Na
SIT, num espectáculo realizado no dia 6 de Abril de 1912, foi representada,
além de uma comédia, uma revista sobre os usos e costumes da terra. Como dissémos, a Sociedade de Instrução
realizou no sábado uma récita com a revista intitulada Na Terra do Limonete e a
comédia Birras do Papá. Fazer uma revista de costumes de Tavarede, terra pequena,
em que escasseia o assunto e há sobretudo o receio de melindrar as
personalidades atingidas, não é tarefa muito fácil. Daremos, porém, em poucas
palavras, a nossa humilde opinião: - os artistas compreenderam bem os seus
papeis, imprimindo-lhes muita graça e naturalidade. A revista foi
admiravelmente ensaiada por Vicente Ferreira. O cenário, obra de Jean Batout
produz magnífico efeito. A música, composição de Gentil Ribeiro, tem números
lindíssimos e boa execução e, já que falamos em música, não esqueceremos
Eugénia Tondela e António Graça, que cantaram corretamente as canções que lhe
foram destinadas. Houve aplausos em barda, especialmente na parte final
(apoteose), em que D. Limonete estabelece o confronto entre o convívio
deletério da taberna e a paz e a fraternidade que predomina no seio da
Sociedade d’Instrução. No próximo sábado repete-se a revista.
Apesar de terem começado a surgir
diversos atritos entre as duas associações, ambos os grupos dramáticos
continuaram a desenvolver intensa actividade. Enquanto a Sociedade prosseguia
com a apresentação do programa acima, o Grupo fez representar o drama Crime e Honra e duas comédias A mala do sr. Bexiga e O cometa e o fim do mundo.
Uma das questiúculas referidas, foi
publicitada em Junho daquele ano. Algumas
pessoas que haviam subscrito para a aquisição d’um relogio para a torre, tendo
conhecimento da infame cilada de que foi vitima a benemerita Sociedade
d’Instrução Tavaredense, aplicando-lhe uma multa por suposta transgressão da
lei do selo, ofereceram generosamente essas quantias à diréção da referida
colétividade para não onerar o cofre com que esta sustenta há anos as suas
aulas nóturnas para as classes trabalhadoras.
Com
a generosidade das pessoas de bem, está satisfeita a ganancia dos beleguins
fiscaes, única protéção oficial que a Sociedade tem recebido para prosseguir na
sua missão d’instruir os pobres.
Um agrupamento
musical, que veio a dar origem à tuna do jovem Grupo Musical, foi actuar a
vários locais, obtendo bastantes elogios. E, reatando uma velha tradição,
organizou uma festa para comemorar o S. João, com um arraial, no Largo do
Forno, que estava lindamente ornamentado
e iluminado a acetilene e à veneziana.
Em Agosto foi
comemorado o primeiro aniversário do Grupo, de que recordamos esta nota: Foi dada
posse á nova Direcção, e Annibal Cruz, n’um breve discurso, apoiou a
florescente collectividade local, incitando a nova Direcção a trabalhar com o
mesmo afinco como o fez a transacta, para seu engrandecimento e da nossa terra.
Dirige algumas palavras de felicitação ao regente do Grupo, pela maneira
incansavel como tem leccionado aos seus socios a sublime arte de Mozart e
entrega-lhe um objecto de prata offerecido pela sympathica sociedade, que João
da Simôa agradece commovido. Levantaram-se no final enthusiasticos vivas ao
Grupo Musical de Tavarede, que foram unanimemente correspondidos.
Executa-se em seguida uma valsa e sóbe o pano
para Mario José recitar a excellente poesia patriotica Vinga pae!, que foi
bastante applaudida. Com graça recita depois o monologo Eu cá não me ralo... o
sr. Antonio Dias Cardoso, de Quiaios, e o sr. Americo Alvitro d’Abreu, habil
amador portuense, cantou a engraçada cançoneta Rebenta a bexiga, que foi
bisada. Não me amava, hilariante monologo que Izidoro Ladeiro disse com agrado.
O
nosso patricio e jovem amador Antonio Medina Junior recitou tambem uma poesia
dedicada ás damas de Tavarede, que a assistencia applaudiu bastante. Fechou o sarau dramatico a comedia em um acto
O cometa e o fim do mundo, desempenhada por dois socios do Grupo. Ás 24 horas e
meia principia o baile que terminou ás 7 horas de domingo.
Ao lermos os jornais
daq ueles tempos, fomos
surpreendidos com uma declaração, inserta num jornal em Novembro, três meses
depois daquela sessão, da autoria de Aníbal Cruz, correspondente local de um
periódico figueirense e que fazia parte dos corpos sociais do Grupo. Annibal Cruz declara, para os devidos
effeitos, que pediu a demissão de secretario d’assembleia geral, como tambem de
socio, do Grupo Musical Tavaredense, que lhe acaba de pagar com coices
tremendos – não é de estranhar, porque já d’isso se queixavam pessoas
illustradas e estimadissimas – os favores que lhe fez e mesmo por não querer
estar onde predominam absolutos e ignorantes, que combatem a instrucção e
apoiam o vicio da taberna!!!
Faz
esta declaração para que não o julguem elemento da cambada que incommóda a
população da sua terra.
Foi o início de violenta polémica que
envolveu a jovem associação e seus directores, a qual acabou no Tribunal
Judicial da Figueira. Porque está inteiramente relacionada com a colectividade,
não podemos deixar de aqui inaserir algo da mesma. Sr. redactor da Gazeta da Figueira – O Grupo Musical
Tavaredense pede-lhe a fineza de publicar no seu muito lido jornal uma
declaração justa e verdadeira, e não como uma egual que sahiu no seu jornal de
16 do corrente, feita pelo sr. Annibal Cruz, que mal empregado é este nome de
Cruz em tal pessoa, por pertencer a uma familia tão digna com o mesmo nome. O
nome mais acertado para este cavalheiro era de vadio. É pena que a policia o
não tenha apanhado na rêde e leval-o para o canil, porque estão lá outros com
mais raciocinio.
Querem
os leitores saber os sacrificios que este cavalheiro tem feito pelo Grupo, de
que elle diz pedira a demissão, o que mente descadaramente? A demissão que elle
diz ter pedido, queriamos nós dar-lh’a, talvez accompanhada com alguns P. na
primeira occasião que elle entrasse á porta d’esta associação, devido a uma
calumnia que elle levantou contra um rapaz digno, e compromettendo-nos a todos.
Mas o garoto parece que adivinhou o que lhe succedia. O sacrificio foi este:
Na
fundação d’este Grupo, que tem apenas 15 mezes de vida, este cavalheiro foi
pessoalmente offerecer-se para socio, o que muitos recusaram, outros
acceitaram, apontando-lhe o seu prestimo, que era para ponto, mas que ponto
este ponto sahiu! A fazer o que tem feito n’outras sociedades que tem sido
desconsiderado. A pesar de tudo foi acceite, prestando em principio o seu
serviço, depreciando, tratando pessimamente mal e a ridiculo, nas suas cartas
de Tavarede, certos cavalheiros que para não sujarem as mãos o desprezaram como
deviam, e agora, a estes mais escandalisados, anda elle como um cão submisso,
ajoelhar-se aos pés, para lhe engraixar as botas. Pois do Grupo, desde a classe
trabalhadora até ao mais elevado, lhe dão o desprezo que elle merece.
Pois
como iamos dizendo, devido ao seu trabalho, o que esse cavalheiro diz lhe
pagarem com coices tremendos, foi unicamente apontar dois espectaculos, e
depois voltou á mesma do costume e desprezando o seu cargo a que se tinha
responsabilisado, tendo nós escolhido outro para exercer o seu logar.
Decorreu
algum tempo, approximou-se o anniversario do Grupo, e este cavalheiro
encarregou-se de se fazer secretario da assembleia geral, o que acceitámos a
custo, julgando que elle se regenerava, mas não aconteceu isso. Desde esse dia
nunca mais frequentou este Grupo, porque a sua pousada era na Figueira, nos
sitios mais vergonhosos, praticando acções ridiculas, a ponto de uzurpar ás
infelizes algum dinheiro. Se quizer provas dão-se-lhe.
O
pouco tempo que está em Tavarede é para calcar a pés a sua doutrina do costume
contra os taberneiros, e ainda no domingo, 10, pela ultima vez, em casa d’um
dos taberneiros, estando elle com o vinho, praticou uma infamia, como filho
nenhum de Tavarede, infamia esta que temos pejo de publicar por ser vergonha
praticar-se na nossa terra.
E
chama-nos o garoto absolutos! O contrario. O absolutismo creou-se só para este
cavalheiro. Faz e diz o que quer e ninguem lhe pede contas, porque não merece
importancia. Merece só, como dizemos, de todos o desprezo como se dá a um cão
vadio.
Desde
já, sr. redactor, lhe agradece muito penhorado o Grupo Musical Tavaredense.
Sem comentários:
Enviar um comentário