A Sociedade
prosseguia com operetas escritas propositadamente e de carácter local. O Grão-ducado de Tavarede, original de
José Ribeiro, versos de Gaspar de Lemos e música de António Simões, subiu à
cena no dia 23 de Abril de 1927. E se este espectáculo foi mais um enorme
triunfo, igualmente o domingo imediatamente anterior havia sido de festa para
esta colectividade. Joaquim Fernandes Estrada, benemérito figueirense e
admirador desta nossa associação, ofereceu um novo estandarte, artisticamente
bordado pela professora Maria do Céu Guerra, com desenho do pintor figueirense
António da Piedade.
Quanto
à representação da opereta referida, encontrámos a seguinte nota: A revista
Grão-ducado de Tavarede levou ao teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense,
no pretérito sábado, uma enchente completa, vendo-se entre a assistência muitas
pessoas dessa cidade. O espectáculo agradou, podendo dizer-se com verdade, que
causou extraordinária sensação nos espectadores tavaredenses, para os quais
êste género é quasi novidade.
Cena do Conselho de Ministros
A música é
lindíssima, alegre, bem escolhida e perfeitamente ajustada aos personagens e às
situações. António Simões, o distinto amador figueirense, foi
extraordinariamente feliz na partitura do Grão-ducado de Tavarede. A êle
especialmente se deve o êxito da revista.
Os
amadores, áparte naturais deficiências que sempre podem notar-se nestes grupos
de aldeia, souberam dar uma curiosa e, nalguns casos, brilhante interpretação
aos diversos papéis. Idalina Fernandes fez explêndidamente como ninguém faria
melhor, a scena da civilização local em que, na volta do rio, as mulheres se
descompõem; foi graciosa na Maçã e cantou muito bem o fado da Taberna. António
Graça, António Santos e Emilia Monteiro, todos muito bem nos seus papéis. Jaime
Broeiro mostrou-se o bom amador que é no Compadre, no Cavador e no Zé
Borrachão. Dois bons tipos bem reproduzidos: o do Poeta João e O da Batuta,
apresentados por José Vigário e António Broeiro, tendo êste feito também
correctamente um dos Compadres. João Cascão, foi primorosamente no Nabo, no
Café e no Aguilhão, tendo representado com alegria e vivacidade e cantando
muito bem os seus números, brilhando especialmente no Dueto da Hortaliça, com
Alzira Fadigas. Francisco Carvalho e Clementina de Oliveira têm também um bom
dueto no Impedido e a Sopeira, além de outros papéis; esta foi muito aplaudida
na Canção da Árvore, que cantou com linda voz e foi obrigada a bisar. Maria
José da Silva fez muito bem o papel de Brenha, cantando esplêndidamente a sua
parte no terceto com J. Cachulo e F. Rôla, o qual foi também bisado. A. Pinto,
J. Mota e Maria Tereza de Oliveira e os restantes, todos fizeram a sua
obrigação. Os coros muito firmes.
Os
scenários são bons, tendo sido muito apreciados, principalmente o do Inferno e
o das Flores. O quadro da Lavoura, encantou a assistência. Por isso mesmo é de
justiça atribuir ao distinto artista sr. Alberto Correia de Lacerda, que fez as
maquettes e dirigiu a pintura dos scenários uma boa parte do êxito da revista.
Merece também referência especial o guarda-roupa, que é variado, luxuoso e tem
algumas fantasias de belíssimo efeito, pelo que foi muito elogiada a srª. D.
Belmira Pinto dos Santos, que revelou muito bom gôsto na sua confecção.
O
Grão-ducado de Tavarede dá no próximo sábado a sua última récita, o que
equivale a dizer que o teatro vai ter nova enchente à cunha, dado o
extraordinário agrado que a revista alcançou. Alguns números da revista estão
popularizados e começam a ser cantados pelo povo com os seus lindos versos!
Chegada a Páscoa e
conforme já referimos, o Grupo Musical fez a estreia da nova opereta Os cirandeiros. Como
noticiámos, realisou-se no pretérito sábado, 23 do corrente, o anunciado
espectáculo que a Secção Dramática desta florescente agremiação de
Instrução-Musical, levou a efeito naquele dia. Prometemos aos nossos leitores
noticiar as passagens mais interessantes, e que nos merecessem referencias, e
cá estamos cumprindo o prometido.
O
confortavel salão-teatro, pouco depois da hora marcada para o inicio do
espectáculo, principiava a encher-se, havendo grande procura de bilhetes, o que
resultou uma casa completamente cheia. Do desempenho temos a salientar o belo
trabalho de Antonio Santos Junior, que alem de um bom ensaiador, é um dos
principais interpretes da linda opereta “Os Cirandeiros”. Antonio Santos, é um
amador seguro e possue uma garganta excelente, motivos porque foi fartamente
ovacionado. Manuel Nogueira e Silva, soube portar-se à altura dos seus já
creditados méritos de bom amador. Foi a primeira vez que tomou sobre si um
papel de tamanha responsabilidade, mas no entanto soube-o desempenhar
correctamente, exagerando apenas um pouco quando proferia as seguintes frases:
- Ai, Jaquina, Jaquina!. De resto, andou muito bem, e o qual é uma esperança
para o seu Grupo Cénico.
Clarisse
d’Oliveira Cordeiro, mostrou ainda mais uma vez a sua habilidade para o teatro.
Pena foi que por vezes se deixasse embalar pela vaidade. Mas fora estes ápartes
– que sempre se encontram em amadores de aldeia – soube representar o seu papel
com cuidado e esmero. Propositadamente deixámos para o fim a nossa humilde
apreciação sobre a distincta amadora Violinda Nunes Medina e Silva, que, duma
maneira brilhante, soube acarretar mais loiros de boa amadora – loiros estes que
decerto se vão juntar à sua Secção Dramática e ao já glorioso estandarte do
Grupo Musical I. Tavaredense.
Alem
de representar o seu papel com brilho, cantou muito bem as músicas que lhe
foram confiadas, motivo porque foi bisada no Sonho, valsa a solo, e aplaudida
freneticamente nos duetos que cantou com Manuel Nogueira e Antonio Santos. De
resto, todos se esforçaram para bem desempenhar os seus papeis. A música é
excelente. Nos numeros que ornam a linda opereta não há um só que não mereça a
maior atenção.
No final do 2º e ultimo acto da opereta foram feitas chamadas especiaes ao ensaiador, maestro sr. Pinto d’Almeida, Violinda Nunes Medina, Clarisse Cordeiro e Manuel Nogueira, sendo, pelo sr. Antonio Victor Guerra, oferecido um lindo e artistico bouquet de flôres naturaes ao sr. Antonio Santos.
Grupo cénico – Os cirandeiros – foto
tirada na Quinta da Borlateira
Sempre com a esperança da abtenção de
boas receitas, o Grupo Musical resolveu organizar uma garraiada no Coliseu
Figueirense. Foi em Outubro de 1927, mas sobre a mesma não encontrámos mais
notícias.
Cerca de um mês depois, esta
colectividade e o seu teatro sofreram rude perda. O seu amador e fundador José
Medina, faleceu depois de breves dias de doença. Já meses antes, este grupo
cénico tivera outra baixa importante, pois António Medina Júnior, devido à sua
vida profissional, foi viver e trabalhar para Sintra. Eram, à altura, dois dos
principais amadores masculinos, pelo que foi bastante sensivel a sua falta.
Por sua vez a Sociedade continuava com as suas suas
actuações e preparou um espectáculo para o seu 24º aniversário. Seguindo o
costume anterior, do programa constou nova fantasia, escrita por José Ribeiro e
musicada por António Simões. Chamou-se Retalhos
e fitas.
Para ensaiar o seu teatro, o Grupo Musical obteve a
colaboração de Raul Martins, que teve a sua estreia no dia 7 de Abril, sábado
de Aleluia. Raul Martins, que toda a
Figueira conhece, foi de uma extraordinária felicidade na feitura da sua
lindissima opereta, que intitulou de Noite de Santo Antonio. Polvilhada duma
fina graça e de duetos maravilhosos, possue um enredo raro, que muito desperta
a atenção do espectador. Antonio Amargo, emprestou-lhe tambem parte do seu
talento, com os primorosos versos com que se distingue.
A
música, da auctoria do talentoso musico, Herculano Rocha, é maravilhosa. Entre
16 números com que ornou a opereta Noite de Santo Antonio, não há um só que não
nos suavise os ouvidos, e desperte a nossa curiosidade. No entanto é de
salientar o côro Malmequeres, e os duetos cantados por Violinda Medina e Raul
Martins, respectivamente Alice e Julio.
No
desempenho salienta-se o trabalho de Violinda Medina, Raul Martins, que
receberam uma salva de palmas quando entraram em scena, Clarisse d’Oliveira,
Adriano Silva, Manuel Nogueira, Manuel Cordeiro, e, emfim, todos os outros
amadores, que tentaram sempre imprimir ao desempenho um cunho verdadeiramente
admiravel.
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