Da opereta Em busca da Lúcia Lima, a nossa escolha recaíu nesta nota: Primeiro que
tudo, - registêmos consoladôramente o triunfo alcançado pelo nosso querido
amigo e dedicado colaborador. O espectaculo de sabado, a favor do Hospital,
satisfez a quantos. O Parque, não tinha poiso vago. De galerias, balcão,
camarotes, frizas, descia uma bicha humana que alastrava pela plateia. E toda a
gente, quer pontuando com salvas quentes de palmas, a maior parte dos córos,
quer no final do 2º acto aclamando com entusiasmo autor e seus auxiliares, -
n’uma chamada ao proscenio vibrante de sinceridade – claramente demonstrou o
seu agrado.
N’uma
operêta, vulgarmente, há apenas um motivo ligeiro, um fio leve de entrecho,
para se fazer ouvir musica. Em busca de Lúcia-Lima, tem mais que isso, tem seu
enrêdo, começo, meio, fim, tudo afinado e certo, como é proprio do talento do
autor. Conta-se em duas palavras.
Dois
brazileiros, sabem por um jornal, que em Tavarede, se oferece como noiva uma
linda rapariga – Lúcia-Lima. Metem-se n’um avião. E surgem no Largo da Igreja
da ridente povoação visinha. Por telegrama, o povo sabe da sua chegada. Na
receção, um dos aviadores apaixôna-se pela filha do regedôr, prendada rapariga
cheia de graça. Pinga-Amor, galo do burgo, não vê com bons olhos que outro lhe
requeste aquela a quem quer como ás meninas de seus olhos. E manhosamente faz
constar que Lúcia-Lima, abalára para Macau..
Os dois brazileiros, seguem no rastro
da que os fizera abalar de longes terras. E vão ao Oriente, tombando por sua
desgraça, n’uns arrozaes sagrados. A lei chineza é concisa a tal respeito. São
condenados á morte escura. Mas já a filha do Mandarim se rendera d’Amor por um
dos brazileiros. Prepara lhes a salvação e a fuga. E vem com eles, no avião
possante que os retorna a Tavarede.
Nos jardins do Mandarim
Em
cinco, seis scenas bem lançadas, desfaz-se o equivoco. O jornal que lhes levára
a noticia, era um numero de carnaval. Lúcia-Lima, afinal, é o nome do arbusto
aromatico a que sôe de chamar-se limonête. Tavarede é a terra do limonête, por
conseguinte a terra de Lúcia-Lima. Desmascara-se o Pinga-Amor. E a peça acaba
como tudo o que remata certo, - com o casamento da chinezinha airosa e da
provocante filha do regedôr, com os dois simpaticos e endinheirados aviadores...
Vista
agora o leitor tudo isto de rendas claras, de graça fina, de versos onde o
ritmo cantante do poeta, se espelha como uma aza ligeira na agua clara d’um
regato. Empreste-lhe o culto gosto de Antonio Simões, fornecendo-lhe musica
viva, saltitante, travessa, achando sempre o motivo proprio para cada recorte
do poêma. Bons scenarios. Otimo guarda-roupa. E encenação primorosa d’esse
inteligente môço que é José Ribeiro, - tão profundamente fino e esperto, quanto
simpaticamente modesto. E terá um espectaculo brilhante, que sobremaneira honra
a Sociedade de Instrução Tavaredense.
Para
que se não cuide que olhámos a Lúcia-Lima, pelo oculo d’aumento da nossa estima
pelo autor, oiçâmos impressões de quem de direito:
Sr.
Rodrigo Galvão, profundo conhecedor de theatro, meteur-en-scéne distintissimo,
primoroso diseur:
=Gostei.
O librêto é interessante, original e tem finalidade. Musicas felizes. Que
assombroso trabalho para conseguir aquilo. E sobretudo, que magnifico
motivo de Educação Social...
Sr.
Antonio Pereira Correia, - aclamado autor de diversas obras congeneres:
Sim, senhor. Agradou-me. Estou
satisfeito. Que se podia exigir mais?...
Sr.
Luiz Dias Guilhermino, amador dos melhores da Figueira que há longos anos ao
theatro dedica o melhor do seu esforço:
A peça é bôa. E que fantastico trabalho
o de José Ribeiro. Na Figueira, ninguem era capaz de fazer melhor... E é
opinião geral!
Prosseguiam, entretanto, na campanha de angariação de
fundos. Um erro judicial, no Teatro
Ester de Carvalho, em Montemor-o-Velho: o
desempenho, do lindo drama, como da chistosa comédia Cada doido!, agradou em
absoluto, motivo porque todos os intérpretes viram coroados com fartos aplausos
os seus trabalhos, por parte da assistência que era numerosa.
Uma nova associação foi fundada no Casal da Robala. Teve o
nome de União de Instrução e Recreio Robalense. A primeira direcção era composta
por Joaquim Simões, presidente; Emídio Santos, vice-presidente; António Vaz de
Oliveira e Alexandre Simões, secretários; João Rocha, tesoureiro; e António
Freitas Cardoso e António Gomes, vogais. A inauguração teve lugar no dia 1 de
Janeiro de 1926, mas não encontrámos nenhuma nota sobre a mesma.
Em
Outubro de 1925, foi promovida uma grande excursão à Marinha Grande, com a
participação da tuna e do grupo cénico do Grupo Musical. Eis a reportagem desta
visita. Noticiou
o "Figueirense" a ida do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense,
com a sua tuna e secção dramática, á laboriosa e sempre hospitaleira Marinha
Grande. Todavia, o mesmo jornal não disse -
a partir do principio de que não tinha procuração para o fazer - que o povo excursionista
da minha terra regressou da Marinha cumulado de indeléveis gentilezas e
cativantes provas de amizade.
Ora eu, como excursionista e na qualidade de rabiscador de
noticias para o "Figueirense", já de há muito devia ter cumprido a obrigação de dizer aos meus prezados
leitores, embora ligeiramente, o que foram esses momentos de verdadeira apoteose
para a colectividade tavaredense. Mas, por
falta de vagar, e ainda por uma simpática constipação que me converteu
em um dos mais impacientes escritores..., eu tenho
imperdoavelmente cometido essa falta, que certamente nesta altura a Consciência
me relevará.
***
A excursão á Marinha, leitor amigo, levada a
efeito há próximo de 15 dias, tinha em mira duas coisas: -proporcionar aos sócios da simpática colectividade que na
minha terra vive do povo e para o povo, alguns momentos de alegre e feliz
passatempo espiritual; e dar ali dois espectáculos para adquirir fundos de
receita com que, conjunctamente com outros que da
mesma honesta forma noutras partes tem auferido, possa ir amortizando a sua
dívida - que não é pequena, mas que já
foi maior, pois ainda não há um ano que inaugurou a sua nova sede, que é
vistosa e decente, e já amortizou próximo de
10 contos.
E tudo se conseguiu na Marinha Grande. Tudo.
Os tavaredenses souberam ser tavaredenses, pois se conduziram sempre
com garbo e com aprumo, motivo porque colheram loiros para si e para a terra
que orgulhosamente representavam.
Á chegada da excursão - sábado á noite, 10 - a
tuna, sob a proficiente direcção do amigo sr. Pinto d’Almeida, executou uma "marcha" de saudação á Marinha.
Percorreu as ruas principais da vila, no meio das maiores aclamações, sempre
acompanhada de muito povo conduzindo archotes acesos. Deu ingresso na benemérita e simpática colectividade dos Bombeiros
Voluntários, onde lhe foram dadas as boas vindas, sendo-lhe servido um "copo d’água”, após o que se dirigiu ao
teatro "Stephens", tendo pouco depois começado o espectáculo,
que agradou plenamente.
António d’Oliveira Lopes apresentou no palco, antes desse
espectáculo, todos os amadores dramáticos e o regente da tuna da sua terra, e
um dos mesmos amadores leu uma saudação ao povo marinhense. Seguiu-se depois o espectáculo, que felizmente
decorreu á medida dos desejos de todos que nele tomaram parte. Houve
chamadas especiais e muitas aclamações. Alguém
me disse - "O espectáculo de hoje foi o melhor reclame para o de amanhã.
Vão ter uma casa á cunha, com certeza".
E, digo-o com satisfação, assim sucedeu, pois
nunca o teatro Stephens deu uma verba tão bôa, tão rechonchuda como no domingo,
11 de Outubro, em que os humildes amadores dramáticos e musicaes da minha
colectividade viram coroada de êxito toda a sua espectativa,
dando por abençoado o tempo que ali foram. Chegada a hora do espectáculo d’este
dia, uma comissão de cavalheiros pediu encarecidamente que alterássemos a ordem
do programa e representássemos o drama da véspera, ao que gostosamente
acedemos.
A tuna, fazendo a sua apresentação no palco, tocou várias peças,
constituindo um acto. Seguiu-se "O
Erro Judicial", em 3 actos, e a terminar a hilariante opereta em 1 acto
"Herança do 103", ornada de 7 lindos números de musica, tudo
tendo agradado plenamente. Houve também um
grande pedido, no sentido de a excursão se prolongar por mais um dia, afim de
dar outro espectáculo - que pela
certa redundava em nova enchente. Todavia, não poude ser, em atenção aos
compromissos morais de cada um.
***
A tuna, com todos os demais tavaredenses,
cumprimentou, durante o dia de domingo, a Camara Municipal, todas as
colectividades e algumas entidades marinhenses, tendo sido recebidos duma
maneira verdadeiramente cavalheiresca -apanágio do povo da
laboriosa Marinha Grande. Em todas as colectividades houve trocas de
inequívocas provas de franca e sincera cordealidade para de futuro. Aos Bombeiros Voluntários, em cuja sede formava
aprumadamente uma plêiade de beneméritos que tem por diviza dar a 'Vida
por vida", foi pela Direcção do Grupo Musical Tavaredense oferecida uma
fotografia da sua Tuna, com amável
dedicatória
Não podemos explicar o que foi esse momento -
dos mais solenes e imponentes que se gosaram naquela viagem feliz
que jamais se apagará dos espíritos de todos os rapazes do Grupo Musical e
d’Instrução Tavaredense. O brioso comandante dos Bombeiros, meu amigo sr.
Joaquim de Carvalho, aceitou, vizivelmente comovido, essa singela oferta, que perpetua a data em que um
punhado de tavaredenses soube ir nobremente apertar, cada vez mais fortemente ainda, o laço da antiga amizade que une
a Marinha Grande á Figueira da Foz. Ora Tavarêde é uma ramificação das
mais vitalícias do concelho da Figueira da Foz e não a desprestigiou. Houve uma troca de abraços, muitos abraços,
emquanto os "urrhás" se confundiram com as notas vibrantes do Hino do Grupo Musical.
***
No domingo, em pleno palco do teatro José
Stephens, que funciona por conta dos Bombeiros, foi esta colectividade nomeada sócia honorária do Grupo Musical
Tavaredense, como preito de gratidão e respeito por tão filantrópica
e benemérita instituição marinhense, a quem a excursão deve, em parte, os
maiores loiros e os maiores triunfos ali
alcançados. Pois a Direcção dos
Bombeiros Voluntários, em face disto, quiz provar-nos ainda, e doutra forma, a
sua maior estima, a sua maior
admiração. Ofereceu-nos, também em pleno palco, uma bela fotografia do seu
corpo activo e respectiva direcção, com penhorante dedicatória.
A imensa massa de espectadores irrompe então
em delirantes aclamações e a comoção dos tavaredenses não consente que doutra forma se agradeça aquele nobre gesto
dos beneméritos marinhenses - a não ser com uns abraços bem fortes,
bem cordeaes - com uns abraços bem significativos.
***
Em conclusão, leitor amigo. Se esta noticia não foi por mim dada
ha mais tempo, e duma forma mais completa, é porque o tempo me escasseiou para
o fazer. Mas como vale mais tarde do que
nunca, eis o motivo porque eu não quiz, embora extemporânea e pálidamente,
contarte algo do que os meus olhos viram na feliz excursão do Grupo Musical e
d’Instrução Tavaredense - a que me honro de pertencer desde ha 14 anos,
quando a ajudei a fundar.
***
Singular coincidência. Um mero acaso
disse-nos na Marinha, na segunda-feira, 12, que fazia anos o nosso regente - o
amigo sr. Eduardo Pinto d’Almeida. Imediatamente a Direcção do
Grupo, representada por João d’Oliveira, José Francisco da Silva e António
Medina, por António Lopes e ainda pelo
despretencioso autor destas linhas, da assembleia geral do mesmo Grupo, comprou
numa fabrica um bonito objecto de vidro a que fez gravar a seguinte
dedicatória: -"Ao maestro Pinto
d’Almeida, no dia do seu aniversário natalicio - 12-X-925 - oferece a Direcção
do Grupo Musical e d’Instrução
Tavaredense", que lhe foi oferecida, bem como uma batuta artística, na
sede do mesmo Grupo, em Tavarêde, sob a influencia dos loiros colhidos
na Marinha Grande, que também foi fartamente aclamada.
O amigo Pinto d’Almeida, agradeceu comovido a amável lembrança do
Grupo Musical, que ele acompanhou com todo o gosto para a Marinha e que
acompanhará com toda a satisfação seja para onde for. Porque - disse - a
companhia dos rapazes do Grupo Musical honram seja quem for, demais nos seus
casos.
***
Muito propositadamente, guardei para o fim os
especiaes agradecimentos do Grupo Musical Tavaredense, de quem
tenho procuração para o fazer, aos srs. Joaquim Carvalho e Luiz António Faria,
da Marinha, pela forma incansável e deveras
penhorante como ali auxiliaram a excursão da minha terra. Eles foram,
sem desprimor para ninguém, os melhores cooperadores do feliz sucesso obtido
pelos tavaredenses na sua linda terra, encantadora e hospitaleira. Obrigado, pois, amigos Joaquim Carvalho e Luiz
Faria, obrigado. E creiam que a minha colectividade jamais esquecerá os vossos preciosos favores.
E obrigado, também ao sr. Guilherme Roldão,
que na sua colossal fabrica de vidros quiz mimozear todos os excursionistas
com lembranças da Marinha Grande. Esses
agradecimentos ainda são extensivos a António Fonte, a Álvaro Roldão, e seu
cunhado Barros, a José Barosa e ao bom Carlos d’Almeida Galo, etc. -
todos amigos de ha muitos anos e que na sua terra em muito nos auxiliaram
também".
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