Ao manusear os velhos cadernos e livros manuscritos do Dr. Mesquita de Figueiredo, existentes na Biblioteca Pública da Figueira da Foz, em busca de elementos para um caderno que ando a compilar sobre a família Quadros - Os Senhores de Tavarede, encontrei imensas notas que julgo terem um interesse enorme, embora nem todas se relacionem directamente com Tavarede. É o caso da nota que hoje resolvi aqui incluir.
Trata-se de um figueirense de uma ilustríssima família da 'Praia da Claridade''. No próximo dia 19 de Julho do ano corrente, completar-se-ão duzentos anos sobre o seu nascimento. A sua história é muito interessante, pois leva-nos ao período miguelista, o rei absoluto que tantas lutas e vítimas causou no nosso País. Recorda-nos, ao ler a nota das suas prisões e dos tormentos passados, o passado de Mestre José Ribeiro, que tantas vezes nos contava as suas prisões políticas, no Porto, em Lisboa e em Angra do Heroismo, no Forte de S. João Batista. Estas histórias também nos levaram a recordar Fernando Namora e o seu livro 'Clandestinos', onde o seu 'herói' teve os mesmos tratamentos...
"Estão a terminar todos aqueles que durante o governo de D. Miguel sofreram e lutaram pela causa da liberdade. Agora coube a vez ao nosso amigo o sr. bacharel João Pedro Fernandes Tomás, o antigo administrador do concelho e conservador na Figueira e algumas vezes membro da Junta Geral, o qual faleceu ontem naquele cidade, na idade de 81 anos, pois nasceu em 19 de Julho de 1811.
O sr. Fernandes Tomás foi preso no concelho de Condeixa, no mês de Julho de 1828, tendo apenas 17 anos de idade, e no dia 16 desse mês deu entrada na cadeia da Portagem, desta cidade, com seu pai e um amigo, escoltados por 30 praças de milicias de Santarém, que então faziam guarnição de Coimbra.
Desta cidade foi o sr. Fernandes Tomás remetido para a praça de Almeida, onde foi vítima de cruel tirania, sendo ali metido no horroroso 'infernilho', e levando muita cacetada.
Passados tempos foi de Almeida transferido para outras cadeias do País, conseguindo por fim evadir-se e indo entrar na cidade do Porto, para tomar parte na heróica defesa daquela cidade.
Aí assentou praça no batalhão de voluntários académicos, como soldado nº. 157.
Em Junho de 1833 saíu do Porto na expedição para o Algarve, onde desembarcaram na praia da Cacela, no dia 24 desse mês.
Em Faro ficou por ordem do Duque da Terceira o comandante do batalhão académico, João Pedro Soares Luna; mas à excepção de alguns académicos que ficaram em comissão no Algarve, a quase totalidade do batalhão vem entrar triunfalmente em Lisboa, no dia 24 de Julho, e dessa expedição fazia parte o sr. João Pedro Fernandes Tomás.
O batalhão académico, e portanto o sr. Fernandes Tomás, tomou parte activa na defesa das linhas de Lisboa, até ao levantamento do cerco pelo exército de D. Miguel, no mês de Outubro do referido ano de 1833, e fez toda a campanha até ao fim da guerra civil em Maio de 1834.
Hoje já se não quer saber dos serviços à causa da liberdade. Já vai bem longe a época de tão grandes sofrimentos e sacrifícios, e a geração actual é indiferente a elas. Damos os sentimentos à família do nosso falecido Amigo, o sr. bacharel João Pedro Fernandes Tomás"
Afinal, sempre é verdade que a história se repete...
(A nota acima foi publicada em O Conimbricense, em 31 de Dezembro de 1892)
Amigo Vítor
ResponderEliminarHaverá algum parentesco entre este João Pedro e o Manuel Fernandes Tomás ?
Seria interessante saber isso.
Um abraço.
J. Cascão