O teatro da Sociedade, tendo alcançado
enorme êxito com a peça Os fidalgos da
Casa Mourisca, continuou com o teatro de características populares,
apresentando As pupilas do Senhor Reitor,
igualmente numa adaptação do romance homónimo de Júlio Diniz. O excelente grupo cénico da Sociedade de
Instrução Tavaredense obteve no sábado um novo e grande triunfo, aliás já
previsto; a opereta As Pupilas do Sr. Reitor, fica no seu reportório, depois
dos Fidalgos da Casa Mourisca, como um belo êxito artístico.
O grupo cénico da SIT em 1928
Guarda-roupa a
rigor e cenários de belo efeito – três cenas diferentes pintadas pelo distinto
artista sr. R. Reynaud (a cena do 4º quadro só no próximo espectáculo pode ser
apresentada). A música é lindíssima, bem portuguesa, com a assinatura do grande
e saudoso maestro Felipe Duarte, que valorizou extraordinariamente a adaptação
do experimentado escritor teatral Penha Coutinho. Pena foi que o número de
abertura – a linda canção das lavadeiras – saísse com desafinação nas vozes, o
que foi devido ao nervosismo com que o espectáculo começou a hora tardíssima
(passava das 23!) por virtude da demora na montagem do cenário. O dueto das
duas pupilas no 1º acto, foi magistralmente cantado por Emília Monteiro e
Violinda Medina, que ouviram uma grande ovação; depois o grande concertante – a
chegada do novo médico – difícil e de belo efeito, também aplaudido sem favor,
e o côro final. No 2º acto dominou a Canção da Cabreira, em que sobressaiu a
esplêndida voz de Violinda acompanhada pelo côro – quatro vozes – que arrebatou
a assistência. Poucas vezes se tem feito neste teatro tão demorada e calorosa
ovação. Outros números ainda foram aplaudidos e todos os restantes coros foram
cantados com perfeita afinação.
Merecem referência as caracterizações
de António Esteves, felicíssimas.
Para o belo êxito das Pupilas
contribuíram, além dos elementos citados, muitas dedicações desinteressadas e a
competência e bom gôsto de dedicados amigos da SIT. É nosso dever registar os
nomes de António Simões, que regeu a excelente orquestra – constituída por
amadores mas formando um conjunto que se ouve com prazer – e dirigiu
superiormente tôda a parte musical; José Medina, que ensaiou as vozes, dispendendo
um esfôrço enorme em que foi ajudado por José Silva e Jerónimo Ferreira; e D.
Belmira Pinto dos Santos e Pedro Campos Santos, que dirigiram a execução do
guarda-roupa.
Depois do espectáculo inaugural, o
Grémio Educativo continuou com o teatro. Como
estava anunciado, realizou-se no último domingo, na séde dêstre Grémio, um
magnífico espectáculo, “reprise” das festejadas peças que constituiram a récita
de gala da sua inauguração oficial, o qual marcou novamente pela novidade que
representa em Tavarede.
A casa estava repleta, verdadeiramente
à cunha, como se diz em gíria teatral, e apezar de terem sido distribuidos
muitos convites extra lotação, não foi possivel satisfazer numerosos pedidos
feitos á última hora.
Os jovens amadores, mais uma vez entusiásticamente
ovacionados, foram muito além do que havia a esperar da sua inexperiência.
Apezar de ser a segunda vez que pisam o palco, houveram-se com um brilho raro
muitas vezes em pessoas experimentadas. Alguns dêles são mais do que uma
prometedora esperança. São uma realidade palpável. Com as vocações reveladas,
pode orgulhar-se o Grémio de ter resolvido a sua questão do teatro.
No final do espectáculo, o público fez
uma chamada especial ao ensaiador, sr. Raul Martins, em que lhe manifestou a
sua admiração pela rara tenacidade e proficiência de que deu prova na encenação
das referidas peças.
Em Junho de 1932, o grupo cénico da
Sociedade de Instrução realizou segunda visita a Tomar. A visita da Sociedade de Instrução Tavaredense constituiu por assim
dizer o maior acontecimento que ultimamente aqui se tem registado.
Já o fim altruísta que trazia a Tomar
tão simpática Sociedade, já porque ainda não tinham sido esquecidas as
magníficas impressões deixadas há dois anos, tudo contribuiu para o bom acolhimento
que aos tavaredenses foi dispensado e para o entusiasmo que durante dois dias
se observou pela estada entre nós de tão amáveis visitantes.
Conforme fôra anunciado, a Sociedade de
Instrução Tavaredense chegou a Tomar pelas 15 horas de sábado. O grupo era
constituído por mais de 80 pessoas.
Na estação do caminho de ferro, além de
muitos amigos, correspondentes dos jornais e povo, aguardava os visitantes a
Comissão da Sopa dos Pobres, presidida pelo sr. capitão Jesus.
Depois de feitas as apresentações e
dadas as boas-vindas, dirigiram-se para os hotéis que lhes estavam reservados.
Ao fim da tarde chegaram vários
automóveis e uma camioneta com muitas pessoas e famílias que aproveitavam esta
oportunidade para visitar a nossa terra. Entre outras pessoas vimos os srs.:
dr. José Cruz, dr. Manuel Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, Firmino Cunha,
Fernando Reis, Francisco Freitas Lopes, Eduardo Soares Catita, Araújo, Carlos
Traveira, etc. etc.
Refeitos da viagem, espalharam-se pouco
depois pela cidade, visitando o que temos digno de mensão.
Pelas 20 horas foram cumprimentados
pela Sociedade Filarmónica Gualdim Pais no Hotel Nabão e pelas direcções das
nossas sociedades de recreio.
À noite representou-se no teatro a
linda opereta As Pupilas do Sr. Reitor, que agradou bastante. Aos principais
intérpretes da peça foram oferecidos ramos de flores e a assistência aplaudiu
calorosamente e fez chamadas especiais.
No domingo, a-pesar-da chuva que caíu
quási tôda a manhã, continuaram as visitas aos nossos monumentos.
Às 14 horas houve no Grémio Artístico
uma matinée e um “Pôrto-de-Honra” oferecidos à Sociedade de Instrução
Tavaredense.
Foi uma festa cheia de alegria e
entusiasmo, de perfeita confraternização entre tomarenses e visitantes.
Dançou-se animadamente, até às 20
horas. Enquanto no salão de baile se servia um chá às senhoras, num outro salão
era servido o “Pôrto-de-Honra”. Usaram da palavra os srs. dr. José Cruz, dr.
Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, dr. Manuel Gomes Cruz, António Medina Júnior
e os tomarenses António Duarte Faustino e Domingos Vístulo, que puseram em
relêvo o significado desta visita e as consequências que dela resultam para a
Figueira e Tomar com tão amistosas relações. Trocaram-se muitos e entusiásticos
brindes, ouvindo-se, por vezes, aclamações calorosíssimas.
À noite realizou-se o segundo
espectáculo, com Os Fidalgos da Casa Mourisca.
Se a impressão deixada pelas Pupilas do
Sr. Reitor tinha sido boa, a dos Fidalgos da Casa Mourisca ultrapassou tudo que
se possa imaginar. À medida que a peça ia decorrendo, ia também por sua vez
subindo a admiração do público pelo que estava observando. O cuidado da
montagem das cenas, a forma de dizer dos distintos amadores, a perfeita
interpretação de A Broeiro (D. Luís), de D. Violinda Medina e Silva (Baronesa),
D. Emília Monteiro (Berta), D. Maria Teresa (Ana do Vedor), António Graça (Frei
Januário), Nogueira e Cascão nos filhos do velho fidalgo, etc., formando um
conjunto primoroso, que dava motivo a que a assistência, como que electrizada
pelo que estava vendo, aplaudisse com entusiasmo e dissesse com justiça:
parecem artistas e não amadores!
Num intervalo alguns amadores de S.
Martinho do Pôrto, com o seu ensaiador, também um distinto amador de teatro o
professor de ensino secundário naquela vila, foi ao palco saudar o grupo
tavaredense e oferecer flores às amadoras. O discurso proferido pelo ensaiador
do grupo de S. Martinho do Pôrto, no qual se afirmava muita admiração pela
forma invulgarmente brilhante como se estava representando a peça e se elogiava
a Sociedade de Instrução Tavaredense pela sua formidável obra educativa,
arrancou à assistência, que enchia completamente o teatro, novas e prolongadas
ovações.
Em
seguida, a Comissão da Sopa dos Pobres, à frente da qual estava o sr. capitão
Jesus, veio ao palco agradecer a todos os tavaredenses o seu cativante
desinterêsse e a sua amabilidade em virem até nós cooperar na grande obra de
assistência em que se encontravam empenhados. Estas palavras foram cobertas de
ovações calorosíssimas. Tôda a sala, repleta, vibrava de entusiasmo. As ovações
repetiram-se quando o director do grupo cénico tavaredense, nosso amigo sr.
José Ribeiro, agradeceu.
Muitas flores, muitos aplausos e
sobretudo muito entusiasmo e carinho, tudo dá motivo a que possamos afirmar
terem deixado nos tomarenses as melhores impressões os dois brilhantes
espectáculos que, numa hora feliz, a Sociedade de Instrução Tavaredense veio
dar à nossa cidade.
Na primeira noite, a bem constituída
orquestra que o distinto amador figueirense sr. António Simões nos apresentou,
e que tão apreciada foi, executou, a abrir, numa simpática homenagem à nossa
terra, o hino de Tomar.
Terminado o espectáculo de domingo
realizou-se um baile no Grémio Artístico, que se prolongou até às 4 e meia de
segunda-feira.
Os nossos simpáticos visitantes
retiraram na segunda-feira, bem impressionados com o acolhimento que tiveram em
Tomar, e os tomarenses viram-nos partir com saudade.
Daqui felicitamos a simpática Sociedade
de Instrução Tavaredense.
=À vinda
para Tomar, uma surprêsa aguardava os nossos visitantes em Caxarias: na gare da
estação estavam as crianças da escola daquele lugar, tôdas levando flores e
acompanhadas da nossa patrícia srª D. Iria da Fonseca Baptista e da srª D. Maria Cristina Trezentos, a cuja inteligente
acção e belo espírito se deve a realização da récita infantil realizada em
Caxarias e de que então demos notícia. Acompanhavam-nas ainda outras pessoas. À
chegada do combóio, a srª D. Iria Baptista fez as apresentações e dirigiu
saudações ao simpático grupo tavaredense, saudações que o director do grupo
agradeceu com palavras de admiração pela obra daquelas senhoras e dos seus
cooperadores. Às intérpretes das duas Pupilas foram oferecidos lindos ramos de
cravos, bem como ao director do grupo, que por todos agradeceu, sensibilizado.
No momento do combóio prosseguir a marcha, ergueram-se vivas calorosos aos
tavaredenses e ao povo de Caxarias.
=
Alguns rapazes tomarenses foram de automóvel, na segunda-feira, à estação de
Chão das Maçãs, e ali esperaram o combóio que conduzia à Figueira os nossos
visitantes, levando-lhes ramos de flores, o que deu origem a novas
manifestações de carinhosa simpatia.
O grupo cénico da SIT - 1ª. deslocação a Tomar
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