sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Voltando d’esta digressão da egreja pela rua Direita, recordámo-nos d’umas argolas, firmadas em grossas lagens no pavimento da rua, ahi por pé da casa da Renda, de que o povo dizia terem servido para amarração de navios no tempo em que o Mondego alagava a grande planicie que desde a povoação se estende para o sul até á margem direita d’este rio, hoje, mais restricta.


Nem pelo sim, nem pelo não; devemos registrar esta tradicção local.


Muitas considerações teriamos que estender em pró e contra, fundados em probabilidades, porque afinal, como já temos dito, a história das terras no nosso concelho é um pouco problematica, attendendo-se á falta de dados seguros, devendo-se a um trabalho insano e agreste, alguma cousa que se sabe por investigação. Que o diga o sr. dr. Antonio dos Santos Rocha, que, louvavelmente tem trabalhado no assumpto, consumindo dinheiro tempo e paciencia, para trazer na publicidade umas noticias prehistoricas e historicas do nosso concelho.

É uma cousa corrente em geologia, que uma grande parte das planicies são formadas por terras de aluvião, desaggregadas dos montes visinhos, pelas correntes das aguas naturaes, das chuvas e nascentes. A bacia de Tavarede, a sua grande planicie deveria ter uma origem assim. O terreno em que a povoação assenta tem, approximadamente, quatro metros de nivel acima da baixamar das grandes marés no Mondego. Nada mais natural pois, que as aguas d’este rio se internassem entre montes até lá, e lá chegassem navios que entrassem a foz do Mondego. Como affirmar? Como negar? Teremos de ficar no campo das probabilidades á falta de dados positivos.


Uma escriptura do reinado de D. Sebastião, de há tres seculos, que vimos ha annos, encadernada em pergaminho, fallava de marinhas no logar de Caceira. Dizer hoje isto em face das transformações porque tem passado a crôsta da terra, e perante os que só veem o presente, é aventar uma heresia aos estranhos á sciencia. Folheando o diccionario Corographico de J. A. d’Almeida, impresso em 1886, em Valença, que não é dos mais volumosos, mas no entretanto dos mais fieis, encontramos a pag. 232 do 3º volume o seguinte, tratando-se de Villa Nova de Gaya: -”O convento das freiras Dominicas, foi sob a invocação de Corpus Christi, fundado em 1345, á custa de D. Maria Mendes Petite, na propria casa da sua residencia, e doado ás Donas Pregaratas, da ordem de S. Domingos de Santarém
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D. Maria Petite dotou este convento com diversas propriedades em Villa Nova de Gaya; umas casas e herdade em Leiria; um terço d’outras herdades em Santarem; umas azenhas e marinhas de sal em Tavarede, etc., etc.


D. Maria Mendes Petite, era viuva de Estevão Coelho, e mãe de Pero Coelho, que foi um dos assassinos de D. Ignez de Castro, e ao qual D. Pedro I mandou arrancar o coração pelas costas.” (Gazeta da Figueira - 2.5.1896)

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