Rivalidades...
No capítulo anterior
fizemos alusão ao facto das divergências surgidas com a implantação do regime
republicano. Na verdade, na Sociedade de Instrução Tavaredense era bem notória
a enorme maioria deste partido, o que, naturalmente, levou à saída da
colectividade todos aqueles que advogavam o liberalismo e, mesmo, o
conservadorismo.
Mas, não nos metamos
em política. Prossigamos, antes, com a recolha dos elementos referentes ao
associativismo tavaredense, que, aliás, tiveram ampla divulgação na imprensa
figueirense.
O grupo cénico da
SIT, desfalcado de grande número dos seus amadores, alguns deles de primeiro
plano, continuou a sua actividade, assim como a sua escola nocturna, com enorme
frequência de alunos. Já quanto às outras actividades, como música, desenho e
ginástica, não dispômos de elementos que atestem a sua continuidade, pelo menos
nos primeiros tempos da nova década.
No dia 28 de Janeiro
de 1911, foi levado à cena novo espectáculo, com a apresentação de comédias e
uma cena dramática da autoria do então jovem José da Silva Ribeiro, na qual
apontava as misérias da sociedade, como a taberna, apontando a escola “como um
templo onde se vai buscar a melhor das riquezas: a Instrução”. E em Março foi
representada “a engraçada revista de costumes locais, intitulada Por causa do badalo, que manteve os
espectadores em constante hilaridade”. Não conseguimos encontrar quaisquer
vestígios desta revista.
Entretanto, em
Março, a imprensa noticiava que dizem que
vai fundar-se nesta localidade um centro democrático. Era uma nova
associação, promovida pelos dissidentes da Sociedade de Instrução, que estava
em embrião. Por ocasião da Páscoa foi representado o drama Jocelyn, o pescador de baleias. Registe-se que o ensaiador do grupo
cénico era Vicente Ferreira, também amador dramático.
E no dia 12 de
Agosto de 1911, era publicada a seguinte nota: O Grupo Musical desta localidade reuniu num dos últimos dias na sua
sede para tratar de vários assuntos. Quer dizer, a nova colectividade,
fundada sob a égide dos irmãos José e António Medina, apesar de ter sido dada
como fundada no dia 15 de Agosto, já reunia antes desta data, tendo começado,
como primeira actividade, uma aula de música com a direcção de João Jorge da
Silva.
A sede da nova
associação, que foi denominada Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, foi
instalada na loja do prédio de Romana Cruz, junto ao Largo do Paço. E, enquanto
ensinava música e ensaiava o seu primeiro grupo musical, era construído um
pequeno teatro, pois desejavam iniciar as representações teatrais.
Largo
do Paço.
A
sede do Grupo foi instalada
no segundo prédio, à esquerda
Enquanto realizavam estes preparativos, o
grupo cénico da Sociedade de Instrução continuava cheio de actividade. Depois
do drama A tomada da Bastilha (o desempenho foi magnífico, sabendo os
distintos amadores arrancar à plateia prolongadas salvas de palmas), outras
peças se seguiram, obtendo sempre, segundo a imprensa, os melhores elogios.
Pelo Natal, e embora com as instalações em
obras, a direcção do Grupo Musical realizou uma conferência de propaganda
democrática, inaugurando a exposição dos retratos de Alfredo Keil (um dos
autores do novo hino nacional) e do dr. Afonso Costa, um dos principais
elementos do novo regíme.
Também a associação do Terreiro, nas
festas comemorativas do seu 8º. aniversário,
em Janeiro de 1912, expõe na sua sede os retratos do dr. Manuel de
Arriaga, presidente da República, e do benemérito João dos Santos, um dos
fundadores da escola nocturna.
Foi no dia 17 de
Fevereiro que abriu as suas portas a nova colectividade. Em Tavarede inaugurou no último sábado um elegante
teatrinho o Grupo Musical recentemente fundado n’aquella localidade. Pronunciou
algumas palavras de saudação o sr. Aníbal Cruz, que no final foi aplaudido,
sendo-lhe oferecido um bonito bouquet de flores naturaes, assim como outro ao
regente do Grupo, sr. João Jorge da Silva. Representaram-se com agrado as
magníficas comédias O Senhor, Hospedaria do Tio Anastácio e Amo, creado e
creada, sendo todos os amadores, especialmente os srs. José e António Medina,
bastante aplaudidos. Sobressaíam nas paredes do teatro, além dos retratos dos
eminentes estadistas drs. Afonso Costa e Bernardino Machado, o do ilustre filho
de Tavarede, sr. dr. Manuel Gomes Cruz, envolto na bandeira nacional. No
domingo repetiu-se o espectáculo que foi, como no sábado, muito concorrido.
Sábado representar-se-ão as mesmas comédias e As Influências eleitoraes. E como recordação, aqui citamos os amadores que
participaram na primeira peça representada pelo novo grupo dramático, a comédia
O Senhor: Clementina Proa, Clementina
Fadigas, António Medina, Joaquim dos Reis, Faustino Ferreira e José Medina.
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