sábado, 9 de novembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 48

         O teatro da Sociedade, tendo alcançado enorme êxito com a peça Os fidalgos da Casa Mourisca, continuou com o teatro de características populares, apresentando As pupilas do Senhor Reitor, igualmente numa adaptação do romance homónimo de Júlio Diniz. O excelente grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense obteve no sábado um novo e grande triunfo, aliás já previsto; a opereta As Pupilas do Sr. Reitor, fica no seu reportório, depois dos Fidalgos da Casa Mourisca, como um belo êxito artístico.

         A interpretação foi sempre boa, das primeiras figuras às simples rábulas, num conjunto harmonioso e brilhante. Nas duas protagonistas vimos duas amadoras distintas: Emília Monteiro na triste Margarida, e Violinda Medina e Silva, na alegre Clara, a que deu a precisa vivacidade – ambas primorosamente. João Semana encontrou em António Graça o intérprete perfeito, o mesmo devendo dizer-se de Jaime Broeiro, no José das Dornas – dois tipos magistralmente desenhados, representação alegre, dando os efeitos cómicos com a maior naturalidade, sem um exagêro. António Broeiro compôs a primor a figura do bondoso Reitor, João Cascão e Manuel Nogueira, deram o carácter próprio ao rústico Pedro e ao volúvel Daniel. Maria Teresa fez com justo sabor as duas características – a mulher do tendeiro e a criada do João Semana; e F. Carvalho tem no João da Esquina um dos melhores papéis que lhe conhecemos. Uma rábula bem feita: a Francisca, por Guilhermina de Oliveira.

O grupo cénico da SIT em 1928
    
Guarda-roupa a rigor e cenários de belo efeito – três cenas diferentes pintadas pelo distinto artista sr. R. Reynaud (a cena do 4º quadro só no próximo espectáculo pode ser apresentada). A música é lindíssima, bem portuguesa, com a assinatura do grande e saudoso maestro Felipe Duarte, que valorizou extraordinariamente a adaptação do experimentado escritor teatral Penha Coutinho. Pena foi que o número de abertura – a linda canção das lavadeiras – saísse com desafinação nas vozes, o que foi devido ao nervosismo com que o espectáculo começou a hora tardíssima (passava das 23!) por virtude da demora na montagem do cenário. O dueto das duas pupilas no 1º acto, foi magistralmente cantado por Emília Monteiro e Violinda Medina, que ouviram uma grande ovação; depois o grande concertante – a chegada do novo médico – difícil e de belo efeito, também aplaudido sem favor, e o côro final. No 2º acto dominou a Canção da Cabreira, em que sobressaiu a esplêndida voz de Violinda acompanhada pelo côro – quatro vozes – que arrebatou a assistência. Poucas vezes se tem feito neste teatro tão demorada e calorosa ovação. Outros números ainda foram aplaudidos e todos os restantes coros foram cantados com perfeita afinação.
         Merecem referência as caracterizações de António Esteves, felicíssimas.
         Para o belo êxito das Pupilas contribuíram, além dos elementos citados, muitas dedicações desinteressadas e a competência e bom gôsto de dedicados amigos da SIT. É nosso dever registar os nomes de António Simões, que regeu a excelente orquestra – constituída por amadores mas formando um conjunto que se ouve com prazer – e dirigiu superiormente tôda a parte musical; José Medina, que ensaiou as vozes, dispendendo um esfôrço enorme em que foi ajudado por José Silva e Jerónimo Ferreira; e D. Belmira Pinto dos Santos e Pedro Campos Santos, que dirigiram a execução do guarda-roupa.
        
         Depois do espectáculo inaugural, o Grémio Educativo continuou com o teatro. Como estava anunciado, realizou-se no último domingo, na séde dêstre Grémio, um magnífico espectáculo, “reprise” das festejadas peças que constituiram a récita de gala da sua inauguração oficial, o qual marcou novamente pela novidade que representa em Tavarede.
         A casa estava repleta, verdadeiramente à cunha, como se diz em gíria teatral, e apezar de terem sido distribuidos muitos convites extra lotação, não foi possivel satisfazer numerosos pedidos feitos á última hora.
         Os jovens amadores, mais uma vez entusiásticamente ovacionados, foram muito além do que havia a esperar da sua inexperiência. Apezar de ser a segunda vez que pisam o palco, houveram-se com um brilho raro muitas vezes em pessoas experimentadas. Alguns dêles são mais do que uma prometedora esperança. São uma realidade palpável. Com as vocações reveladas, pode orgulhar-se o Grémio de ter resolvido a sua questão do teatro.
         No final do espectáculo, o público fez uma chamada especial ao ensaiador, sr. Raul Martins, em que lhe manifestou a sua admiração pela rara tenacidade e proficiência de que deu prova na encenação das referidas peças.

         Em Junho de 1932, o grupo cénico da Sociedade de Instrução realizou segunda visita a Tomar. A visita da Sociedade de Instrução Tavaredense constituiu por assim dizer o maior acontecimento que ultimamente aqui se tem registado.
         Já o fim altruísta que trazia a Tomar tão simpática Sociedade, já porque ainda não tinham sido esquecidas as magníficas impressões deixadas há dois anos, tudo contribuiu para o bom acolhimento que aos tavaredenses foi dispensado e para o entusiasmo que durante dois dias se observou pela estada entre nós de tão amáveis visitantes.
         Conforme fôra anunciado, a Sociedade de Instrução Tavaredense chegou a Tomar pelas 15 horas de sábado. O grupo era constituído por mais de 80 pessoas.
         Na estação do caminho de ferro, além de muitos amigos, correspondentes dos jornais e povo, aguardava os visitantes a Comissão da Sopa dos Pobres, presidida pelo sr. capitão Jesus.
         Depois de feitas as apresentações e dadas as boas-vindas, dirigiram-se para os hotéis que lhes estavam reservados.
         Ao fim da tarde chegaram vários automóveis e uma camioneta com muitas pessoas e famílias que aproveitavam esta oportunidade para visitar a nossa terra. Entre outras pessoas vimos os srs.: dr. José Cruz, dr. Manuel Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, Firmino Cunha, Fernando Reis, Francisco Freitas Lopes, Eduardo Soares Catita, Araújo, Carlos Traveira, etc. etc.
         Refeitos da viagem, espalharam-se pouco depois pela cidade, visitando o que temos digno de mensão.
         Pelas 20 horas foram cumprimentados pela Sociedade Filarmónica Gualdim Pais no Hotel Nabão e pelas direcções das nossas sociedades de recreio.
         À noite representou-se no teatro a linda opereta As Pupilas do Sr. Reitor, que agradou bastante. Aos principais intérpretes da peça foram oferecidos ramos de flores e a assistência aplaudiu calorosamente e fez chamadas especiais.
         No domingo, a-pesar-da chuva que caíu quási tôda a manhã, continuaram as visitas aos nossos monumentos.
         Às 14 horas houve no Grémio Artístico uma matinée e um “Pôrto-de-Honra” oferecidos à Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Foi uma festa cheia de alegria e entusiasmo, de perfeita confraternização entre tomarenses e visitantes.
         Dançou-se animadamente, até às 20 horas. Enquanto no salão de baile se servia um chá às senhoras, num outro salão era servido o “Pôrto-de-Honra”. Usaram da palavra os srs. dr. José Cruz, dr. Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, dr. Manuel Gomes Cruz, António Medina Júnior e os tomarenses António Duarte Faustino e Domingos Vístulo, que puseram em relêvo o significado desta visita e as consequências que dela resultam para a Figueira e Tomar com tão amistosas relações. Trocaram-se muitos e entusiásticos brindes, ouvindo-se, por vezes, aclamações calorosíssimas.
         À noite realizou-se o segundo espectáculo, com Os Fidalgos da Casa Mourisca.
         Se a impressão deixada pelas Pupilas do Sr. Reitor tinha sido boa, a dos Fidalgos da Casa Mourisca ultrapassou tudo que se possa imaginar. À medida que a peça ia decorrendo, ia também por sua vez subindo a admiração do público pelo que estava observando. O cuidado da montagem das cenas, a forma de dizer dos distintos amadores, a perfeita interpretação de A Broeiro (D. Luís), de D. Violinda Medina e Silva (Baronesa), D. Emília Monteiro (Berta), D. Maria Teresa (Ana do Vedor), António Graça (Frei Januário), Nogueira e Cascão nos filhos do velho fidalgo, etc., formando um conjunto primoroso, que dava motivo a que a assistência, como que electrizada pelo que estava vendo, aplaudisse com entusiasmo e dissesse com justiça: parecem artistas e não amadores!
         Num intervalo alguns amadores de S. Martinho do Pôrto, com o seu ensaiador, também um distinto amador de teatro o professor de ensino secundário naquela vila, foi ao palco saudar o grupo tavaredense e oferecer flores às amadoras. O discurso proferido pelo ensaiador do grupo de S. Martinho do Pôrto, no qual se afirmava muita admiração pela forma invulgarmente brilhante como se estava representando a peça e se elogiava a Sociedade de Instrução Tavaredense pela sua formidável obra educativa, arrancou à assistência, que enchia completamente o teatro, novas e prolongadas ovações.
         Em seguida, a Comissão da Sopa dos Pobres, à frente da qual estava o sr. capitão Jesus, veio ao palco agradecer a todos os tavaredenses o seu cativante desinterêsse e a sua amabilidade em virem até nós cooperar na grande obra de assistência em que se encontravam empenhados. Estas palavras foram cobertas de ovações calorosíssimas. Tôda a sala, repleta, vibrava de entusiasmo. As ovações repetiram-se quando o director do grupo cénico tavaredense, nosso amigo sr. José Ribeiro, agradeceu.
         Muitas flores, muitos aplausos e sobretudo muito entusiasmo e carinho, tudo dá motivo a que possamos afirmar terem deixado nos tomarenses as melhores impressões os dois brilhantes espectáculos que, numa hora feliz, a Sociedade de Instrução Tavaredense veio dar à nossa cidade.
         Na primeira noite, a bem constituída orquestra que o distinto amador figueirense sr. António Simões nos apresentou, e que tão apreciada foi, executou, a abrir, numa simpática homenagem à nossa terra, o hino de Tomar.
         Terminado o espectáculo de domingo realizou-se um baile no Grémio Artístico, que se prolongou até às 4 e meia de segunda-feira.
         Os nossos simpáticos visitantes retiraram na segunda-feira, bem impressionados com o acolhimento que tiveram em Tomar, e os tomarenses viram-nos partir com saudade.
         Daqui felicitamos a simpática Sociedade de Instrução Tavaredense.
         =À vinda para Tomar, uma surprêsa aguardava os nossos visitantes em Caxarias: na gare da estação estavam as crianças da escola daquele lugar, tôdas levando flores e acompanhadas da nossa patrícia srª D. Iria da Fonseca Baptista e da srª  D. Maria Cristina Trezentos, a cuja inteligente acção e belo espírito se deve a realização da récita infantil realizada em Caxarias e de que então demos notícia. Acompanhavam-nas ainda outras pessoas. À chegada do combóio, a srª D. Iria Baptista fez as apresentações e dirigiu saudações ao simpático grupo tavaredense, saudações que o director do grupo agradeceu com palavras de admiração pela obra daquelas senhoras e dos seus cooperadores. Às intérpretes das duas Pupilas foram oferecidos lindos ramos de cravos, bem como ao director do grupo, que por todos agradeceu, sensibilizado. No momento do combóio prosseguir a marcha, ergueram-se vivas calorosos aos tavaredenses e ao povo de Caxarias.


         = Alguns rapazes tomarenses foram de automóvel, na segunda-feira, à estação de Chão das Maçãs, e ali esperaram o combóio que conduzia à Figueira os nossos visitantes, levando-lhes ramos de flores, o que deu origem a novas manifestações de carinhosa simpatia.

O grupo cénico da SIT - 1ª. deslocação a Tomar

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