E foram, pela segunda vez, a Montemor-o-Velho, agora com as
comédias Pega de touros e Medicomania e a opereta num acto A herança do 103. ...
limitar-nos-emos a registar o agrado com que foi acolhido o trabalho dos amadores
tavaredenses, que sabem honrar a sua terra e têm, indiscutivelmente, adentro do
ser grupo, elementos de um valor incontestável, criaturas a quem Tavarede
bastante deve pelo muito que se sacrificam em prole da sua civilização, pelo
muito que trabalham no louvável desejo de a roubar à banalidade que caracteriza
a vida de quase todas as pequenas terras portuguesas, escreveu um dos
correspondentes jornalisticos daquela vila.
Procurando desenvolver ainda mais a sua
actividade associativa, e para dar a conhecer a mesma, convidaram um jornalista
figueirense a fazer uma visita à sua sede. Ficou admirado com o que viu e,
então, publicou o seguinte: Um director do florescente Grupo Musical e d’Instrução
Tavaredense, colectividade que em Tavarede - a vizinha e pitoresca aldeia que
de todas as freguezias do concelho está em mais intimo contacto com a Figueira
- vive com muito trabalho e sacrifício, do povo e para o povo, mas mais para o
povo, do que de êle, convidou-nos há dias para uma vizita, á noite, à séde da
colectividade da qual é um devotado amigo.
Com
franqueza, assim com estas noites, em que os diques angelicais primam em
converter num “pinto” um pobre mortal que não tenha a dita de possuir uma rica
“impermeàvel”, tal proposta não veio muito a tempo...
Mas,
por consideração para com o nosso amigo e ainda pela insistente maneira como
nos pediu, lá fomos há dias a Tavarede, a vizitar as aulas nocturnas, que sob a
direcção de dois sócios, funcionam no Grupo Musical e d’Instrução.
A
nossa alma atingiu o cumulo da satisfação: - por chegarmos e regressarmos de
Tavarede sem apanharmos gôta de água, e mais ainda por, ao ingressarmos naquela
colectividade, depararmos com uma chusma de crianças, rapazes e raparigas,
alguns já adultos, a receberem a luz sublime da Instrução.
N’uma
ampla sala, toda claridade, toda higiéne e de cujas parêdes pendem retratos
vários, entre os quáis o da insinuante figura do imortal maestro figueirense
David Souza, em tamanho natural, rodeiam umas mezas grandes algumas dezenas de
alunos. São filhos de sócios e muito principalmente filhos de não sócios. São,
emfim, tavaredenses que procuram uma escola competente onde possam aprender á
noite o que de dia se lhes torna impossível fazer. É seu professor o António
Lopes, ajudante de António Victor Guerra, que por motivo dos seus muitos
afazeres ainda não poude ir exercer as funções do seu cargo.
É
a aula nº. 2, em que os alunos recebem as antigas regras da instrucção primária
(1º. e 2º. graus) e algumas explicações de francês.
Mais
adiante, outra sala, a nº. 1, em que uns 20 meúdos aprendem, pelo método João
de Deus, as primeiras letras, tendo por professor o José Francisco da Silva.
José Francisco da Silva - professor de música
Em
face da grande amizade que nos prende ao nosso apresentante, tivémos a
liberdade de lhe fazer esta pergunta:
-
Porque motivo não substituem as mezas por carteiras?
-
Pela razão absolutamente natural de que nós não temos verba para as mandar
fazer. Vivemos com muitas dificuldades, meu amigo, andamos uma duzia e meia de
sócios mais devotados a trabalhar pela vida do meu Grupo. Não ignora que no
verão temos dado espectaculos por Brenha, Maiorca, Montemór, que fizémos
ultimamente uma excursão á Marinha Grande, onde démos tambem dois espectaculos,
cujo produto foi muito favoravel ás nossas necessidades.
-
E o Grupo pagou todas as despezas dos excursionistas?
-
Não, meu amigo. Cada um tomou de sua conta as despezas de comboio e hospedagem.
De contrário, não merecia a pêna pensarmos em mais excursões...
-
Essa acção é meritória - retorquimos. E porque não trabalham assim os restantes
sócios em quem vejam algum aproveitamento para o teatro ou para a musica? Pois
se a casa do Grupo é de todos...
-
A essa pergunta só eles podiam responder...
-
Mas isso não se compreende. Sacrificio mútuo é que é necessário para a vossa
obra. Caso contrário, o desânimo apodéra-se, mais dia, menos dia, daqueles que
trabalham, dos verdadeiros caminheiros do progresso desta colectividade, e os
resultados serão verdadeiramente desagradaveis para ela.
-
Não. Não é bem assim. Não vê que nós, no nosso livro de actas, temos uma
proposta dum sócio que foi unanimemente aprovada e que é para os que de
qualquer fórma trabalham um incitamento a um melhor esforço, a uma melhor
boa-vontade para o fazerem?
-
?
-
Consta d’isto: - Há por exemplo um grupo de 12 homens que dá um espectaculo ou
que toca num rancho. Rende êsse trabalho uma determinada importância, que é
dividida por todos êles. Em essas quotas partes atingindo a soma de 50$00
escudos, cada um dêsses homens tem direito a uma acção do Grupo. Assim, posso
afoitamente dizer-lhe, que por este processo só não tem acções todo aquêle que
não quer trabalhar. Esses não são considerados amigos do Grupo.
-
É realmente boa, essa iniciativa. Cada um que trabalha, gósta sempre de vêr uma
justa recompensa.
-
Já vê, pois, o meu amigo, que para sustentarmos o bom funcionamento das nossas
escolas, ou antes, da nossa colectividade, não é a insignificância das quotas,
apenas de 1 escudo mensal...
Terminada
a pequena palestra o nosso amigo conduziu-nos ainda á aula de musica, onde
Antonio d’Oliveira Cordeiro dava lições a alguns alunos.
Entrámos
na plateia, onde 5 plafons expargiam luz electrica a jôrros, e vimos no
palco os velhos amigos do Grupo Musical - Zé e Antonio Medina - rodeados de
filhos e de mais alguns elementos da parte dramática. Ensaiavam uma peça para
breve levarem á scena.
Tavarede,
assim, colóca-se bem. Ou antes, colóca-se melhor. Bem vista, já toda a gente
sabe que ela está. E devido a quê? Positivamente aos esforços, á persistente
inergia dos seus filhos mais intimos - dos seus filhos mais apaixonados e mais
bairristas!
Retirámos
de Tavarede belamente impressionados com a nossa visita ao Grupo Musical, de
quem ouviamos falar, de quem nos falavam tantos amigos - mas de quem nunca
fizémos ideia fôsse aquilo que justamente é: - uma colectividade filantrópica e
benemérita, uma colectividade, verdadeiramente útil e simpática, que honra e
enobrece cada vez mais a linda e encantadora terra do Limonete.
E
é precisamente para colectividades como o Grupo Musical e d’Instrução
Tavaredense que os nossos govêrnos deviam olhar...
Quantas
e quantas escolas primárias ha por êsse país fóra, com professores só para
receberem as respectivas mensalidades, que não apresentam um terço da obra do
Grupo Musical, que vive só á custa daquêles que de dia trabalham na oficina e á
noite na Associação?
Quantos?
Que nos respondam aquêles que de vez em
quando apregôam moralidade, Instrução e... principio associativo...
Na sessão solene comemorativa do 14º.
aniversário da sua fundação, o Grupo descerrou os retratos dos seus fundadores
José e António Medina. Foi o professor António Vitor Guerra, à altura director
da colectividade, que fez o elogio da obra encetada por aqueles dois sócios,
historiando um pouco sobre a história associação aniversariante.
Sem comentários:
Enviar um comentário