sábado, 8 de dezembro de 2012

O Associativismo na Terra do Limonete - 1


  
             Em Tavarede…

                … as sociedades dramáticas vegetavam como tortulhos!



 

Tavarede de outros tempos…


         “… o José do Ignácio, havia sido também, em outro tempo, uma parte obrigatória em todas as sociedades dramáticas, que vegetavam em Tavarede como tortulhos…”.
        
Ernesto Fernandes Tomás, jornalista figueirense, nascido em 1848 e falecido em 1902, escreveu e publicou no jornal “Gazeta da Figueira”, ao longo do ano de 1896, uma extensa e descritiva reportagem, recordando as visitas que ele, acompanhado de um grupo de rapazes seus amigos, fez a Tavarede no ano de 1865, para assistir a “uns teatros” que aqui se representavam.
        
É bastante curiosa a frase acima citada dizendo que “as sociedades dramáticas vegetavam em Tavarede como tortulhos”. Aliás, e para quem se interesse por conhecer como era a vida dos tavaredenses nos meados do século dezanove, aconselhamos a leitura daquela reportagem, pois, além de nos descrever o que eram, naqueles tempos, as associações e o teatro que faziam, narra-nos, de forma assaz interessante e curiosa, variadíssimos aspectos da nossa aldeia, descreve-nos figuras e famílias que aqui conheceu e com quem conviveu, bem como nos relata vários aspectos da vida de trabalho dos tavaredenses, da religião e até alguns edifícios daquela recuada época, em especial capelas que existiram em Tavarede e que nós já não conhecemos, contando-nos, também, algumas histórias antigas de pessoas e factos que fizeram parte da história da “terra do limonete”.
        
Depois de percorrermos toda a imprensa figueirense disponível na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, é aquela reportagem a primeira notícia encontrada que se refere ao associativismo em Tavarede, na década de 1860 / 1870. A ela recorreremos em abundância neste pequeno caderno, no qual temos a intenção de descrever, com todos os elementos disponíveis, a carreira do associativismo na nossa terra e a importância que teve no desenvolvimento cultural e educativo dos nossos antepassados.

         Bem sabemos que há muita coisa escrita sobre este tema. Nós próprios, desde sempre interessados no assunto, já o temos feito, em livros publicados, em cadernos diversos e em notícias e histórias escritas na imprensa figueirense e, ultimamente, no blogue ‘Tavarede – A terra de meus avós’, onde vamos publicando várias histórias e historietas, umas mais antigas, enquanto outras mais modernas e actuais. Natural é, portanto, que se encontrem, neste trabalho, muitíssimas notas e informações já conhecidas daqueles que leram algo do acima referido, bem como outras publicações de pessoas bem mais sabedoras e conhecedoras do que nós, nomeadamente Mestre José da Silva Ribeiro, João de Oliveira Coelho, Manuel Cardoso Martha, António dos Santos Rocha, António Vítor Guerra e alguns mais, cujos trabalhos se encontram dispersos em diversos jornais, revistas e livros.
        
A nossa ideia é elaborar mais um caderno sobre a nossa terra, no qual, por ordem, cronológica de datas, seguiremos o associativismo em Tavarede. Não temos pretensões de deixar um trabalho sem falhas. Elas surgirão naturalmente. Os elementos recolhidos na imprensa local, em diversos livros e nos arquivos tavaredenses, estão muito incompletos. O que pretendemos, porém, é reunir e descrever, com todo o material disponível, o aparecimento e o seguimento do associativismo em Tavarede.

         Ora, fazendo fé na reportagem de Ernesto Tomás, se em 1865 se representavam, na nossa terra, comédias, dramas e, até, o “Presépio”, que deixou muita fama, teremos de concluir que para se atingir o alto nível que levava muitas pessoas da Figueira a irem a Tavarede para assistir aos espectáculos, até nas noites mais invernosas, o teatro, que certamente teria boa qualidade ou, pelo menos, bastante razoável, já se praticaria na nossa terra há algumas décadas. Podemos, até, situar, sem cair em grande erro, o princípio do associativismo em Tavarede nos princípios da primeira década do século dezanove, ou, talvez com mais realismo, na última década do século dezoito.

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