… as
sociedades dramáticas vegetavam como tortulhos!
Tavarede
de outros tempos…
“… o José do Ignácio, havia sido
também, em outro tempo, uma parte obrigatória em todas as sociedades
dramáticas, que vegetavam em Tavarede como tortulhos…”.
Ernesto Fernandes Tomás, jornalista figueirense,
nascido em 1848 e falecido em 1902, escreveu e publicou no jornal “Gazeta da
Figueira”, ao longo do ano de 1896, uma extensa e descritiva reportagem,
recordando as visitas que ele, acompanhado de um grupo de rapazes seus amigos,
fez a Tavarede no ano de 1865, para assistir a “uns teatros” que aqui se
representavam.
É bastante curiosa a frase acima citada dizendo que “as sociedades dramáticas vegetavam em
Tavarede como tortulhos”. Aliás, e para quem se interesse por conhecer como
era a vida dos tavaredenses nos meados do século dezanove, aconselhamos a
leitura daquela reportagem, pois, além de nos descrever o que eram, naqueles
tempos, as associações e o teatro que faziam, narra-nos, de forma assaz
interessante e curiosa, variadíssimos aspectos da nossa aldeia, descreve-nos
figuras e famílias que aqui conheceu e com quem conviveu, bem como nos relata
vários aspectos da vida de trabalho dos tavaredenses, da religião e até alguns
edifícios daquela recuada época, em especial capelas que existiram em Tavarede
e que nós já não conhecemos, contando-nos, também, algumas histórias antigas de
pessoas e factos que fizeram parte da história da “terra do limonete”.
Depois de percorrermos toda a imprensa figueirense
disponível na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, é aquela reportagem a
primeira notícia encontrada que se refere ao associativismo em Tavarede, na
década de 1860 / 1870. A ela recorreremos em abundância neste pequeno caderno,
no qual temos a intenção de descrever, com todos os elementos disponíveis, a
carreira do associativismo na nossa terra e a importância que teve no desenvolvimento
cultural e educativo dos nossos antepassados.
Bem sabemos que há muita coisa escrita
sobre este tema. Nós próprios, desde sempre interessados no assunto, já o temos
feito, em livros publicados, em cadernos diversos e em notícias e histórias
escritas na imprensa figueirense e, ultimamente, no blogue ‘Tavarede – A terra
de meus avós’, onde vamos publicando várias histórias e historietas, umas mais
antigas, enquanto outras mais modernas e actuais. Natural é, portanto, que se
encontrem, neste trabalho, muitíssimas notas e informações já conhecidas
daqueles que leram algo do acima referido, bem como outras publicações de
pessoas bem mais sabedoras e conhecedoras do que nós, nomeadamente Mestre José
da Silva Ribeiro, João de Oliveira Coelho, Manuel Cardoso Martha, António dos
Santos Rocha, António Vítor Guerra e alguns mais, cujos trabalhos se encontram
dispersos em diversos jornais, revistas e livros.
A nossa ideia é elaborar mais um caderno sobre a nossa
terra, no qual, por ordem, cronológica de datas, seguiremos o associativismo em
Tavarede. Não temos pretensões de deixar um trabalho sem falhas. Elas surgirão
naturalmente. Os elementos recolhidos na imprensa local, em diversos livros e
nos arquivos tavaredenses, estão muito incompletos. O que pretendemos, porém, é
reunir e descrever, com todo o material disponível, o aparecimento e o
seguimento do associativismo em Tavarede.
Ora, fazendo fé na reportagem de
Ernesto Tomás, se em 1865 se representavam, na nossa terra, comédias, dramas e,
até, o “Presépio”, que deixou muita fama, teremos de concluir que para se
atingir o alto nível que levava muitas pessoas da Figueira a irem a Tavarede
para assistir aos espectáculos, até nas noites mais invernosas, o teatro, que
certamente teria boa qualidade ou, pelo menos, bastante razoável, já se
praticaria na nossa terra há algumas décadas. Podemos, até, situar, sem cair em
grande erro, o princípio do associativismo em Tavarede nos princípios da
primeira década do século dezanove, ou, talvez com mais realismo, na última
década do século dezoito.
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