No
princípio de Fevereiro, ainda integrada no programa comemorativo do primeiro
aniversário, foi levada a efeito uma nova festa dedicada à escola nocturna. Começou a festa pela distribuição de prémios
a dez alumnos que mais se distinguiram pelo seu aproveitamento nas aulas
nocturnas durante o anno findo. Os premios conferidos constavam de livros
instructivos e aos alumnos extremamente pobres foram dados vestuarios. Não
podemos descrever a impressão que este acto causou a todos os espectadores
especialmente quando foram apresentadas as creanças orphãs e pobresitas. Vimos
as lagrimas deslisarem pelas faces de muitas pessoas.
Findo
esta edificante ceremonia, subiu o panno para a exhibição da opereta n’um acto
- Casamento da Grã Duqueza - seguindo-se-lhe o terceto - Dó-Ré-Mi -, a scena
comica - Desabafos do Zé Leiteiro -, o monologo - O espinho -, e as comedias -
Dois estudantes no prego, e Milagre de Santo António. Todas as peças estavam muito bem postas em scena e o desempenho, por
parte de todos os amadores, foi magnifico. A musica, composição do sr. João
Prôa, é lindissima, muito adequada, e a sua execução pela orchestra regida pelo
mesmo senhor, foi magistral.
Em Março começou a funcionar ‘uma aula
de rudimentos de música’ e, também ‘um curso de desenho’. Procurava-se, desta
forma, diversificar as actividades da jovem associação, procurando atrair cada
vez mais crianças e adultos, a quem ministrar a educação e a instrução.
Fradique
Baptista Loureiro 1º.
Presidente da Direcção da SIT
A primeira opereta que o grupo cénico apresentou, em
Abril daquele ano, foi muito apreciada. ‘Bom desempenho por parte de todos os
amadores (Vida Airada), que conservou os espectadores em constante hilaridade.
Orquestra magnífica. A ornamentação da sala produzia belo efeito’.
A actividade teatral iniciava-se em Outubro, quando as
noites começavam a serem maiores, com os ensaios das peças que seriam
representadas por ocasião do Natal. É curioso o facto de que, sendo os Autos Pastoris uma das tradições mais
antigas da nossa terra e cuja apresentação era sempre tão ansiosamente
esperada, nunca tenham sido levados à cena pela Sociedade de Instrução. A
tradição seria retomada anos mais tarde, mas por outra colectividade, como
depois veremos.
Chegados a 1906, foi comemorado em Janeiro o segundo
aniversário da associação. Na respectiva assembleia geral, além da eleição dos
corpos gerentes, foram aprovadas as contas apresentadas pela direcção. Foi tão rigorosa e honesta a sua
administração, que apesar de subirem a mais de 100$000 réis as despesas que fez
durante o ano com a instalação aperfeiçoada das aulas, iluminação, etc.,
apresenta um saldo favorável de 81$000 réis. Não conseguimos encontrar o
registo do programa das festas, pelo que se desconhece quais as peças
representadas nas récitos realizadas, embora as notícias referenciem ‘bom
desempenho por parte de todos os amadores e aplausos em barda’.
Manuel Jorge
Cruz
Primeiro
presidente da Assembleia Geral e
autor do
Regulamento Interno da SIT
Temos nota de que em
Abril de 1906 terá sido representado o primeiro drama por este grupo cénico,
com o título de Gaspar, o serralheiro.
Por essa ocasião, também começaram a ser ministradas aulas de ginástica. Temos
consciência que, nalgumas ocasiões, seremos maçadores. Mas, pelo menos nos
primeiros tempos, julgamos conveniente dar a conhecer a actividade da escola
nocturna e do grupo cénico, sabendo nós a importância que acabaram por ter no
desenvolvimento cultural do povo tavaredense.
Assim sendo,
encontrámos publicada num jornal figueirense, em 9 de Maio de 1906, a notícia
de mais uma festa escolar. Sucedeu o que previramos – a festa escolar d’hontem
deixou-nos as mais agradaveis impressões. Por
volta das cinco horas da tarde saiu da séde da benemerita Sociedade d’Instrução
Tavaredense o numeroso cortejo d’alumnos das escolas locaes e levando à frente
o seu carro de munições simulando um cabaz, formado de arbustos e flores e
respeitosamente guardado por seis destemidos alabardeiros. Fechava o préstito a
musica da terra executando um bonito ordinario.
Chegando
à quinta do sr. Luiz João Rosa, ali, na pitoresca mata, acampou o grande
exercito de creanças d’ambos os sexos, sob o comando dos seus dignos
professores. Foi-lhes servida pelos membros da comissão de beneficencia uma
ligeira refeição a que a rapaziada, com grande apetite, soube fazer as honras,
sempre em alegre convivio. Era imponente o efeito que produzia aquele
irrequieto arraial, de que foi tirada uma fotografia. Anoitecendo, regressou o
cortejo ao teatro aonde se ia realisar o sarau, que abriu pelo himno escolar
cantado por todos os alumnos. Em seguida, usou da palavra o sr. Manuel Jorge
Cruz. Incitou as creanças a dedicarem-se ao estudo, mostrando-lhes as vantagens
que d’ahi advem e indicando-lhes o melhor caminho a seguir no futuro, sobretudo
pelas responsabilidades que lhes cabem como futuros chefes de familia. Falando
àcerca do desenvolvimento da instrução em Tavarede, referiu-se com muita
justiça à benemerita Sociedade d’Instrução Tavaredense, e à ilustre professora oficial a ex.ma srª.
D. Amalia de Carvalho, que não só se notabilisa pelas suas belas qualidades de
trabalhadora infatigavel em prol da instrução, mas tambem pela maneira carinhosa
como trata sem distinções as creanças que frequentam as suas aulas. Terminou
aconselhando os paes a mandarem os filhos às escolas. Lidos por alguns alumnos
trechos clássicos e recitadas poesias alusivas à festa, foi de novo cantado o
himno. Todas as creanças foram muito aplaudidas ao terminarem a leitura dos
trechos que lhe couberam e que, àparte o acanhamento próprio de quem se
apresenta em auditório tão numeroso, se desempenharam muito bem da sua missão,
lendo corrétamente.
Depois
de pelo antigo aluno da aula nóturna e actualmente n’ela professor, sr. Antonio
Graça, ser recitada a poesia Escola da Musa da Infancia, que disse muito bem e
pelo que ouviu bastos aplausos, apresentaram-se no palco os alunos da escola
nóturna que desempenharam com muita precisão alguns exercicios de ginastica suéca.
O seu instrutor, sr. João dos Santos Junior, foi delirantemente aplaudido. José
Medina representou com muita graça, como de costume, a sena comica – Joaquim
Chainça. José Cordeiro Junior recitou com corréção a poesia – Lágrima, de
Guerra Junqueiro, terminando o sarau pelo entre-áto comico – Cabo d’ordens,
representado por José e Antonio Medina, sendo muito aplaudidos.
Durante
o dia a fachada do edificio do teatro esteve embandeirada. A sala, muito bem
ornamentada com arbustos, flores e livros, produzia bonito efeito. O teatro
achava-se repléto de espétadores contando-se entre eles as pessoas mais gradas
da localidade e a colonia balnear. A orquestra, composta de muitos e bons
musicos, satisfez os mais exigentes.
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