sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 19


Não vamos aqui recordar todos os espectáculos, apresentados tanto pela Sociedade como pelo Grupo. Foram muitos e variados, mas isso apenas é uma prova demonstrativa de que o Associativismo estava bem radicado na Terra do Limonete e que procuravam, com o maior entusiasmo, cumprir a missão a que se haviam proposto: a Instrução e a Educação do povo da sua terra.

Com certa curiosidade, foi numa notícia de um correspondente de um jornal figueirense, que soubemos de um caso que acabou por ter grande influência no nosso associativismo. De Buarcos – Tivemos, particularmente, conhecimento de que, ao Grupo Musical Tavaredense foi, por um dos seus consocios, offerecida uma casa para recreio dos seus associados e espectaculos publicos. Pela muita sympathia e consideração que aquelle Grupo nos merece, associamo-nos á alegria que deve ir no coração d’aquelles que o desejam vêr progredir, e fazemos sinceros votos para que em breve o possamos vêr tão engrandecido, quanto os seus fundadores o desejam.

         Instalado na sua nova sede, o Grupo Musical prestou homenagem ao seu sócio benemérito, sr. Manuel da Silva Jordão. Com a maior solemnidade, realisou-se no ultimo sabbado, como estava marcado, o primeiro espectaculo na nova séde d’aquella casa d’instrucção musical e theatral, que decorreu animadissimo.
         Pouco antes de se começar o espectaculo foi, pelo sr. dr. Manuel Gomes Cruz, proferido um discurso, que enthusiasmou o publico, e não só a este como tambem aos socios do Grupo Musical. Aquelle senhor ao dizer, entre outras coisas, que o honravam com aquelle progresso na sua terra, e não só a elle como a todos os seus conterraneos, foi, para a numerosa assistencia, que o ouvia com o maior respeito, uma alegria, e pouco depois, agradecendo em nome de todos os sócios d’aquella colectividade ao seu grande benemerito, ao seu grande protector, sr. Manuel da Silva Jordão, foi-lhe inaugurado o seu retrato, tocando a orchestra o hymno da Associação. S. Exª., ao acabar o seu discurso, foi calorosamente applaudido.
         Seguiu-se depois o espectaculo que, digamos de justiça, decorreu sempre animado, andando os amadores como deviam: No drama ha a notar, além dos outros trabalhos, o de Maria Esteves, que pela primeira vez que entrou em scena fez o que devia. O resto, tudo bem. Tomou parte n’este espectaculo o conhecido amador, sr. Alvaro Ferreira, de Coimbra, que agradou muito.
         A séde achava-se lindamente ornamentada, ostentando, entre outros retratos, o do conhecido actor Almeida Cruz, filho de Tavarede. Depois do espectaculo houve baile, durando até quasi de manhã. No outro dia, domingo, baile novamente, prolongando-se até depois da meia noite. Emfim, foi uma festa digna de registo, que honra muito a pequenina aldeia de Tavarede.
         Os nossos maiores desejos são, que em Tavarede se façam muitas acções, tão cheias de luz e progresso, como a de sabbado ultimo. Parabens aos sócios do Grupo Musical Tavaredense.

         Embora alguns amadores, quer da Sociedade quer do Grupo, já tivessem participado em diversos espectáculos na Figueira da Foz, em benefício de necessitados, a primeira saída do grupo cénico da SIT foi à sede da Filarmónica Figueirense, onde apresentou a opereta Os amores de Mariana. Deixamos, aqui, para a história, a notícia desta deslocação. Conforme noticiámos no penultimo numero do nosso jornal, teve logar no pretérito domingo, no elegante teatrinho da Figueirense, o espétáculo que foi abrilhantado pelo grupo dramatico da Sociedade d’Instrução Tavaredense, que levou à cêna a opereta Os Amores de Mariana.
         Não mentimos quando afirmámos que o publico corresponderia com a sua presença, no vasto salão da Figueirense, ao apêlo feito por esta simpatica colétividade, organisando uma récita que, como a de domingo, tarde se nos apagará da memória. E também não mentimos fazendo as mais elogiosas referências ao grupo de Tavarede, que sabe conduzir-se de forma que encanta todos que logram o prazer de o ouvir. Por tal razão os nossos cumprimentos aos briosos rapazes que tão bem aproveitam as suas horas vagas, cultivando sob a diréção d’um habil amador, como o é Vicente Ferreira, uma Arte tão querida do nosso povo: - Arte dramatica.


O grupo cénico da SIT, que representou esta peça

         Os Amores de Mariana agradam pela sua simplicidade e agitam os corações pela boa musica que tem, verdadeiros mimos da nossa fértil canção portugueza. E se nós temos vontade imensa de nos prendermos à Mariana, salta logo essa figura de Zé Piteira, bonacheirão mas amorudo, que não gosta da brincadeira e descarrega traulitada.
         É que o nosso camponez ama valentemente como uma vaca, e sendo só pão, pão, queijo, queijo, não consente – e faz muito bem – que o queijo da sua conversada se vá unir a qualquer pão da cidade, que envenena e não quer casar.
         E mesmo tem o nosso Zé Piteira carradas de razão nos seus zelos: - é que a srª. Mariana é o beijinho lá da aldeia, une-se, casa-se bem com o pitoresco daquele Minho ridente em que as flôres são belas e teem perfumes estonteantes; e por tal é triste que um jinota todo triques à beirinha venha com forçada meiguice apoderar-se da filha do Manuel d’Abalada, que de bom gosto dá tudo quanto tem e ainda mais à filha ao simplorio Zé Piteira.
         A alma é esta, e a poesia ressalta no campo a todo o passo, de maneira que desde o Barnabé Pacóvio, o brazileiro d’agua-doce, até à Morgadinha do Freixo, que já se conheceram... trez vezes, todos à uma anuem ao casamento, e o simpatico Zé lá se abicha com aquela linda Mariana, bem contra a vontade desse Ernesto, o jinota, que queria... que se acabasse esta maçadoria que fica escrita para registo da noite de domingo ultimo.

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