sábado, 6 de julho de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 30

Da opereta Em busca da Lúcia Lima, a nossa escolha recaíu nesta nota: Primeiro que tudo, - registêmos consoladôramente o triunfo alcançado pelo nosso querido amigo e dedicado colaborador. O espectaculo de sabado, a favor do Hospital, satisfez a quantos. O Parque, não tinha poiso vago. De galerias, balcão, camarotes, frizas, descia uma bicha humana que alastrava pela plateia. E toda a gente, quer pontuando com salvas quentes de palmas, a maior parte dos córos, quer no final do 2º acto aclamando com entusiasmo autor e seus auxiliares, - n’uma chamada ao proscenio vibrante de sinceridade – claramente demonstrou o seu agrado.
         N’uma operêta, vulgarmente, há apenas um motivo ligeiro, um fio leve de entrecho, para se fazer ouvir musica. Em busca de Lúcia-Lima, tem mais que isso, tem seu enrêdo, começo, meio, fim, tudo afinado e certo, como é proprio do talento do autor. Conta-se em duas palavras.
         Dois brazileiros, sabem por um jornal, que em Tavarede, se oferece como noiva uma linda rapariga – Lúcia-Lima. Metem-se n’um avião. E surgem no Largo da Igreja da ridente povoação visinha. Por telegrama, o povo sabe da sua chegada. Na receção, um dos aviadores apaixôna-se pela filha do regedôr, prendada rapariga cheia de graça. Pinga-Amor, galo do burgo, não vê com bons olhos que outro lhe requeste aquela a quem quer como ás meninas de seus olhos. E manhosamente faz constar que Lúcia-Lima, abalára para Macau..
         Os dois brazileiros, seguem no rastro da que os fizera abalar de longes terras. E vão ao Oriente, tombando por sua desgraça, n’uns arrozaes sagrados. A lei chineza é concisa a tal respeito. São condenados á morte escura. Mas já a filha do Mandarim se rendera d’Amor por um dos brazileiros. Prepara lhes a salvação e a fuga. E vem com eles, no avião possante que os retorna a Tavarede.


Nos jardins do Mandarim

         Em cinco, seis scenas bem lançadas, desfaz-se o equivoco. O jornal que lhes levára a noticia, era um numero de carnaval. Lúcia-Lima, afinal, é o nome do arbusto aromatico a que sôe de chamar-se limonête. Tavarede é a terra do limonête, por conseguinte a terra de Lúcia-Lima. Desmascara-se o Pinga-Amor. E a peça acaba como tudo o que remata certo, - com o casamento da chinezinha airosa e da provocante filha do regedôr, com os dois simpaticos e endinheirados aviadores...
         Vista agora o leitor tudo isto de rendas claras, de graça fina, de versos onde o ritmo cantante do poeta, se espelha como uma aza ligeira na agua clara d’um regato. Empreste-lhe o culto gosto de Antonio Simões, fornecendo-lhe musica viva, saltitante, travessa, achando sempre o motivo proprio para cada recorte do poêma. Bons scenarios. Otimo guarda-roupa. E encenação primorosa d’esse inteligente môço que é José Ribeiro, - tão profundamente fino e esperto, quanto simpaticamente modesto. E terá um espectaculo brilhante, que sobremaneira honra a Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Para que se não cuide que olhámos a Lúcia-Lima, pelo oculo d’aumento da nossa estima pelo autor, oiçâmos impressões de quem de direito:
         Sr. Rodrigo Galvão, profundo conhecedor de theatro, meteur-en-scéne distintissimo, primoroso diseur:
         =Gostei. O librêto é interessante, original e tem finalidade. Musicas felizes. Que assombroso trabalho para conseguir aquilo. E sobretudo, que magnifico motivo de Educação Social...
         Sr. Antonio Pereira Correia, - aclamado autor de diversas obras congeneres:
         Sim, senhor. Agradou-me. Estou satisfeito. Que se podia exigir mais?...
         Sr. Luiz Dias Guilhermino, amador dos melhores da Figueira que há longos anos ao theatro dedica o melhor do seu esforço:
         A peça é bôa. E que fantastico trabalho o de José Ribeiro. Na Figueira, ninguem era capaz de fazer melhor... E é opinião geral!

         Prosseguiam, entretanto, na campanha de angariação de fundos. Um erro judicial, no Teatro Ester de Carvalho, em  Montemor-o-Velho:  o desempenho, do lindo drama, como da chistosa comédia Cada doido!, agradou em absoluto, motivo porque todos os intérpretes viram coroados com fartos aplausos os seus trabalhos, por parte da assistência que era numerosa

         Uma nova associação foi fundada no Casal da Robala. Teve o nome de União de Instrução e Recreio Robalense. A primeira direcção era composta por Joaquim Simões, presidente; Emídio Santos, vice-presidente; António Vaz de Oliveira e Alexandre Simões, secretários; João Rocha, tesoureiro; e António Freitas Cardoso e António Gomes, vogais. A inauguração teve lugar no dia 1 de Janeiro de 1926, mas não encontrámos nenhuma nota sobre a mesma.

         Em Outubro de 1925, foi promovida uma grande excursão à Marinha Grande, com a participação da tuna e do grupo cénico do Grupo Musical. Eis a reportagem desta visita. Noticiou o "Figueirense" a ida do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, com a sua tuna e secção dramática, á laboriosa e sempre hospitaleira Marinha Grande. Todavia, o mesmo jornal não disse - a partir do principio de que não tinha procuração para o fazer - que o povo excursionista da minha terra regressou da Marinha cumulado de indeléveis gentilezas e cativantes provas de amizade.
Ora eu, como excursionista e na qualidade de rabiscador de noticias para o "Figueirense", já de há muito devia ter cumprido a obrigação de dizer aos meus prezados leitores, embora ligeiramente, o que foram esses momentos de verdadeira apoteose para a colectividade tavaredense. Mas, por falta de vagar, e ainda por uma simpática constipação que me converteu em um dos mais impacientes escritores..., eu tenho imperdoavelmente cometido essa falta, que certamente nesta altura a Consciência me relevará.
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A excursão á Marinha, leitor amigo, levada a efeito há próximo de 15 dias, tinha em mira duas coisas: -proporcionar aos sócios da simpática colectividade que na minha terra vive do povo e para o povo, alguns momentos de alegre e feliz passatempo espiritual; e dar ali dois espectáculos para adquirir fundos de receita com que, conjunctamente com outros que da mesma honesta forma noutras partes tem auferido, possa ir amortizando a sua dívida - que não é pequena, mas que já foi maior, pois ainda não há um ano que inaugurou a sua nova sede, que é vistosa e decente, e já amortizou próximo de 10 contos.
E tudo se conseguiu na Marinha Grande. Tudo. Os tavaredenses souberam ser tavaredenses, pois se conduziram sempre com garbo e com aprumo, motivo porque colheram loiros para si e para a terra que orgulhosamente representavam.
Á chegada da excursão - sábado á noite, 10 - a tuna, sob a proficiente direcção do amigo sr. Pinto d’Almeida, executou uma "marcha" de saudação á Marinha. Percorreu as ruas principais da vila, no meio das maiores aclamações, sempre acompanhada de muito povo conduzindo archotes acesos. Deu ingresso na benemérita e simpática colectividade dos Bombeiros Voluntários, onde lhe foram dadas as boas vindas, sendo-lhe servido um "copo d’água”, após o que se dirigiu ao teatro "Stephens", tendo pouco depois começado o espectáculo, que agradou plenamente.
António d’Oliveira Lopes apresentou no palco, antes desse espectáculo, todos os amadores dramáticos e o regente da tuna da sua terra, e um dos mesmos amadores leu uma saudação ao povo marinhense. Seguiu-se depois o espectáculo, que felizmente decorreu á medida dos desejos de todos que nele tomaram parte. Houve chamadas especiais e muitas aclamações. Alguém me disse - "O espectáculo de hoje foi o melhor reclame para o de amanhã. Vão ter uma casa á cunha, com certeza".
E, digo-o com satisfação, assim sucedeu, pois nunca o teatro Stephens deu uma verba tão bôa, tão rechonchuda como no domingo, 11 de Outubro, em que os humildes amadores dramáticos e musicaes da minha colectividade viram coroada de êxito toda a sua espectativa, dando por abençoado o tempo que ali foram. Chegada a hora do espectáculo d’este dia, uma comissão de cavalheiros pediu encarecidamente que alterássemos a ordem do programa e representássemos o drama da véspera, ao que gostosamente acedemos.
A tuna, fazendo a sua apresentação no palco, tocou várias peças, constituindo um acto. Seguiu-se "O Erro Judicial", em 3 actos, e a terminar a hilariante opereta em 1 acto "Herança do 103", ornada de 7 lindos números de musica, tudo tendo agradado plenamente. Houve também um grande pedido, no sentido de a excursão se prolongar por mais um dia, afim de dar outro espectáculo - que pela certa redundava em nova enchente. Todavia, não poude ser, em atenção aos compromissos morais de cada um.
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A tuna, com todos os demais tavaredenses, cumprimentou, durante o dia de domingo, a Camara Municipal, todas as colectividades e algumas entidades marinhenses, tendo sido recebidos duma maneira verdadeiramente cavalheiresca -apanágio do povo da laboriosa Marinha Grande. Em todas as colectividades houve trocas de inequívocas provas de franca e sincera cordealidade para de futuro. Aos Bombeiros Voluntários, em cuja sede formava aprumadamente uma plêiade de beneméritos que tem por diviza dar a 'Vida por vida", foi pela Direcção do Grupo Musical Tavaredense oferecida uma fotografia da sua Tuna, com amável dedicatória
Não podemos explicar o que foi esse momento - dos mais solenes e imponentes que se gosaram naquela viagem feliz que jamais se apagará dos espíritos de todos os rapazes do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense. O brioso comandante dos Bombeiros, meu amigo sr. Joaquim de Carvalho, aceitou, vizivelmente comovido, essa singela oferta, que perpetua a data em que um punhado de tavaredenses soube ir nobremente apertar, cada vez mais fortemente ainda, o laço da antiga amizade que une a Marinha Grande á Figueira da Foz. Ora Tavarêde é uma ramificação das mais vitalícias do concelho da Figueira da Foz e não a desprestigiou. Houve uma troca de abraços, muitos abraços, emquanto os "urrhás" se confundiram com as notas vibrantes do Hino do Grupo Musical.
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No domingo, em pleno palco do teatro José Stephens, que funciona por conta dos Bombeiros, foi esta colectividade nomeada sócia honorária do Grupo Musical Tavaredense, como preito de gratidão e respeito por tão filantrópica e benemérita instituição marinhense, a quem a excursão deve, em parte, os maiores loiros e os maiores triunfos ali alcançados. Pois a Direcção dos Bombeiros Voluntários, em face disto, quiz provar-nos ainda, e doutra forma, a sua maior estima, a sua maior admiração. Ofereceu-nos, também em pleno palco, uma bela fotografia do seu corpo activo e respectiva direcção, com penhorante dedicatória.
A imensa massa de espectadores irrompe então em delirantes aclamações e a comoção dos tavaredenses não consente que doutra forma se agradeça aquele nobre gesto dos beneméritos marinhenses - a não ser com uns abraços bem fortes, bem cordeaes - com uns abraços bem significativos.
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Em conclusão, leitor amigo. Se esta noticia não foi por mim dada ha mais tempo, e duma forma mais completa, é porque o tempo me escasseiou para o fazer. Mas como vale mais tarde do que nunca, eis o motivo porque eu não quiz, embora extemporânea e pálidamente, contarte algo do que os meus olhos viram na feliz excursão do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense - a que me honro de pertencer desde ha 14 anos, quando a ajudei a fundar.
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Singular coincidência. Um mero acaso disse-nos na Marinha, na segunda-feira, 12, que fazia anos o nosso regente - o amigo sr. Eduardo Pinto d’Almeida. Imediatamente a Direcção do Grupo, representada por João d’Oliveira, José Francisco da Silva e António Medina, por António Lopes e ainda pelo despretencioso autor destas linhas, da assembleia geral do mesmo Grupo, comprou numa fabrica um bonito objecto de vidro a que fez gravar a seguinte dedicatória: -"Ao maestro Pinto d’Almeida, no dia do seu aniversário natalicio - 12-X-925 - oferece a Direcção do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense", que lhe foi oferecida, bem como uma batuta artística, na sede do mesmo Grupo, em Tavarêde, sob a influencia dos loiros colhidos na Marinha Grande, que também foi fartamente aclamada.
O amigo Pinto d’Almeida, agradeceu comovido a amável lembrança do Grupo Musical, que ele acompanhou com todo o gosto para a Marinha e que acompanhará com toda a satisfação seja para onde for. Porque - disse - a companhia dos rapazes do Grupo Musical honram seja quem for, demais nos seus casos.
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Muito propositadamente, guardei para o fim os especiaes agradecimentos do Grupo Musical Tavaredense, de quem tenho procuração para o fazer, aos srs. Joaquim Carvalho e Luiz António Faria, da Marinha, pela forma incansável e deveras penhorante como ali auxiliaram a excursão da minha terra. Eles foram, sem desprimor para ninguém, os melhores cooperadores do feliz sucesso obtido pelos tavaredenses na sua linda terra, encantadora e hospitaleira. Obrigado, pois, amigos Joaquim Carvalho e Luiz Faria, obrigado. E creiam que a minha colectividade jamais esquecerá os vossos preciosos favores.

E obrigado, também ao sr. Guilherme Roldão, que na sua colossal fabrica de vidros quiz mimozear todos os excursionistas com lembranças da Marinha Grande. Esses agradecimentos ainda são extensivos a António Fonte, a Álvaro Roldão, e seu cunhado Barros, a José Barosa e ao bom Carlos d’Almeida Galo, etc. - todos amigos de ha muitos anos e que na sua terra em muito nos auxiliaram também".

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