quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Crírticas - 12


1937

A RÉCITA NA FIGUEIRA

O Sonho do Cavador levou ao teatro do Casino Peninsular, no domingo, uma enchente, o que era de prever, pois alguns dias antes estavam já esgotados os bilhetes de 2ª plateoa e cadeiras.


Ao êxito da bilheteira correspondeu, em tôda a linha, o êxito artístico, proclamado na expontânea afirmação do público, que retirou do teatro agradavelmente impressionado.


Precisamente à hora marcada, com a pontualidade que é característica das récitas do grupo tavaredense, o espectáculo começou; e logo no 1º quadro, ao terminar a linda valsa do Sonho, a assistência manifestou-se com uma grande salva de palmas; manifestação que amiúde se ouvia sublinhando muitos números de música ou cenas declamadas, como O Sulfato e Enxôfre, diálogos dos Dois homens honrados e das Comadres, a cena, no 1º acto, de Manuel da Fonte com os dois camponeses que João Cascão fêz magistralmente, Concurso Hípico, Batota, Bolinha de Marfim, côro dos Moinhos, canção da Fonte, dueto do 3º acto, o côro de cavadores e ceifeiras, etc.

Tôda a interpretação é brilhante e mostra a homogeneidade do grupo, não havendo citações especiais a fazer. Devemos, todavia, acrescentar que para a esplêndida impressão de conjunto contribuíu poderosamente a linda partitura, que evidencia a competência e o bom gôsto do distinto amador António Simões, o primoroso guarda-roupa e os belos cenários, nos quais há trabalhos valiosos de Rogério Reynaud.


Nos finais de acto a assistência aplaudiu mais demoradamente, atingindo as ovações grande entusiasmo, com repetidas chamadas, no fim da peça. (Voz da Justiça – 01.13)


O SONHO DO CAVADOR

É indiscutível que a peça O Sonho do Cavador constitui o mior êxito de representações do grupo tavaredense. O público consagrou-a de maneira eloquente, exprimindo o seu agrado com invulgar entusiasmo.


Quando, há pouco, O Sonho do Cavador foi representado nessa cidade, o teatro encheu-se, e foram muitíssimas as pessoas que ficaram privadas de assistir ao espectáculo por não terem conseguido bilhete.Por êste motivo, e satisfazendo vários pedidos, a direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense resolveu repetir a festajadíssima peça, no Teatro do Casino Peninsular, no domingo, dia 21 do corrente, para o que abriu a inscrição na Tabacaria Africana.


O Sonho do Cavador é uma peça integrada no programa educativo da Sociedade de Instrução Tavaredense, constituindo um espectáculo saudável, moral, tão agradável ao espírito como à vista. Valorizada com uma bela partituira quehonra o nome e afirma os grandes méritos do distinto amador musical António Simões, a peça tem brilhante montagem cénica, com belos cenários de dois artistas de valor – Rogério Reynaud e Alberto de Lacerda – e guarda-roupa admirável, mesmo luxuoso.


Emfim, um espectáculo recomendável sob todos os pontos de vista, e a preços populares.


Pode desde já garantir-se nova enchente, tanto mais que é esta, definitivamente, a última representação do Sonho do Cavador. (Voz da Justiça – 02.10)


O GRANDE INDUSTRIAL

Os aplausos vibrantes, calorosos, que no domingo ouviram, em Tavarede, os simpáticos amadores tavaredenses, exprimiram bem a impressão de agrado deixada peça representação do Grande Industrial.


São incontestáveis as dificuldades desta peça, tanto na interpretação como na montagem; pois, sem favor, pode dizer-se que o grupo tavaredense as venceu galhardamente.


A obra célebre de George Ohnet está posta em cena pela Sociedade de Instrução Tavaredense com um esmêro digno de nota, como é timbre do grupo tavaredense. O público da Figueira vai ter ensejo de admirá-la na próxima segunda-feira, 29, no Teatro do Casino Peninsular. O desempenho é brilhante, e dignos de nota são também o luxuoso guarda-roupa, executado expressamente para esta peça, e os cenários. Rogério Reynaud afirma os seus méritos de artista cenógrafo em duas cenas: a do 2º acto e a do belo parque do Castelo de Pont-Avesnes (3º acto).


Emfim, O Grande Industrial é mais um triunfo do grupo tavaredense.


A inscrição aberta na Tabacaria Africanam está já muito concorrida, o que não admira, sabendo-se que a encantadora peça não voltará a ser representada na Figueira.


O espectáculo começa à hora marcada: 9 horas e meia. (Voz da Justiça – 03.24)

O GRUPO CÉNICO EM COIMBRA

O nosso correspondente em Coimbra, refere-se hoje à representação, naquela cidade, da peça O Grande Industrial pelo grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense, que naquela cidade, tanto no teatro como na sede dos Artistas de Coimbra, foi lvo de carinhosas homenagens e aplausos entusiásticos.


A imprensa, tanto a de Coimbra como os diários de Çisboa e Porto através dos seus correspondentes, fazem honrosos elogios ao grupo tavaredense.


A seguir transcrevemos da crítica do Diário de Coimbra:
“Pela sua popularidade, o romance de Georges Ohnet, já filmado e adaptado ao teatro, não presica de crítica. Basta que seja do agrado do público – de iletrados e até de alguns civilizados, - para o impor como obra não de génio, mas de relativo valor.


Já nos tinham falado, com admiração, dos amadores que aqui representaram o “Grande Industrial” no Teatro Avenida.

A informação partira de pessoas inteligentes.


Na verdade, é prreciso raro talento da parte de quem escolheu entre humildes trabalhadores, as personagens de haviam de interpretr, não só as figuras exteriores, de casaca e vestidos elegantes, como o interior, a alma tão diferente, tão afastada, da dos intérpretes, pela sua condição.


Porque as almas se distanciam umas das outras?


O lodo e a luz de que Deus as criou tiveram a mesma origem. Só diferem nas maneiras, no que poderemos chamar o ritual da civilização, nas regras da sociedade.


Ora êsse ritual, tão diferente entre o camponês e o aristocrata, é que me pareceu de mais difícil desempenho.


Mas seria injusto deixar de confessar que entre os elementos do grupo de Tavarede existen surpreendentes vocações, alguns amadores tão bons como certos profissionais de cena.


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Mas o grupo houve-se com equilíbrio, sobriedade e disciplin, moldado ao sabor do espírito dos seus orientadores. (Voz da Justiça 04.07)

O GRUPO CÉNICO EM COIMBRA

O nosso prezado colega O Despertar publica um artigo sob o título “Impressões de teatro”, assinado pelo seu director, do qual transcrevemos:


“Casa completamente cheia, - e um ambiente de interêsse a retratar-se nos rostos que, nestas coisas de teatro, sabem separar o trigo do joio: interêsse muito justificado, por que do “Le Maitre de Lorges”, do consagrado e popularíssimo romancista Georges Ohnet, só se poderia extraír uma peça de grandes responsabilidades cénicas, passado num ambiente de aristocracia, e o grupo de amadores dramáticos da Sociedade de Instrução Tavaredense é constituído, na sua maior parte, por gente do campo, por gente do trabalho – dos campos e das oficinas.


Como é que gente tão modesta e tão humilde poderia dar-nos uma Marquesa de Beaulieu, uma Baroneza de Préfont, um Duque de Bligny e um Barão de Préfont, sem essa “gaucherie” que é sempre ridícula?


Pois deu – e deu-nos muito bem a interessante peça, cujos quatro actos foram belamente aproveitados por Ilda Stichini, e cuja interpretação, por parte de alguns dos amadores – num conjunto muito harmónico -, foi além da nossa espectativa: se bem que. Pelo que temos visto fazer a tão distinto grupo cénico noutras peças de grande responsabilidade, fôssemos dos espectadores que mais convencidos estavam, dum bom êxito.


Como se operarão milagres assim?, qual o segrêdo dessa alquimia que transforma, no palco, à luz da ribalta, um iletrado, um humilde operário ou um trabalhador da gleba, num artista da cena que muitos artistas, consagrados profissionais, não deixarão de ter inveja?


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Se é certo que tudo aquilo que nós temos visto fazer ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, na interpretação de “O Grande Industrial”, do “Sonho do Cavador”, etc., é o resultado das competências seleccionadas, para a obtenção dum tão brilhante conjunto.

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Ficou, bem eloquente, do muitíssimo que pode conseguir-se, dispondo de boas vontades e de competências – é o que se aprende com êste muito distinto grupo de amadores dramáticos; e as boas-vontades criam-se subordinando os espíritos e disciplinando-os, e as competências, procurando-as, também, na massa anónima, como entre gangas lamacentas se procuram diamantes.


Onde foram buscar António Pedro e muitos outros dos nossos maiores artistas de cena? (Voz da Justiça – 04.10)

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