sábado, 28 de maio de 2011

UMA VISITA À IERAX



Saímos da Figueira em direcção a Tavarede. Esperámos que os semáforos passassem a verde, atravessámos a povoação e deparámos com a igreja. Subimos a estrada que se situa ao meu lado direito e, poucos metros volvidos, eis a IERAX – a fábrica que faz os sacos de plástico, no dizer do leigo – o nosso destino. Ora vamos lá ver como se fazem os sacos.


Começamos por ser extremamente bem recebidos pelo sócio-gerente sr. Fernando J. Ferreira da Silva, que tirando uns bons nacos ao tempo de trabalho absorvente, nos forneceu as informações pretendidas bem como nos acompanhou na visita às instalações da fábrica. Ao santuário do plástico afinal.


O início da construção do complexo fabril remonta a 1968, ainda que nessa altura as dependências fossem reduzidíssimas. A sua laboração teve início ainda nesse ano, em pequena e rudimentar escala. Foi adquirida por esta gerência em 1978 tendo, então sim, beneficiado de profundas e progressivas obras bem como sido alargado o parque industrial e a problemática do fabrico.


A sua área – contando com a vastidão dos terrenos circundantes – é de 67 000 m2 sendo a área coberta superior a 6 000 m2.


Situação exacta, já a demonstrámos em “croquis”, no início desta crónica. É fácil lá se chegar.


Número inicial de postos de trabalho (em 1968) – 10.
Em 1978: 50.
Em 1981: 91, sendo 67 homens e 24 mulheres.


Vamos agora tentar explicar, por palavras simples, o que existe de maquinaria: máquinas de extrusão (já explicaremos o palavrão) – 7, de injecção – 4. De impressão e flexografia (até 6 cores) – 4. Corte, soldagem e rebobinagem – 7. De acabamentos – 26. Total – 50, exceptuando as de pequeno porte e de escritório. E ainda as do parque automóvel e de armazém.


Todas estas máquinas juntas formam uma autêntica linha de produção não sendo aproveitáveis sem a ajuda de outras. São de produção sequencial, em espessuras e larguras de filmes e mangas para os diversos fins de aplicação.


E, como é óbvio, vai a administração da fábrica acompanhando a evolução do país tentando desde já preparar o futuro com a procura de novas e actuais máquinas para um melhor acompanhar da produção – isto em forma, também, de novos processos. Faz-se notar que o mercado externo tem outras exigências e qualidades, e desde já se procura emparceirar com a própria CEE.


E a CEE tem muito que se lhe diga. As peças produzidas nos países desta organização têm de ser embaladas em sacos especiais, o mesmo acontecendo aos produtos portugueses, sendo necessário nova maquinaria tendente a cobrir tudo isto. Enfim, toda uma exigência de um saco próprio com as características exigidas – o saco artístico industrial que cobrirá todas as exigências.


Estes irão servir para tudo. Saiem da fábrica em filme técnico, que são umas folhas de plástico bem compridas e largas, que depois, nas fábricas que possuem as máquinas necessárias as vão fechando já com o produto dentro e pronto a seguir para o mercado.


Encontrámos um exemplo deste sistema na fábrica de arroz de Ernesto Morgado, no Alqueidão.


Resumindo: a IERAX produz sacos artísticos e industriais, para uso comercial, e embalagens para fins industriais e agrícolas, quer para consumo interno, quer externo.


Aqueles nossos conhecidos sacos das compras são aqui feitos.


Se seguirmos a linha de produção constatamos que se trabalha principalmente em polietilenos de alta e baixa densidade, que já são produzidos em Portugal pela CNP (Companhia Nacional de Petroquímicos, EP). Depois da entrada deste produto na fábrica, segue para a extrusão, que é a fusão das resinas (polietilenos). Nesta operação as resinas são transformadas em “mangas” e filmes de diversas espessuras, aptos para os fins a que se destinam. Segue-se a impressão, o corte, soldagem e rebobinagem (esta no caso de filmes técnicos).


Produzem cem toneladas mensais. A exportação apenas tem expressão na que provém de valores acrescentados e que a empresa considera exportação indirecta, isto é, produzem-se embalagens para produtos agrícolas, do mar e têxteis, entre outros, que depois são exportados. Consequentemente, o plástico também o é.


A situação económica? Enfim, a crise portuguesa reflecte-se nas empresas. No entanto, os ordenados, caixas, impostos e afins, encontram-se em dia. No dizer do administrador da IERAX as dificuldades provém da própria CNP, que em dificuldade dificulta todas as outras empresas. É que a inflação atinge os 300 por cento. Não sendo da ordem dos 28-30 por cento como por aí tentam fazer crer.


A maioria do pessoal pertence a Tavarede, exceptuando algum pessoal especializado, que vem de fora. Orgulham-se de nunca terem sofrido nenhuma greve ou paralização laboral e consideram-se bem vistos pela população local, para a qual nunca faltam com donativos para as suas beneficências. Acompanham sempre os contratos colectivos de trabalho, não dando azo a reinvindicações.


A empresa IERAX possui ainda um gabinete de desenho, uma secção fotográfica para trabalhos a cores e artes finais e possui fabrico próprio de clichés de fotopolímeros. Os escritórios são computadorizados, possuindo uns vastos arquivos extraordinariamente bem organizados prontos a acudir rapidamente a qualquer solicitação.
Vejam bem: em terrenos, maquinaria e computadores, estão ali quase um quarto de um milhão de contos, isto aos preços de alguns anos atrás! É obra!


A nossa obra, de entrevistar e visitar todo aquele vasto complexo, chegou ao fim. Saímos satisfeitos. Constatámos, mais uma vez que a indústria, no nosso concelho, não se encontra inerte.


(A Voz da Figueira - 3 Maio 1984)

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