sábado, 24 de agosto de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 37

Em espectáculo com a receita a reverter para a Santa Casa da Misericórdia, a Sociedade foi ao Casino Peninsular com a fantasia O sonho do cavador. A lotação esgotou, ficando mesmo muitas pessoas sem ver a peça por não conseguirem bilhetes. E no Grupo foi prestada homenagem a sua amadora Violinda Medina. Confórme aqui noticiámos, teve lugar no ultimo domingo, perante uma numerosissima e distincta assistencia, a récita de homenagem à consagrada amadora deste Grupo, D. Violinda Medina e Silva, e em que subiu à scena, a interessante opereta em 3 actos, Entre Duas Avé-Marias, da qual é auctor o sr. Ernesto Donato.
         Pode bem gabar-se a brilhante Secção Dramática desta colectividade, que conseguiu neste dia, mais um triunfo para o seu nome. 

  
                                                 Na peça Mãe Maria
  
         Violinda Medina, a distincta amadora do Grupo Musical e d’Instrução, bem mereceu esta homenagem com que a Direcção desta colectividade a quis galardoar, pois o seu esforço e dedicação, são o mais evidente incentivo para os novos, para aqueles que principiam a desabrochar para a vida, e que teem o dever de seguir-lhe os passos, porque não fazem nem mais nem menos, do que cumprir um dever que se lhes impõe.
         O seu amôr pelo Grupo Musical é grande, muito grande mesmo, e é com essa grandiosidade, que tem colhido loiros que honram e glorificam não só o nome da Secção Dramática a que pertence, - mas ainda, e muito especialmente, o seu nome de distincta amadora.
         Raul Martins tambem merece duas palavras de enaltecimento pelas qualidades brilhantes que o caracterisam e que tem dispensado a este baluarte do desenvolvimento da instrução na nossa terra, o melhor do seu apoio tanto moral como material, pelo que, em nome da sua direcção, aqui lhe consignamos os nossos melhores e mais sinceros agradecimentos.
         Voltamos a falar da “Festa Artistica”, que aqui teve lugar no passado dia 27.
         Uma distincta assistência enchia completamente a elegante sala, vendo-se na sua grande maioria, pessoas da Figueira, que saudaram com uma grande salva de palmas a entrada da homenageada em scena, assim como a todos os amadores, sendo bisados alguns numeros.
         No final do segundo acto, apareceu no palco um dos directores que, em nome da Direcção da sua colectividade, ofereceu a Violinda Medina um artistico objecto d’oiro, o que a assistência aplaudiu.
         Severo Biscaia associa-se tambem a esta homenagem tendo elogiado a homenageada em seu nome pessoal, e em nome da Secção Dramática do Ginásio Club Figueirense, que representava.
         E para terminar, tambem cabem duas palavras a Herculano Rocha, que foi tambem um dos grandes elementos que concorreu para o brilhantismo da representação das Avé-Marias. A seguir, teve lugar o baile, que esteve concorridissimo e que terminou perto das 3 horas de segunda-feira.

         Diversificando a sua actividade, a Sociedade resolveu promover um certame agrícola – pomícola, com as seguintes secções: 1ª Secção – Raíses e tubérculos – Batatas, batata-doce, topinambo, nabos, rábanos, rabanetes, beterrabas, cenouras, cebolas, cebolinho, alhos, etc. 2ª Secção – Caule e fôlhas – Couves, acelgas, alfaces, cardos, espargos, ruibarbo, azêdas, espinafres, chicórias, salsas, aipo, agriões, mostarda, etc. 3ª Secção – Flôres e frutos – Abóboras, melões, melancias, pepinos, favas, ervilhas, lentilhas, feijões, tomates, alcachofras, beringelas, pimentos, morangos, groselhas, framboesas, pêras, maçãs, pêssegos, uvas, figos, ameixas, alperces, nêsperas, flores de ornamento para venda, etc. 4ª Secção – Cultura – Arranjo das culturas – canteiros, irrigações, sementeiras, plantações, aproveitamento de estrumes, etc.
         Prémios – Haverá para secção, e em cada sessão, um prémio, um “acessit” e uma menção honrosa com respectivos diplomas e uma pequena remuneração pecuniária correspondente, que ulteriormente será fixada.
         Júri – O Júri será nomeado oportunamente e deverá visitar os campos de cultura, não só para fazer a classificação da 4ª secção, mas também para verificar, em relação às 1ª, 2ª e 3ª secções, se os produtos apresentados são na verdade de produção corrente e não excepcional para êste certame, o que não deve ser considerado. O Júri terá em consideração, na classificação dos concorrentes, não só a qualidade mas também o número de produtos apresentados.
         Inscrição – Torna-se necessário que os agricultores que pretendam concorrer se inscrevam até ao dia 30 de Maio em relação à primeira sessão e até 3l de Agosto em relação à segunda.
         Notas – Podem concorrer todos os agricultores do concelho que o desejarem fazer, mas só os da freguesia de Tavarede poderão ser classificados nêste certame.

         E, uma vez mais, vamos ter de recuar um pouco. Os encargos financeiros assumidos com as obras, apesar de todos os esforços encetados, não haviam consentido que o Grupo amortizasse qualquer importância à letra de 10 contos, referente à metade do custo do edifício. A outra metade havia sido paga em dinheiro conseguido com a subscrição dos sócios de obrigações do valor de 50$00 cada. Nem espectáculos teatrais, nem festas e bailes, garraiadas, peditórios nas festas populares de Tavarede, etc., haviam produzido verbas que permitissem fazê-lo. A própria experiência feita com a projecção de filmes, ao princípio com resultados tão promissores, acabou por ainda complicar mais a situação, uma vez que os encargos assumidos com a aquisição da respectiva máquina e acessórios, não foram cumpridos, ainda mais se agravando quando a máquina avariou e não conseguiram a troca por outra, por falta de financiamento.

         Tudo se complicou muito mais, quando a Direcção recebeu uma carta do seu sócio protector e benemérito Manuel da Silva Jordão, vendedor do edifício da sede, avisando que a letra entregue aquando da compra, se vencia no dia 10 de Novembro de 1928 e que desejava a sua liquidação. Antes de responderem tentaram fazer uma hipoteca do prédio e trataram de fazer um pormenorizado estudo para apuramento da total situação devedora. E como se impunha a liquidação da letra, foi conseguido o desconto de uma letra de 12 contos, no Banco Nacional Ultramarino, sendo saque de António Medina, aceite de António de Oliveira Lopes e avalisada por João de Oliveira e José Maria Costa.

         O estudo efectuado, indicou que os débitos totais somavam cerca de 33 000$00. Em Assembleia Geral extraordinária, o então presidente da Direcção, aceitante daquela letra, propôs a efectivação de um empréstimo a fazer junto dos sócios. Mas, depois de debatido o assunto, acabou por ser deliberado e aprovado o seguinte: A Assembleia Geral reunida extraordinariamente, a pedido da Direcção para tratar do contraimento de um empréstimo único, cujo fim é destinado a solver todos os outros débitos, resolve dar plenos poderes à Direcção, na pessoa do seu presidente, para obter, nas melhores condições para este Grupo, um empréstimo de 30 contos, sobre hipoteca do prédio que é propriedade e sede do Grupo, juntando-se a esta garantia, caso seja necessária, a responsabilidade dos nossos dedicados sócios srs. José Maria Costa, João de Oliveira, António Medina e António Oliveira Lopes.

         Em reunião da Direcção, em Março de 1929, o presidente informou que a letra e respectivos juros, no montante total de 11 319$30, já havia sido liquidada, mas, ao mesmo apresentou uma proposta para que o sócio Manuel da Silva Jordão fosse suspenso de sócio até à primeira Assembleia Geral, pela qual deverá ser demitido, pois não só difamou o Grupo como menosprezou a honorabilidade de todos os componentes da Direcção, acrescentado ainda que de imediato fosse retirada, da sala de espectáculos, a sua fotografia.

         Faltam-nos elementos para ajuizar devidamente todos estes factos. Não se sabe o que se terá passado, mas a verdade é que o referido sr. Jordão cedeu, gratuitamente, a casa de 1914 a 1923, vendeu-a depois recebendo apenas, em dinheiro, metade do valor acordado e a outra metade em letra, que acabaria por nunca sofrer qualquer amortização até 1928, data em que, imprevistamente, exigiu a sua liquidação total, resultando de tudo isto que, de sócio benemérito, passou a difamador da associação, acabando por ser demitido. Registemos, todavia, que tal demissão nunca chegou a ser concretizada.

         No entanto, a história é ainda mais complexa. Para nos baralhar mais, o relatório já mencionado, indica uma hipoteca de 31 130$00, proveniente de um empréstimo conseguido no Crédito Predial, garantido pelos já referidos sócios, e vencendo um juro de cerca de 15% ao ano. Incomportável para o Grupo, houve necessidade imediata de tentar contrair um outro empréstimo em melhores condições. Tal não foi conseguido, pelo que em nova Assembleia Geral extraordinária, em Junho de 1930, foi resolvido aceitar uma proposta do sócio António Oliveira Lopes para a compra do edifício por 25 contos, ficando assente que o Grupo ficaria como inquilino mediante uma renda mensal de 166$70, ficando ainda com o direito de opção em caso de venda. Os mesmos já referidos sócios, assumiram o encargo de regularizar os restantes débitos do Grupo.

         Fiquemos, por agora, em Junho de 1930, com o Grupo na sua nova condição de inquilino, e regressemos às suas actividades culturais e recreativas. A opereta Entre duas Avé-Marias foi um novo êxito, artístico e não financeiro. Em primeiro logar, é dever nosso citar o nome de Herculano Rocha, êsse verdadeiro artista de génio que, como regente da orquestra, foi um dos elementos que mais contribuiu para o explendido exito que mais uma vez obtiveram os distinctos amadores do G.M.I.T.
         A seu lado colocamos Rosa, a aldeã, papel interpretado por D. Violinda Medina e Silva, para mim, a melhor, a mais completa amadora do nosso concelho. Quando é preciso chorar, fá-lo com tal sentimento, que nos comove; e quando é preciso rir, tambem o faz com aquela graça com que só artistas de nome o sabem fazer. E a tudo isto alia um timbre de voz unico, perfeito, que encanta e seduz uma plateia inteira. Para ela, para essa excelente amadora, vão os nossos mais sinceros parabens.
         André, desempenhado por José Silva, foi admirável em todas as scenas. Boa voz, optimo gesto e com um á vontade proprio dum homem d’aldeia que tem caixa do correio e Retiro dos pacatos. Zé Cochicho, por Jorge Medina, muito bom, o que não admira porque é filho de peixe... e está tudo dito. Narcizo, por Manuel Cordeiro, bem; é um dos amadores novos, mas de recursos para o palco. Mordomo, gostámos. É um personagem que requere um certo esfôrço para dele se tirar partido, e António Medina conseguiu-o sem dificuldades.
         O Carteiro, muito bem por João Nogueira; pena é que a sua voz não possa elevar-se mais, de resto andou em tudo admiravelmente. Jorge, por Manuel Nogueira, foi correcto; mas devemos confessar que o encontramos um pouco deslocado do seu temperamento. Este, é um dos bons amadores tavaredenses, mas... como dizemos, o papel que desempenhou agora, não lhe está muito a caracter. O Morgado, foi interpretado com aquele rigor absoluto, único, que só nos grandes amadores, como Raul Martins, se pode encontrar.
         Propositadamente, deixamos para o fim o Aniceto Boticario, papel desempenhado por Adriano Silva, de quem não gostamos muito. Para que muda este cavalheiro de voz? Porque não fala naturalmente? Se assim fizesse, teria brilhado muito mais, visto ter explendidas qualidades para a arte de Talma.

         Nos finaes de acto, houve chamadas especiaes ao Ensaiador, e Herculano Rocha, e a D. Violinda Medina, tendo a Direcção no final do 2º. acto oferecido a estes elementos bouquets de flores naturaes. E eis, caros leitores, a opinião que formulei acerca da opereta Entre duas Avé-Marias, levada á scena por um dos mais completos grupos dramaticos do concelho desta linda cidade.

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