolar. Não se limita a isto a sua função. Vai mais longe: entra no capítulo da educação e da cultura artística, limitada, como se compreende, às condições do meio -, servindo-se para isso do livro, da palestra educativa e do teatro. A influência moral e educativa exercida por intermédio do teatro, tanto sôbre os que nêle representam como nos espectadores, é evidente. Para atingir êste objectivo, segue-se na escolha das peças – algumas das quais expressamente escritas para êste fim – o critério de que o teatro não deve servir apenas para proporcionar distracção, deve, principalmente, ser um veículo de educação moral e cívica e até, num meio como é o de aldeia, um instrumento de cultura.
         Foi-nos muito grato verificar, por isso mesmo, a demonstração vibrante de simpatia pela benemérita agremiação tavaredense, a que deu lugar a festa do seu 26º aniversário.
         O programa executou-se com brilho excepcional, havendo nêle alguns números de muito relêvo.
         No sábado, a récita de gala reuniu no teatro, artisticamente ornamentado e iluminado – colchas de damasco nas paredes, flores, enorme profusão de lâmpadas eléctricas e um formoso lustre, nas côres da Sociedade de Instrução -, uma assistência numerosíssima e distinta.
         Abriu a récita a alta-comédia em 1 acto O Caso de Consciência, de Octave Feuillet, em cujo desempenho Maria Tereza de Oliveira, António Broeiro e João Cascão souberam com justiça fazer-se aplaudir.
         Seguiu-se a peça em 1 acto Evocação, que deixou no público, mais pelo desempenho que propriamente pela peça, uma impressão agradabilíssima, diremos mesmo uma sensação de arte que bem se exteriorizou em aplausos calorosos. Emília Monteiro, Maria Tereza de Oliveira, António Broeiro e João Cascão representaram admiravelmente, mantendo uma perfeita harmonia de conjunto como não é fácil conseguir melhor em teatros de amadores duma pequena aldeia. Dignas de nota especial as primorosas caracterizações de António Esteves.
         E a récita fechou com chave de ouro – a opereta O 66, cuja dificílima e formosíssima partitura teve execução esplêndida pela orquestra dirigida pelo distinto amador sr. António Simões, que a assistência chamou ao palco para melhor o aplaudir, e foi muito bem cantada por Emília Monteiro, João Cascão e Francisco Carvalho. A representação teve o ritmo próprio, decorrendo com uma animação exuberante. Muito bem! Os aplausos foram entusiásticos e merecidos. A montagem era magnífica, figurando nela um fundo de belo efeito do distinto artista pintor sr. Henrique Tavares.
         No domingo, fez a alvorada um grupo musical, que percorreu as ruas de Tavarede executando o hino. Era constituído por sócios da Sociedade de Instrução, ensaiados pelo sr. José Medina, que é um hábil e competente amador de música.
         Pelas 11 horas foi servido a cêrca de 60 crianças da freguesia, o almôço oferecido pelo grupo dos “Fixes”. Foi um número simpático. O aspecto das mesas, muito bem dispostas no palco, era interessante.
         À tarde, a povoação apresentava o aspecto dos grandes dias de festa. Muita gente, centenas de pessoas da Figueira, Quiaios, Brenha, Alhadas, Buarcos, etc. A distinta banda “10 de Agôsto” entrou em Tavarede, pouco depois das 15 horas, executando o hino da Sociedade. E em seguida, no Largo do Terreiro, fez-se uma largada de dezenas de pombos correios. Êste número, gentilmente organizado pela Sociedade Columbófila, despertou curiosidade nas centenas de pessoas que assistiam.
         Tendo chegado a esplêndida tuna do Grupo Instrução e Recreio de Quiaios, deu-se comêço à sessão solene, que foi, sob todos os aspectos, brilhante. Teve carácter, teve imponência invulgar. A falta de espaço não nos permite fazer um relato mais desenvolvido.
         O sr. João Gaspar de Lemos, presidente da Assembleia Geral, convidou para secretariarem os srs. Raúl Dias Cachulo, pela “10 de Agôsto”, António Mariano, pelo Grupo Instrução e Recreio, Rui Martins, distinto professor em Brenha e Anselmo Cardoso Júnior, pelo Ateneu Alhadense. Abrindo a sessão o grupo musical da Sociedade de Instrução Tavaredense executou o seu hino, em seguida ao que a presidência foi entregue ao tavaredense ilustre sr. dr. José Cruz. Proferiram discursos os srs. dr. Manuel Cruz, António Anadio, que pediu a palavra em nome da União Alhadense, Rui Martins, dr. Manuel Lontro Mariano, dr. Júlio Gonçalves e José da Silva Ribeiro, discursos que a assistência, que enchia completamente a sala e transbordava para o átrio e corredores, aplaudiu calorosamente. O sr. dr. José Cruz proferiu algumas palavras de admiração pela obra da colectividade em festa, encerrando a sessão depois de transmitir um abraço aos seus representantes, agradecimentos ao Grupo Instrução e Recreio e Filarmónica “10 de Agôsto”, por entre aclamações e erguendo-se a assistência para escutar o hino da Sociedade de Instrução Tavaredense, executado pela Tuna de Quiaios e pela “10 de Agôsto”.
         À noite, de novo as salas voltaram a encher-se. O baile de gala foi brilhante e concorridíssimo, como ainda ali não houve melhor. As famílias dos sócios e convidados acorreram em grande número, enchendo completamente a sala de baile.
         E as festas comemorativas do 26º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense terminaram na madrugada de segunda-feira, deixando no espírito dos que a elas assistiram uma impressão que não esquecem.
         À benemerente colectividade tavaredense, que tão proficuamente tem sabido exercer a sua função, renovamos as nossas saudações.


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