sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Crírticas - 10

1934

ESPECTÁCULO EM TAVAREDE

Está marcada para hoje à noite, no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, nova récita pelo grupo daquela colectividade, sobejamente conhecido não só ali como em vários teatros onde a sua apresentação foi sempre acolhida com aplauso geral.


Estão marcadas para representação a formosa peça em 1 acto, original de Ramada Curto, As Três Gerações, e a linda comédia em 3 actos A porta falsa, do desempenho de ambas estando encarregados os melhores amadores daquela Sociedade.

Estes espectáculos têm a recomendá-los ainda o facto de constituirem sempre uma distracção escolhida, de agrado certo.


Por isso o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense contará hoje farta concorrência. (Voz da Justiça – 04.14)

1935

TEATRO EM TAVAREDE

Não restam dúvidas: a opereta “Justiça de Sua Majestade” constitui um êxito brilhante do grupo tavaredense.


A estreia, no sábado, levou ao teatro uma enchente. Os sócios e famílias acorreram em grande número e aplaudiram com entusiasmo. E no dia seguinte, em matinée, a opereta firmou-se definitivamente no agrado do público. O entusiasmo foi invulgar. Todos os números de música aplaudidos e muitos dêles bisados. E o agrado do público exteriorizou-se mais calorosamente nos finais de acto, fazendo-se chamadas ao palco e obrigando o pano a subir repetidamente.


A música é lindíssima. Dois números são do maestro Raúl Portela e cinco do maestro Raúl Ferrão, e confirmam os méritos já consagrados dos seus autores; mas o distinto amador nosso patrício sr. António Simões, que é o autor de todos os restantes números da partitura, bem mereceu as grandes manifestações de aplauso com que o público o distinguiu, porque compôs, para os formosos versos de Alberto de Lacerda, música admirável, encantadora na melodia, rica de expressão e sempre conjugando-se harmonicamente com a ideia do poeta e a situação teatral. Muito bem! António Simões tem direito a parabéns.


“Justiça de Sua Majestade” é um espectáculo agradável. Bem posta em cena, com cenários lindos, bom guarda-roupa e harmoniosa interpretação é um belo êxito do grupo tavaredense.


No domingo esgotou-se a lotação do teatro e muitas famílias não alcançaram bilhetes. O mesmo sucederá com as representações de sábado, às 21 ½ horas e domingo, às 15 ½ horas, que serão as últimas, pois a peça tem de ser retirada de cena por motivo das diversões do carnaval. (Voz da Justiça – 02.20)

A VISITA AO PORTO

Na sexta-feira foi ao Pôrto realizar um espectáculo em benefício do Asilo de S. João, daquela cidade, o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense que representou no Teatro de Sá da Bandeira a opereta Justiça de Sua Majestade.


Temos prazer em registar que os nossos patrícios alcançaram um belo êxito, que os enche de natural satisfação e muito honra o festejado grupo tavaredense.


O teatro encheu-se. Esgotou-se completamente a lotação da plateia e camarotes. E a assistência manifestou o seu agrado de maneira bem expressiva. A representação foi frequentemente cortada de aplausos. Logo no 1º acto, uma calorosa ovação sublinhou a 0linda Canção dos Beijos; e foram sucessivamente aplaudidas a Canção do Tabaco, o número de Roberta, e o côro final do 1º acto; o belo dueto dos dois criados rústicos no 2º acto, o terceto Açorda do Major, a formosa canção de D. Joana, que a assistência obrigou a bisar, o côro Boas-noites, o dueto de amor e o terceto do 3º acto, etc. No final as aclamações foram calorosas e prolongadas, fazendo-se chamadas que provocaram novas ovações.


E assim, a linda opereta, que no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense alcançou extraordinário agrado, obteve um êxito enorme com os aplausos expontâneos, sinceros, da culta plateia portuense.


Dirigimos ao grupo tavaredense as nossas felicitações cordiais, por êste seu novo triunfo, abrangendo nelas o distinto compositor amador, nosso patrício, sr. António Simões, autor da maior parte dos números de música da opereta e que no Pôrto apresentou e dirigiu uma excelente orquestra.


No jornal do Pôrto Povo do Norte, de segunda-feira, o seu crítico teatral refere-se à récita dos tavaredenses com palavras de muito elogio. Transcrevemos:


“ Há, no meio jornalístico profissional do Pôrto, a monomania de ligar pouca importância aos grupos de amadores teatrais da província.


Ainda na última sexta-feira, num espectáculo que se realizou, no Teatro Sá da Bandeira, em benefício do Asilo S. João, tivemos o ensejo de verificar esta lastimável verdade. Talvez porque se exibia ali um grupo de amadores de Tavarede, interessante aldeia vizinha da Figueira da Foz, não compareceu, naquele teatro, um único redactor dos diários portuenses a cumprir o dever de apreciar aquela tão simpática festa para, sôbre ela, bem informar depois a curiosidade do público. E foi pena que assim acontecesse porque o espectáculo marcou, sem dúvida, uma nota artística digna de registo.


Devemos confessar que nos surpreendeu o conjunto, que é mais harmónico que muitas companhias de profissionais que algumas vezes nos têm visitado”.


Depois de se referir à adaptação ao teatro da Justiça de Sua Majestade e ao modo como a opereta foi posta em cena, o crítico do Povo do Norte acrescenta:


“ Não faltou o mais insignificante detalhe de observação nos cenários e guarda-roupa, confeccionados de acôrdo com as exigências da época. Notou-se nas mais pequeninas coisas que andou ali dedo de quem percebia de teatro... E só assim se compreende o êxito alcançado por um conjunto de amadores, filhos do povo e do trabalho, que nas horas vagas se dedicam àquele modo de se instruírem e civilizarem, em vez de fugirem para os centros maléficos do vício e do crime.


A música da peça deve-se aos profissionais Ferrão e Portela e ao maestro-amador do grupo, António Simões, que dirigiu com segurança a orquestra, durante o espectáculo, sendo tôda inspirada em motivos populares, cheios de ingenuidade, que soam bem aos ouvidos daqueles que estão habituados a escutar as canções simples mas harmoniosas e sentimentais do povo aldeão.


No desempenho salientaram-se a característica Maria Tereza de Oliveira que, no papel de Roberta, nos deu a impressão de uma autêntica artista. D. Violinda Medina que, com um fiozinho de voz agradável, cantou bem e declamou sempre com muita naturalidade e acêrto, dum modo a, por diversas vezes, justamente conquistar aplausos; e Guilhermina de Oliveira, num ingénuo papel de criada, que desempenhou com vivacidade. Muito graciosa, mereceu também as palmas com que os espectadores a distinguiram.


Guardamos para o final o trabalho de Emília Monteiro, a triste apaixonada, que soube imprimir sentimento ao decorrer do desempenho do papel que lhe foi confiado.


Do elemento masculino, devemos salientar Jaime Broeiro que, no papel de José Urbano, revelou qualidades artísticas; e os restantes não desmancharam o conjunto.


A apresentação do grupo foi feita pelo nosso prezado amigo dr. João Correia Guimarães, a quem José Ribeiro agradeceu num belo improviso as palavras com que a sua gente foi distinguida.


Um pequenino educando agradeceu também o benefício que o seu asilo acabava de receber.


Foi comovente o modo como o director do grupo respondeu ao pequenino, dizendo-lhe que nada tinha que lhes agradecer porque estavam todos ali cumprindo um dever de solidariedade humana.


A assistência que enchia o teatro sublinhou com uma estrondosa salva de palmas as palavras do nosso colega.


Foi uma simpática festa que o Asilo de S. João organizou e que deve repetir-se logo que tenha oportunidade para isso”.


Também o Primeiro de Janeiro se refere elogiosamente à representação da Justiça de Sua Majestade:


“ A récita em benefício da simpática Associação Protectora do Asilo S. João realizada, sexta-feira passada, no Sá da Bandeira, decorreu com entusiasmo e, por vezes, até com brilho mercê, principalmente, da peça representada e da segurança que mostraram no desempenho dos seus “papéis” os bons elementos que constituem o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, da Figueira da Foz”.


Alude em seguida à adaptação da Justiça de Sua Majestade, e termina:

“ A música traz as assinaturas dos maestros Raúl Ferrão e Raúl Portela e do amador figueirense António Simões, sendo, tôda ela, de suave inspiração e melodia.


O desempenho foi correcto e homogéneo, procurando todos os amadores concorrer – o que conseguiram – para o sucesso da representação a que o público não regateou aplausos.


O grupo coral compartilhou, também, com justiça, dêsses aplausos, assim como a orquestra, sob a direcção do sr. António Simões.


O interessante Grupo apresentou um bom guarda-roupa, à época (1852) e cenários apropriados do cenógrafo Rogério Reynaud e do artista Alberto Lacerda.


Pode dizer-se que a récita da Associação Protectora do Asilo de S. João, instituição de beneficência que tantas simpatias conta nesta cidade marcou, êste ano, como espectáculo de interêsse”.


A Direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense está reconhecidíssima ao Asilo de S. João pelo acolhimento gentil que foi dispensado ao seu grupo cénico, e particularmente ao sr. Rogério Bettencourt, director daquela benemérita instituição, cujas atenções e gentilezas não serão esquecidas. (Voz da Justiça – 05.08)


REPRESENTAÇÕES EM COIMBRA

Constituiram dois autênticos triunfos para o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense as duas récitas que qui veio realizar, no Teatro Avenida, em benefício próprio e do Asilo da Infância Desvalida desta cidade. Como noticiámos, o público de Coimbra aguardava com ansiedade a ocasião de poder admirar mais uma vez o importante trabalho dêsses humildes trabalhadores do campo e da oficina que, graças à excelente organização, ao esfôrço do seu ensaiador e à energia e paciência do autor da música e regente da orquestra, sr. António Simões, têm conseguido conquistar a simpatia e o agrado do público que os tem premiado com fartos aplausos, em tôda a parte do país onde se têm exibido. Os conimbricenses são dos que mais apreciam e admiram tantos esforços, tão bem conjugados e tão bem orientados. Provam-no não só as prolongadas salvas de palmas com que os amadores foram homenageados, no decorrer das duas récitas, mas ainda as estrondosas ovações dispensadas a José Ribeiro, tanto na primeira noite, após o seu singelo e cativante discurso de agradecimento às palavras justas do dr. Celestino Maia, como na noite seguinte, no intervalo do segundo para o terceiro acto, em que o público reconhecido lhe fez uma chamada especial, com calor e entusiasmo. O regente da orquestra, sr. António Simões, bem como o caracterizador, sr. António Esteves, que não compareceu no palco, a-pesar-da insistência do público.


O nome do sr. dr. Elísio de Moura, grande benemérito, que preside e dirige os destinos do Asilo da Infância Desvalida foi aclamadíssimo, quando José Ribeiro se lhe referiu em têrmos de sentida homenagem que muito calaram no ânimo da assistência. Consta que o Grupo voltará a Coimbra; pois desde já lhe vaticinamos novas enchentes e novos e merecidos aplausos. (Voz da Justiça – 05.18)

O GRUPO CÉNICO TAVAREDENSE EM COIMBRA

Os jornais de Coimbra fizeram referências muito elogiosas às peças que o simpático grupo tavaredense representou em Coimbra e ali agradaram plenamente; e não foram menos calorosos os elogios feitos aos intérpretes, que tiveram o prazer de sentir-se aplaudidos entusiasticamente pela plateia. Impossível é satisfazer o nosso desejo, transcrevendo tôdas as críticas publicadas. Transcrevemos somente alguns passos em que se foca o trabalho dos nossos amadores.


Do Diário de Coimbra – crítica da representação da opereta Justiça de Sua Majestade:
“.............
É um trabalho são, que bem merece ser exaltado, pela sua eficiência moral, desviando o povo nas suas horas de ócio, para uma obra de assistência, paralelamente à da instrução.

Independentemente de constituir para todos um divertimento salutar, é ainda uma forma inteligente de dar vida a uma sociedade onde todos se educam.


Quanto a nós, são estes os principais predicados dos grupos dramáticos.


Particularmente, e objectivamente a êste que vimos de ver, manda a verdade que traduzamos o seu valor com esta afirmação: existem em Portugal muitos profissionais do teatro, que muito aprenderiam ingressando no grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense.


Não pretendemos depois disto, ferir susceptibilidades, apontando nomes.


Todos muito bem.


Se é certo que podemos apontar alguns nomes que o público sentiu melhor, não é menos certo que isso se deve apenas à beleza dos papéis, e não ao valor pessoal dos seus intérpretes.


E assim, Violinda Medina e Silva, ouviu fartos aplausos pela forma como cantou; Emília Monteiro, traduziu muito bem a depressão moral e tristeza resultante da sua posição na peça; Maria Tereza Oliveira, uns hesitantes 20 anos, fez muito bem a velha Roberta; Guilhermina de Oliveira, uma linda e desenxovalhada rapariga, deu-nos uma rica interpretação de noiva ingénua de aldeia.


E, dos papéis masculinos, não vale falar; a tôdos êles se deve o êxito da representação.

Guarda-roupa de côres fortes e harmoniosas, e cenários rigorosos.


Música de harmonia com os nomes consagrados dos autores.


Coros agradáveis.


Boa marcação, embora algumas cenas não deixassem maior movimentação.


O público aplaudiu com entusiasmo, traduzindo a justiça merecida”.


Da carta de Coimbra para o Primeiro de Janeiro:


“.... a primeira peça – “Justiça de Sua Majestade” – desenrolou-se com a atenção da assistência, que fartos aplausos dispensou ao esplêndido conjunto artístico, que conta elementos valiosos, recrutados no meio operário e dos campos. Tôda a música agradou, sendo bisados alguns números e coros finais.


A segunda peça – “A Cigarra e a Formiga” -, de Alberto Lacerda e José Ribeiro, pôs o grupo em foco pelo excelente trabalho. Violinda Medina, Emília Monteiro, Eugénia Oliveira, Jaime e António Broeiro, muito bem.


Propositadamente deixamos para o fim o compère, João Cascão, que, desde a sua apresentação e do seu primeiro número que cantou se conduziu até final, como verdadeiro artista.


O segundo acto, rico de jôgo cénico; o terceiro, vida, muita alegria e o cunho característico das nossas festas da aldeia, com a tão conhecida desgarrada. Os quadros “Apoteose ao trabalho”, “Em noite de S. João”, “Beira Mar” e a “Apoteose ao Amor”, formosíssimos!”.


Na Gazeta de Coimbra, o crítico teatral sr. José Castilho fez uma apreciação pormenorizada das duas peças, da sua montagem e do desempenho que tiveram. Umas ligeiras transcrições:


“.............
Porque foi com a maior admiração que nós vimos representar “Justiça de Sua Majestade” e, depois, a fantasia intitulada “A Cigarra e a Formiga”.


.............
Em ambas as peças – reconhece-se à primeira vista – houve a preocupação dos ensinamentos salutares à gente que as desempenha e ao público que as vê, tendo-se a finalidade conseguido plenamente.


Despidas do espírito grosseiro, a roçar pela pornografia, e de situações equívocas que um cunho imoral caracteriza, “Justiça de Sua Majestade” e “A Cigarra e a Formiga” são bem o trabalho de quem, integrado nos mais altos princípios de equidade e de justiça, procura marcar a sua posição no campo das letras, pugnando pelo triunfo do Bem, do Amor e da Solidariedade Humana.


Bem hajam os que colocam a inteligência de privilégio ao serviço de causa tão nobre.


E ditas estas palavras, a correr, com a preocupação de que venha a faltar-lhe o espaço no jornal, entremos no desempenho.


Violinda Medina e Silva é a figura máxima do agrupamento que, sem favor de nenhuma espécie, se pode classificar de artístico.


Brilhou, na primeira noite, num dificilimo papel de distinção, que uma fidalga de raça não conseguiria desempenhar melhor. Brilhou, na segunda récita, em papéis de diferentes géneros, adaptando-se aos mesmos com uma naturalidade e uma intuição verdadeiramente assombrosas! Na sua graça sem artifícios, na sua naturalidade invulgar, na sua voz de oiro que prende e encanta, esta rapariga poderia ocupar posição destacante entre um grupo distinto de artistas de “verdade”! É necessário possuirem-se qualidades muito excepcionais, muito prodigiosas, para se representar com a perfeição com que Violinda Medina representa!


Emília Monteiro – figurita delicada e frágil de vitral, com uns olhos profundos onde há todo o mistério das noites infinitas – é outra revelação.


Os papéis a seu cargo têm alma, têm sentimento, têm realidade, e a sua voz é um fiozito de oiro que a gente escuta, com o maior enlêvo.


Pronúncia correctíssima, gesto natural e elegante, esta costureirinha gentil parece, no palco, uma frequentadora dos salões de “bom tom”, para a qual as normas da fidalguia de maneiras não têm segredos. Merece bem as ligeiras palavras de homenagem que lhe dispensamos.


Maria Tereza de Oliveira impôs-se ao público na “Roberta”, da primeira peça, conseguindo agrado pleno na “Formiga” da segunda.


Mocidade gloriosa num dificílimo papel de velha, a “Roberta” soube arrancar do público uma vibrantíssima ovação, que foi o melhor prémio de um esplêndido trabalho.


Guilhermina de Oliveira, marcou, na “Cigarra”. Cheia de encanto e de frescura, soube vencer, sem artifícios, as dificuldades do seu papel.


O restante elenco feminino correcto, não desmanchando, antes emprestando valor ao conjunto.


Da parte masculina, destacaremos João Cascão, no papel de maior responsabilidade de “A Cigarra e a Formiga”; Jaime e António Broeiro, que são dois verdadeiros artistas e que, por isso mesmo, em ambas as peças, conseguiram prender completamente as atenções do público; António Santos, pelo seu “à vontade” tão pouco frequente em amadores, e Manuel Nogueira, pela verdade empregada na fala difícil do João, marítimo.


Os outros não podemos citá-los especialmente como seria nosso desejo. Mas isso não significa menos consideração para quem, ainda que em papéis mais modestos, tanto faz realçar o corpo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense.


O público, que nas duas noites encheu o Avenida, aplaudiu com entusiasmo. Não foram as palmas convencionais, de simpatia por esta ou aquela figura. Foram as manifestações sentidas pelo mérito de quem soube impor-se-lhe de maneira tão eloquente.


Merece referência especial a música – inspirada música do distinto amador sr. António Simões, que sob a hábil regência do mesmo, a orquestra executou primorosamente.


Emfim, a gente de Coimbra soube mostrar duma maneira fidalga a sua admiração pelo grupo de Tavarede que, numa simpática romagem de beneficência, em tão boa hora nos visitou.


Consta-nos que o referido grupo volta cá. Pois iremos de novo ao teatro, com o mesmo interêsse que alimentamos quando uma boa companhia nos visita”.


O crítico do Despertar igualmente se alongou numa crítica honrosa para o grupo tavaredense. Depois de se referir às peças, cita especialmente alguns belos cenários de Alberto Lacerda e Rogério Reynaud, e elogia o esfôrço admirável de António Simões, autor de quási tôda a música e regente da orquestra. Transcrevemos somente a parte final desta crítica:


“.......não porque êstes amadores sejam de difícil ensinamento – porque existe nêles muita intuição -, mas porque são muito briosos, sentem o desejo forte de fazerem boa figura, e de serem no palco aquilo que na verdade são, sem favor os considero – amadores dramáticos dos mais distintos que tenho visto representar.


Do desempenho destas duas lindas peças, de géneros tão diferentes – pedras de toque para bem se aquiltar das aptidões cénicas dos amadores que as representaram – permita-se-me que, sem desconsideração para ninguém, que destaque Violinda Medina e Silva, a quem José Castilho, na “Gazeta de Coimbra”, chama, com muita razão, “a figura máxima do grupo”.


Representa muito bem; diz com muita correcção; sabe cantar, e tem uma vozinha muito agradável.


Tomaram muitos dos que se apresentam nos nossos palcos, como artistas, valer o que vale a Violinda.


Maria Tereza de Oliveira e Emília Monteiro, duas tanagras, nos seus papéis, tanto numa peça como na outra, marcaram pela dição e pelo gesto, pelo à-vontade que é, de resto, a nota mais frisante de cada um dos componentes dêste grupo que pode bem denominar-se de artístico.

Guilhermina de Oliveira tem na “Cigarra” um papel de responsabilidade, de que soube tirar todo o efeito, merecendo, por isso, muitos aplausos.


As restantes amadoras, Beatriz Loureiro, Aldora Santos e Eugénia Oliveira e Silva, contribuiram bem para o agrado que os dois espectáculos deixaram no público.


Há nomes que são a perfeita antítese de quem os usa, e estão neste caso Jaime Broeiro e António Broeiro, que, tanto na “Justiça de Sua Majestade” como na “Cigarra e a Formiga”, têm papéis de muita responsabilidade, que desempenharam como autênticos artistas.


João Cascão, o figurante maior da “fantasia”, merece, também, a designação de amador muito distinto, como bem mereceu os aplausos muito entusiásticos que o público premiou o seu consciencioso trabalho.


António dos Santos e Manuel Nogueira desempenharam, também, muito bem os seus papéis, dando-nos êste último um pescador verdadeiro na linguagem, na indumentária, no gesto, em tudo – a que o cenário “Beira Mar” deu um grande realce.


É justo falar, também, no trabalho dos restantes amadores – António Graça, Francisco Carvalho, José Vigário e Francisco Loureiro, pois todos se esforçaram pelo bom desempenho dos papéis que representaram.


A massa anónima: oficiais do exército, criadas da estalagem, camponeses e camponesas (da 1ª peça), e cigarras, formigas, cavadores, rapazes e raparigas, marítimos e peixeiras (da 2ª) não desmancharam o conjunto, e mereceram, também, muitas palmas.


Músicas muito lindas: bem ensaiadas e bem regidas; marcações muito boas, cenários e guarda-roupa na altura das peças e do seu desempenho.


Só me resta felicitar o grupo cénico da “Sociedade de Instrução Tavaredense”, pelo bom êxito da sua jornada triunfal a Coimbra, que o espera para novos aplausos.


“Au revoir”. (Voz da Justiça – 05.22)

O GRUPO CÉNICO TAVAREDENSE EM COIMBRA

Além das críticas dos jornais de Coimbra, muito honrosas para o grupo cénico tavaredense e das quais transcrevemos alguns trechos no último número, registamos também as elogiosas referências do brilhante cronista de Coimbra para o Primeiro de Janeiro, insertas na crónica de quarta-feira última:


“ Nos primeiros dias desta semana, exibiu-se no Teatro Avenida um grupo cénico – Instrução e Recreio Tavaredense – que teve um grande, um extraordinário sucesso.


Com efeito, o trabalho que representa a maneira como os seus componentes se apresentaram no desempenho dos “papéis”, é qualquer coisa a merecer admiração e simpatia, o melhor e mais respeitoso acolhimento.


Porque não se trata de pessoas com uma educação superior, mas de simples, de modestos trabalhadores que fora das horas das suas ocupações, vão aprender a representar, a cantar, como quem diz, conhecer e falar correctamente a nossa língua, a entender as suas expressões literárias, a corrigir atitudes, a interpretar trechos musicais, ou seja, finalmente, a fazer Arte e da boa.


Isto é, de facto, qualquer coisa de merecimento, sôbre tudo nos tempos de terrível materialismo que vão decorrendo.


Mas se o conjunto é admirável na interpretação das peças, estas são, por sua vez, obras de valor, merecedoras também da mais recolhida admiração.


...............
A sua exibição foi em favor da Obra do Professor Elísio de Moura, ou seja do Asilo da Infância Desvalida, outro motivo para que o grupo de Tavarede fique na memória dos conimbricenses pela sua valiosa contribuição para uma das melhores obras de benemerência desta terra.


Aqui deixamos, pois, estas notas como o eco dos vibrantes aplausos merecidamente dispensados pela nossa exigente plateia à S. I. R. Tavaredense. (Voz da Justiça – 05.25)

A PROPÓSITO DA JUSTIÇA DE SUA MAJESTADE

Mer caro José Ribeiro
Saiba você, - são cinco e vários da madrugada. Já luz o buraco. Escrevo-lhe do Entroncamento. A uma mesa do restaurante. Oloresce e fumega diante de mim, uma chávena de café loiro. Venho de ver e ouvir a sua peça. E como tenho que aguardar neste poiso, uma vasta hora (- sem ter mais que fazer! -) podemos palrar como velhos amigos que somos. Suponha você, José Ribeiro, que se sentou aqui em face. Você engulipa o seu praxista café. Eu palro...


Oiça, José Ribeiro. Eu não sou crítico de coisa nenhuma. Muito menos de teatro. Sou avesso, por índole, a escovar adjectivos. Mas apetece-me hoje, neste dealbar nevoento duma manhã fria, conversar consigo.


Lá fora, rugem combóios. Apitam cornetas estrídulas. E já apagadas as derradeiras estrêlas, lucilam os lumes vários da Estação. Porque ainda não é dia claro. Você sabe o tom de violeta esmaecido das manhãs. É a luz que há. Imprecisa. E vaga...


Você conhece melhor que eu o teatro moderno. Nomeadamente o teatro nórdico. Esse assombroso teatro russo. O teatro da Suécia, da Noruega, da Dinamarca, - que fugindo velho ídolo, do velho Ibsen, e tem novas características e novos rumos.


Teatro dinâmico. Breve. Sintético. Conciso. Claro que a análise psicológica. Mas rútila. Fulgurando como um clarão.


E eu bem compreendo que você, José Ribeiro, não podia (nem devia!) fazer teatro assim para as galantes raparigas e para os rapazes firmes, da sua Tavarede, - viçosa e fresca, sussurante de águas, tôda engalanada de verduras, idílica, perfumada do doce aroma das lúcias-limas!


Depois é preciso haver um Procópio Ferreira, para um “Deus lhe pague”.


A aproximação do teatro ao cinema – tem de fazer-se!


Nós hoje falamos e escrevemos com um poder de síntese, (aqueles que o sabem fazer, que nanja eu!) que faria corar as longas orações do Padre António Vieira!


E temos de pôr a verdade no teatro!


Aquilo dum major ter enxertado uma menina, como quem esfrega um ôlho, - nem no tempo em que o Afonso Henriques caçava moiros!


As mulheres defendem-se como feras!


E tudo na sua peça é suave e doce. É uma história contada a crianças, no tempo apartado em que havia lareiras e ao borralho se contava que – “era uma vez uma fada...”.


Isto de palrar a uma mesa de restaurante, emquanto se espera um combóio, e a manhã se define, - leva-nos a perder o fio à conversa...


O que eu queria era felicitá-lo. Perdi-me em bambalarachas.


..................
Bem! Beba um golo de café. Eu mais um de chá. E tenha paciência. Mas falta meia hora para o combóio. Já é quási dia claro. Anda o sol, a arranhar a névoa. Cantam galos. E ali no arvoredo, deve trilar a passarada.


Vamos falar a sério.


A adaptação é uma maravilha. Um achado. Certo.


Formosa música. Esse António Simões (que está pançudo como eu!) teve sempre um atilado gôsto. Dê por mim novo braço ao António Simões.


..................
D. Violinda é uma artista. Assim mesmo. E sem favor.


Muito galante a Emília Monteiro. Muito galante e muito bem!


Gostei profundamente da Maria Tereza, na “Roberta”. Profundamente! Aquilo chama-se – representar!


A Guilhermina, fresca como as suas cerejas. E tão linda!


Os Broeiros, são dois excelentes amadores.


Um rico major.


... E não posso continuar. Vamos acabar. Eu com o meu chá. Você com o seu café! Está o combóio a abalar para longes terras. O sol já abriu a sua asa de oiro. As silharias da estação resplendem! Gloriosa manhã de Maio. Adeus, José Ribeiro. Perdoe a maçada. Isto foi uma conversa ligeira e despretenciosa. E só para nós dois...


Estreita-o ao coração num largo abraço de muita sincera admiração o seu amigo firme Raym.


N.R. – esta crónica, justamente elogiosa para os amadores tavaredenses, sai mutilada. Não deve o amigo Raym estranhar o facto: bem o avisámos...


Com as linhas de reticências a que recorremos nós prestamos, a final, um bom serviço ao cronista: suprimimos a razão que possivelmente ficaria ao leitor para acusá-lo de injustiça... por excessivo louvor. (Voz da Justiça – 05.29)

AS PUPILAS DO SR. REITOR

(A propósito do filme com este título)


...............
Olhe, José Ribeiro: há largos meses, encontrava-me por acaso em Tomar, vi anunciado para essa noite um espectáculo com a opereta As Pupilas do Sr. Reitor, por amadores de Tavarede.


Fez-me o caso espécie e resolvi ir ao teatro. Julgava eu ir desopilar largamente a figadeira.


Ao finalizar o primeiro acto – e repare que não digo ao principar... – estava entusiasmado.


O libretto é defeituoso. E compreende-se, em opereta extraída de romance. Mas o desempenho, os cenários, a indumentária e a música, formam um todo que não esquece facilmente.


Em especial, colhe-se dêsse espectáculo o espírito das autênticas Pupilas.


Respeita-se, com todo o escrúpulo, o intuito do autor.


Quis saber a que título vinha de tão longe, da Figueira da Foz, um núcleo de amadores assim; quem o fizera, quais os seus objectivos.


Para encurtar, porque V. era capaz de não consentir pormenores: fui-lhes apresentado e formei a par dos admiradores da sua Sociedade.


E – deixe lá passar esta – ao sair do Parque, há dias, após a projecção da fita, tive pena, sincera mágoa, de não acompanhar de perto, desde o início, a filmagem.


É que ter-me-ia permitido sugerir ao realizador, a preciosa idea de obter uma representação das Pupilas do Senhor Reitor pela companhia de Tavarede, para ver bem como pode fazer-se arte, com as Pupilas, as do Júlio Deniz. (Voz da Justiça – 08.24)

A SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE EM COIMBRA

Na sua carta de hoje o correspondente dêste jornal em Coimbra regista o novo êxito que o esplêndido grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense obteve naquela cidade, na segunda-feira, representando no Teatro Avenida, a peça Os Fidalgos da Casa Mourisca, em benefício da Associação dos Diabéticos Pobres.


Todos os jornais fazem elogiosas referências aos amadores tavaredenses, o que nos é agradável registar.


A Gazeta de Coimbra, salientando as grandes dificuldades do drama para ser representado por amadores, numa época em que o drama está fora da moda, diz que o grupo tavaredense vincou os créditos que já tinha alcançado em Coimbra, o que é razão para o felicitar sinceramente. E o Despertar, frisando a correcção do desempenho, escreve: “O Teatro Avenida encheu-se por completo, tendo todos os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense sido muito aplaudidos. O grupo de amadores de Tavarede pode, pois, ufanar-se de ser, na especialidade a que se dedica, um dos melhores do país”.


O Século, o Primeiro de Janeiro, o Comércio do Porto e o Jornal de Notícias, nas suas correspondências, igualmente registam o brilhante êxito do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense.


Também nós gostosamente o felicitamos, tanto mais que ao êxito artístico correspondeu o êxito material: o teatro esgotou a lotação e mais de 400 pessoas não obtiveram lugar. (Voz da Justiça – 11.09)

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