sábado, 9 de março de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 13


Foi este pequeno recorte que encontrámos sobre o nascimento da nova colectividade à qual foi dado o nome de Sociedade de Instrução Tavaredense. “A iniciativa foi recebida com aplauso e secundada com entusiasmo. Logo as pessoas mais em destaque da localidade lhe prestaram apoio, e aos 14 sócios fundadores outros se juntaram”, escreveu Mestre José Ribeiro, no seu livro ’50 Anos ao Serviço do Povo’.

         Mas, na verdade, achamos muito estranha a informação acima e referente aos 14 sócios fundadores. Vejamos as cópias que inserimos:


Ora, se atentarmos nestas reproduções, o documento é autêntico, tem a data de 1903 e encontra-se exposto na colectividade, houve uma movimentação entre os tavaredenses para recolha de assinaturas para a constituição de uma nova: “Os abaixo assinados combinaram em organizar uma sociedade que tenha por fim a instrução e convidam V.Sª. a assinar o seu nome, caso queira pertencer a essa sociedade”. E como igualmente se pode verificar a data é bastante anterior à da fundação da Sociedade de Instrução Tavaredense.

         No entanto, a acta da fundação da nova associação, só é assinada pelos catorze primeiros e só eles foram considerados os fundadores. Terá havido algum motivo, legal ou não, que a isso obrigasse? Não sabemos, mas vejamos a acta da fundação:

 Extraída do livro ’50 Anos ao Serviço do Povo’

         Estava, assim, fundada a nova associação tavaredense. As anteriores experiências certamente que terão sido de muita utilidade, tendo-se ali agregado os mais entusiastas, tanto da Estudantina como do Grupo de Instrução e, até, do mais anterior Bijou. E, note-se, estava garantida a continuidade da escola nocturna, pois de imediato se procedeu à activação de um grupo cénico, cujos espectáculos teriam a principal finalidade de angariar fundos para a sua manutenção.

         Em Agosto de 1904, na imprensa figueirense, lê-se a seguinte nota:         A direcção da benemérita Sociedade d’Instrucção Tavaredense, que sustenta todo o anno uma escola nocturna que é frequentada por grande numero de adultos e creanças, tenciona, no proximo inverno, promover algumas recitas particulares no theatro aonde se acha installada a mesma aula.          N’estas recitas terão entrada apenas as familias dos associados. Ainda no início da sua actividade e já o correspondente local apelidava de ‘benemérita’ a jovem colectividade.

         Os ensaios teatrais iniciaram-se em Outubro. A estreia do novo grupo cénico, (4 de Dezembro) anunciada na imprensa a 1 de Dezembro, teve o seguinte programa:         É no próximo sabbado a festa promovida pela benemerita Sociedade d’Instrucção Tavaredense, no theatro onde se acha installada. Além de varias cançonetas, vão a scena as comedias – Os Medrosos, Paschoa e Quaresma, Livrem-se lá d’esta!... e o entreacto comico – Quarto com duas camas.        Fez-se a experiencia da illuminação a gaz acetylene tendo magnifico resultado. Dizem-nos que a orchestra se compõe de numerosos e bons executantes. Tudo nos faz prever uma festa brilhantissima e a que só é dado assistir os associados e suas familias.

         De registar que, segundo notícia de 8 de Dezembro, a comissão liquidatária da Estudantina Tavaredense tinha reunido “liquidando os seus haveres a contento de todos os associados”. O seu estandarte ficou em poder da Sociedade de Instrução, onde ainda se encontra.

         E no dia 15 de Janeiro de 1905 foi comemorado o 1º. aniversário da S.I.T. Para recordação da efeméride, aqui transcrevemos uma das reportagens publicadas.        Passou no domingo, 15, o 1º. anniversario da fundação da Sociedade d’Instrucção Tavaredense. Por este motivo conservou-se durante o dia embandeirada a fachada do edificio onde se acha installada tão benemerita collectividade, e à noite, reunida a Assembleia Geral, foram presentes as contas do anno findo. Por ellas se vê que a direcção, apesar das avultadas despezas que fez com a installação das aulas, gabinete de leitura, etc., administrou com tanta economia que ainda passa ao anno futuro um saldo de 35$080 reis.
         Procedeu-se em seguida à eleição dos corpos gerentes que ficaram assim constituidos: Assembleia Geral – Presidente, Manuel Jorge Cruz; vice-presidente, João Miguens Fadigas; 1º. Secretario, Manuel Lopes d’Oliveira; 2º. Dito, Antonio da Silva Coelho. Direcção – Presidente, Fradique Baptista Loureiro; vice-presidente, José Luiz Motta; 1º. Secretario, José Maria Cordeiro Junior; 2º. Dito, Cesar da Silva Cascão; thesoureiro, Antonio Luiz Motta; Vogaes, Manuel dos Santos Vargas e João Jorge da Silva; substitutos, Manuel Fernandes Junior, Antonio Jorge da Silva, José Fernandes Serra, João d’Oliveira e Antonio Medina. Conselho Fiscal – Manuel Nunes d’Oliveira, Joaquim Saraiva e Saul Gaspar de Figueiredo.
         Pelo sr. José Rodrigues da Fonseca foi proposto um voto de louvor à direcção cessante, sendo unanimemente approvado pela assembleia. De todas as agremiações que em Tavarede se teem fundado, é esta, incontestavelmente, a que conta com melhores elementos de vida. Pelo seu estado florescente, pelo augmento successivo d’associados e sobretudo pelo fim altruista para que foi creada, previmos um largo futuro a esta colectividade, sustentada por homens dotados dos melhores sentimentos e que desejam unicamente elevar a sua terra, não se poupando a fadigas e despezas para conseguirem – derramar a instrucção e afastar da taberna muitos d’aquelles que ali procurariam o seu passatempo em libações e jogatinas perigosas.
         Quem entra n’aquelle sanctuario, à noite, fica surprehendido pela bella disposição de todas as dependencias: n’uma sala a aula d’alumnos menores, em grande numero; n’outra a aula de maiores, infelizmente menos frequentada; n’outra, gabinete de leitura; n’outra, exercícios de musica, e no tablado cultiva-se a arte de Talma. Na melhor ordem, respeito e alegremente, todos trabalham. D’entre as trinta e cinco creanças que se encontram todas as noites postadas às suas carteiras, destacam-se duas vestidas de preto. São orphãos. O pae, um bom exemplo de trabalhador, morreu há pouco tempo na enxerga d’um hospital, deixando a sua numerosa prole na mais extrema pobreza. Faltou-lhes o pae, mas lá está a Santa Caridade abrigando-os sob o seu manto. Com o maior carinho e boa vontade, ali lhes ministram a instrucção que carecem.
         Muito haveria que dizer ácerca d’esta instituição, mas ficaremos hoje por aqui, fazendo votos para que a benemerita Sociedade d’Instrucção Tavaredense prossiga desassombradamente no honroso caminho que encetou, e não lhes faltará o apoio de todos os que amam o desenvolvimento da instrucção pelas classes desprotegidas.  

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