sábado, 2 de novembro de 2013

O Associativismo da Terra do Limonete - 47

         A tuna do Grupo, que havia sido reorganizada, voltou a sair no domingo de Páscoa de 1932, em visita de cumprimentos a congéneres, entidades, imprensa e amigos. E ainda em Abril, teve lugar a inauguração oficial do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense. Aqui deixamos a reportagem. Espectaculo – Conforme anunciámos realizou-se em Tavarede nos dias 10 e 11 a inauguração da nova colectividade que dá pelo nome de “Grémio Educativo e Instrução Tavaredense” e que, como o seu nome o indica, visa a educação e instrução principalmente da juventude.
         Acedendo ao amavel convite dos seus dirigentes, lá fômos assistir no sábado às representações constantes do programa dêsse dia, e não podemos calar os justos e merecidos louvores a que têm jus todos os que tomaram parte nas cenas.
         O espectáculo anunciado para as 9,30 da noite começou cêrca de hora e meia mais tarde, o que não admira por tratar-se de amadores que pela primeira vez entraram em cena e portanto pouco práticos nos preparativos.
         A esplêndida sala de recreio estava repleta.
         A orquestra composta de distintos músicos do regimento e regida pelo hábil violinista António Cordeiro executou o hino do Grémio, artística composição do consagrado músico sr. Herculano Rocha, ao mesmo tempo que um grupo coral escolhido entre os alunos da escola vocalizava a letra, expressiva produção do sr. Padre Abílio Costa, professor do Seminário, alma de artista sempre pronto a coadjuvar tôdas as boas iniciativas.
         Seguidamenrte, surge no palco o sr. Belarmino Pedro anunciando à assistência que um grupo de gentis senhoras desta cidade tendo à frente a Ex.ma Srª. D. Carmo Santos, confecionára um estandarte para oferecer ao Grémio, cuja Direcção por sua vez o entregou aos alunos da escola.
         Então, um petiz de palmo e meio, o maior aluno da escola, avança, toma a haste do estandarte, emquanto uma menina lhe coloca duas lindas fitas oferecidas pelos alunos.
         De novo é entoado o hino pelos pequenos com o acompanhamento da orquestra e, após um pequeno intervalo, começa “Uma recepção elegante”, farsa cómica em 1 acto, desempenhada por cinco meninas.
         Uma delas é a dona da casa e faz de senhora; outra desempenha o cargo de creada e que à porta recebe as visitas. Entram sucessivamente três visitas que são anunciadas pela creada, pouco satisfeita com a brincadeira porque também quer ser Senhora como as outras. Trocam impressões sôbre o tempo, falam dos seus haveres, das suas reuniões elegantes, das suas preocupações, tudo isto com uma graça extraordinária, e põe termo à cena a pequenita vestida de creada que, não podendo resignar-se mais com o papel que as companheiras lhe distribuiram, apresenta-se à patroa a pedir... o seu ordenado, pois quer ir para a terra.
         Foi uma cena desempenhada com bastante graça, o melhor que é lícito esperar-se de creanças, e que arrancou fartos aplausos à assistência.
         Sucedeu-se-lhe um drama muito interessante, “Amor de Pai”, em que tomaram parte cinco rapazes.
         Heitor da Silveira, interpretado por António d’Oliveira Cordeiro, é um rapaz boémio de vida talvez duvidosa, jogador de profissão, sem escrúpulos de consciência, alma de fé perdida que procura arrastar para o torvelinho das loucuras humanas e da vida desregrada a Lucio, filho do General Castro, interpretado por Constantino Migueis Fadigas.
         Trava-se entre os dois vivo diálogo sôbre a existência da alma e de Deus. Lucio tem fé, porque seu pai é crente e lh’a incutiu, e porque tem fé teme a Deus, receia ofendê-lo e sente repugnância pela vida a que quer arrastá-lo o seu companheiro.
         Entram depois no palco o General Castro (José Maria de Carvalho), figura de militar da velha guarda de el-rei, acompanhado do Brigadeiro (António Simões Baltazar), que falam das gloriosas façanhas do passado. Vem depois o creado (Constantino Souto da Silva) com os jornais que trazem as últimas notícias e a narrativa dum crime cometido na estrada de Cintra. Mais tarde volta com uma carta que lhe notifica a prisão de Lucio, filho do General, por comprometido no atentado. Depois entra em cena o filho, que pede perdão ao velho General, cujos primeiros movimentos foram de repulsa pelo filho que envergonhou a sua farda e o seu nome honrado. Mas o filho, que a princípio se deixára levar pelas más companhias, não ajudára à prática do crime, arripiando o caminho a tempo e horas, e o Brigadeiro, velho amigo do General, averigua e justifica a inocencia de Lúcio e dela informa o General Castro, que abraça a ambos.
         Todos desempenharam bem.
         José Maria de Carvalho com muita naturalidade representou e traduziu irrepreensivelmente na fisionomia, nos gestos, no olhar expressivo, na voz languida e triste o General Castro, revelando muita habilidade para êste género de teatro.
         António Cordeiro, parece que estava talhado para o seu papel; era duma comprovada naturalidade.
         Constantino Souto da Silva, no papel de creado, assentavam-lhe bem as suiças e desempenhou bem.
         O mesmo dizemos de António Simões de Baltazar, Brigadeiro, que se houve melhor na comédia “Valentes e medrosos”.
         Constantino Migueis Fadigas representou a mêdo; entretanto foi bom para comêço.
         Todos foram muito aplaudidos.
         Após um pequeno intervalo, aparece “Um chaufeur desastrado”. É um pequeno que se aproveita do sôno do pai para dar um passeio de automovel. Para isso convida um companheiro que não aceita o convite, mas não desiste do seu temerário intento e lá vai estrada fóra, aos zig-zags, atropelando aqui um apregoador de flores, ali um vendedor de pasteis e mais adiante um limpa-chaminés. Os dois primeiros nada sofreram; apenas perderam pela rua as flores e os pasteis e vieram pedir indemnisação, que lhe foram pagas. O último é que sofreu forte contusão num quadril e, cheio de dores, com a cara enfarruscada, vem pedir dinheiro para comprar essencia de terebentina para umas fricções. O chaufeur desastrado recusa dar dinheiro a prontifica-se a fazer umas massagens. Começou a operação auxiliado pelo seu companheiro, e dentro em pouco estavam ambos enfarruscados, protestanto nunca mais quererem nada com gente que traz o corpo sujo. Todos disseram com muita piada.
         Por fim veio a comédia “Valentes e medrosos”, que fez rir a bandeiras despregadas.
         Pantaleão (António Simões Baltazar) é um provinciano barrigudo que vive só para comer e beber. Como é rico vai à cidade e assiste a uma tourada. Ele, que não percebe nada destas coisas, discute com Ramalho (José Maria de Carvalho) uma péga; travam-se de razões, armam zaragata, batem-se e acabam por combinar um duelo, trocando entre si as moradas. Entretanto cada qual procura mudar de casa o mais depressa possivel.
         Clemente (António Cordeiro) consegue alugar casa na cidade, onde fixa residencia e onde tem o seu emprêgo. Por sua vez subloca e aluga quartos.
         Pantaleão dirige-se-lhe e aluga-lhe um quarto cuja renda paga adeantadamente, e põe-no ao facto do que se passa. Do mesmo modo Ramalho vai também alugar uma dependência da mesma casa, e eis que os dois inimigos irredutiveis vivem paredes-meias. Ambos se deitam. De noite Pantaleão levanta-se excitado pela questão que tivera na véspera, atravessa o compartimento do seu rival, ouve ressonar, e às apalpadelas encontra o seu inimigo Ramalho que, deitado num canapé, sofre um pezadelo. Há barulho e o dono da casa traz um candieiro para ver de que se trata. Nesta altura reconhecem-se, engalfinham-se um no outro e jogam o sopápo. Pantaleão barrigudo cai sôbre Ramalho deixando-o quási esborrachado. Intervem Clemente, que dá a cada um uma espada para se baterem em duelo e, retirando-lhes a luz, deixa-os completamente às escuras. Começam então a procurar-se, enfiando as espadas pelos moveis que caem com estrondo.
         O creado (Constantino Silva) supõe tratar-se duma invasão de ladrões e munido duma vassoura vem às escuras distribuir vassouradas a êsmo. Ambos apanham. Nisto chega Clemente de vela na mão e consegue que aqueles desavindos façam as pazes. Continúam a viver na mesma casa, mas para isso o creado, de vassoura em punho, previne que é preciso ter juizo!
         Foi uma cena muito engraçada. Saíu-se muito bem o Baltazar que revelou habilidade para representações cómicas. José Maria é um rapaz sério de mais para cenas desta natureza. Cordeiro teve naturalidade mas foi pouco original. Constantino Silva houve-se sempre com muita naturalidade no seu papel de creado. Todos muito bem.
         O espectáculo terminou como principiára – pelo hino, entoado pelos pequenos da escola.
         Resta-nos uma referencia especial para uma figura que não entrou em cena mas orientou os entrechos.
         O sr. Raul Martins, sargento do 20 desta cidade, foi quem desinteressadamente ensaiou as várias peças e serviu de ponto nêste divertido espectáculo, cabendo-lhe por isso tôdos os encómios, e sendo bem merecidos os aplausos que a plateia lhe rendeu quando o obrigou a vir ao palco. Teve decerto muito trabalho com o ensaio de todos, sobretudo dos miudos, mas os seus esforços foram coroados de bom êxito. Felicitamo-lo.
         Os cenários eram da auctoria do nosso amigo Reitor de Montemor, sr. Padre Nunes Pereira, outra alma de artista que se tem dedicado ao desenho à pena. Já publicámos trabalhos seus no número especial de Verride.
         A impressão que colhemos e que nos ficou esta parte do programa da inauguração do Grémio, foi a melhor possível.
         Fazemos votos para que o “Grémio” progrida, levando à cena sòmente peças moralisadoras, que visem a recrear o espírito sem ofender a Deus e perverter as almas.
         Sessão solene – Como é natural, a parte das festas do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense que mais entusiásmo despertou, foi a sessão solene.
         Não é porque o espectáculo não agradasse ou fôsse pouco concorrido. Das linhas que acima ficam, claramente se deduz o contrário, isto é, que o espectáculo oferecido por esta colectividade aos seus numerosos convidados, resultou deveras interessante e concorridissimo por pessoas de Tavarede e da Figueira.
         Mas a sessão solene, pela categoria dos oradores inscritos, pelo dia e hora a que ia realizar-se, estava reservada para fechar com chave de ouro as festas do Grémio.
         Assim aconteceu.
         Pouco depois da hora aprazada, começaram a chegar automoveis da Figueira que conduziam algumas das pessoas mais distintas e representativas desta cidade, muitas pessoas que daqui foram a pé e os sócios do Grémio com suas familias.
         Dentro de pouco tempo, o salão, que é bastante grande e que foi muito embelezado, estava repleto, aguardando-se apenas a chegada da orquestra.
         Entretanto, nós iamos aproveitando o tempo a tomar nota, ao acaso, dalgumas das pessoas mais distintas que se encontravam entre a assistência.
         Senhoras: D. Rita Juzarte Santos, D. Caetana Laidley Costa, D. Clotilde C. de Sousa, D. Maria Manuelna Camolino de Sousa, D. Alice Camolino de Sousa, D. Celeste Maria de Melo Mendes, D. Celeste Mendes, D. Gloria Soares d’Oliveira, D. Maria de Lourdes Mendes Deniz da Fonseca, D. Greta Scheibe, D. Alda Ferreira d’Almeida, D. Maria da Conceição Loureiro, D. Maria do Carmo Juzarte Santos, D. Maria da Cruz e Costa, D. Josefina da Cruz e Costa, D. Ofélia da Cruz e Costa, D. Guilhermina Rodrigues Cordeiro d’Oliveira, D. Hercilia Melo da Costa Ramos, D. Maria da Conceição Palrinhas, D. Ricarda Moniz, etc. etc.
         Cavalheiros: Srs. Dr. António Sotero, Dr. Canavarro de Valadares, Fernando Mendes, Capitão Manuel Nunes d’Oliveira, Dr. Mendes Pinheiro, Tenente Coronel Bemfeito, António Ramos Pinto, Mosenhor José Duarte Dias d’Andrade, Dr. Cesar Freire Falcão, Capitão Aguiar de Loureiro, P.e Augusto Nunes Loureiro, P.e Abilio Costa, P.e José Lourenço dos Santos Palrinhas, P.e Alfredo de Melo Abrantes Couto, P.e José Martins da Cruz Deniz, Ezequiel Leite Coelho Forte, António Simões, António Victor Guerra, Raul Martins, Capitão Mourinha, Joaquim Gomes d’Almeida, Francisco Martins Cardoso, Carlos Aguiar de Loureiro, Manuel Figueiredo Maia, etc., etc.
         Assim que chegou, a orquestra tocou o hino do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, que foi ouvido de pé e com o maior respeito, por toda a numerosa e selecta assistencia, e o sr. Dr. Cesar Freire Falcão, já no palco, lê, na qualidade de presidente da Assembleia Geral desta colectividade, alguns artigos dos estatutos do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, que expressam os seus fins.
         Lê em seguida os nomes dos seus actuais corpos gerentes, que vão tomando lugar no palco, e convida a presidir àquela sessão solene, Monsenhor José Duarte Dias d’Andrade, antigo senador católico, Director do Colégio Liceu Figueirense e um dos membros mais categorizados do clero português.
         Uma prolongada salva de palmas aplaude o convite do sr. Dr. Falcão, e Monsenhor Andrade, depois de ocupar o seu lugar, convida para junto de si os srs. Dr. Mendes Pinheiro, Dr. António Sotero, Capitão Manuel Nunes d’Oliveira, Tenente Coronel Bemfeito e Dr. Canavarro de Valadares.
         Constituida a mesa, o sr. Capitão Manuel Nunes de Oliveira procedeu à leitura do expediente.
         Agradeceram os convites que haviam recebido e felicitaram o Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, as seguintes entidades e colectividades:
         Bombeiros Voluntários da Figueira, Rui Fernandes Martins, António Augusto Esteves, Sociedade Boa União Alhadense, Sociedade Filarmónica 10 de Agosto, Filarmónica Figueirense, Grémio Instrução União Caceirense, Troupe Recreativa Brenhense, Sporting Clube Figueirense, Grupo Instrução e Sport, Grupo Musical Tavaredense, Sociedade de Instrução Tavaredense, Associação Naval 1º de Maio, Camara Municipal da Figueira, Administração do Concelho, Ateneu Alhadense, Associação de Classe dos Empregados no Comercio e Industria Figueirense e Associação dos Carpinteiros Figueirenses.
         Discursos – Foi dada a palavra ao orador inscrito, sr. Dr. Cesar Freire Falcão.
         O sr. Dr. Falcão, não obstante o seu curso tirado com brilho e distinção numa Universidade de Roma e a sua já longa vida de professor dos mais distintos e trabalhadores, é um espírito requintadamente modesto que vive na Figueira há doze anos, quási só para o estudo e para o ensino, motivo porque, certamente, por muitos dos nossos leitores não será ainda conhecido. Isso não impede que, neste momento em que a vaidade parece ser o degrau escolhido para tantos subirem na vida, lhe rendamos as homenagens sinceras da nossa particular estima e apreço pela sua nobreza de caracter, pelo seu talento e pela sua modéstia.
         O sr. Dr. Falcão começa por dizer que é na qualidade de presidente provisorio da Assembleia Geral que lhe cabe a honra de, em primeiro lugar, cumprimentar, em nome do Grémio, as autoridades religiosas e civis de Portugal e nomeadamente as deste concelho; saudar jubilosamente todas as colectividades daquela freguesia e pela ordem da sua antiguidade: Sociedade de Instrução Tavaredense, Grupo Musical e Instrução Tavaredense, Grupo Musical Carritense e Gremio de Instrução Caceirense, às quais, afirma, a nova associação, agora fundada, garante a melhor camaradagem e absoluta lealdade.
         Agradece em seguida a comparência das pessoas presentes, convencido de que vieram não tanto por mera curiosidade ou simples passa-tempo, mas antes pelo desejo de manifestar interesse, apoiando com carinho uma obra que aos católicos se afigura duma extraordinária utilidade social.
         O orador aborda, em seguida, para explicar os fins daquela colectividade, o movimento e o assunto da instrução e educação.
         Analisa rapidamente o estado actual da sociedade e diz que o Gremio tem nos seus estatutos um programa bem claro e uma atitude perfeitamente definida: pretende educar e pretende instruir.
         Refere-se às vantagens da instrução de que ninguem já hoje deixa de reconhecer e prossegue na defesa da educação sempre aliada à instrução, em termos como êstes: mas longe vai o tempo em que se julgava que a instrução era tudo e o resto quási nada; aquele tempo em que se tomava como axiomática a célebre frase de Vitor Hugo: “abrir uma escola é encerrar uma prisão”. Têm, na verdade, sido abertas, nos últimos dois séculos, milhares, talvez milhões de escolas em todo o mundo, mas infelizmente, ao lado delas continuam abertas as prisões.
         E parece até observar-se um fenómeno, á primeira vista, paradoxal.
         Á medida que o progresso avança, que quási toda a população se instrue, que a ciência constantemente nos assombra e deslumbra com as maravilhas das suas portentosas descobertas, nós constatamos que o bem-estar da humanidade, a tranquilidade das nações, a paz entre os homens são um sonho cada vez mais distante.
         Porquê? – pergunta o ilustre orador, e continua logo fazendo a apologia da educação e do ensino religioso.
         Com a autoridade que lhe conferem quási vinte anos de professorado, afirma que a escola neutra é impossivel e aconselha os católicos a cumprirem o dever de auxiliar as suas escolas, no numero das quais está o Grémio Educativo e Instrução Tavaredense.
         Termina exortando os católicos a unirem fileiras em volta do pároco daquela freguesia e a lutarem por meios pacíficos, que foram os preferidos pelo Divino Mestre, pela recristianização dos povos.
         O sr. Dr. Falcão foi muito ovacionado e cumprimentado no fim do seu brilhante discurso.
         Seguiu-se-lhe no uso da palavra o segundo orador inscrito e anunciado, sr. Carlos Aguiar de Loureiro, professor e estudante do 5º ano de Direito. Alma aberta e franca a tudo que possa contribuir para a felicidade, rejuvenescimento e recristianização da sociedade, não esquecendo que o pior mal da nossa época é o egoismo e a falta duma solida educação, Carlos Loureiro é um jovem que tem sabido aproveitar para si e para distribuir pelos outros, as muitas lições e exemplos que o mundo oferece constantemente aos espíritos observadores e sequiosos da verdade.
         Moço talentoso e artista, para quem a vida não corre certamente como um mar de rosas, Carlos Loureiro vive intensamente a sua Fé e cultiva a virtude, não sem sacrificio e desinteresse.
         Apesar de não ser de todo desconhecido para os nossos leitores, pois varias vezes nos tem mimoseado com a sua colaboração, não podiamos deixar de o apresentar àqueles que porventura ainda o não conheçam, ao menos com as palavras simples e merecidas que acima lhe dedicamos. E porque o discurso que leu no preterito domingo, em Tavarede, é muito interessante sob todos os aspectos, não nos limitaremos a dar umas notas ou resumo dele, mas antes começaremos noutro lugar, a sua publicação na integra, com a certexa antecipada de que ninguem dará por mal empregado o tempo e o espaço.
         Depois do sr. Carlos Loureiro, que viu o seu trabalho coroado com uma prolongada salva de palmas, usou da palavra o sr. P.e José Martins da Cruz Deniz, dignissimo Paroco de Tavarede e, como afirmou o sr. Dr. Falcão, alma mater do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense.
         O sr. P.e Cruz Deniz desenvolveu largamente diante da numerosa e selecta assistência, que o escutava com vivo interesse, um assunto de magna importância e de flagrante actualidade, que cuidadosamente tinha preparado e estudado – O Perigo Bolchevista.
         O ilustre orador e distinto professor de Historia dividiu o seu trabalho em capítulos de documentação e apreciação dos acontecimentos na Russia sovietica, da sua politica interna e externa e da infiltração do bolchevismo em varios paises europeus.
         Afirma categoricamente que o bolchevismo russo é obra do judaísmo e que na Russia há, como no tempo dos Czares, duas classes distintas, correspondendo às antigas classes privilegiadas os judeus que têm colonizado a Russia, e ás classes oprimidas e escravizadas, todo o povo russo.
         O bolchevismo é o meio adoptado pelo judaísmo para destruir tudo o que possa recordar a civilização cristã, e para estabelecer em todo o mundo o sonhado imperialismo judaico.
         Analisando conscienciosa e detalhadamente a infiltração do bolchevismo em varios paises, citando factos e documentos, o sr. P.e Cruz Deniz combate a maçonaria que classifica de microbio do bolchevismo judaico e, referindo-se a Portugal, observa que as campanhas desencadeadas nos ultimos anos contra os padres e contra a Igreja, visam os mesmos fins já alcançados na Russia. Afirma que a Igreja, em Portugal, não é mais do que um capítulo da vida nacional, pelo que atacar a Igreja é atacar a Nação.
         No final do seu brilhante discurso, o sr. P.e Deniz foi muito cumprimentado e ovacionado.
         Levantou-se em seguida, para falar, o sr. Dr. Canavarro de Valadares, que, como já dissemos, fazia parte da mesa.
         Uma ansiosa espectativa invade então todas as pessoas presentes que reconhecem em S. Exª um advogado de vastos recursos e dotes oratórios.
         O ilustre causídico não esconde o entusiasmo que lhe despertaram na alma os discursos precedentes e irrompe em calorosos elogios e agradecimentos pelos momentos de prazer que lhe porporcionaram.
         Fala com eloquencia e arrebata, por vezes, entrando a breve trecho na historia de Tavarede, que, segundo afirma e demonstra, é tradicionalmente piedosa.
         Congratula-se, pois, por assistir à inauguração duma associação que muito contribuirá para que Tavarede, sobre que têm pairado as nuvens da descrença, volte à tradição e reviva o seu passado religioso.
         Dirige especiais cumprimentos a Monsenhor Andrade, a quem considera muito, não só por, como afirmou o sr. Dr. Falcão, ser um dos mais distintos ornamentos do clero português, mas tambem porque foi seu professor de Literatura, tendo-lhe dado a honra de o classificar como o melhor aluno do seu curso.
         Termina fazendo votos pelas prosperidades do Gremio Educativo e Instrução Tavaredense e pedindo a Deus que abençoe esta colectividade.
         Uma ruidosa salva de palmas traduziu o agrado da assistência.
         Como a hora já ia adiantada, Mosenhor Andrade fecha com chave de ouro a série de discursos daquela sessão tão solene.
         Agradece penhorado a honra que lhe dispensaram dando-lhe a presidencia da sessão, e espraia-se, em considerações sôbre a gravidade do momento que passa.
         Evoca o passado glorioso dos portugueses, para vincar como a historia da Igreja é em grande parte a historia de Portugal.
         Exprime tambem os seus votos pelas prosperidades da colectividade que acabava de ser inaugurada, e encerra a sessão por entre vibrantes aplausos e vivas ao Papa, a Portugal, ao Gremio, ao Prelado da Diocese, etc.
         Pela Direcção do Gremio foi enviado um telegrama de saudação ao senhor Bispo Conde.
         A Direcção da jovem colectividade Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, ficou assim constituida:


João de Oliveira – Presidente da Direcção

         Direcção: - Presidente, João de Oliveira; vice-presidente, Manuel Borges de Miranda; 1º secretário, João Pereira; 2º secretário, José Maria de Carvalho; tesoureiro, Jacinto Pedro.
         Vogais efectivos: - Joaquim Rodrigues, António Luiz Mota e Manuel Clemente dos Santos.
         Vogais substitutos: - João Migueis Fadigas, Joaquim Saraiva e Joaquim Jorge da Silva.
         Conselho Fiscal: - Dr. Carlos Aguiar de Loureiro, Manuel da Silva Jordão e António Lopes.
         Conselho Fiscal substituto: - Capitão António Jacinto A. de Loureiro, José Rodrigues e José Vicente.

         Assembleia Geral: - Presidente, Dr. Cezar Freire Falcão; vice-presidente, Dr. José Luiz Mendes Pinheiro; 1º secretário, António de Oliveira Cordeiro; 2º secretário, Manuel Nogueira e Silva.

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