Em
espectáculo com a receita a reverter para a Santa Casa da Misericórdia, a
Sociedade foi ao Casino Peninsular com a fantasia O sonho do cavador. A lotação esgotou, ficando mesmo muitas pessoas
sem ver a peça por não conseguirem bilhetes. E no Grupo foi prestada homenagem
a sua amadora Violinda Medina. Confórme
aqui noticiámos, teve lugar no ultimo domingo, perante uma numerosissima e
distincta assistencia, a récita de homenagem à consagrada amadora deste Grupo,
D. Violinda Medina e Silva, e em que subiu à scena, a interessante opereta em 3
actos, Entre Duas Avé-Marias, da qual é auctor o sr. Ernesto Donato.
Pode
bem gabar-se a brilhante Secção Dramática desta colectividade, que conseguiu
neste dia, mais um triunfo para o seu nome.
Na peça Mãe
Maria
Violinda
Medina, a distincta amadora do Grupo Musical e d’Instrução, bem mereceu esta
homenagem com que a Direcção desta colectividade a quis galardoar, pois o seu
esforço e dedicação, são o mais evidente incentivo para os novos, para aqueles
que principiam a desabrochar para a vida, e que teem o dever de seguir-lhe os
passos, porque não fazem nem mais nem menos, do que cumprir um dever que se
lhes impõe.
O
seu amôr pelo Grupo Musical é grande, muito grande mesmo, e é com essa
grandiosidade, que tem colhido loiros que honram e glorificam não só o nome da
Secção Dramática a que pertence, - mas ainda, e muito especialmente, o seu nome
de distincta amadora.
Raul
Martins tambem merece duas palavras de enaltecimento pelas qualidades
brilhantes que o caracterisam e que tem dispensado a este baluarte do
desenvolvimento da instrução na nossa terra, o melhor do seu apoio tanto moral
como material, pelo que, em nome da sua direcção, aqui lhe consignamos os
nossos melhores e mais sinceros agradecimentos.
Voltamos
a falar da “Festa Artistica”, que aqui teve lugar no passado dia 27.
Uma
distincta assistência enchia completamente a elegante sala, vendo-se na sua grande
maioria, pessoas da Figueira, que saudaram com uma grande salva de palmas a
entrada da homenageada em scena, assim como a todos os amadores, sendo bisados
alguns numeros.
No
final do segundo acto, apareceu no palco um dos directores que, em nome da Direcção
da sua colectividade, ofereceu a Violinda Medina um artistico objecto d’oiro, o
que a assistência aplaudiu.
Severo
Biscaia associa-se tambem a esta homenagem tendo elogiado a homenageada em seu
nome pessoal, e em nome da Secção Dramática do Ginásio Club Figueirense, que
representava.
E
para terminar, tambem cabem duas palavras a Herculano Rocha, que foi tambem um
dos grandes elementos que concorreu para o brilhantismo da representação das
Avé-Marias. A seguir, teve lugar o baile, que esteve concorridissimo e que
terminou perto das 3 horas de segunda-feira.
Diversificando a sua actividade, a Sociedade resolveu
promover um certame agrícola – pomícola, com as seguintes secções: 1ª Secção – Raíses e tubérculos – Batatas,
batata-doce, topinambo, nabos, rábanos, rabanetes, beterrabas, cenouras,
cebolas, cebolinho, alhos, etc. 2ª Secção – Caule e fôlhas – Couves, acelgas,
alfaces, cardos, espargos, ruibarbo, azêdas, espinafres, chicórias, salsas,
aipo, agriões, mostarda, etc. 3ª Secção – Flôres e frutos – Abóboras, melões,
melancias, pepinos, favas, ervilhas, lentilhas, feijões, tomates, alcachofras,
beringelas, pimentos, morangos, groselhas, framboesas, pêras, maçãs, pêssegos,
uvas, figos, ameixas, alperces, nêsperas, flores de ornamento para venda, etc. 4ª
Secção – Cultura – Arranjo das culturas – canteiros, irrigações, sementeiras,
plantações, aproveitamento de estrumes, etc.
Prémios
– Haverá para secção, e em cada sessão, um prémio, um “acessit” e uma menção
honrosa com respectivos diplomas e uma pequena remuneração pecuniária
correspondente, que ulteriormente será fixada.
Júri – O
Júri será nomeado oportunamente e deverá visitar os campos de cultura, não só
para fazer a classificação da 4ª secção, mas também para verificar, em relação
às 1ª, 2ª e 3ª secções, se os produtos apresentados são na verdade de produção
corrente e não excepcional para êste certame, o que não deve ser considerado. O
Júri terá em consideração, na classificação dos concorrentes, não só a
qualidade mas também o número de produtos apresentados.
Inscrição
– Torna-se necessário que os agricultores que pretendam concorrer se inscrevam
até ao dia 30 de Maio em relação à primeira sessão e até 3l de Agosto em
relação à segunda.
Notas –
Podem concorrer todos os agricultores do concelho que o desejarem fazer, mas só
os da freguesia de Tavarede poderão ser classificados nêste certame.
E, uma vez mais,
vamos ter de recuar um pouco. Os encargos financeiros assumidos com as obras,
apesar de todos os esforços encetados, não haviam consentido que o Grupo
amortizasse qualquer importância à letra de 10 contos, referente à metade do
custo do edifício. A outra metade havia sido paga em dinheiro conseguido com a
subscrição dos sócios de obrigações do valor de 50$00 cada. Nem espectáculos
teatrais, nem festas e bailes, garraiadas, peditórios nas festas populares de
Tavarede, etc., haviam produzido verbas que permitissem fazê-lo. A própria
experiência feita com a projecção de filmes, ao princípio com resultados tão
promissores, acabou por ainda complicar mais a situação, uma vez que os
encargos assumidos com a aquisição da respectiva máquina e acessórios, não
foram cumpridos, ainda mais se agravando quando a máquina avariou e não
conseguiram a troca por outra, por falta de financiamento.
Tudo se complicou
muito mais, quando a Direcção recebeu uma carta do seu sócio protector e
benemérito Manuel da Silva Jordão, vendedor do edifício da sede, avisando que a
letra entregue aquando da compra, se vencia no dia 10 de Novembro de 1928 e que
desejava a sua liquidação. Antes de responderem tentaram fazer uma hipoteca do
prédio e trataram de fazer um pormenorizado estudo para apuramento da total
situação devedora. E como se impunha a liquidação da letra, foi conseguido o
desconto de uma letra de 12 contos, no Banco Nacional Ultramarino, sendo saque
de António Medina, aceite de António de Oliveira Lopes e avalisada por João de
Oliveira e José Maria Costa.
O estudo efectuado,
indicou que os débitos totais somavam cerca de 33 000$00. Em Assembleia Geral
extraordinária, o então presidente da Direcção, aceitante daquela letra, propôs
a efectivação de um empréstimo a fazer junto dos sócios. Mas, depois de
debatido o assunto, acabou por ser deliberado e aprovado o seguinte: A Assembleia Geral reunida
extraordinariamente, a pedido da Direcção para tratar do contraimento de um
empréstimo único, cujo fim é destinado a solver todos os outros débitos,
resolve dar plenos poderes à Direcção, na pessoa do seu presidente, para obter,
nas melhores condições para este Grupo, um empréstimo de 30 contos, sobre
hipoteca do prédio que é propriedade e sede do Grupo, juntando-se a esta
garantia, caso seja necessária, a responsabilidade dos nossos dedicados sócios
srs. José Maria Costa, João de Oliveira, António Medina e António Oliveira Lopes.
Em reunião da
Direcção, em Março de 1929, o presidente informou que a letra e respectivos
juros, no montante total de 11 319$30, já havia sido liquidada, mas, ao mesmo
apresentou uma proposta para que o sócio
Manuel da Silva Jordão fosse suspenso de sócio até à primeira Assembleia Geral,
pela qual deverá ser demitido, pois não só difamou o Grupo como menosprezou a
honorabilidade de todos os componentes da Direcção, acrescentado ainda que de imediato fosse retirada, da sala de
espectáculos, a sua fotografia.
Faltam-nos elementos
para ajuizar devidamente todos estes factos. Não se sabe o que se terá passado,
mas a verdade é que o referido sr. Jordão cedeu, gratuitamente, a casa de 1914
a 1923, vendeu-a depois recebendo apenas, em dinheiro, metade do valor acordado
e a outra metade em letra, que acabaria por nunca sofrer qualquer amortização
até 1928, data em que, imprevistamente, exigiu a sua liquidação total, resultando
de tudo isto que, de sócio benemérito, passou a difamador da associação,
acabando por ser demitido. Registemos, todavia, que tal demissão nunca chegou a
ser concretizada.
No entanto, a
história é ainda mais complexa. Para nos baralhar mais, o relatório já
mencionado, indica uma hipoteca de 31 130$00, proveniente de um empréstimo conseguido
no Crédito Predial, garantido pelos já referidos sócios, e vencendo um juro de
cerca de 15% ao ano. Incomportável para o Grupo, houve necessidade imediata de
tentar contrair um outro empréstimo em melhores condições. Tal não foi
conseguido, pelo que em nova Assembleia Geral extraordinária, em Junho de 1930,
foi resolvido aceitar uma proposta do sócio António Oliveira Lopes para a
compra do edifício por 25 contos, ficando assente que o Grupo ficaria como
inquilino mediante uma renda mensal de 166$70, ficando ainda com o direito de
opção em caso de venda. Os mesmos já referidos sócios, assumiram o encargo de
regularizar os restantes débitos do Grupo.
Fiquemos, por agora,
em Junho de 1930, com o Grupo na sua nova condição de inquilino, e regressemos
às suas actividades culturais e recreativas. A opereta Entre duas Avé-Marias foi um novo êxito, artístico e não
financeiro. Em primeiro logar, é dever nosso citar o nome de
Herculano Rocha, êsse verdadeiro artista de génio que, como regente da
orquestra, foi um dos elementos que mais contribuiu para o explendido exito que
mais uma vez obtiveram os distinctos amadores do G.M.I.T.
A
seu lado colocamos Rosa, a aldeã, papel interpretado por D. Violinda Medina e
Silva, para mim, a melhor, a mais completa amadora do nosso concelho. Quando é
preciso chorar, fá-lo com tal sentimento, que nos comove; e quando é preciso
rir, tambem o faz com aquela graça com que só artistas de nome o sabem fazer. E
a tudo isto alia um timbre de voz unico, perfeito, que encanta e seduz uma
plateia inteira. Para ela, para essa excelente amadora, vão os nossos mais
sinceros parabens.
André,
desempenhado por José Silva, foi admirável em todas as scenas. Boa voz, optimo
gesto e com um á vontade proprio dum homem d’aldeia que tem caixa do correio e
Retiro dos pacatos. Zé Cochicho, por Jorge Medina, muito bom, o que não admira
porque é filho de peixe... e está tudo dito. Narcizo, por Manuel Cordeiro, bem;
é um dos amadores novos, mas de recursos para o palco. Mordomo, gostámos. É um
personagem que requere um certo esfôrço para dele se tirar partido, e António
Medina conseguiu-o sem dificuldades.
O
Carteiro, muito bem por João Nogueira; pena é que a sua voz não possa elevar-se
mais, de resto andou em tudo admiravelmente. Jorge, por Manuel Nogueira, foi
correcto; mas devemos confessar que o encontramos um pouco deslocado do seu
temperamento. Este, é um dos bons amadores tavaredenses, mas... como dizemos, o
papel que desempenhou agora, não lhe está muito a caracter. O Morgado, foi
interpretado com aquele rigor absoluto, único, que só nos grandes amadores,
como Raul Martins, se pode encontrar.
Propositadamente,
deixamos para o fim o Aniceto Boticario, papel desempenhado por Adriano Silva,
de quem não gostamos muito. Para que muda este cavalheiro de voz? Porque não
fala naturalmente? Se assim fizesse, teria brilhado muito mais, visto ter
explendidas qualidades para a arte de Talma.
Nos
finaes de acto, houve chamadas especiaes ao Ensaiador, e Herculano Rocha, e a
D. Violinda Medina, tendo a Direcção no final do 2º. acto oferecido a estes
elementos bouquets de flores naturaes. E eis, caros leitores, a opinião que
formulei acerca da opereta Entre duas Avé-Marias, levada á scena por um dos
mais completos grupos dramaticos do concelho desta linda cidade.
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