sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Só por incidente trouxemos para aqui a data da existencia de salinas em Tavarede, pois que, disso tratando o sr. dr. Rocha no seu livro: Materiaes para a historia da Figueira (1873) diz: terem ellas existido anteriormente á monarchia, ahi pellos annos de 1147, ou 1109 da era christã, formando esta sua opinião em documento do Livro Preto da Sé de Coimbra, que falla de uma doação em que figura - unam marinam in foce Mondeco.


O que restará saber, porque não está averiguado, é, se essa marinha na foz do Mondego, estaria na proximidade da povoação de Tavarede, se mais ao sul, e no lugar aonde hoje ainda se encontram duas, ao norte do Matadouro. O mesmo caso de duvida encontramos, na situação das marinhas que D. Maria Petite doou ao convento das donas Pregaratas de Gaya, situadas em - Tavarede.


Muito longe teriamos de ir se tivessemos de seguir a este respeito o livro indicado, que dá elementos preciosos para a historia da Figueira e seus arredores, e com relação a salinas muito diz, sobre as da Morraceira (Insua da Oveirôa), Villa Verde e Tavarede.


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Em uma planta que vimos ha annos, copia d’outra que existe no ministerio das obras publicas, está designada topographicamente - a Morraceira (?) justamente no logar occupado actualmente pela povoação do - Casal da Robala. A planta original é do anno de 1801. Erro do original? erro do copista? - Não sabemos.


Uma nova publicação, que segundo nos consta vae ser dada á luz pelo sr. dr. Rocha, nos poderá talvez dizer alguma cousa sobre o assumpto.


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Adiante um pouco do logar que nos suggeriu a existencia das argolas, e uns motivos para flanar um pouco pela historia havia e ha duas casas na mesma rua, proximas do largo do Forno, que se a memoria nos não falha tem hoje de novidade os numeros 35 e 37 de policia. Pertenceram ao fallecido sr. Joaquim Alves Fernandes Aguas, operario tanoeiro, que ao mesmo tempo empregava algumas vagas do seu labor no trato do amanho da sua quinta do Pezo não muito longe situada ao norte da povoação.


Vivia ali com a sua prole, bastante extensa, filhos e filhas que foram creados senão com uma educação almiscarada de salão, pelo menos educados regularmente, bem morigerados, decentes e eivados de espirito trabalhador.


Ahi pelos annos de 1865 a 1872, veio essa familia laboriosa para a Figueira, e bafejada felizmente pela fortuna, representa no commercio local um importante nucleo, especialmente representada pela firma Aguas & Cª.


O fallecido Joaquim Aguas, era muito respeitado entre o povo da freguezia de Tavarede, exercendo no logar e por muitas vezes alguns cargos administrativos: - Regedor, presidente da junta da parochia, juiz eleito, etc.. Com o exercicio d’estes cargos havia-se contaminado da severidade do exercicio d’elles e era severo, sem embargo de ser um bom cidadão, bom chefe de familia e até - gracejador e amigo de divertir-se. Para elle um theatro, um presepe (costume nato de Tavarede) eram o cumulo dos seus divertimentos. Em uma das suas casas que apontamos, lá instalou um theatrinho seu, cerca do anno de 1864, em que elle, filhos e filhas entravam, representando, e o que é melhor é que - mulheres representavam d’homens e vice-versa.


Recorda-nos ainda de uma d’essas noutes agradaveis que lá se passaram.


A costumada troupe de rapazes da Figueira estava no seu posto de espectador. Alguns rapazes d’ella occupavam-se em ajudar, tocando n’uma orchestra adrede arranjada para satisfazer ás exigencias do espectaculo.


Na casa velha, vestiam-se as figuras e preparava-se o mise-em-scéne; na casa nova, havia o palco e a plateia, e a communicação d’uma para outra casa era feita por uma porta que dava para o fundo do palco. Havia-se esgotado o reportorio do prezepe e ia entrar em scena a comedia : - O marido victima das modas.


Os rapazes da Figueira encarregaram-se da mudança do scenario, mas, para fazerem uma partida ao velho Aguas e rirem-se no fim, collocaram os bastidores em sentido inverso, isto é, de pernas para o ar.


Tudo prompto... Panno acima...


Ninguem havia reparado no desarranjo do scenario, mas o velho Aguas, que, sentado na plateia, acompanhava passo a passo as phases do espectaculo, tendo reparado gritou: - Vá o panno abaixo!... panno abaixo!... E foi.


Dirigiu-se lá dentro á casa velha, zangado, fulo de raiva, e fez-nos uma apeporação tão apimentada que não era para rir; faltando pouco para que todos da Figueira fossem postos no meio da rua. Mantivemo-nos comtudo, um pouco mais sérios, rectificando no nosso espirito a ideia que formavamos do nosso velho Aguas, - de que elle estava sempre prompto a aturar-nos rapaziadas e a rir-se d’ellas.


D’ahi para diante teriamos de pensar que, dentro do seu theatrinho, nos deveriamos portar com o aprumo da seriedade, com toda a correcção de espectador gommé aliás... rua! (Gazeta da Figueira - 23.5.1896)

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