Foi este pequeno recorte que encontrámos sobre o nascimento da
nova colectividade à qual foi dado o nome de Sociedade de Instrução
Tavaredense. “A iniciativa foi recebida
com aplauso e secundada com entusiasmo. Logo as pessoas mais em destaque da
localidade lhe prestaram apoio, e aos 14 sócios fundadores outros se juntaram”,
escreveu Mestre José Ribeiro, no seu livro ’50 Anos ao Serviço do Povo’.
Mas, na verdade,
achamos muito estranha a informação acima e referente aos 14 sócios fundadores.
Vejamos as cópias que inserimos:
Ora, se atentarmos nestas reproduções, o
documento é autêntico, tem a data de 1903 e encontra-se exposto na
colectividade, houve uma movimentação entre os tavaredenses para recolha de
assinaturas para a constituição de uma nova: “Os abaixo assinados combinaram em organizar uma sociedade que tenha por
fim a instrução e convidam V.Sª. a assinar o seu nome, caso queira pertencer a
essa sociedade”. E como igualmente se pode verificar a data é bastante
anterior à da fundação da Sociedade de Instrução Tavaredense.
No entanto, a acta
da fundação da nova associação, só é assinada pelos catorze primeiros e só eles
foram considerados os fundadores. Terá havido algum motivo, legal ou não, que a
isso obrigasse? Não sabemos, mas vejamos a acta da fundação:
Extraída do livro ’50 Anos
ao Serviço do Povo’
Estava, assim,
fundada a nova associação tavaredense. As anteriores experiências certamente
que terão sido de muita utilidade, tendo-se ali agregado os mais entusiastas,
tanto da Estudantina como do Grupo de Instrução e, até, do mais anterior Bijou.
E, note-se, estava garantida a continuidade da escola nocturna, pois de
imediato se procedeu à activação de um grupo cénico, cujos espectáculos teriam
a principal finalidade de angariar fundos para a sua manutenção.
Em Agosto de 1904,
na imprensa figueirense, lê-se a seguinte nota: A direcção da benemérita Sociedade d’Instrucção Tavaredense, que
sustenta todo o anno uma escola nocturna que é frequentada por grande numero de
adultos e creanças, tenciona, no proximo inverno, promover algumas recitas
particulares no theatro aonde se acha installada a mesma aula. N’estas recitas terão entrada apenas as
familias dos associados. Ainda no
início da sua actividade e já o correspondente local apelidava de ‘benemérita’
a jovem colectividade.
Os ensaios teatrais iniciaram-se em
Outubro. A estreia do novo grupo cénico, (4 de Dezembro) anunciada na imprensa
a 1 de Dezembro, teve o seguinte programa: É no próximo sabbado a festa promovida pela benemerita Sociedade
d’Instrucção Tavaredense, no theatro onde se acha installada. Além de varias
cançonetas, vão a scena as comedias – Os Medrosos, Paschoa e Quaresma,
Livrem-se lá d’esta!... e o entreacto comico – Quarto com duas camas. Fez-se a experiencia da illuminação a gaz
acetylene tendo magnifico resultado. Dizem-nos que a orchestra se compõe de
numerosos e bons executantes. Tudo nos faz prever uma festa brilhantissima e a
que só é dado assistir os associados e suas familias.
De registar que, segundo notícia de 8
de Dezembro, a comissão liquidatária da Estudantina Tavaredense tinha reunido
“liquidando os seus haveres a contento de todos os associados”. O seu
estandarte ficou em poder da Sociedade de Instrução, onde ainda se encontra.
E no dia 15 de Janeiro de 1905 foi
comemorado o 1º. aniversário da S.I.T. Para recordação da efeméride, aqui
transcrevemos uma das reportagens publicadas.
Passou
no domingo, 15, o 1º. anniversario da fundação da Sociedade d’Instrucção
Tavaredense. Por este motivo conservou-se durante o dia embandeirada a fachada
do edificio onde se acha installada tão benemerita collectividade, e à noite,
reunida a Assembleia Geral, foram presentes as contas do anno findo. Por ellas
se vê que a direcção, apesar das avultadas despezas que fez com a installação
das aulas, gabinete de leitura, etc., administrou com tanta economia que ainda
passa ao anno futuro um saldo de 35$080 reis.
Procedeu-se
em seguida à eleição dos corpos gerentes que ficaram assim constituidos: Assembleia
Geral – Presidente, Manuel Jorge Cruz; vice-presidente, João Miguens Fadigas;
1º. Secretario, Manuel Lopes d’Oliveira; 2º. Dito, Antonio da Silva Coelho. Direcção
– Presidente, Fradique Baptista Loureiro; vice-presidente, José Luiz Motta; 1º.
Secretario, José Maria Cordeiro Junior; 2º. Dito, Cesar da Silva Cascão;
thesoureiro, Antonio Luiz Motta; Vogaes, Manuel dos Santos Vargas e João Jorge
da Silva; substitutos, Manuel Fernandes Junior, Antonio Jorge da Silva, José
Fernandes Serra, João d’Oliveira e Antonio Medina. Conselho Fiscal – Manuel
Nunes d’Oliveira, Joaquim Saraiva e Saul Gaspar de Figueiredo.
Pelo
sr. José Rodrigues da Fonseca foi proposto um voto de louvor à direcção
cessante, sendo unanimemente approvado pela assembleia. De todas as agremiações
que em Tavarede se teem fundado, é esta, incontestavelmente, a que conta com
melhores elementos de vida. Pelo seu estado florescente, pelo augmento
successivo d’associados e sobretudo pelo fim altruista para que foi creada,
previmos um largo futuro a esta colectividade, sustentada por homens dotados
dos melhores sentimentos e que desejam unicamente elevar a sua terra, não se
poupando a fadigas e despezas para conseguirem – derramar a instrucção e
afastar da taberna muitos d’aquelles que ali procurariam o seu passatempo em
libações e jogatinas perigosas.
Quem
entra n’aquelle sanctuario, à noite, fica surprehendido pela bella disposição
de todas as dependencias: n’uma sala a aula d’alumnos menores, em grande
numero; n’outra a aula de maiores, infelizmente menos frequentada; n’outra,
gabinete de leitura; n’outra, exercícios de musica, e no tablado cultiva-se a
arte de Talma. Na melhor ordem, respeito e alegremente, todos trabalham. D’entre
as trinta e cinco creanças que se encontram todas as noites postadas às suas
carteiras, destacam-se duas vestidas de preto. São orphãos. O pae, um bom
exemplo de trabalhador, morreu há pouco tempo na enxerga d’um hospital,
deixando a sua numerosa prole na mais extrema pobreza. Faltou-lhes o pae, mas
lá está a Santa Caridade abrigando-os sob o seu manto. Com o maior carinho e
boa vontade, ali lhes ministram a instrucção que carecem.
Muito
haveria que dizer ácerca d’esta instituição, mas ficaremos hoje por aqui,
fazendo votos para que a benemerita Sociedade d’Instrucção Tavaredense prossiga
desassombradamente no honroso caminho que encetou, e não lhes faltará o apoio
de todos os que amam o desenvolvimento da instrucção pelas classes
desprotegidas.
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