E
o Grupo Musical levou a efeito mais uma garraiada. O tempo esteve agradável e a garraiada foi brilhante. Todos os rapazes
desempenharam o melhor que puderam os papéis de que estavam encarregados, e
salientamos os cavaleiros que se portaram galhardamente. Mas, como já
sabemos, os resultados financeiros foram insuficientes. Também já referimos que
o cinema foi outra tentativa de angariar fundos. Registemos, para a história, o
programa da primeira sessão que teve lugar na sua sede. O VI Portugal – Espanha em futebol, Rin-Tin-Tin e os lobos e Charlot na
Rua da Paz. E acrescente-se que, logo na primeira sessão, a máquina
avariou, pelo que o programa teve que ser repetido no domingo seguinte.
Chegados à data habitual, realizaram-se
as habituais comemorações dos aniversários. Vamos recordar essas festas.
Primeiro foi o Grupo Musical. Como
noticiámos, o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, colectividade da visinha
povoação de Tavarede, comemorou no passado sábado e domingo, o 18º aniversario
da sua fundação.
Sem
dúvida, revestiram-se de brilho as suas festas, chamando ali uma concorrencia
extraordinaria, o que mais imponentemente fez realçar os numeros que
constituiram o programa, que foram cumpridos na integra.
Bem
mereceu o simpático Grupo Tavaredense, esta distinção, dado o valor em que
exerce a sua acção, de tão úteis e beneficentes resultados para o povo daquela
risonha terra.
E
renovando os nossos agradecimentos pelo seu amavel convite, que gentilmente
enviaram ao nosso jornal, passamos a descrever resumidamente, o que foram as
festas da simpatica colectividade.
Sábado,
21 – ao 21 horas, hora marcada para o Espectaculo de Gala. O salão teatro
oferecia um aspecto empolgante. Uma massa apinhada de povo, enchia por completo
o elegante teatrinho, como alguem lhe chamou, vendo-se ainda de pé, muitas
dezenas de pessoas que não tiveram logar. À volta, colgaduras damascadas num
recorte de fino gosto, ornamentavam as paredes. Dum lado, pendiam os retratos
do Grupo Scenico, de João Chagas e da srª D. Maria Aguas Ferreira. Do outro, o
do saudoso maestro David de Sousa, maestro distincto, que no auge da sua
brilhante carreira, tombou no leito da morte; de Antonio Medina, fundador e
dedicado amigo desta colectividade, e em ultimo logar, senão o primeiro, a
figura simpatica e inexquecivel de José Medina, do excelente amador
tavaredense. Ao fundo pendia um largo galhardete do Grupo Musical, contendo as
suas iniciais, e atravessada, uma facha com a palavra Amigos. Era a
oferta e homenagem do “Grupo dos Amigos”.
E
no palco pendia o estandarte, como que sorrindo de contentamento pela ofegante
atmosfera que ali se respirava e parecia querer abençoar aqueles que há 18 anos
lhe vêm dispensando o seu carinho e auxilio desinteressados.
Maria Águas Ferreira
A
assistencia, de pé e religioso silencio, ouve o hino que irrompe executado pela
orquestra, sob a direcção de Antonio Cordeiro.
Segue-se
a representação da comédia, Os dois Nénés, que agradou, sendo ainda Violinda
Medina, o alvo dos aplausos. Terminada que foi a exibição do film Billy,
carinha n’agua, teve logar a representação da chistosa opereta em 1 acto
Herança do 103, que terminou a recita de gala.
Calculamos
que toda a existencia saíu satisfeita e bem disposta.
Passamos
agora ao Domingo, 22.
De
manhã. houve alvorada, anunciada por uma fanfarra, acompanhada de foguetes, que
deram a Tavarede um ar festivo.
Ao
meio dia, teve logar o bôdo aos pobres, sem duvida o número mais simpatico dos
que constituiam o programa das festas.
Esperava-se
a Sessão Solene.
Eram
5 horas, quando apareceu no palco o sr. Antonio d’Oliveira Cordeiro, que
convidou a presidir àquela sessão, o sr. Pedro dos Santos Moreira, dignissimo
professor oficial naquela terra.
Sua
Exª que é recebido com palmas, convidou para o secretariarem os srs. Augusto
d’Oliveira Santos, representante da Troupe Recreativa Brenhense, e Pedro Collet
Meygret representante da Sociedade Columbofila da Figueira.
Seguidamente,
procedeu-se à leitura do expediente, que era longo, e do qual desejamos salientar
as ultimas duas cartas, vindas de Sintra. A primeira era da pequenita Almira,
filha do nosso amigo Antonio Medina Junior, e a segunda, deste mesmo senhor,
que era escrita num estilo proprio daqueles que, embora longe, não se esquecem
daquilo que há 18 anos lhe tem absorvido uma parte do seu sentir.
E
foi dada a palavra ao sr. Manuel d’Oliveira Cordeiro, que leu um discurso de
sua auctoria em que fez referencia especial à Mocidade desta colectividade.
Seguidamente falaram os srs. Antonio d’Oliveira Lopes, presidente da Direcção
cessante que tambem leu um bem urdido discurso, e José Maria de Carvalho, que
recordou, com saudade, a alma de José Medina e agradeceu em nome dos socios do
Grupo Musical ao sr. Moreira, o carinho desinteressado que vem prestando ao
povo Tavaredense, mantendo-lhe e admnistrando-lhe as suas aulas de instrução.
E
em ultimo lugar, usou da palavra o sr. Rui Fernandes Martins, professor oficial
em Brenha, que demonstrou quaes os beneficios que das colectividades de
Instrução, advem, e a necessidade de se manterem, integralmente unidos, para
bem da Patria e da Republica. Terminou por afirmar que, se por ventura, a vida
e a saude lhe permitirem, tomará parte na festa do proximo ano.
Seguidamente,
o sr. Presidente fez uma alocução ao acto que se estava passando, e, encerrou a
Sessão.
Depois
teve logar no gabinete da Direcção, um copo d’agua, oferecido aos novos corpos
gerentes, oradores e representantes de colectividades, tendo ainda brindado os
srs. Rui Martins e Antonio Maria Lopes Anadio.
Representavam
colectividades os srs.: Augusto Santos, a Troupe Recreativa Brenhense; Pedro
Collet Meygret, a Sociedade Columbófila da Figueira; José Lopes Custódio, a
Associação dos Caixeiros; Antonio Correia, União Foot-ball de Buarcos; e Antonio
M. Lopes Anadio, a Boa União Alhadense.
À
noite teve logar o Baile de Gala, que esteve muitissimo concorrido tendo
terminado já bastante tarde.
Felicitamos
a briosa colectividade Tavaredense, e oxalá que à medida que os anos se vão
sucedendo, a sua acção beneficente aumente na mesma proporção para o povo
daquela risonha terra aproveitar tal beneficio.
Seguiu-se, pouco depois, a comemoração do 26º aniversário da
Sociedade. A obra, verdadeiramente
notável no capítulo da educação popular, que a Sociedade de Instrução
Tavaredense realiza na vizinha povoação de Tavarede, é bem conhecida. Devemos
filiar nesta circunstância a expressiva e calorosa simpatia que o público
dedica a esta colectividade e que se não dispensa de lhe testemunhar por
ocasião dos seus aniversários.
Na
verdade, a acção desenvolvida pela Sociedade de Instrução Tavaredense é
admirável sob todos os pontos de vista. Mantém, há quási três dezenas de anos,
uma escola nocturna onde se recebem alunos, menores e adultos, sócios ou não
sócios, aos quais é fornecido gratuitamente todo o material escolar. Não se
limita a isto a sua função. Vai mais longe: entra no capítulo da educação e da
cultura artística, limitada, como se compreende, às condições do meio -,
servindo-se para isso do livro, da palestra educativa e do teatro. A influência
moral e educativa exercida por intermédio do teatro, tanto sôbre os que nêle
representam como nos espectadores, é evidente. Para atingir êste objectivo,
segue-se na escolha das peças – algumas das quais expressamente escritas para
êste fim – o critério de que o teatro não deve servir apenas para proporcionar
distracção, deve, principalmente, ser um veículo de educação moral e cívica e
até, num meio como é o de aldeia, um instrumento de cultura.
Foi-nos
muito grato verificar, por isso mesmo, a demonstração vibrante de simpatia pela
benemérita agremiação tavaredense, a que deu lugar a festa do seu 26º
aniversário.
O
programa executou-se com brilho excepcional, havendo nêle alguns números de
muito relêvo.
No
sábado, a récita de gala reuniu no teatro, artisticamente ornamentado e
iluminado – colchas de damasco nas paredes, flores, enorme profusão de lâmpadas
eléctricas e um formoso lustre, nas côres da Sociedade de Instrução -, uma
assistência numerosíssima e distinta.
Abriu a
récita a alta-comédia em 1 acto O Caso de Consciência, de Octave Feuillet, em
cujo desempenho Maria Tereza de Oliveira, António Broeiro e João Cascão
souberam com justiça fazer-se aplaudir.
Seguiu-se
a peça em 1 acto Evocação, que deixou no público, mais pelo desempenho que
propriamente pela peça, uma impressão agradabilíssima, diremos mesmo uma
sensação de arte que bem se exteriorizou em aplausos calorosos. Emília
Monteiro, Maria Tereza de Oliveira, António Broeiro e João Cascão representaram
admiravelmente, mantendo uma perfeita harmonia de conjunto como não é fácil
conseguir melhor em teatros de amadores duma pequena aldeia. Dignas de nota
especial as primorosas caracterizações de António Esteves.
E a
récita fechou com chave de ouro – a opereta O 66, cuja dificílima e
formosíssima partitura teve execução esplêndida pela orquestra dirigida pelo
distinto amador sr. António Simões, que a assistência chamou ao palco para
melhor o aplaudir, e foi muito bem cantada por Emília Monteiro, João Cascão e Francisco
Carvalho. A representação teve o ritmo próprio, decorrendo com uma animação
exuberante. Muito bem! Os aplausos foram entusiásticos e merecidos. A montagem
era magnífica, figurando nela um fundo de belo efeito do distinto artista
pintor sr. Henrique Tavares.
No
domingo, fez a alvorada um grupo musical, que percorreu as ruas de Tavarede
executando o hino. Era constituído por sócios da Sociedade de Instrução,
ensaiados pelo sr. José Medina, que é um hábil e competente amador de música.
Pelas 11
horas foi servido a cêrca de 60 crianças da freguesia, o almôço oferecido pelo
grupo dos “Fixes”. Foi um número simpático. O aspecto das mesas, muito bem
dispostas no palco, era interessante.
À tarde,
a povoação apresentava o aspecto dos grandes dias de festa. Muita gente,
centenas de pessoas da Figueira, Quiaios, Brenha, Alhadas, Buarcos, etc. A
distinta banda “10 de Agôsto” entrou em Tavarede, pouco depois das 15 horas,
executando o hino da Sociedade. E em seguida, no Largo do Terreiro, fez-se uma
largada de dezenas de pombos correios. Êste número, gentilmente organizado pela
Sociedade Columbófila, despertou curiosidade nas centenas de pessoas que
assistiam.
Tendo
chegado a esplêndida tuna do Grupo Instrução e Recreio de Quiaios, deu-se
comêço à sessão solene, que foi, sob todos os aspectos, brilhante. Teve
carácter, teve imponência invulgar. A falta de espaço não nos permite fazer um
relato mais desenvolvido.
O sr.
João Gaspar de Lemos, presidente da Assembleia Geral, convidou para
secretariarem os srs. Raúl Dias Cachulo, pela “10 de Agôsto”, António Mariano,
pelo Grupo Instrução e Recreio, Rui Martins, distinto professor em Brenha e
Anselmo Cardoso Júnior, pelo Ateneu Alhadense. Abrindo a sessão o grupo musical
da Sociedade de Instrução Tavaredense executou o seu hino, em seguida ao que a
presidência foi entregue ao tavaredense ilustre sr. dr. José Cruz. Proferiram
discursos os srs. dr. Manuel Cruz, António Anadio, que pediu a palavra em nome
da União Alhadense, Rui Martins, dr. Manuel Lontro Mariano, dr. Júlio Gonçalves
e José da Silva Ribeiro, discursos que a assistência, que enchia completamente
a sala e transbordava para o átrio e corredores, aplaudiu calorosamente. O sr.
dr. José Cruz proferiu algumas palavras de admiração pela obra da colectividade
em festa, encerrando a sessão depois de transmitir um abraço aos seus
representantes, agradecimentos ao Grupo Instrução e Recreio e Filarmónica “10
de Agôsto”, por entre aclamações e erguendo-se a assistência para escutar o
hino da Sociedade de Instrução Tavaredense, executado pela Tuna de Quiaios e
pela “10 de Agôsto”.
À noite,
de novo as salas voltaram a encher-se. O baile de gala foi brilhante e
concorridíssimo, como ainda ali não houve melhor. As famílias dos sócios e
convidados acorreram em grande número, enchendo completamente a sala de baile.
E as
festas comemorativas do 26º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense
terminaram na madrugada de segunda-feira, deixando no espírito dos que a elas
assistiram uma impressão que não esquecem.
À
benemerente colectividade tavaredense, que tão proficuamente tem sabido exercer
a sua função, renovamos as nossas saudações.
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