sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Crírticas - 11

1936


SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE

Brilhante pode sem favor classificar-se a festa com que a Sociedade de Instrução Tavaredense comemorou o seu 32º aniversário.


Fundada em 1904, desde então a prestante colectividade tavaredense tem realizado uma obra verdadeiramente notável no campo da instrução e da educação popular. Há 32 anos que mantém as suas aulas de instrução primária nocturnas e gratuitas, as quais são êste ano frequentadas por cêrca de 80 alunos; e, em paralelo com a escola nocturna, o teatro da sua sede funciona modelarmente, não como instrumento de fazer receitas, mas como elemento recreativo do espírito, sim, e, principalmente, como orgão de cultura e educação moral, cuja influência se exerce tanto sôbre os que representam como sôbre os que ali vão assistir às representações. Nesse capítulo constitui a Sociedade de Instrução Tavaredense expressivo exemplo que desejariamos ver seguido pelas agremiações congéneres do nosso concelho. E, como se esta obra, patriótica no mais alto sentido da palavra, não bastasse a impô-la ao conceito público, a SIT alargou a sua acção ao campo da beneficência. São conhecidos e valiosos os seus serviços. Nem uma só instituição assistência, qualquer que fôsse a sua modalidade, recorreu à SIT que dela não obtivesse o mais desinteressado concurso. Nem uma só – repetimo-lo, foi até hoje desatendida. Na Figueira deu o grupo tavaredense récitas, por mis de uma vez, a favor da Santa Casa da Misericórdia e do Jardim-Escola João de Deus desta cidade. Para não alongarmos a lista, indo mais longe, citamos apenas as récitas realizadas para a Figueira durante o ano findo; no Pôrto, para o Asilo de S. João; em Coimbra, para o Asilo da Infância Desvalida; nas Alhadas, para o Jardim-Escola; em Coimbra, para a Associação dos Diabéticos Pobres; voltou novamente a Coimbra colaborar num sarau a favor da escola da Associação dos Artistas; e ainda há poucos dias ali foi outra vez dar um espectáculo em benefício do “Enxoval do Recemnascido”.


Pois a festa de agora foi uma bela e eloquente consagração desta obra valiosa, humanitária, tão singelamente realizada pelos modestos tavaredenses. Comemorando os seus 32 anos, a Sociedade de Instrução Tavaredense viu à sua volta, a homenageá-la, individualidades de grande relêvo social, pelo que valem por si próprias e pelas instituições que representam.


No sábado, o teatro da sede encheu-se; os sócios acorreram com suas famílias à récita de gala, que foi uma bela nota de arte. A representação da encantadora peça “Canção do Berço”, oferecida à SIT pelo seu tradutror, o ilustre poeta dr. Carlos Amaro e que três dias antes fôra vista no cinema, na Figueira, sob o nome de “Filha de Maria”, serviu para nos mostrar um esplêndido grupo, de dez amadoras, como só dificilmente se reunirá, algumas das quais estreantes e que fizeram figura brilhante. (Voz da Justiça – 02.12)

A ÚLTIMA RÉCITA EM COIMBRA

Todos os jornais de Coimbra se referiram, com os maiores elogios, à récita do dia 3, em Coimbra, pelo grupo tavaredense, que ali representou pela segunda vez A Cigarra e a Formiga.


A lotação do Teatro Avenida foi de novo esgotada e a linda peça aplaudida com entusiasmo.


A Gazeta de Coimbra publicou um artigo de R.F. em que, aparte as palavras de amável elogio pessoal, se presta justiça aos sentimentos e intenções que animam a Sociedade de Instrução Tavaredense.


Na segunda-feira também o Diário de Coimbra publicou um artigo de crítica à récita do dia 3, no qual são focados os fins de cultura e educação artística e moral que a Sociedade de Instrução Tavaredense procura atingir através do teatro.


Transcrevêmo-lo a seguir:
“Teve alguma coisa de transcendente em significado social e valor artístico a récita que a Sociedade de Instrução Tavaredense realizou no passado dia 3, no Teatro Avenida.


Foi seu fim o de angariar donativos para uma prestigiosa instituição de caridade que Coimbra inteira d’ora-vante fica conhecendo: a Obra do Enxoval do Recemnascido da Maternidade Dr. Daniel de Matos.


Desconhece ainda muita gente que um grande número daquelas que se acolhem a esta casa hospitalar são pobres raparigas a quem o destino e a maldade humana lançaram na mais desesperadora desgraça. Desamparadas da própria família, calcule-se a senda triste daquelas pobres mãis saídas com um filho nos braços, na mais completa nudez, despojado, segundo os regulamentos, do mais elementar agasalho, quando o garante o período do internamento.


Felizmente que um grupo de senhoras da Juventude Católica vem fornecendo há já algum tempo um grande número de enxovais aos pequenos entes, e realizando junto das mãis uma obra de amparo moral tendente a evitar que, desamparadas e inaptas para a vida, o desespêro as leve à prática de um acto criminoso. Assim, muitas delas têm sido conduzidas a casas de regeneração ou colocadas em condições de fe num futuro menos triste, e onde poderão tornar-se, pelo menos, mãis exemplares.


Destas breves palavras se deduz o grande valor da Obra, a cujo apêlo acedeu prontamente a SIT, num gesto nobre de filantropia e amor pelo próximo, e a quem Coimbra já muito deve, pois grande número das suas instituições de caridde tem sido auxiliado por aquêle admirável núcleo artístico.


O teatro como Arte, tem uma alta função social a desempenhar. Alguém disse ser o teatro a escola da Vida.


No entanto, quanto êle se tem afstado da sua finalidade, num últimos tempos!...


Mas não são unicamente as exigências do público que imperiosamente a determinam.


E assim, o próprio teatro de amadores que por aí temos visto, está longe de ser uma escola de educação, e não satisfaz ao fim que dêle haveria a esperar.


Por isso nos surpreende cada uma das representações da Sociedade de Instrução Tavaredense, cujo teatro é uma escola modêlo de formação moral e espiritual.


Em “A Cigarra e a Formiga”, como em qualquer outra das suas peças a cuja representação Coimbra tem assistido, não há uma frase de duplo sentido, um abuso de expressão, uma palavra que possa ferir a susceptibilidade do mais sensível espírito.


A acção decorre cheia de interêsse, e dentro das puras regras da técnica teatral, cheia de aleghria e bom humor, de conceitos judiciosos e sãos, interessando sempre e cada vez mais! Apetece, como dizia a nosso lado uma gentil espectadora, “ficar ali a ouvi-la a noite inteira”...


.............
António Simões, hábil amador, querido de todos, adaptou e compôs linda música que êle próprio rege com competência e uma sobriedade que deveria servir de modêlo a certos enfatuados “maestros".


Êle é dos grandes auxiliares da S. I. Tavaredense e como grande número de outras figuras musicais, presta aos seus actos de benemerência o mais valioso e desinteressado concurso.


Alberto de Lacerda compôs para “A Cigarra e a Formiga” lindos versos, cheios de lirismo, que intercados na peça concorrem para um conjunto dmirável, de forma a dar uma impressão de beleza e arte que jamais se apagará da memória dos que tiveram o prazer de a escutar.


A cada passo se reflecte a humana afectividade dos autores, nua de preconceitos e hipocrisia:


“Em tudo pôs a Mão do Criador
Um filtro singular!”


Assim se confessa encantado com a obra divina a “Alegria de Viver”


Mais adiante ouve-se ainda:


“Nasce um abôrto vil, hediondo, aniquilosado,
E a dolorosa Mãi o beija e acaricia”.


É sempre assim, em nítida compreensão de sensibilidade humana, até terminar em estranha apoteose, com êste singular hino ao Amor:


“Aquela coisa que faz
com que um miúdo, um rapaz
que mal pode com uma flor,
vendo a mãi desamparada
troque o pião pela enxada...
- então, não é isto o Amor?

Moços deixando os casais,
as conversadas e os pais
velhinhos, quási em estertor,
Para remirem sua terra
Com seu sangue a sua terra...
- então, não é isto o Amor?

E as mulheres cujo ofício
é o eterno sacrifício
de limpar sangue e suor,
viver nas enfermarias
e assistir às agonias...
- então, não é isto o Amor?

Outras então, cuja esmola
é dada às almas na escola,
aos cachopitos em flor,
em geral estéreis seios
e a formar... filhos alheios...
- então, não é isto o Amor?

E eu próprio, à fce de Deus
escolhendo a mãi dos meus
e abraçando-a com fervor;
eu próprio, neste momento,
sabeis o que represento?
- Curvai-vos, que é isto a amor!”



É assim “A Cigarra e a Formiga”.


Tem qualquer coisa de profundamente verdadeiro, aquela “fantasia”, e tudo nela é belo, humano e cristão!...


No desempenho não queremos destacar qualquer dos componentes, de tal forma excedem todos o que de amadores teria de esperar o espectador mais exigente.


O conjunto é homogéneo, equilibrado, superior a muitos que se dizem de profissionais e que aí aparecem tentando impingir-nos “gato por lebre”.


As ovações prolongadas e expontâneas que lhes dispensou a numerosa e selecta assistência são a prova eloquente do que deixamos dito.


A S. de I. Tavaredense comemorou ontem solenemente o seu 32º aniversário. São 32 anos de esfôrço em prol da educação popular.


O “Diário de Coimbra” envia-lhe as suas mais expressivas saudações, na certeza de que assim exprime o sentir do povo da terra que já muito deve aos seus actos de benemerência”. (Voz da Justiça – 02.15)

A MORGADINHA DE VALFLOR

A Sociedade de Instrução Tavaredense está de parabéns pelo êxito brilhantíssimo, um êxito indiscutível, proclamado duma maneira definitiva, que o seu grupo cénico alcançou com “A Morgadinha de Valflor”.


Peça romântica, excepcionalmente difícil nos seus 5 actos e mais difícil ainda se atendermos ao seu estilo, e ao espírito do público de hoje, foi representada com notável correcção. Sem nenhum exagêro podemos dizer que, nalguns lances, o desempenho foi magistral, nomeadamente no 2º e 4º actos, em que Violinda e João Cascão encantam pela verdade e sinceridade com que encarnam as personagens e dominam pelo seu poder de exteriorização. Muito bem! E todo o conjunto é, aparte insignificantes hesitações que mais uma representação suprime inteiramente, primoroso. Guilhermina e Maria Tereza, Jaime A Broeiro, A Santos, manuel Nogueira, Fernando Reis (Excelente a sua rábula do poetastro), etc., acompanham à maravilha.


As ovações foram calorosas, e o pano subiu repetidas vezes nos finais dalguns actos; mas devemos dizer que nunca elas foram mais justas, porque A Morgadinha de Valflor foi representada pelos nossos amadores de maneira brilhante, com uma justeza de estilo e de ritmo invulgares em amadores.


O guarda-roupa é magnífico e revela o cuidado e esmêro que são já proverbiais no grupo tavaredense.


O grupo tavaredense tem nesta peça um triunfo artístico de que pode ufanar-se.


A Morgadinha de Valflor será representada pela última vez no próximo sábado. Para essa récita podem os sócios fazer desde já, na sede da Sociedade, tôdas as noites, a requisição dos seus convites. (Voz da Justiça – 04.08)


A RÉCITA EM COIMBRA

O esplêndido grupo de amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense, tendo acedido da melhor vontade ao pedido do sr. capitão José de Albuquerque, esforçado e dedicadíssimo presidente da Associação dos Diabéticos Pobres em Coimbra, foi ali na passada segunda-feira dar uma récita, no Teatro Avenida, em benefício daquela benemérita Associação.

A peça escolhida foi A Morgadinha de Valflor, brilhantemente interpretada pelos nossos amadores, que alcançaram mais um belo triunfo. O teatro encheu-se e o público aplaudiu entusiasticamente, fazendo repetidas e calorosas chamadas.


Na sua carta de hoje alude o nosso prezado correspondente de Coimbra ao espectáculo pela Sociedade de Instrução Tavaredense. E as referências dos outros jornais são igualmente honrosas, porque são inteiramente justas.


A Gazeta de Coimbra, notando as dificuldades da peça para amadores, frisa que os amadores agora seus intérpretes foram duma correcção absoluta, num equilíbrio perfeito. Diz êste nosso colega:
“Embora já não esteja dentro do espírito da época, o drama que ontem se levou à cena conserva ainda um grande poder emotivo, mantendo uma beleza que os anos não conseguem apagar.


É a peça que, pelas suas dificuldades, menos se recomenda para amadores. Mas o grupo da Figueira soube interpretá-ça com uma elevação muito notável, conseguindo manter, de comêço a final, um equilíbrio perfeito que lhe evitou o ridículo.


Os componentes do referido grupo firmaram na noite de ontem os créditos que já tinham alcançado nesta cidade. Foram duma correcção absoluta e, em determinadas cenas, duma justeza que não deixaria mal colocados os profissionais.


O público, que enchia o teatro, assim o compreendeu, dispensando ao conjunto os aplausos vibrantes e entusiásticos que justamente lhe pertenceram”.


O Despertar igualmente assinala a justiça com que foram calorosamente aplaudidos “todos os componentes do admirável conjunto de amadores, que se houveram acima de tôda a crítica”.


No Primeiro de Janeiro, em carta de Coimbra, frisa-se que o desempenho constituíu mais um grande triunfo para o grupo tavaredense:
“O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense representou ontem, no Teatro Avenida, a peça “A Morgadinha de Valflor”, em benefício da Associação de Diabéticos Pobres, de Coimbra. O desempenho constituíu mais um grande triunfo para aquêle apreciado grupo, que tão desinteressadamente vem colaborando em festas de caridade.


O público enchia por completo o Teatro e não regateou aplausos os distintos amdores”.


= A Morgadinha de Valflor será representada na Figueira, no Teatro do Peninsular, no dia 10 do corrente, domingo. Para esta récita, que nesta cidade se aguarda com viva curiosidade, está aberta a inscrição na Tabacaria Africana. (Voz da Justiça – 05.02)

CARTA DE COIMBRA

Como calculávamos, constituíu um grande êxito a vinda a Coimbra do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense que, no Teatro Avenida, realizou mais um benefício, em favor da Associação Protectora dos Diabéticos Pobres.


A peça representada, “Morgadinha de Valflor” agradou bastante, pelo admirável desemoenho de todos os intérpretes, destacando nós, no entanto, a distinta amadora Violinda Medina que, nas passagens de maior emoção, soube comover a plateia; João Cascão, um bom galã e Jaime Broeiro, que soube dizer com graça o papel que lhe foi distribuido.


O público, entusiasmado, fêz repetidas chamadas, tal é o aprêço que a exigente plateia de Coimbra dispensa ao grupo tavaredense.


A benemérita agreniação de Tavarede, que é a sexta vez que nos visita, sempre com agrado do público, têm vindo a Coimbra tôdas as vezes em favor de casas de beneficência, como sejam o Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria (Associação de Socorros Mútuos), Asilo da Infância Desvalida, Associação Protectora dos Diabéticos Pobres (duas vezes), Associação dos Artistas (Associação de Socorros Mútuos) e Enxoval do Recemnascido.


A Sociedade de Instrução Tavaredense, que é sócia benemérita do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria, volta a Coimbra, em Junho próximo, por ocasião do aniversário desta prestimosa associação mutualista, fazendo a récita de gala no Teatro Avenida, com duas verdadeiras obras-primas teatrais: Canção do Berço, peça em 2 actos de Martinez Sierra, tradução do ilustre escritor e poeta Carlos Amaro, e Três Gerações, do consagrado dramaturgo Ramada Curto. (Voz da Justiça – 05.02)


MORGADINHA DE VALFLOR

A última récita da Sociedade de Instrução Tavaredense em Coimbra, no Teatro Avenida, ficou ali assinalada com um brilhante êxito dos amadores tavaredenses. Os aplausos e as chamadas calorosas com que a exigente plateia coimbrã se manifestou consagraram a repreentação da Morgadinha de Valflor como um honroso triunfo artístico.


É esta mesma peça – célebre na história do teatro romântico em Portugal – com o mesmo excelente desempenho, que o público figueirense vai ter ensejo de apreciar no domingo, no Teatro Peninsular.


A Sociedade de Instrução Tavaredense, abalançando-se a pôr em cena a obra-prima de Pinheiro Chagas, fê-lo com a sua habitual probidade e conhecido critério artístico, com o respeito e carinho devidos à peça e à memória do autor.. A montagem cénica é cuidada em todos os pormenores, e em Coimbra foi especialmente elogiado o esplêndido guarda-roupa, executado primorosamente sôbre figurinos da época (fins do século XVIII).


Nota curiosa: muitas pessoas que aqui têm visto a Morgadinha de Valflor representada por várias companhias, encontrarão agora alguma coisa de novo: o grupo tavaredense apresenta o 3º acto como Pinheiro Chagas o escreveu, com as cenas da romaria, de ambiente pitoresco, com as danças, os descantes, a musicata com rabeca e violas, o estrondo com o característico gaiteiro, etc.


Será, sem dúvida nenhuma, um belo espectáculo a récita de domingo no Peninsular, para a qual está aberta a inscrição na Tabacaria Africana.


Continuam os jornais de Coimbra a referir-se nos mais elogiosos têrmos à representação da Morgadinha de Valflor, pelo grupo tavaredense. O Notícias de Coimbra e Ecos dos Olivais exprimem a sua admiração pelo primoroso desempenho que tiveram ensejo de apreciar. (Voz da Justiça – 05.06)


ESPECTÁCULO A FAVOR DA MISERICÓRDIA

Foi marcado o dia 24 do corrente para a récita, pelo grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense, em benefício da Misericórdia da Figueira.


A peça escolhida é a delicada obra-prima do célebre dramaturgo espanhol Martinez Sierra – Canção do Berço, que o grupo tavaredense representa com admirável propriedade e brilho.


Mas, o que dá a êste espectáculo um raro cunho artístico e o torna excepcionalmente curioso, é o facto de, após a representaçõ da peça, se exibir no écran a fita Filha de Maria, que é a mesma obra transportada para o cinema. Parece-nos que é a primeira vez, no nosso país, que se apresenta um programa com esta característica: permitir apreciar a mesma obra, num só espectáculo, nas duas interpretações diferentes: a teatral e a cinematográfica. Assim, a récita em favor do hospital da Figueira vai permitir-nos admirar a Cancion de Cuna, de Martinez Sierra, na tradução portuguesa do grande poeta Carlos Amaro (Canção do Berço) e, a seguir, na adaptaçõ cinematográfica da Paramount, realizada por Mitchell Lisen (Filha de Maria). Oferece, pois, viva curiosidade êste espectáculo, que nos apresenta a célebre peça espanhola sob duas feições que, conservando-se fiéis, na idea e na linha geral do seu desenvolvimento, à obra original, apresentam, no confronto da cena com a tela, aspectos e pormenores diferentes.


Pode dizer-se que a Misericórdia da Figueira organizou, para seu benefício, um programa cuirosíssimo, que pelo seu valor artístico e absoluta novidade no nosso país, justifica a enchente que vai ter o Teatro do Casino Peninsular. Acresce a circunstância de a Misericórdia ser a mais importante ds instituições de beneficência do concelho, que pela sua acção bem merece que todos acorram a ajudá-la a vencer as enormes dificuldades económicas que a oprimem.


Está aberta a inscrição. (Voz da Justiça – 10.14)

A RÉCITA DA MISERICÓRDIA

Sucedeu o que prevíramos: o Teatro do Casino Peninsular encheu-se, no sábado, dum público que, a final, não foi iludido na sua espectativa.


O espectáculo, para o qual, com a colaboração desinteressada da Sociedade de Instrução Tavaredense, a Misericórdia elaborara um programa curiosíssimo pelo que tinha de novidade, revestiu-se dum belo cunho artístico.


A encantadora peça de Martinez Sierra Canção do Berço, tão delicadamente impregnada de lirismo, tão rica de pormenores e de subtil filosofia, foi interpretada pelo grupo tavaredense de maneira brilhante. Não é uma peça de grandes papéis, em que as dificuldades da interpretação pesam sôbre duas ou três figuras: é uma peça de conjunto, onde só pelo conjunto se pode vencer. E é na verdade admirável o conjunto que o público da Figueira no sábdo apreciou e aplaudiu sem favor.


O espectáculo terminou com a exibição do lindo filme extraído da mesma peça e que tem em português o nome de Filha de Maria. Desta maneira os espectadores puderam apreciar no mesmo programa a interpretação teatral e a adaptação cinematográfica da mesma obra.


Em todos deixou a mais agradável impressão êste espectáculo, recomendável pela sua feição artística e também porque o seu produto revertia a favor da benemérita instituição local que é a Misericórdia da Figueira. (Voz da Justiça – 10.28)


A SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE EM COIMBRA

Pela carta do nosso dedicado correspondente em Coimbra, publicada no último número, já os nossos leitores tiveram informação do acolhimento gentil ali dispensado, na segunda-feira, à Sociedade de Instrução Tavaredense, cujo grupo cénico representou brilhantemente a fantasia em 3 actos e 10 quadros O Sonho do Cavador.


O teatro esgotou a lotação, e o numeroso público associou-se com entusiasmo à homenagem que no intervalo do 1º para o 2º acto foi prestada, no palco, à Sociedade de Instrução Tavaredense, em nome do Asilo da Infância Desvalida, Associação dos Diabéticos Pobres, Enxoval do Recem-nascido, Associação dos Artistas, Grémio dos Empregados no Comércio e Grupo Dramático Dr. Armando Gonçalves.


Transcrevemos algumas apreciações da imprensa acêrca da representação do Sonho do Cavador:


Do Diário de Coimbra:
“Com a fantasia em 3 actos e 10 quadros “O Sonho do cavador”, realizou ontem uma récita no Teatro Avenida a Sociedade de Instrução Tavaredense, que várias vezes tem vindo a Coimbra prestar o seu auxílio ao Asilo da Infância Desvalida, Grémio dos Empregados no Comércio e Diabéticos Pobres.
A peça, admiravelmente posta em cena, conseguiu agradar pelo admirável conjunto, que pode rivalizar com muitos de profissionais.
O cenário esplêndido e as musicas, do amador figueirense António Simões, sem exagêro um verdadeiro encanto.
No desempenho da peça, em que todos os amadores souberam cumprir, salientaram-se pela correcção do seu trabalho, Violinda Medina e Silva, António Broeiro, Jaime Broeiro e João Cascão, sendo entretanto justiça afirmar que todos os amadores contribuiram para o esplêndido conjunto.
Num dos intervalos, falou em nome das Instituições de Coimbra que generosamente têm sido beneficiadas com as representações do caritativo grupo de Tavarede, o sr. dr. Celestino maia, que pôs em relêvo a acção beneficente da Sociedade Tavaredense.
Uma gentil menina, doente diabética, recitou uns versos da drª D. Vergínia Gersão, sendo muito aplaudida.
A Associação dos Diabéticos Pobres entregou ao grupo o diploma de sócio honorário e o Asilo da Infância Desvalida e o Grupo Dramático Dr. Armando Gonçalves, colocaram, cada, uma fita no estandarte daquele grupo que se achava rodeado pelos estandartes da Associação dos Artistas e do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria”.


Do Primeiro de Janeiro:
“Com a representação da fantasia “O Sonho do cavador”, levada a efeito ontem, no Teatro Avenida, o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense conquistou mais um grande triunfo em Coimbra.
A vasta sala encontrava-se repleta, tendo a assistência vitoriado demorada e merecidamente os componentes do grupo, que se houveram com distinção.
Das ovações partilharam também o autor da peça e o autor da música.
Num dos intervalos, o sr. dr. Celestino maia pôs em relêvo a acção beneficente da Sociedade de Instrução Tavaredense em favor das várias instituições de caridade de Coimbra.
A Associação dos Diabéticos Pobres entregou ao grupo o diploma de Sócio Honorário, e o Asilo da Infância Desvalida e o Grupo Dramático Beneficente Dr. Armando Gonçalves, colocaram fitas de sêda na bandeira da Sociedade Tavaredense, que se encontrava ladeada pelos estandartes da Associação dos Artistas e do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria de Coimbra.
Estas cerimónias foram coroadas com vibrantes salvas de palmas”.


Da Gazeta de Coimbra:
“O desempenho foi, como era de esperar, excelente, mantendo-se o aludido grupo à altura dos créditos já conquistados em Coimbra.
O público que enchia completamente o teatro, numa demonstração de justa simpatia pelos que tantas vezes têm emprestado o seu concurso a diferentes tarefas de caridade levadas a efeito no nosso meio – aplaudiu com vibração os simpáticos componentes do grupo cénico”.
A Filial de Coimbra da Associação dos Diabéticos Pobres editou um programa especial, que foi vendido no teatro, no qual publicou poesias das distintas poetisas D. Vergínia Gersão e D. Maria de Jesus em que se homenageia a benemérita e simpática associação tavaredense. (Voz da Justiça – 12.19)


AINDA A REPRESENTAÇÃO EM COIMBRA

Também o nosso colega “O Despertar”, de Coimbra, se referiu elogiosamente ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, que no Teatro Avenida daquela cidade representou há dias O Sonho do Cavador.


Transcrevemos:
“Com aquela pontualidade admirável que é uma das inumeráveis virtudes; com uma sequência perfeitíssima como é raro observar-se em grupos seus congéneres; e com uma assistência que, com efeito, honrou o nome da nossa terra, realizou-se na última segunda-feira, no Avenida, com a fantasia “O Sonho do Cavador”, a récita do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Conquanto que simples e ingénua, - duma ingenuidade tocante, duma simplicidade própria da gente da aldeia – a peça agradou-nos muito. Nela é bem urdido o entrecho, nela é mimozinho o canto, nela é impecável a encenação como apropriadíssimo o cenário.
Os seus intérpretes, convencendo-nos cada vez melhor das suas qualidades e possibilidades, apresentaram-se-nos em cena com a mesma naturalidade com que se apresentam nas cenas reais da aldeia.
Percebe-se que todo aquêle punhado de trabalhdores disciplinados nas obrigações como nas devoções, sente de verdade o papel que representa. E assim, embora simples e ingénuos como na verdade é a peça, - porque mais uma virtude presidiu na sua escolha ao atender que era em benefício do próprio cofre – “O Sonho do Cavador” deleitou-nos e fêz-nos compreender ainda melhor quanto vale artística e moralmente o Grupo.
O conjunto cénico é tão homogéneo, está tão integrado cada protagonista nos papéis que lhe são distribuidos, que é difícil e ingrato destacar-se o “dquele ou doutro”. Mas porque na verdade “O Sonho do Cavador” tem, também, como as demais peças, uns números ou personagens que mais se evidenciam, devemos também referir-nos a alguns dos que nos impressionaram mais.
Nos elementos femininos, a admirável nos vários papéis a “artista” Violinda Medina e Silva. Estonteante no “Sonho dourado”; realista de verdade nas “comadres” com Guilhermina de Oliveira; sedutora na “Vinha” e tentadora na “Batota”.
Guilhermina de Oliveira, muito bem em tudo. Superior, nas “comadres”, com Violinda; apetitosíssima na “Horta”, com tôdas as suas couvinhas frescas; e admirável também, nas “amazonas”, cujo número é dum esplêndido efeito.
Maria Tereza de Oliveira, bem na “Agricultura”, melhor ainda em “Vergonha”.
Emília Monteiro, com a maior naturalidade no seu papel de “Rosa”, apixonad. E no dueto final com “Manuel da Fonte” – dueto dificílimo, e com certos amadores impraticável, dum grande valor dramático.
Na parte masculinoa fêz bom papel, como sempre, João Cascão, no “Cavador”. À vontade no campo e à volta na cidade. Bem integrado nas diferentes passagens da sua vida agitadíssima – de insatisfeito primeiro, de quási louco depois, de desiludido mais tarde, e já aclimatado, por fim, à simplicidade e pobreza campesina onde regressa mais pobre ainda que dantes...
António Graça, no “Ti João da Quinta”, incarnou bem a missão de velho experiente na vida e conselheiro amigo, lá com a sua filosofia especial de camponês. Papel a registar e bem compreendido.
António Broeiro, bom efeito cómico no diálogo com o outro “homem honrado”.
António Santos, à vontade do “papo sêco”.
José Vigário, bom palrador no “funcionário”.
Restantes personagens, todos conjugando com acêrto.
No que respeita à música, não há que dizer. António Simões, mais uma vez demonstrou a sua habilidade e rara cultura musical entre amadores, não só com uma composição agradabilíssima e adequada à urdidura, como também com a perfeita combinação de vozes nos coros, que, nos interiores especialmente, por serem de tanta responsabilidade, pôs bem à prova o seu valor e sensibilidade artística.
É por isso e outras coisas que nos ocorre perguntar:
Quando volta?
Sim... Quando volta a Coimbra o grupo cénico de Tavarede? (Voz da Justiça – 12.23)

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