A tuna do Grupo, que havia sido
reorganizada, voltou a sair no domingo de Páscoa de 1932, em visita de
cumprimentos a congéneres, entidades, imprensa e amigos. E ainda em Abril, teve
lugar a inauguração oficial do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense. Aqui
deixamos a reportagem. Espectaculo – Conforme anunciámos
realizou-se em Tavarede nos dias 10 e 11 a inauguração da nova colectividade que dá
pelo nome de “Grémio Educativo e Instrução Tavaredense” e que, como o seu nome
o indica, visa a educação e instrução principalmente da juventude.
Acedendo ao amavel convite dos seus
dirigentes, lá fômos assistir no sábado às representações constantes do
programa dêsse dia, e não podemos calar os justos e merecidos louvores a que
têm jus todos os que tomaram parte nas cenas.
O espectáculo anunciado para as 9,30 da
noite começou cêrca de hora e meia mais tarde, o que não admira por tratar-se
de amadores que pela primeira vez entraram em cena e portanto pouco práticos
nos preparativos.
A esplêndida sala de recreio estava
repleta.
A orquestra composta de distintos
músicos do regimento e regida pelo hábil violinista António Cordeiro executou o
hino do Grémio, artística composição do consagrado músico sr. Herculano Rocha,
ao mesmo tempo que um grupo coral escolhido entre os alunos da escola
vocalizava a letra, expressiva produção do sr. Padre Abílio Costa, professor do
Seminário, alma de artista sempre pronto a coadjuvar tôdas as boas iniciativas.
Seguidamenrte, surge no palco o sr.
Belarmino Pedro anunciando à assistência que um grupo de gentis senhoras desta
cidade tendo à frente a Ex.ma Srª. D. Carmo Santos, confecionára um estandarte
para oferecer ao Grémio, cuja Direcção por sua vez o entregou aos alunos da
escola.
Então, um petiz de palmo e meio, o
maior aluno da escola, avança, toma a haste do estandarte, emquanto uma menina
lhe coloca duas lindas fitas oferecidas pelos alunos.
De novo é entoado o hino pelos pequenos
com o acompanhamento da orquestra e, após um pequeno intervalo, começa “Uma
recepção elegante”, farsa cómica em 1 acto, desempenhada por cinco meninas.
Uma delas é a dona da casa e faz de
senhora; outra desempenha o cargo de creada e que à porta recebe as visitas.
Entram sucessivamente três visitas que são anunciadas pela creada, pouco
satisfeita com a brincadeira porque também quer ser Senhora como as outras.
Trocam impressões sôbre o tempo, falam dos seus haveres, das suas reuniões
elegantes, das suas preocupações, tudo isto com uma graça extraordinária, e põe
termo à cena a pequenita vestida de creada que, não podendo resignar-se mais
com o papel que as companheiras lhe distribuiram, apresenta-se à patroa a
pedir... o seu ordenado, pois quer ir para a terra.
Foi uma cena desempenhada com bastante
graça, o melhor que é lícito esperar-se de creanças, e que arrancou fartos
aplausos à assistência.
Sucedeu-se-lhe um drama muito
interessante, “Amor de Pai”, em que tomaram parte cinco rapazes.
Heitor da Silveira, interpretado por
António d’Oliveira Cordeiro, é um rapaz boémio de vida talvez duvidosa, jogador
de profissão, sem escrúpulos de consciência, alma de fé perdida que procura
arrastar para o torvelinho das loucuras humanas e da vida desregrada a Lucio,
filho do General Castro, interpretado por Constantino Migueis Fadigas.
Trava-se entre os dois vivo diálogo
sôbre a existência da alma e de Deus. Lucio tem fé, porque seu pai é crente e
lh’a incutiu, e porque tem fé teme a Deus, receia ofendê-lo e sente repugnância
pela vida a que quer arrastá-lo o seu companheiro.
Entram depois no palco o General Castro
(José Maria de Carvalho), figura de militar da velha guarda de el-rei,
acompanhado do Brigadeiro (António Simões Baltazar), que falam das gloriosas
façanhas do passado. Vem depois o creado (Constantino Souto da Silva) com os
jornais que trazem as últimas notícias e a narrativa dum crime cometido na
estrada de Cintra. Mais tarde volta com uma carta que lhe notifica a prisão de
Lucio, filho do General, por comprometido no atentado. Depois entra em cena o
filho, que pede perdão ao velho General, cujos primeiros movimentos foram de
repulsa pelo filho que envergonhou a sua farda e o seu nome honrado. Mas o
filho, que a princípio se deixára levar pelas más companhias, não ajudára à
prática do crime, arripiando o caminho a tempo e horas, e o Brigadeiro, velho
amigo do General, averigua e justifica a inocencia de Lúcio e dela informa o
General Castro, que abraça a ambos.
Todos desempenharam bem.
José Maria de Carvalho com muita
naturalidade representou e traduziu irrepreensivelmente na fisionomia, nos gestos,
no olhar expressivo, na voz languida e triste o General Castro, revelando muita
habilidade para êste género de teatro.
António Cordeiro, parece que estava
talhado para o seu papel; era duma comprovada naturalidade.
Constantino Souto da Silva, no papel de
creado, assentavam-lhe bem as suiças e desempenhou bem.
O mesmo dizemos de António Simões de
Baltazar, Brigadeiro, que se houve melhor na comédia “Valentes e medrosos”.
Constantino Migueis Fadigas representou
a mêdo; entretanto foi bom para comêço.
Todos foram muito aplaudidos.
Após um pequeno intervalo, aparece “Um
chaufeur desastrado”. É um pequeno que se aproveita do sôno do pai para dar um
passeio de automovel. Para isso convida um companheiro que não aceita o
convite, mas não desiste do seu temerário intento e lá vai estrada fóra, aos
zig-zags, atropelando aqui um apregoador de flores, ali um vendedor de pasteis
e mais adiante um limpa-chaminés. Os dois primeiros nada sofreram; apenas
perderam pela rua as flores e os pasteis e vieram pedir indemnisação, que lhe
foram pagas. O último é que sofreu forte contusão num quadril e, cheio de
dores, com a cara enfarruscada, vem pedir dinheiro para comprar essencia de
terebentina para umas fricções. O chaufeur desastrado recusa dar dinheiro a
prontifica-se a fazer umas massagens. Começou a operação auxiliado pelo seu
companheiro, e dentro em pouco estavam ambos enfarruscados, protestanto nunca
mais quererem nada com gente que traz o corpo sujo. Todos disseram com muita
piada.
Por fim veio a comédia “Valentes e
medrosos”, que fez rir a bandeiras despregadas.
Pantaleão (António Simões Baltazar) é
um provinciano barrigudo que vive só para comer e beber. Como é rico vai à
cidade e assiste a uma tourada. Ele, que não percebe nada destas coisas,
discute com Ramalho (José Maria de Carvalho) uma péga; travam-se de razões,
armam zaragata, batem-se e acabam por combinar um duelo, trocando entre si as
moradas. Entretanto cada qual procura mudar de casa o mais depressa possivel.
Clemente (António Cordeiro) consegue alugar
casa na cidade, onde fixa residencia e onde tem o seu emprêgo. Por sua vez
subloca e aluga quartos.
Pantaleão dirige-se-lhe e aluga-lhe um
quarto cuja renda paga adeantadamente, e põe-no ao facto do que se passa. Do
mesmo modo Ramalho vai também alugar uma dependência da mesma casa, e eis que
os dois inimigos irredutiveis vivem paredes-meias. Ambos se deitam. De noite
Pantaleão levanta-se excitado pela questão que tivera na véspera, atravessa o
compartimento do seu rival, ouve ressonar, e às apalpadelas encontra o seu
inimigo Ramalho que, deitado num canapé, sofre um pezadelo. Há barulho e o dono
da casa traz um candieiro para ver de que se trata. Nesta altura reconhecem-se,
engalfinham-se um no outro e jogam o sopápo. Pantaleão barrigudo cai sôbre Ramalho
deixando-o quási esborrachado. Intervem Clemente, que dá a cada um uma espada
para se baterem em duelo e, retirando-lhes a luz, deixa-os completamente às
escuras. Começam então a procurar-se, enfiando as espadas pelos moveis que caem
com estrondo.
O creado (Constantino Silva) supõe
tratar-se duma invasão de ladrões e munido duma vassoura vem às escuras
distribuir vassouradas a êsmo. Ambos apanham. Nisto chega Clemente de vela na
mão e consegue que aqueles desavindos façam as pazes. Continúam a viver na
mesma casa, mas para isso o creado, de vassoura em punho, previne que é preciso
ter juizo!
Foi uma
cena muito engraçada. Saíu-se muito bem o Baltazar que revelou habilidade para
representações cómicas. José Maria é um rapaz sério de mais para cenas desta
natureza. Cordeiro teve naturalidade mas foi pouco original. Constantino Silva
houve-se sempre com muita naturalidade no seu papel de creado. Todos muito bem.
O espectáculo terminou como principiára
– pelo hino, entoado pelos pequenos da escola.
Resta-nos uma referencia especial para
uma figura que não entrou em cena mas orientou os entrechos.
O sr. Raul Martins, sargento do 20
desta cidade, foi quem desinteressadamente ensaiou as várias peças e serviu de
ponto nêste divertido espectáculo, cabendo-lhe por isso tôdos os encómios, e
sendo bem merecidos os aplausos que a plateia lhe rendeu quando o obrigou a vir
ao palco. Teve decerto muito trabalho com o ensaio de todos, sobretudo dos
miudos, mas os seus esforços foram coroados de bom êxito. Felicitamo-lo.
Os cenários eram da auctoria do nosso
amigo Reitor de Montemor, sr. Padre Nunes Pereira, outra alma de artista que se
tem dedicado ao desenho à pena. Já publicámos trabalhos seus no número especial
de Verride.
A impressão que colhemos e que nos ficou
esta parte do programa da inauguração do Grémio, foi a melhor possível.
Fazemos votos para que o “Grémio”
progrida, levando à cena sòmente peças moralisadoras, que visem a recrear o
espírito sem ofender a Deus e perverter as almas.
Sessão
solene – Como é natural, a parte das festas do Grémio Educativo e Instrução
Tavaredense que mais entusiásmo despertou, foi a sessão solene.
Não é porque o espectáculo não
agradasse ou fôsse pouco concorrido. Das linhas que acima ficam, claramente se
deduz o contrário, isto é, que o espectáculo oferecido por esta colectividade
aos seus numerosos convidados, resultou deveras interessante e concorridissimo
por pessoas de Tavarede e da Figueira.
Mas a sessão solene, pela categoria dos
oradores inscritos, pelo dia e hora a que ia realizar-se, estava reservada para
fechar com chave de ouro as festas do Grémio.
Assim aconteceu.
Pouco depois da hora aprazada,
começaram a chegar automoveis da Figueira que conduziam algumas das pessoas
mais distintas e representativas desta cidade, muitas pessoas que daqui foram a
pé e os sócios do Grémio com suas familias.
Dentro de pouco tempo, o salão, que é
bastante grande e que foi muito embelezado, estava repleto, aguardando-se
apenas a chegada da orquestra.
Entretanto, nós iamos aproveitando o
tempo a tomar nota, ao acaso, dalgumas das pessoas mais distintas que se
encontravam entre a assistência.
Senhoras: D. Rita Juzarte Santos, D.
Caetana Laidley Costa, D. Clotilde C. de Sousa, D. Maria Manuelna Camolino de
Sousa, D. Alice Camolino de Sousa, D. Celeste Maria de Melo Mendes, D. Celeste
Mendes, D. Gloria Soares d’Oliveira, D. Maria de Lourdes Mendes Deniz da
Fonseca, D. Greta Scheibe, D. Alda Ferreira d’Almeida, D. Maria da Conceição
Loureiro, D. Maria do Carmo Juzarte Santos, D. Maria da Cruz e Costa, D.
Josefina da Cruz e Costa, D. Ofélia da Cruz e Costa, D. Guilhermina Rodrigues
Cordeiro d’Oliveira, D. Hercilia Melo da Costa Ramos, D. Maria da Conceição
Palrinhas, D. Ricarda Moniz, etc. etc.
Cavalheiros: Srs. Dr. António Sotero,
Dr. Canavarro de Valadares, Fernando Mendes, Capitão Manuel Nunes d’Oliveira,
Dr. Mendes Pinheiro, Tenente Coronel Bemfeito, António Ramos Pinto, Mosenhor
José Duarte Dias d’Andrade, Dr. Cesar Freire Falcão, Capitão Aguiar de
Loureiro, P.e Augusto Nunes Loureiro, P.e Abilio Costa, P.e José Lourenço dos
Santos Palrinhas, P.e Alfredo de Melo Abrantes Couto, P.e José Martins da Cruz
Deniz, Ezequiel Leite Coelho Forte, António Simões, António Victor Guerra, Raul
Martins, Capitão Mourinha, Joaquim Gomes d’Almeida, Francisco Martins Cardoso,
Carlos Aguiar de Loureiro, Manuel Figueiredo Maia, etc., etc.
Assim que chegou, a orquestra tocou o
hino do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, que foi ouvido de pé e com o
maior respeito, por toda a numerosa e selecta assistencia, e o sr. Dr. Cesar
Freire Falcão, já no palco, lê, na qualidade de presidente da Assembleia Geral
desta colectividade, alguns artigos dos estatutos do Grémio Educativo e
Instrução Tavaredense, que expressam os seus fins.
Lê em seguida os nomes dos seus actuais
corpos gerentes, que vão tomando lugar no palco, e convida a presidir àquela
sessão solene, Monsenhor José Duarte Dias d’Andrade, antigo senador católico,
Director do Colégio Liceu Figueirense e um dos membros mais categorizados do
clero português.
Uma prolongada salva de palmas aplaude
o convite do sr. Dr. Falcão, e Monsenhor Andrade, depois de ocupar o seu lugar,
convida para junto de si os srs. Dr. Mendes Pinheiro, Dr. António Sotero,
Capitão Manuel Nunes d’Oliveira, Tenente Coronel Bemfeito e Dr. Canavarro de
Valadares.
Constituida a mesa, o sr. Capitão
Manuel Nunes de Oliveira procedeu à leitura do expediente.
Agradeceram os convites que haviam
recebido e felicitaram o Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, as seguintes
entidades e colectividades:
Bombeiros Voluntários da Figueira, Rui
Fernandes Martins, António Augusto Esteves, Sociedade Boa União Alhadense,
Sociedade Filarmónica 10 de Agosto, Filarmónica Figueirense, Grémio Instrução
União Caceirense, Troupe Recreativa Brenhense, Sporting Clube Figueirense,
Grupo Instrução e Sport, Grupo Musical Tavaredense, Sociedade de Instrução
Tavaredense, Associação Naval 1º de Maio, Camara Municipal da Figueira,
Administração do Concelho, Ateneu Alhadense, Associação de Classe dos Empregados
no Comercio e Industria Figueirense e Associação dos Carpinteiros Figueirenses.
Discursos
– Foi dada a palavra ao orador inscrito, sr. Dr. Cesar Freire Falcão.
O sr. Dr. Falcão, não obstante o seu
curso tirado com brilho e distinção numa Universidade de Roma e a sua já longa
vida de professor dos mais distintos e trabalhadores, é um espírito
requintadamente modesto que vive na Figueira há doze anos, quási só para o
estudo e para o ensino, motivo porque, certamente, por muitos dos nossos
leitores não será ainda conhecido. Isso não impede que, neste momento em que a
vaidade parece ser o degrau escolhido para tantos subirem na vida, lhe rendamos
as homenagens sinceras da nossa particular estima e apreço pela sua nobreza de
caracter, pelo seu talento e pela sua modéstia.
O sr. Dr. Falcão começa por dizer que é
na qualidade de presidente provisorio da Assembleia Geral que lhe cabe a honra
de, em primeiro lugar, cumprimentar, em nome do Grémio, as autoridades
religiosas e civis de Portugal e nomeadamente as deste concelho; saudar
jubilosamente todas as colectividades daquela freguesia e pela ordem da sua
antiguidade: Sociedade de Instrução Tavaredense, Grupo Musical e Instrução
Tavaredense, Grupo Musical Carritense e Gremio de Instrução Caceirense, às
quais, afirma, a nova associação, agora fundada, garante a melhor camaradagem e
absoluta lealdade.
Agradece em seguida a comparência das
pessoas presentes, convencido de que vieram não tanto por mera curiosidade ou
simples passa-tempo, mas antes pelo desejo de manifestar interesse, apoiando
com carinho uma obra que aos católicos se afigura duma extraordinária utilidade
social.
O orador aborda, em seguida, para
explicar os fins daquela colectividade, o movimento e o assunto da instrução e
educação.
Analisa rapidamente o estado actual da
sociedade e diz que o Gremio tem nos seus estatutos um programa bem claro e uma
atitude perfeitamente definida: pretende educar e pretende instruir.
Refere-se às vantagens da instrução de
que ninguem já hoje deixa de reconhecer e prossegue na defesa da educação
sempre aliada à instrução, em termos como êstes: mas longe vai o tempo em que
se julgava que a instrução era tudo e o resto quási nada; aquele tempo em que
se tomava como axiomática a célebre frase de Vitor Hugo: “abrir uma escola é
encerrar uma prisão”. Têm, na verdade, sido abertas, nos últimos dois séculos,
milhares, talvez milhões de escolas em todo o mundo, mas infelizmente, ao lado
delas continuam abertas as prisões.
E parece até observar-se um fenómeno, á
primeira vista, paradoxal.
Á medida que o progresso avança, que
quási toda a população se instrue, que a ciência constantemente nos assombra e
deslumbra com as maravilhas das suas portentosas descobertas, nós constatamos
que o bem-estar da humanidade, a tranquilidade das nações, a paz entre os
homens são um sonho cada vez mais distante.
Porquê? – pergunta o ilustre orador, e
continua logo fazendo a apologia da educação e do ensino religioso.
Com a autoridade que lhe conferem quási
vinte anos de professorado, afirma que a escola neutra é impossivel e aconselha
os católicos a cumprirem o dever de auxiliar as suas escolas, no numero das
quais está o Grémio Educativo e Instrução Tavaredense.
Termina exortando os católicos a unirem
fileiras em volta do pároco daquela freguesia e a lutarem por meios pacíficos,
que foram os preferidos pelo Divino Mestre, pela recristianização dos povos.
O sr. Dr. Falcão foi muito ovacionado e
cumprimentado no fim do seu brilhante discurso.
Seguiu-se-lhe no uso da palavra o
segundo orador inscrito e anunciado, sr. Carlos Aguiar de Loureiro, professor e
estudante do 5º ano de Direito. Alma aberta e franca a tudo que possa
contribuir para a felicidade, rejuvenescimento e recristianização da sociedade,
não esquecendo que o pior mal da nossa época é o egoismo e a falta duma solida
educação, Carlos Loureiro é um jovem que tem sabido aproveitar para si e para
distribuir pelos outros, as muitas lições e exemplos que o mundo oferece
constantemente aos espíritos observadores e sequiosos da verdade.
Moço
talentoso e artista, para quem a vida não corre certamente como um mar de
rosas, Carlos Loureiro vive intensamente a sua Fé e cultiva a virtude, não sem
sacrificio e desinteresse.
Apesar de não ser de todo desconhecido
para os nossos leitores, pois varias vezes nos tem mimoseado com a sua
colaboração, não podiamos deixar de o apresentar àqueles que porventura ainda o
não conheçam, ao menos com as palavras simples e merecidas que acima lhe
dedicamos. E porque o discurso que leu no preterito domingo, em Tavarede, é
muito interessante sob todos os aspectos, não nos limitaremos a dar umas notas
ou resumo dele, mas antes começaremos noutro lugar, a sua publicação na
integra, com a certexa antecipada de que ninguem dará por mal empregado o tempo
e o espaço.
Depois do sr. Carlos Loureiro, que viu
o seu trabalho coroado com uma prolongada salva de palmas, usou da palavra o
sr. P.e José Martins da Cruz Deniz, dignissimo Paroco de Tavarede e, como
afirmou o sr. Dr. Falcão, alma mater do Grémio Educativo e Instrução
Tavaredense.
O sr. P.e Cruz Deniz desenvolveu
largamente diante da numerosa e selecta assistência, que o escutava com vivo
interesse, um assunto de magna importância e de flagrante actualidade, que
cuidadosamente tinha preparado e estudado – O Perigo Bolchevista.
O ilustre orador e distinto professor
de Historia dividiu o seu trabalho em capítulos de documentação e apreciação
dos acontecimentos na Russia sovietica, da sua politica interna e externa e da
infiltração do bolchevismo em varios paises europeus.
Afirma categoricamente que o
bolchevismo russo é obra do judaísmo e que na Russia há, como no tempo dos
Czares, duas classes distintas, correspondendo às antigas classes privilegiadas
os judeus que têm colonizado a Russia, e ás classes oprimidas e escravizadas,
todo o povo russo.
O bolchevismo é o meio adoptado pelo
judaísmo para destruir tudo o que possa recordar a civilização cristã, e para
estabelecer em todo o mundo o sonhado imperialismo judaico.
Analisando conscienciosa e
detalhadamente a infiltração do bolchevismo em varios paises, citando factos e
documentos, o sr. P.e Cruz Deniz combate a maçonaria que classifica de microbio
do bolchevismo judaico e, referindo-se a Portugal, observa que as campanhas
desencadeadas nos ultimos anos contra os padres e contra a Igreja, visam os
mesmos fins já alcançados na Russia. Afirma que a Igreja, em Portugal, não é
mais do que um capítulo da vida nacional, pelo que atacar a Igreja é atacar a
Nação.
No final do seu brilhante discurso, o
sr. P.e Deniz foi muito cumprimentado e ovacionado.
Levantou-se em seguida, para falar, o
sr. Dr. Canavarro de Valadares, que, como já dissemos, fazia parte da mesa.
Uma ansiosa espectativa invade então
todas as pessoas presentes que reconhecem em S. Ex ª um advogado de vastos recursos e dotes
oratórios.
O ilustre causídico não esconde o
entusiasmo que lhe despertaram na alma os discursos precedentes e irrompe em
calorosos elogios e agradecimentos pelos momentos de prazer que lhe
porporcionaram.
Fala com eloquencia e arrebata, por
vezes, entrando a breve trecho na historia de Tavarede, que, segundo afirma e
demonstra, é tradicionalmente piedosa.
Congratula-se, pois, por assistir à
inauguração duma associação que muito contribuirá para que Tavarede, sobre que
têm pairado as nuvens da descrença, volte à tradição e reviva o seu passado
religioso.
Dirige especiais cumprimentos a
Monsenhor Andrade, a quem considera muito, não só por, como afirmou o sr. Dr.
Falcão, ser um dos mais distintos ornamentos do clero português, mas tambem
porque foi seu professor de Literatura, tendo-lhe dado a honra de o classificar
como o melhor aluno do seu curso.
Termina fazendo votos pelas
prosperidades do Gremio Educativo e Instrução Tavaredense e pedindo a Deus que
abençoe esta colectividade.
Uma ruidosa salva de palmas traduziu o
agrado da assistência.
Como a hora já ia adiantada, Mosenhor
Andrade fecha com chave de ouro a série de discursos daquela sessão tão solene.
Agradece penhorado a honra que lhe
dispensaram dando-lhe a presidencia da sessão, e espraia-se, em considerações
sôbre a gravidade do momento que passa.
Evoca o passado glorioso dos
portugueses, para vincar como a historia da Igreja é em grande parte a historia
de Portugal.
Exprime
tambem os seus votos pelas prosperidades da colectividade que acabava de ser
inaugurada, e encerra a sessão por entre vibrantes aplausos e vivas ao Papa, a
Portugal, ao Gremio, ao Prelado da Diocese, etc.
Pela Direcção do Gremio foi enviado um
telegrama de saudação ao senhor Bispo Conde.
A Direcção
da jovem colectividade Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, ficou assim
constituida:
João de Oliveira – Presidente da
Direcção
Direcção: - Presidente, João de
Oliveira; vice-presidente, Manuel Borges de Miranda; 1º secretário, João Pereira;
2º secretário, José Maria de Carvalho; tesoureiro, Jacinto Pedro.
Vogais efectivos: - Joaquim Rodrigues,
António Luiz Mota e Manuel Clemente dos Santos.
Vogais substitutos: - João Migueis
Fadigas, Joaquim Saraiva e Joaquim Jorge da Silva.
Conselho Fiscal: - Dr. Carlos Aguiar de
Loureiro, Manuel da Silva Jordão e António Lopes.
Conselho Fiscal substituto: - Capitão
António Jacinto A. de Loureiro, José Rodrigues e José Vicente.
Assembleia Geral: - Presidente, Dr.
Cezar Freire Falcão; vice-presidente, Dr. José Luiz Mendes Pinheiro; 1º
secretário, António de Oliveira Cordeiro; 2º secretário, Manuel Nogueira e
Silva.
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