Também é de referir que as
duas colectividades tavaredenses, e muito devido aos correspondentes da
imprensa figueirense, viram as suas relações esfriarem um pouco. Não terá sido
o despique travado entre os dois grupos teatrais. Ambos tinham elevada
categoria, amadores muito conscientes e bons ensaiadores. Mas, e talvez como
uma previsão dos acontecimentos políticos que, poucos anos depois, tiveram
lugar, serviam-se das colectividades para notícias que, na verdade, não tinham
outra finalidade que não defender os ideais políticos deles. E sem dúvida que
as duas associações acabaram por sofrer graves problemas, embora alheias a tais
lutas.
Bailes e espectáculos teatrais sucediam-se, tanto nas sedes
como fora. No caso dos grupistas o seu esforço era incansável, com a intuito de
angariarem receitas. Muitas vezes, porém, o trabalho não era compensado pelos
lucros, de quando em quando mesmo prejuízo. Na Sociedade uma nova opereta é
posta em cena. O público acorria a estes espectáculos, que o distraia e
‘arregalava a vista’, com cenários vistosos e colorido guarda-roupa. E a música
ficava no ouvido, tão agradável ela era. Noite
de S. João foi mais um êxito. Foi uma
récita magnífica, podendo dizer-se que não será fácil fazer-se aqui melhor,
quer pela alta responsabilidade da partitura, quer pela harmonia do conjunto
que agora pudemos apreciar e que não é possível ultrapassar - num grupo de
amadores de aldeia, bem entendido.
Em Maio de 1926, foi a Sociedade que
procedeu a melhoramentos na sua sede. A sede da Sociedade de Instrução
Tavaredense vai sofrer grandes transformações. As obras começaram já, devendo
ficar concluidas durante o próximo mês de Maio, para o que os trabalhos
prosseguirão com a maior actividade.O átrio de entrada para a sala de
espectáculos é completamente transformado, ficando mais amplo e o pavimento
nivelado. A antiga e perigosa escada para o 1º andar, é substituida por uma
outra mais ampla, cómoda e elegante, em dois lances perpendiculares. O salão do
1º andar, por onde se fazia a comunicação com o palco, fica agora isolado,
abrindo para um corredor por uma larga porta envidraçada. Ali se estabelecerá
um confortável e decente gabinete de leitura.
No
rés-do-chão fica uma grande sala para recreio dos sócios e bufete, tudo
instalado convenientemente. No 2º andar, que ficará em comunicação com as
dependências do palco, far-se hão amplos camarins. Na sala de espectáculos é
completamente transformada a superior, onde vai construir-se um balcão, em
anfiteatro, que será mobilado com cómodos fauteuils que foram mandados fazer
propositadamente para aqui.
Estes
importantes melhoramentos vêm beneficiar muitíssimo a sede da Sociedade de
Instrução Tavaredense, que ficará assim com tôdas as dependências necessárias a
uma boa instalação: escola, sala de leitura, sala de recreio dos sócios e
bufete, gabinete da direcção e arquivo; e, para a secção teatral, uma cómoda
sala de espectáculos, gabinete de caracterização e camarins no 1º e 2º andares.
A direcção, que tomou a iniciativa das obras, está empregando todos os esforços
para que estes importantes melhoramentos sejam inaugurados em Junho, com uma
grande festa. Por isso mesmo ninguém lhe regateia merecidos louvores.
Uma nova saída levou o grupo dramático do
Grupo Musical e a sua tuna até Santo Varão. Eis a reportagem. Uma parte da secção dramática do próspero e
florescente Grupo Musical e de Instrução Tavaredense foi no pretérito domingo a
Santo Varão, suburbios de Formoselha, realizar um espectáculo com as conhecidas
peças do seu vasto repertório - Erro Judicial e Cada Doido...
Da
representação das peças devo dizer, em abono da verdade, que se salientaram os
amadores António Medina, José Medina, José Silva, etc., não esquecendo o
soberbo trabalho do seu ensaiador, o nosso amigo António Medina Júnior e de sua
irmã D. Violinda Medina e Silva, que mais uma vez receberam d’uma plateia fina
e delicada, aplausos particulares e sinceros, de que, aliaz, são bem dignos,
pois nada mais do que eles fazem se pode exigir a amadores de teatro. Que nos
desculpem ferir-lhes a sua modéstia, mas isto é a verdade.
Uma
orquestra do mesmo Grupo, sob a direcção de António Ferreira Jerónimo, elemento
distinto do mesmo, abrilhantou o espectáculo, ouvindo-se fortes aplausos.
Isto
é o menos para a minha pretenção. Agora, o mais, o que não pode nem deve ficar
no tinteiro, é a expressão sincera dos meus parabéns ao povo de Santo Varão,
pela forma bizarramente bela e acolhedora com que recebeu os rapazes de
Tavarede.
Sim,
senhores!
Assim
é que se chama fazer estreitamento de amizades. Assim é que se chama receber
bem um hóspede. Enfim: a isto é que se chama a verdadeira confraternização de
povos.
Há
tempos deu-se a verdadeira antítese numa outra terra onde o Grupo também foi,
para o mesmo fim, terra essa que é o berço de dois dos principais elementos do
mesmo grupo...
E
esses elementos - devo frizá-lo - são geralmente estimados nessa terra...
Mas...
cada terra com seu uso e...
*
* * * *
Logo
de manhã, os amigos António Ferreira Jerónimo e José Silva conseguiram, da
benevolência de Manuel Martinho Júnior, o empréstimo do seu barco, no qual
“navegaram”, além destes, Manuel Fé Varela, António Ferreira, António Ferreira
Menano e Francisco José Ferreira Menano Júnior, que conseguiram pescar na
enorme vala que vae desaguar no rio Mondego, entre Santo Varão e Formoselha,
incontestavelmente um dos pontos mais belos do lugar, uma suculenta dose de
peixe, da qual foi feita uma caldeirada para os Tavaredenses, pelo sr. Luiz Fé
Varela, que é autentico culinário no género.
Promoveram-se
vários passeios fluviaes na poética vala, passeios esses que ficarão bem
gravados no mais recondido de todos os rapazes de Tavarede, que não havia
maneira de sairem dos barquinhos frágeis que com eles deslizaram dôcemente
sobre a quietude das aguas, onde se reflectiam os esguios choupos e os
frondosos salgueiros, que proporcionavam agradáveis túneis de verdura onde se
gozava a frescura d’uma sombra agradabilissima e benéfica...
Os
rouxinois, os pintassilgos, os melros e tantos outros passarinhos, que tinham
escondido seus ninhos nas hastes ramalhudas das arvores que ladeiam a fresca
vala onde se realizou o passeio fluvial, timbram em seus gorgeios
despreocupados e alegres, regalando-nos os ouvidos e enebriando-nos a alma...
Quem
pudesse traduzir por palavras aquilo que de agradável e poético nos foi dado
gosar em Santo Varão.. .
Muitos
Tavaredenses, como Medina Júnior, João d’Oliveira, Adriano e José Silva, José
M. Gomes, Manuel Nogueira e Silva, Pedro e Jorge Medina, Manuel Cordeiro, etc.,
etc., não esquecendo as srªs. D.D. Guilhermina Cordeiro, Violinda Medina e
Silva, Emília Pedrosa Medina, Laura Ramos Ferreira, etc., etc., só abandonaram
a “flotilha” quando a noite começou por lançar seu manto nêgro sôbre os
sanguíneos raios de sol de um dia que tombava, depois de imensa felicidade
espiritual para quem, como os tavaredenses, sabe gozar um pouco das belêsas
naturaes, com que a natureza fadou a terra!
Amigo
Medina Junior, em pleno palco, fez os protestos dos inolvidaveis agradecimentos
do Grupo Musical ao povo de Santo Varão.
Está
certo. Isso foi oficialmente.
Agora
particular e publicamente, desejo eu fazê-lo, em nome de todos os tavaredenses,
agradecendo mais uma vez aos cavalheiros que gentilmente cederam os barquinhos
para aqueles passeios que ultrapassaram o belo e o agradavel!
São
momentos de intensa felicidade e alegria...
São
dos melhores bocadinhos que se passam neste mundo...
Obrigado,
pois, por mim e por todos.
Foi
mais uma ajuda para os seus cofres. Entretanto, e com a colaboração do Grupo
Musical, que lhes cedeu instalações para a sua sede, no dia 3 de Outubro de
1926, um grupo desportivo festejou o seu primeiro aniversário. Chamava-se
Sportsinhos Foot-ball Club, cuja principal actividade desportiva era o futebol,
chegando a disputar o campeonato
regional de terceira categoria. Foi seu fundador José Maria Cordeiro,
vulgarmente conhecido por Zé Neto, que conseguiu obter a colaboração de um
jornal desportivo da época, o qual lhes forneceu o equipamento.
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