sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Na casa da rua Direita que apontámos ultimamente e aonde habitava o fallecido velho Aguas, está hoje o digno parocho da freguezia, sr. Joaquim da Costa e Silva, um ornamento da vida ecclesiastica, que bem concebe, perante a sciencia do seculo, qual o seu logar como padre e como cidadão.


Padres assim não destroem; moralmente - edificam.


Cremos que a primeira parochia onde esteve foi a da Ereira, freguezia do concelho de Montemor-o-Velho, e isto ha proximamente quatro annos.


Actualmente é tambem vereador da camara municipal.


E já que falamos de padres, indicaremos os que ha meio seculo a esta parte teem parochiado em Tavarede.


Esteve ali o padre Bernardo da Silva, frade, natural de Brenha, que morreu ha trinta e tantos annos.


Ainda n’esta cidade conhecemos uma sobrinha por nome Henriqueta, que vive, assim como ainda existe familia d’elle em Brenha e n’uma das cidades do sul do Brazil.


Seguiu-se-lhe o padre Manuel da Cunha, homem talhado pela sua bonhomia (até demasiada) para pastor de ovelhas n’uma aldeia. Um padre que sabia alliar os seus deveres da egreja com a lhaneza carinhosa e affavel que particularmente dispensava, sem distincção, a todos os seus parochianos.


Conhecemol-o a primeira vez em um casamento que lá se fez do fallecido commerciante José da Silva Fonseca. Vivia então com duas irmãs.


Esteve algum tempo depois no Brazil, Amazonas, aonde parochiou uma duzia d’annos, voltando a Portugal e á povoaçãosinha que o estimava e respeitava dedicadamente. Ainda hoje n’ella vive, socegadamente, respirando uma atmosphera de bençãos d’aquelle povo.


O padre Manuel da Cunha teve inimigos como nenhum homem estará livre de os ter. O tempo... vingou-o!


É costume dizer-se: os garotos só atiram pedras ás arvores carregadas de fructos...


Em 186.. foi parochiar a egreja de Tavarede o padre Francisco Ernesto da Rocha Sennas. Era de Ilhavo; constando-nos que ainda o anno passado vivia n’uma povoaçãosita das proximidades da sua terra natal.


Não era mau padre, muito popular, resentindo-se um pouco da sua novidade derivada do estudo do que é o mundo, a sociedade - do que tudo isto é.
Ingenuo, ou... ?


A politica, por sua conveniencia ou por qualquer outra razão fóra do alcance das nossas apreciações, preparou-lhe desgostos, descrenças, e o padre Sennas teve que abandonar a sua parochia.


Foi depois o padre sr. Joaquim José de Figueiredo, sacerdote serio e quasi exemplar, se com facilidade se podessem fazer qualificações sem melindrar outras entidades. Tambem um bom padre.


Alguma cousa que de Tavarede diz o Diccionario Chorographico de Pinho Leal, continuado depois da morte do seu primitivo auctor pelo erudito abbade de Miragaya, deve-se ao padre Figueiredo; apezar de que, algumas leves inexactidões existem nos apontamentos por elle fornecidos para a obra. Se algumas vez podermos, trataremos d’ellas, sómente na ideia de encher uns lapsos de historia, alheiados do proposito de deprimir o valor do que escreveu o padre Figueiredo.


Este padre era irmão do nosso fallecido prior Eduardo Jozé de Figueiredo, que aqui morreu em 1870 e tantos, descendo á campa abençoado por todos os que o conheciam. Era um bom homem.


O padre Joaquim Jozé de Figueiredo está hoje parochiando na egreja de Santa Luzia de Lavos.


Tambem teve Tavarede como parocho o sr. Antonio Augusto da Silva Nobreza. Não entraremos muito na sua biographia por que uma vez escrevemos uma graças contra elle.


N’este presuposto podemos ser taxados de parciaes...


Dizem os seus amigos - que era bom amigo, attencioso, e um parocho digno; e nós só acrescentaremos de nossa casa, pelo que temos ouvido: que foi mais politico do que padre.~


* * *

Aqui terminamos hoje, com a resenha abreviada dos parochos que Tavarede tem tido até á actualidade e fechando por agora para não intercalarmos um assumpto diverso sobre outras cousas em que teremos de falar. (Gazeta da Figueira 20.06.1896)

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