sábado, 19 de outubro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 45

        Também nos merece uma referência, ainda que simples, mas estreitamente ligada ao nosso associativismo, para dizermos que, ensaiada pela actriz Ilda Stichini e em espectáculo em benefício à Misericórdia figueirense, foi levada à cena, no Parque, a peça O amigo Fritz, que teve a particularidade de ser representada, além daquela actriz, por amadores figueirenses, entre os quais José Ribeiro, que foi o protagonista. Ainda uma breve nota para uma nova associação desportiva, Sport Clube Tavaredense, realizadora de algumas provas ciclistas, mas que acabou por ter curta existência.
        
         Aproveitando a data da comemoração do seu 20º aniversário, o Grupo Musical inaugurou as suas novas instalações. Foram brilhantes as festas comemorativas do 20º. aniversário da fundação desta colectividade, que coincidiram com a inauguração das suas novas instalações na casa do Paço.
         Um entusiasmo grande animou todos os números do programa, cuja execução, pode dizer-se, pôs Tavarede em festa, festa a que jubilosamente se associou tôda a população tavaredense, com insignificantissimas excepções.
         O Grupo Musical entrou numa fase de desenvolvimento consciente, mostrando-se agora decidido a caminhar desembaraçadamente e com firmeza, escolhendo com decisão o caminho que quer seguir. Com um esfôrço enorme, admirável - e quando alguém poderia supor que o Grupo ia morrer ingloriamente e sem o confôrto dos sacramentos da Igreja - os rapazes do Grupo Musical conseguiram já reorganizar a sua tuna, agora constituida com muitos e valiosos elementos, e instalar-se na nova sede.
         Começaram as festas comemorativas no sábado à noite, com um baile. Uma enorme concorrência afluíu à sede do Grupo Musical, que tinha sido engalanada e apresentava um aspecto festivo. O baile realizou-se no salão, que se encheu de pares que dançaram animadamente até de madrugada ao som duma excelente orquestra.
         No domingo de madrugada a tuna fez a alvorada, percorrendo as ruas da povoação, enquanto estralejavam foguetes.
         Às 10 horas realizou-se o almôço de confraternização.
         A tuna saíu de novo à tarde, a cumprimentar os corpos gerentes, e pelas 17 horas realizou-se a sessão solene. Foi brilhante, sob todos os pontos de vista. Foram duas horas de alegria, de comoção e entusiasmo em que vibrou a população tavaredense, que enchia o salão. Havia também muitos convidados de fora, muitas pessoas da Figueira e representantes das associações do concelho. Uma assistência numerosa, que as salas não podiam comportar.
         Presidiu o sr. dr. José Cruz, secretariado pelos srs. Adalberto Simões de Carvalho, da Associação Naval e António Cordeiro, da Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Após a leitura do numeroso expediente, foi dada posse aos corpos gerentes, assim constituidos:
         Assembleia Geral : Presidente, José da Silva Lopes; vice-presidente, José da Silva Cordeiro; 1º. secretário, Adriano Augusto da Silva; 2º. secretário, António Pedro de Carvalho.
         Direcção: Presidente, Fernando da Silva Ribeiro; vice-presidente, Faustino Ferreira; 1º. secretário, António Marques Lontro; 2º. secretário, João Renato Gaspar de Lemos; tesoureiro, José Nunes Medina. Vogais substitutos: Armando Amorim, José Maria Matias, César Figueiredo, José Severino dos Reis e Flaviano Pinto de Sousa.
         Conselho Fiscal: Efectivos: António Ferreira Jerónimo, António Migueis Fadigas e José Maria Gomes. Substitutos: Manuel Vigário, Manuel de Oliveira e Joaquim Severino dos Reis.
         A assistência saudou-os com muitas palmas, enquanto a tuna executava o seu hino.
         Logo a seguir propôs o sr. presidente um minuto de silêncio em homenagem à memória de José Medina, fundador do Grupo Musical Tavaredense. Tôda a assistência, se manteve de pé, em silêncio.
         E a sessão prosseguiu depois, com um entusiasmo que era bem visivel em todos os assistentes. Não nos é possível, por o jornal não dispôr de espaço para isso, dar um relato desenvolvido desta imponente sessão solene, em que proferiram discursos os srs. dr. Manuel Cruz, sargento-ajudante de artelharia Sanches, dr. Manuel Lontro Mariano, professor Rui Martins, José Ribeiro e dr. José Cruz, que encerrou a sessão entre ovações calorosas e repetidos vivas ao povo de Tavarede e ao Grupo Musical.
         Às 21 horas e meia deu-se início ao baile de gala, animadissimo como o da véspera. A meio do baile foram distribuidos os prémios aos vencedores das provas ciclistas organizadas pelo Sport Clube Tavaredense, que foram os srs. Ricardo Nunes Medina, do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, 1º. prémio - taça e medalha oferecidas pelo Sport Tavaredense e uma medalha oferecida pelo G.M.I.T., Abel Ladeiro, do União Alhadense, 2º. premio - medalha; e João Marques Cardoso, do Sport Clube Tavaredense, 3º. prémio - medalha. Foram saudados com muitas palmas.
         E as festas comemorativas do 20º. aniversário do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, terminaram de madrugada de segunda feira, deixando a todos as mais agradaveis impressões.

         E uma nova colectividade em Tavarede foi anunciada. Já não é nossa a novidade, bem o sabemos, que acaba de fundar-se uma nova colectividade, com o nome de Grémio Educativo de Instrução Tavaredense. Tavarede, desta maneira, avançou mais um pouco no progresso associativo.
         Há muito que se fazia sentir a falta duma escola nocturna, que funcionasse, regularmente, dirigida por gente competente e de sã moral, visto o número de rapazes novos ser elevadissimo, pois que sendo uma população pobre, na sua maioria operariado, não seria possível a frequência a outra escola que não seja a nocturna. Precisamente por isso é que afirmamos que a falta do Grémio Educativo e de Instrução Tavaredense, há muito se fazia sentir.
         E para complemento e prova cabal, temos o resultado dessa mesma escola, que, com uma frequência de 60 alunos, lá vai singrando, apta a honrar sobremaneira o nome dos seus méstres, P.e Cruz Diniz e Belarmino Pedro, e em especial o da nova colectividade.
        Para ocasião mais oportuna guardamos as nossas impressões, visto esta já ir longa.

         Não conseguimos encontrar qualquer cópia do estandarte, que sabemos ter sido desenhado pelo pintor António da Piedade ... aquela cruz de Cristo sustentando um livro – símbolo da instrução – é simplesmente um modelo de arte e bom gosto, nem do emblema do Grémio Educativo.  Mas, de imediato, um outro problema surgiu. A nova colectividade continuou com a actividade teatral, ali se mantendo alguns amadores e o ensaiador. Enquanto alguns amadores da antiga secção dramática do Grupo tomaram a decisão de abandonar o palco, outros resolveram ingressar no teatro da Sociedade. Tem sido bastante censurado o facto de vários amadores do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, se prestarem a fazer parte do Grupo Cénico da Sociedade de Cima.
         É deveras lamentavel tal atitude, que só revela o pouco amor associativo e a pouca consideração pelas lutas antagónicas de há 19 anos! E viva a fraternidade! Pois se Zé Medina revivesse seria o primeiro a apertar-lhe as... mãos e certamente a dizer-lhe muito obrigado...
         Tambem não foi levado, em boa conta um celebérrimo telegrama inserto nas colunas do orgão maçónico. A ser verdade o que me informam é caso para perguntar: O que quererá dizer aquilo? Pois que naquelas colunas não havia guarida, para uma só linha do seu signatário, visto que as combateu durante bastantes anos, não só neste jornal mas principalmente da extinta Gazeta da Figueira?! E viva o liberalismo...

         Iniciou-se uma polémica lamentável, travada a propósito desta mudança. Vamos dar um pequeno exemplo, transcrevendo um pedaço de uma carta enviada para um jornal figueirense, por um amador do Grupo quem havia pouco tempo, se mudara para a capital. Foi, com o maior prazer, que vi assumir novamente o nome de Tavarede - minha terra natal - nas colunas do Figueirense” - baluarte digno dêste nome, - cujas correspondências são assinadas pelo sr. “Tóni”, para mim desconhecido, é certo, mas o que não impede de o felicitar pelas acertadas palavras que na sua correspondência de 23-10-931, dirigiu ao brio de certos cavalheiros que, esquecendo-se do amôr que durante longo tempo existiu - ou parecia existir - pelo Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, se deixaram agora arrastar pelo canto da sereia que ha muito os cubiçava.
         E porque não existe ainda êsse amôr e respeito pelos princípios daquela Associação que tanto levantou o nome de Tavarede? Não serão os mesmos homens de outrora? Decerto que são. O que talvez não existe, é o carácter de uns e a vergonha de outros. Ou será efeito dos desejos da S.D.N. para a realização da Paz entre os homens? Que falta de pundonor! Como todos se devem rir na sua ausência.

         Sr Tóni, não há melhor testemunha que o jornal para tempos futuros. Por tal motivo, sou de parecer que os nomes dêsses cavalheiros, que se diziam “Grupistas”, e que a Sociedade era uma sombra má... e muito mais, que se lhes deparava a todo o momento, sejam publicados numa das suas correspondências, assim que êles aderirem à Sociedade, para que os tavaredenses que mourejam o pão nosso de cada dia, longe da sua terra, façam um juizo dêsses “Grupistas ferrenhos”.

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