1944
A NOSSA CASA
Se “teatro” consiste em nos facultar alguns aspectos da vida, aquelas lágrimas que assomaram a muitos olhos que assistiam à representação do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, demonstraram, bem, possuirem os intérpretes notáveis qualidades que é justo pôr em relevo.
A NOSSA CASA
Se “teatro” consiste em nos facultar alguns aspectos da vida, aquelas lágrimas que assomaram a muitos olhos que assistiam à representação do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, demonstraram, bem, possuirem os intérpretes notáveis qualidades que é justo pôr em relevo.
As honras da noite para João da Silva Cascão, primeiramente e, depois, para Violinda Medina e Silva.
O primeiro, no seu “Bonardon” consciencioso, deu-nos muitas “tiradas” de óptimo efeito, em que a sua sensibilidade vibrou intensamente, como convinha, com uma fluência a carácter, exaltado quando convinha, moderando-se quando, como avô, falava a alma. É a melhor actuação que conhecemos a João Cascão.
Violinda Medina, vibrátil como sempre, provou, mais uma vez, que não há pequenos papeis: há sim pequenos papeis que requerem grandes artistas! E soube chorar, vivendo a figura que desenhou.
Os restantes personagens não desmereceram das tradições do grupo de Tavarede. Maria Teresa de Oliveira, Otília Medina, Maria Aurélia Ribeiro e António Broeiro, António Santos, António J. da Silva, Fernando Reis, A. Silva e Fermin Ferreira, procuraram acertar, com mais ou menos merecimento.
A peça é óptima, com um conflito social que nos faz pensar um pouco nos dramas familiares que nos surgem a cada passo. António Sacramento traduziu-a excelentemente do original francês de George Mitchel.
E, por fim, os nossos aplausos a José Ribeiro, a fada construtora que anima uma das melhores, e das maiores, afirmações de cultura na região.
O elegante teatro do Grande Casino Peninsular encontrava-se totalmente cheio e a enorme assistência aplaudiu calorosamente os simpáticos amadores.
Por falta de lugares deixaram de assistir à récita muitas pessoas, sendo de prever que a nova representação de “A Nossa Casa” seja um facto dentro de pouco tempo. (Notícias da Figueira – 02.12)
A NOSSA CASA
O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense representou, na sexta-feira, 4, com o brilho costumado, no Teatro do Casino Peninsular, a peça em 3 actos “A Nossa Casa”, de George Mitchell, tradução do original francês de António Sacramento.
Violinda Medina e Silva e João da Silva Cascão mereceram as palmas vibrantes da noite, pela sua interpretação, valiosa, imtegrando-se, com acerto, nas figuras que desempenharam.
Em cenas violentas, arrancaram lágrimas, que é, em nosso entender, o melhor elogio que lhes podemos fazer.
Os restantes intérpretes, muito abaixo das figuras principais, pela índole dos papéis e também vocação menos acertad, contribuiram, no entanto, para o êxito da peça, tem do em conta que se trata de amadores, simpáticos amadores confesse-se, que intervêm por prazer, compreendendo, simultâneamente, que a função do grupo a que se dedicaram carinhosamente é, na essência, educativa. (O Figueirense – 02/12)
A NOSSA CASA
Esta sublime peça francesa, original de George Michel, com tradução do actor António Sacramento, foi representada, brilhantemente, pelo magnífico grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense e cedida pelo tradutor a este grupo cénico.
Encantadora obra teatral de ternura e bondade, que constituiu, tanto em França, como em Portugal, um extraordinário êxito, confirmado, agora, pelo explêndido e bem organizado grupo de Tavarede, e que, em breve, vai ser representada em Coimbra, como já noticiámos.
Como sempre, vincando uma passagem artística, José Ribeiro atirou à ribalta da Associação Naval, o grupo cénico de Tavarede.
À parte a adaptação escolhida feita, o elenco desenvolveu as personalidades com honestidade regular, aqui ou ali um esboço de técnica que pode modificar-se, sobressaindo impecável o trabalho consciencioso de Cascão e Medina, que nos deu a impressão forte dos valores cénicos que é de uso colher nos profissionais de qualidade.
É de notar, ainda, que José Ribeiro conduz todo esse trabalho, que reflecte um esforço apreciável sobre toda uma matéria prima subsidiária em que faltam preparações intelectuais próprias e onde existe uma vontade inquebrantável de todos.
Estranhei Broeiro, no secretário de Bonardon, que habitualmente marca uma característica diferente desta, interpretando, sentindo melhor, e que nos passa agora sobraçando um papel contrafeito, de pouco fotogénismo, gesto e maneiras inadequadas à sua longa prática e técnica. O criado é um noviço; dá a impressão que despeja o papel e, habitualmente deslocado, procura com insistência a personalidade de outro dentro da sua capacidade, sem conseguir dominar nesse esforço uma perfeita dignidade de incarnação.
Há um outro ponto que se deve tocar longe de destruir o trabalho feito, mas querendo dar-lhe até homogeneidade definida. O tabelião, que tem um aspecto simpático pelo determinado desembaraço, boa figura, vestindo bem, senta-se de forma que nos dá a figura de uma pessoa contrafeita que põe nessa atitude uma etiqueta exagerada, quando é certo que um tabelião, em França, é alguém de respeito e destaque social, prestígio, e a maior das considerações.
Muda esta opinião de ser frente ao raciocínio do autor que se não sabe como e a que pretexto creou o papel de Egalisse, que o não soube ligar à desventurada Mamette, como prémio de consolação, a não se compreender o despropósito das visitas esporádicas à residência dela e do sogro.
Sobre a psicologia rígida do armador, o amante da nora, que vai morrer em Valparaíso, tornaria mais leve a adaptação daquele a um intruso na família, momento que a carta cuja morte do amante de Mamette precedeu, ter deixado sem distinção a fortuna ao filho e à irmã, lição que serviria de exemplo à conduta de Bonardon, cioso da descendência legítima dos seus netos, e que apresentaria a cena mais suave e persuasiva na vira-volta dada ao terminar a encenação dos netos nos joelhos, chorando de alegria.
Seria norma de redimiria da culpa infundada os inocentes e não ficava no espírito da plateia a ideia insubmissa que o pai do rapaz era um aventureiro sedutor e que se acobardava perante um acto que tinha a legitimá-lo o casamento.
Talvez a inteligência cansada do autor não tivesse coragem de continuar, esquecendo o raciocínio e naturalmente a tendência humana, ao tratar-se de lógica ou consciência.
A literatura concede o direito de crear todos os personagens por mais originais que pareçam as filosofias dadas, contudo, não lhe podemos amputar a sequência natural, e todos os actos na vida, seja ela qual fôr, estigmatizam os caracteres.
No seio dessa mulher que o primeiro aventureiro perdeu, nunca poderia punir-se com uma recidiva, certo que a sua falta era um passo para a sua liberdade. Atrás dum escroc outro escroc, um princípio honesto que a miséria destruiu sem recompensa e ilogicamente creou uma situação e personagem deslocados.
E então qual seria a recompensa?
Tudo levava a crer e as esperanças especaram-se diante da figura enigmática de Egalisse, mas o autor não atou as pontas.
Conclusão: - Uma casa à cunha, fartos aplausos e se limarmos umas pequeninas arestas, fáceis sobretudo, José Ribeiro pode confundir todo esse trabalho que é volumoso e honestamente cumprido e dar-nos a ilusão absoluta de vermos no palco da Associação Naval, a rivalidade cénica, um grupo de profissionais.
“O que o leitor acaba de ler foi publicado no nosso prezado colega “O Despertar”, de Coimbra, a quem pedimos vénia pela transcrição. (Notícias da Figueira – 04.15)
ACIDENTE COM O GRUPO CÉNICO
Quando na noite de domingo para segunda feira regressava de camioneta de Pombal para Tavarede parte do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, que àquela vila fôra dar duas récitas de beneficência, por interrupção de luz nos farois do veículo este saíu para fora do leito da estrada a pouca distância da referida vila e tombou-se sobre uma das árvores das margens, a qual evitou uma queda de alguns metros de altura, que podia ter graves consequências.
De Pombal saíu um carro de pronto-socorro dos Bombeiros Voluntários, que prestaram os seus serviços aos sinistrados, não havendo felizmente a registar qualquer ferimento de gravidade.
Foi apenas o susto e este não foi pequeno.
Serenados os animos e tomando lugar noutra camioneta, os amadores sinistrados regressaram aos seus lares aptos a continuar a sua santa cruzada. (Notícias da Figueira – 06.03)
GRUPO CÉNICO DA SIT
Com a representação, de segunda-feira passada, a favor das crianças francesas, o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense encerrou – e com chave de ouro – a presente época teatral. A próxima época será inaugurada nos primeiros dias de Dezembro próximo, com uma peça nova que vai entrar em ensaios.
Durante a época finda representou o grupo tavaredense seis peças diferentes: quatro portuguesas – Recompensa, A Morgadinha de Valflor, Entre Giestas e O Sonho do Cavador – e duas traduções – A Nossa Casa e O Grande Industrial.
Para fins de beneficência deu o grupo dez representações, a saber: - na Figueira: para o Jardim Escola João de Deus, A Nossa Casa; para os asilos da Obra da Figueira, Recompensa; para o hospital da Santa Casa da Misericórdia, A Morgadinha de Valflor; para as crianças francesas vítimas da guerra e Cruz Vermelha Portuguesa, Entre Giestas. Em Tavarede – para a Junta de Freguesia, com destino ao Natal dos pobres da freguesia, A Nossa Casa. Em Tomar – para a Casa dos Pobres do Concelho de Tomar, O Sonho do Cavador e A Nossa Casa; Em Pombal – para a Obra “Natal dos Pobrezinhos” e Bombeiros Voluntários, O Grande Industrial e O Sonho do Cavador. Em Coimbra – para o Asilo da Infância (Obra do Prof. Doutor Elísio de Moura), A Nossa Casa.
Este registo faz honra à Sociedade de Instrução Tavaredense. (Notícias da Figueira – 10.14)
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