sábado, 27 de abril de 2013

O Associativismo em Tavarede - 20


Pelo Natal, o Grupo Musical levou à cena Os Autos Pastoris, cuja apresentação está a causar grande entusiasmo em Tavarede. Seguiu-se, como era tradição, a representação de Os Reis Magos.






      Presépio no Grupo





Na Sociedade, e depois de uma notável actividade durante cerca de cinco anos, Vicente Ferreira deixou a direcção do teatro, em 1915, tendo sido escolhido, para o substituir neste cargo, o então jovem amador José da Silva Ribeiro. Assumiu as suas novas funções começando, de imediato, a ensaiar a opereta Entre duas Avé-Marias, que subiu à cena de Janeiro de 1916.

O Associativismo tavaredense, em Março de 1916, recebeu novo impulso. As duas colectividades, até então distantes uma da outra, fizeram as pazes e colaboraram activamente na Festa da Árvore, organizada pela professora da escola primária oficial da nossa terra. Consideramos este facto um marco na vida associativa de Tavarede e, como tal, aqui transcrevemos uma das reportagens que encontrámos sobre a referida festa. Tavarede esteve em festa no último domingo com a Festa da Arvore, que resultou ser muito concorrida por innumeras pessoas tanto dos casaes vizinhos como d’essa cidade, o que era de esperar, em vista do esmerado programma, que prometia dar uma festa excellente.
         E foi-o sem duvida, deixando boa recordação na memoria das pessoas que n’ella tomaram parte, principalmente das creancinhas.
         O programma marcava para as 14 horas o cortejo civico, em que tomariam parte os alumnos das escolas official-mixta e nocturna, e outras associações locaes com os seus estandartes, mas devido ao mau tempo, só se organisou pelas 15 horas, approximadamente, sahindo da escola official em direcção ao Largo do Paço, onde foram plantadas duas arvores. Ali, a srª. D. Maria José Paula Santos, illustre professora, recitou a poesia allusiva á Arvore, que os ouvintes no final muito applaudiram.
         Em seguida, o cortejo dirigiu-se ao Largo do Forno (em frente á escola official), onde se plantaram mais quatro arvores. Alguns musicos do Grupo Musical encorporaram-se n’elle, executando a marcha A Arvore, que as creancinhas cantaram com todo o enthusiasmo. O jantar dos alumnos das duas escolas, que estava marcado para as 16 horas, e que era servido no Grupo Musical, foi magnifico.
         A commissão encarregou-se de comprar um lanigero, que, assado e guisado com as respectivas batatas, exhalava um cheirinho, que era sem duvida de todo o ponto agradavel, estando o palco replecto de creanças, que lindamente fizeram as honras da meza. A plateia e galeria encontravam-se apinhadas de curiosos, que todos se regalavam em vêr comer. A algumas pessoas de fora, que após o jantar retiraram, e que foram muito bem impressionadas, ouvimos nós dizer que até parecia impossivel n’uma pequenina aldeia, fazer-se assim uma festa que sem duvida foi excellente.
         Às 21 horas principiou o sarau dramatico-musical no theatro da Sociedade de Instrucção Tavaredense, em que tomaram parte, alem das mesmas creanças, uma orchestra do Grupo Musical, sob a regencia do distincto professor, sr. Antonio Rodrigues Paula Santos, d’essa cidade. O programma era dividido em 3 partes, e da seguinte forma:
         1ª. parte, A Portugueza, cantada por todas as creanças. N’esta altura, o sr. dr. José Gomes Cruz, pronnunciou um breve e patriotico discurso, vivas a Portugal, á Republica, etc., que muito enthusiasmou o publico. S. exª. falou sobre aquella festa e sobre a nossa situação, sendo no final muito applaudido. Em seguida, a menina Maria Ribeiro, recitou a poesia As Arvores, discursando depois o sr. Marcial Ermitão sobre variados assumptos, principalmente da participação de Portugal na guerra. Foi por varias vezes interrompido e no final tambem foi muito ovacionado. Seguem-se a Luz do A B C, poesia, pelo menino Manuel Nogueira e Silva, Anjo da Guarda, uma canção, cantada por todas as creanças, Na Escola, poesia recitada pelo sr. Francisco Loureiro, e Os Luziadas, marcha, cantada por todas as creanças, finalisando assim a 1ª. parte.
         A 2ª. parte, abriu com o Hymno das Arvores, entoado por todas as creanças, seguindo-se a poesia Às Arvores, pelo menino Antonio da Silva Broeiro, o monologo Pois sim senhor... pela menina Eduarda F. Serra, a canção O Ninho, entoada por todas as creanças, Ao rebentar da seiva, poesia, pela menina Maria Nathalia Victorina, O Pintasilgo, canção, entoada por todas as creanças, improvisando n’esta altura o sr. José Ribeiro, um brilhante discurso, explicando aos pequenitos o que era a festa da Arvore, falando tambem da guerra, etc., sendo no final calorosamente applaudido, seguindo-se depois as poesias Ás creanças e A Escola, recitadas respectivamente pelo sr. Antonio Medina Junior e pela menina Emilia Cardosa, e a canção A Escola, entoada por todas as creanças, finalisando a segunda parte com um discurso do sr. dr. Manuel Gomes Cruz, que fez vêr ao publico varias phases da guerra, falando tambem sobre a ligação das Sociedade d’Instrucção e Grupo Musical, que durante muito tempo andaram indifferentes, e agora na séde d’aquella colectividade tinham cruzados os seus estandartes, acabando o seu discurso por dizer que estava muitissimo satisfeito, não só por isto, mas por vêr uma festa d’aquella ordem na sua terra.
         O hymno da Maria da Fonte, entoado por todas as creanças, dá começo á 3ª. parte, seguindo-se a Poesia Infantil, pela menina Emilia d’Oliveira, Engeitadinha, pela pequenina Adelaide da S. Flôr, A Madrugada, canção entoada por todas as meninas, o A B C, poesia, pelo sr. Antonio da Silva Coelho e depois Portugal, poesia, pela sua interessante filhita Izaura.
         Finalmente representou-se a comedia drama em 1 acto, As Arvores, representada pelos meninos Aurelia Cascão e seu mano João, que tambem foram muito applaudidos, pondo termo ao sarau o hymno A Sementeira. Ah! não nos esqueça dizer que antes do panno cahir, o sr. Marcial Ermitão veiu ao palco ler o seguinte telegramma de saudação ao sr. Presidente da Republica:
                            Presidente da Republica - Palacio de Belem -
                            Lisboa. - Povo de Tavarede, reunido para ce-
                            lebrar festa da Arvore, vibrando mais intenso
                            enthusiasmo patriotico, applaude Portugal na
                            guerra. A Commissão.
         N’esta altura, o enthusiasmo de todos quantos assistiam á festa redobrou de intensidade, ouvindo-se constantes acclamações a Portugal, á Republica, á Inglaterra, á França, etc., tocando a orchestra por varias vezes o hymno nacional. Na mesma orchestra tambem executado piano a distincta professora srª. D. Maria José Paula Santos, filha do sr. Antonio R. Paula Santos, que muito mais abrilhantou a Festa da Arvore de Tavarede, no dia 19 de Março do anno de 1916, dia que jámais esquecerá às pessoas de Tavarede, principalmente às creancinhas que n’ella tomaram parte.
         Pelo bom exito d’esta festa, não podemos deixar de felicitar a digna professora official d’esta localidade, srª. D. Maria José Paula Santos e seu pae, o distincto professor de musica, sr. Antonio Rodrigues Paula Santos, incançaveis de tenacidade e trabalho, envolvendo tambem nas nossas felicitações a commissão organisadora da festa, que não se poupou a esforços e sacrificios para que ella resultasse, como resultou, brilhante e inolvidavel.

         Havia dois anos que tinha eclodido a 1ª. Grande Guerra. Em 1916, o nosso País também entrou em campanha. Foram vários os amadores mobilizados e, entre eles, José Ribeiro, o ensaiador teatral da Sociedade. Foi uma ausência de cerca de três anos e disso se ressentiu a actividade do grupo cénico que, durante este período, sofreu alguma inactividade.

         Por sua vez, o Grupo Musical, graças às suas novas instalações, que lhe proporcionaram uma muito maior e diversificada actividade, continuava na sua missão. O grupo musical que, desde a sua fundação em 1911, abrilhantava as suas festas e os seus espectáculos, deu lugar a uma tuna que, como adiante veremos, alcançou extraordinário êxito. Saíu, pela primeira vez, no dia de Páscoa de 1916, para cumprimentar os seus sócios locais e indo visitar e apresentar cumprimentos à Sociedade de Instrução, à sua sede no Terreiro. Foi, em seguida, à Figueira, onde apresentou cumprimentos a diversas entidades e colectividades, e acabou por se deslocar aos Carritos, numa visita de gratidão ao seu sócio benemérito Manuel da Silva Jordão. Recorde-se que, nesta saída, apesar de desfalcada de alguns elementos, saíu constituída por 24 elementos. 

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