1981.01.30 - ANIVERSÁRIO DA SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE
Festa grande em Tavarede, a das comemorações do 77º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, colectividade que vive no coração de todos os habitantes da risonha aldeia nossa vizinha – que já foi sede de concelho – e merece a admiração e o justo respeito de toda a gente pela alta e nobre função social que desde o seu início vem desempenhando, através do Teatro, principalmente, depois de ter mantido uma escola de adultos e menores que em muito contribuiu para abrir para a luz da instrução os espíritos de muitos tavaredenses.
Festa grande em Tavarede, a das comemorações do 77º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, colectividade que vive no coração de todos os habitantes da risonha aldeia nossa vizinha – que já foi sede de concelho – e merece a admiração e o justo respeito de toda a gente pela alta e nobre função social que desde o seu início vem desempenhando, através do Teatro, principalmente, depois de ter mantido uma escola de adultos e menores que em muito contribuiu para abrir para a luz da instrução os espíritos de muitos tavaredenses.
As festas de aniversário da SIT revestem-se sempre de grande brilho e solenidade e contam sempre com a presença das mais representativas autoridades não só concelhias que ali vão prestar a sua homenagem a uma colectividade das mais prestigiosas do País, pela obra cultural que vem realizando numa terra pequenina e bonita, que o representante da Câmara Municipal, engº Saraiva Santos, classificou – e muito bem – de “verdadeiro santuário do teatro Amador em Portugal”.
Este ano, as festas tiveram a dar-lhes mais brilho, ainda, a presença da centenária Filarmónica Gualdim Pais, de Tomar, a qual, sob a proficiente direcção do maestro Diogo Correia, realizou na sede da SIT um magnífico concerto com a execução primorosa de escolhidas peças do seu vasto repertório. O público que enchia a sala, onde estava também a centenária Filarmónica Figueirense, distinguiu os executantes e o seu regente com calorosos e merecidos aplausos.
Findo o concerto efectuou-se a Sessão solene. Presidiu o engº Saraiva Santos, vice-presidente da Câmara Municipal, ladeado na mesa de honra pelas principais autoridades e representantes das colectividades.
Depois da leitura do expediente e da nomeação dos novos corpos gerentes, que têm à frente da Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal, respectivamente, os srs. José Silva Ribeiro, Ernesto Lemos Serra e António Jorge da Silva, foram colocadas no estandarte da SIT, duas fitas oferecidas pela Filarmónica Gualdim Pais, sendo uma delas dedicada ao grupo cénico tão apreciado e lembrado na linda cidade do Nabão. Na mesma altura, os dirigentes da Academia Musical Arazedense ofereceram à Sociedade em festa uma salva de prata, sendo estes gestos sublinhados por aplausos da assistência.
O primeiro orador da tarde foi o Padre António Matos, pároco da freguesia, que exaltou o trabalho e o sacrifício dos dirigentes da SIT, tanto dos que terminaram agora os seus mandatos como dos que os antecederam desde a fundação, e fez a apologia do Teatro de Tavarede, que disse ser a nota individualizante da gente daquela localidade.
Jerónimo Pais, ao manifestar o agrado com que na véspera assistira naquela sala à representação da peça “Ecos da Terra do Limonete”, salientou também a função cultural da Sociedade de Instrução Tavaredense.
O delegado Regional do FAOJ, dr. Miguel Queirós, usou de seguida da palavra, para enaltecer a função cultural e recreativa da SIT.
Seguiu-se no uso da palavra um dirigente da Filarmónica Gualdim Pais, o qual, ao entregar à SIT uma medalha comemorativa do centenário da sua colectividade, referiu as saudades que o Teatro de Tavarede deixou em Tomar, onde o nome de José Ribeiro está para sempre gravado a letras de ouro. E fez um voto: o de que a SIT possa um dia retribuir este gesto, entregando à Gualdim Pais a medalha do seu centenário.
Fez-se ouvir, depois, a palavra do Revdº Dr. José Manuel Leite, que dissertou brilhantemente sobre Teatro e a propósito da representação a que assistira no dia anterior, de uma peça que focava vários aspectos da história de um povo, ou melhor, da história de dois povos, a Figueira e Tavarede.
José da Silva Ribeiro falou a seguir e começou por dizer que lhe agradou profundamente, numa sessão a que assistira em Caceira, ouvir o representante da Câmara dizer que a mesma Câmara tinha todo o empenho em ajudar as colectividades de cultura e recreio do concelho. (Tinha e tem, acrescentou o orador). Mas acrescentava ele que certamente deveria fazer-se uma revisão ao critério da distribuição de subsídios, porque lhe parecia que “para além da simples designação de sociedades de cultura e recreio, haveria que conhecer realmente a actividade, o valor, o préstimo, a utilidade pública destas colectividades. E esclarecia que “se a associação é apenas uma sala onde se reúnem para jogar a bisca, não vale a pena contar com elas para a distribuição de subsídios”.
E José Ribeiro diria a propósito:
“É que, senhor Presidente, realmente temos de distinguir entre sociedades de cultura e recreio e simples sociedades de recreio. Mas sociedade de cultura e recreio certamente o tem sido sempre, desde 1904, a Sociedade de Instrução Tavaredense”. E fazendo um parêntesis para esclarecer o seu pensamento, José Ribeiro disse: “Mas não são os subsídios só por si que fazem a actividade das sociedades de cultura e recreio. Não são. Podem os Governos, podem as autarquias locais despejar sobre as colectividades cestos e cestos de libras, que nem por isso se criou a sociedade de cultura e recreio. Pode ter-se realmente criado um organismo de diversão. Já é alguma coisa divertir o público. As sociedades de cultura e recreio não se criam apenas com subsídios. Elas só vivem, só existem se dentro delas houver realmente a alma da cultura e do recreio. Aqui alma de cultura e recreio é desejo, solidariedade, ansiedade de fazer cultura e de fazer recreio”.
E depois de fazer outras curiosas considerações, o orador saudou a representação da Gualdim Pais, falando do primoroso concerto por ela dado pouco antes. Falou das belezas de Tomar, das suas rosas, da janela dos Capítulos no Convento dos Templários, onde a história do passado se alia com o renascimento da cidade para além da ponte, passado e presente unidos na visão do futuro.
A terminar, e depois de entregar ao presidente da direcção da Gualdim Pais uma placa comemorativa da visita daquela filarmónica, José Ribeiro diria:
“Quero a todos vós dar a certeza de que, comigo, a SIT não foi até onde devia ter ido, mas foi até onde podia ir”.
A encerrar a sessão, usou da palavra o engº Saraiva Santos, que disse ser com muito prazer e muita alegria que em nome da Câmara ali ia levar mais um abraço de parabéns por mais um aniversário da SIT. E disse:
“É com muita honra que eu, neste lugar e nesta posição me encontro naquilo que eu considero ser um verdadeiro santuário do Teatro Amador em Portugal. E junto àquele que eu considero e que toda a gente considera ser um Mestre do Teatro amador em Portugal. E corrigindo as suas palavras: “Não se trata de um santuário do teatro Amador em Portugal. Trata-se de um santuário do Teatro em Portugal”.
E depois:
“A Figueira começou por ser Tavarede. Tavarede existe antes da Figueira e bem se poderia dizer que aqui nasceu a Figueira. Talvez isso me servisse para fazer e adiantar desde já uma reflexão: É visível e eu creio que os factos o demonstram e o demonstrarão mais, que a Figueira – toda a Figueira – está a crescer, está num crescimento saudável, num crescimento que poderá levar toda a Figueira e toda a região para um polo urbano de grande importância no Centro do País, mesmo em todo o País. É sabido que esse desenvolvimento vai atingir a vizinhança de Tavarede e que Tavarede se ligará muito intimamente à Figueira da Foz. A reflexão que eu deixaria era que fosse possível no futuro, daqui a 100 ou 200 anos, que este núcleo de Tavarede, junto ao santuário que ainda hoje é para a Figueira da Foz o Palácio de Tavarede, possam ser preservados e possa constituir-se aqui em Tavarede um autêntico núcleo histórico onde se possa vir em peregrinação ao berço da Figueira e ao berço do Teatro, ao santuário do Teatro em Portugal.
Referiu-se o orador aos critérios da atribuição de subsídios, que são também preocupações da Câmara Municipal, que está empenhada não apenas em subsidiar (embora isso, como muito bem expôs José Ribeiro, não seja o mais importante em certos casos), mas em promover o apoio a essas colectividades. E se nem sempre esse apoio corresponde aos desejos da Câmara, procurar-se-á fazer o melhor possível, dentro do melhor critério de atribuição.
A terminar:
“Mestre José Ribeiro deu-nos uma bela lição do que deve ser a Cultura e da forma como a Cultura deve ser promovida, desenvolvida e vivida. Ele vive-a, ele pôs nas suas palavras toda a emoção, e uma vida dedicada a Tavarede e à Cultura Portuguesa. Mestre José Ribeiro é já hoje um nome grande na Cultura Portuguesa e eu estou certo que o nome de Tavarede e de José Ribeiro ficarão para sempre ligados à verdadeira Cultura Portuguesa”.
(O Figueirense)
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