Fallando das capellas existentes e extinctas da freguezia deixamos um lapso, que aqui vamos preencher.
Para o nordeste da povoação, a perto de quatro kilometros, e na proximidade do regato que corre ao fundo do Valle de Sampaio ou de S. Paio, existiu em tempo uma capellita com a indicação do Santo que deu o nome ao valle. Pequena, acanhadinha, abrigava o santo a quem os visinhos dedicavam extremosa devoção. Sampaio ou S. Paio, era remedio infalivel para a cura de varios achaques, especialisando - o desapparecimento rapido das verrugas d’aquelles a que a elle recorriam com a necessaria fé. N’uma ribanceira, erma, lá estava o santinho solitario, posto n’um terreno pertencente aos frades cruzios de Coimbra.
O tempo foi fazendo dos seus fregueses uns descrentes desleixados, e a capella foi-se arruinando a pouco e pouco até deixar apenas o vestigio de alicerces.
Tendo sido comprada mais tarde a propriedade pelo fallecido sr. Caetano Gaspar Pestana, d’esta cidade, mandou este, obedecendo a uma obrigação antiga escripturada, levantar de novo a capella e refazer o santo.
S. Paio, era e é de pedra, e andando por uma adega da propriedade a servir, profanamente, de calço a pipas, foi-se aos poucos deteriorando, até que, o sr. Pestana, o mandou concertar collocando-o em seguida na capella em que hoje é venerado.
Pertence hoje a capella e terra circumjacente a António Monteiro, canteiro de Quiaios.
Ha coisa de quatro annos ainda lá foi feita festa ao santo pelo povo da freguesia.
* * *
Tambem, no caminho que segue d’esta cidade á serra da Boa Viagem e na proximidade do palacete dos Condados se vê uma outra capellinha, de acanhadas dimensões, lá edificada pelo sr. Francisco Affonso Dias, quando vindo do Brazil ha proximamente trinta annos.
É devotada a S. Francisco e Santa Anna.
De architectura simplissima, a branquejar n’aquelle sitio quasi deserto, eleva a alma do caminhante até ás regiões infinitas (?) do ceu.
E tendo nós chegado agora até o palacete dos Condados, cumpre-nos d’elle dar uma noticia pelo menos - rápida. Este palacete foi edificado ha cerca de quarenta e cinco annos pelo sr. Thomaz José Duarte, já fallecido, pae da exma. sr.ª D. Emilia Costa, sua actual habitante e proprietaria.
O local não é dos mais risonhos, inspirando antes no peito, um sentimento de saudosa melancholia.
Erguido em um planalto que começa a cahir em rampa para o lado poente do caminho da Serra, com a frente virada para o sul, aberta, sem vedação de arvoredo, está, pelo lado do norte, abrigado por pinhaes d’um tom verde escuro de d’onde em dias ou noutes de ventania veem uns tons plangentes d’uma tristeza esmagadora.
O spleen do seu primitivo proprietario, britannico de raça, fez ali levantar aquella habitação com todos os confortos da indole ingleza.
Compõe-se o palacete: de um rez-do-chão e andar superior, tendo sobre o telhado um mirante que se avista de muito longe.
No andar inferior e pelo lado da frente encontra-se - a sala de vizitas, escriptorio, uma outra sala repleta de luz, toda envidraçada, que olha para o poente com o assento em forma pentagonal. A meio da casa sóbe uma escada geometricamente lançada que se dirige para o andar superior. De tal systema foi talvez a primeira que se construiu nas cercanias da Figueira.
Ao fundo da casa ha, uma vasta sala de jantar e uma não menos vasta cozinha. Pelo lado de traz estende-se um grande pateo aonde se encontram: a cocheira, abegoarias, adega e casas para creados; pela frente desenvolve-se um largo pateo alguns metros acima do solo, sobre o qual foi levantada a construcção.
Deve-se a execução do edificio a um habil mestre d’obras da Figueira, José Baptista, que deixou bem assegurados os seus creditos na construcção da capella da Ordem Terceira, d’esta cidade.
Descendo do pateo da frente, da habitação para o poente, encontra-se a poucas dezenas de metros, o jardim da quinta dos Condados que, sem ser muito extenso é comtudo agradavel na sua pequenez. Ruas symetricamente dispostas, ladeadas de muros de buxo, uns canteiros de flores escolhidas, de côres variegadas, apresentando uns tons garridos, salpicos de sangue e anil, entremeiados de meias côres das flores mais pallidas.
No extremo norte do jardim uma pequena estufa, semi-octogonal, aonde vegetam flores variadas dos tropicos.
Enfim, uma habitação como dissemos, rodeada de todas as commodidades do corpo e do espirito como só inglezes e francezes sabem systematicamente crear.
Não se julgue por isto que estejamos delineando um eden; o que pretendemos dizer é que: - ao redor de Tavarede, sem duvida, o palacete dos Condados, no seu genero, é a vivenda que mais se distingue entre tantas outras que existem nos aros da povoação. (Gazeta da Figueira - 15.07.1896)
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