Pelo Natal, o Grupo Musical levou à cena Os Autos Pastoris, cuja apresentação está a causar grande entusiasmo em Tavarede.
Seguiu-se, como era tradição, a representação de Os Reis Magos.
Presépio no Grupo
Na Sociedade, e depois de uma notável
actividade durante cerca de cinco anos, Vicente Ferreira deixou a direcção do
teatro, em 1915, tendo sido escolhido, para o substituir neste cargo, o então
jovem amador José da Silva Ribeiro. Assumiu as suas novas funções começando, de
imediato, a ensaiar a opereta Entre duas
Avé-Marias, que subiu à cena de Janeiro de 1916.
O Associativismo tavaredense, em Março de
1916, recebeu novo impulso. As duas colectividades, até então distantes uma da
outra, fizeram as pazes e colaboraram activamente na Festa da Árvore,
organizada pela professora da escola primária oficial da nossa terra.
Consideramos este facto um marco na vida associativa de Tavarede e, como tal,
aqui transcrevemos uma das reportagens que encontrámos sobre a referida festa. Tavarede
esteve em festa no último domingo com a Festa da Arvore, que resultou ser muito
concorrida por innumeras pessoas tanto dos casaes vizinhos como d’essa cidade,
o que era de esperar, em vista do esmerado programma, que prometia dar uma
festa excellente.
E
foi-o sem duvida, deixando boa recordação na memoria das pessoas que n’ella
tomaram parte, principalmente das creancinhas.
O
programma marcava para as 14 horas o cortejo civico, em que tomariam parte os
alumnos das escolas official-mixta e nocturna, e outras associações locaes com
os seus estandartes, mas devido ao mau tempo, só se organisou pelas 15 horas,
approximadamente, sahindo da escola official em direcção ao Largo do Paço, onde
foram plantadas duas arvores. Ali, a srª. D. Maria José Paula Santos, illustre
professora, recitou a poesia allusiva á Arvore, que os ouvintes no final muito
applaudiram.
Em
seguida, o cortejo dirigiu-se ao Largo do Forno (em frente á escola official),
onde se plantaram mais quatro arvores. Alguns musicos do Grupo Musical
encorporaram-se n’elle, executando a marcha A Arvore, que as creancinhas
cantaram com todo o enthusiasmo. O jantar dos alumnos das duas escolas, que
estava marcado para as 16 horas, e que era servido no Grupo Musical, foi
magnifico.
A
commissão encarregou-se de comprar um lanigero, que, assado e guisado com as
respectivas batatas, exhalava um cheirinho, que era sem duvida de todo o ponto
agradavel, estando o palco replecto de creanças, que lindamente fizeram as
honras da meza. A plateia e galeria encontravam-se apinhadas de curiosos, que
todos se regalavam em vêr comer. A algumas pessoas de fora, que após o jantar
retiraram, e que foram muito bem impressionadas, ouvimos nós dizer que até
parecia impossivel n’uma pequenina aldeia, fazer-se assim uma festa que sem
duvida foi excellente.
Às
21 horas principiou o sarau dramatico-musical no theatro da Sociedade de
Instrucção Tavaredense, em que tomaram parte, alem das mesmas creanças, uma
orchestra do Grupo Musical, sob a regencia do distincto professor, sr. Antonio
Rodrigues Paula Santos, d’essa cidade. O programma era dividido em 3 partes, e
da seguinte forma:
1ª.
parte, A Portugueza, cantada por todas as creanças. N’esta altura, o sr. dr.
José Gomes Cruz, pronnunciou um breve e patriotico discurso, vivas a Portugal,
á Republica, etc., que muito enthusiasmou o publico. S. exª. falou sobre
aquella festa e sobre a nossa situação, sendo no final muito applaudido. Em
seguida, a menina Maria Ribeiro, recitou a poesia As Arvores, discursando
depois o sr. Marcial Ermitão sobre variados assumptos, principalmente da
participação de Portugal na guerra. Foi por varias vezes interrompido e no
final tambem foi muito ovacionado. Seguem-se a Luz do A B C, poesia, pelo
menino Manuel Nogueira e Silva, Anjo da Guarda, uma canção, cantada por todas
as creanças, Na Escola, poesia recitada pelo sr. Francisco Loureiro, e Os
Luziadas, marcha, cantada por todas as creanças, finalisando assim a 1ª. parte.
A
2ª. parte, abriu com o Hymno das Arvores, entoado por todas as creanças,
seguindo-se a poesia Às Arvores, pelo menino Antonio da Silva Broeiro, o
monologo Pois sim senhor... pela menina Eduarda F. Serra, a canção O Ninho,
entoada por todas as creanças, Ao rebentar da seiva, poesia, pela menina Maria Nathalia
Victorina, O Pintasilgo, canção, entoada por todas as creanças, improvisando
n’esta altura o sr. José Ribeiro, um brilhante discurso, explicando aos
pequenitos o que era a festa da Arvore, falando tambem da guerra, etc., sendo
no final calorosamente applaudido, seguindo-se depois as poesias Ás creanças e
A Escola, recitadas respectivamente pelo sr. Antonio Medina Junior e pela
menina Emilia Cardosa, e a canção A Escola, entoada por todas as creanças,
finalisando a segunda parte com um discurso do sr. dr. Manuel Gomes Cruz, que
fez vêr ao publico varias phases da guerra, falando tambem sobre a ligação das
Sociedade d’Instrucção e Grupo Musical, que durante muito tempo andaram
indifferentes, e agora na séde d’aquella colectividade tinham cruzados os seus
estandartes, acabando o seu discurso por dizer que estava muitissimo
satisfeito, não só por isto, mas por vêr uma festa d’aquella ordem na sua
terra.
O
hymno da Maria da Fonte, entoado por todas as creanças, dá começo á 3ª. parte,
seguindo-se a Poesia Infantil, pela menina Emilia d’Oliveira, Engeitadinha,
pela pequenina Adelaide da S. Flôr, A Madrugada, canção entoada por todas as
meninas, o A B C, poesia, pelo sr. Antonio da Silva Coelho e depois Portugal,
poesia, pela sua interessante filhita Izaura.
Finalmente
representou-se a comedia drama em 1 acto, As Arvores, representada pelos
meninos Aurelia Cascão e seu mano João, que tambem foram muito applaudidos,
pondo termo ao sarau o hymno A Sementeira. Ah! não nos esqueça dizer que antes
do panno cahir, o sr. Marcial Ermitão veiu ao palco ler o seguinte telegramma
de saudação ao sr. Presidente da Republica:
Presidente
da Republica - Palacio de Belem -
Lisboa.
- Povo de Tavarede, reunido para ce-
lebrar
festa da Arvore, vibrando mais intenso
enthusiasmo
patriotico, applaude Portugal na
guerra.
A Commissão.
N’esta
altura, o enthusiasmo de todos quantos assistiam á festa redobrou de
intensidade, ouvindo-se constantes acclamações a Portugal, á Republica, á
Inglaterra, á França, etc., tocando a orchestra por varias vezes o hymno
nacional. Na mesma orchestra tambem executado piano a distincta professora srª.
D. Maria José Paula Santos, filha do sr. Antonio R. Paula Santos, que muito
mais abrilhantou a Festa da Arvore de Tavarede, no dia 19 de Março do anno de
1916, dia que jámais esquecerá às pessoas de Tavarede, principalmente às
creancinhas que n’ella tomaram parte.
Pelo bom exito d’esta festa, não
podemos deixar de felicitar a digna professora official d’esta localidade, srª.
D. Maria José Paula Santos e seu pae, o distincto professor de musica, sr.
Antonio Rodrigues Paula Santos, incançaveis de tenacidade e trabalho,
envolvendo tambem nas nossas felicitações a commissão organisadora da festa,
que não se poupou a esforços e sacrificios para que ella resultasse, como
resultou, brilhante e inolvidavel.
Havia
dois anos que tinha eclodido a 1ª. Grande Guerra. Em 1916, o nosso País também
entrou em campanha. Foram vários os amadores mobilizados e, entre eles, José
Ribeiro, o ensaiador teatral da Sociedade. Foi uma ausência de cerca de três
anos e disso se ressentiu a actividade do grupo cénico que, durante este
período, sofreu alguma inactividade.
Por sua
vez, o Grupo Musical, graças às suas novas instalações, que lhe proporcionaram
uma muito maior e diversificada actividade, continuava na sua missão. O grupo
musical que, desde a sua fundação em 1911, abrilhantava as suas festas e os
seus espectáculos, deu lugar a uma tuna que, como adiante veremos, alcançou
extraordinário êxito. Saíu, pela primeira vez, no dia de Páscoa de 1916, para
cumprimentar os seus sócios locais e indo visitar e apresentar cumprimentos à
Sociedade de Instrução, à sua sede no Terreiro. Foi, em seguida, à Figueira,
onde apresentou cumprimentos a diversas entidades e colectividades, e acabou
por se deslocar aos Carritos, numa visita de gratidão ao seu sócio benemérito
Manuel da Silva Jordão. Recorde-se que, nesta saída, apesar de desfalcada de
alguns elementos, saíu constituída por 24 elementos.
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