sábado, 13 de agosto de 2011

GRUPO MUSICAL E DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE



Está a comemorar o seu primeiro centenário. Em tempos idos, esta coletividade teve uma actividade muito brilhante. Um grupo dramático de muito valor, e no qual se verificaram extraordinárias revelações, tanto de amadoras como de amadores, uma tuna considerada como a mais c ompleta e bem organizada do concelho, um conjunto musical, o Lúcia Lima Jazz, que rivalizou com os melhores conjuntos musicais da região, e uma actividade associativa digna de registo, com a sua escola noturna, ensino de música, ginástica e folclore.





Editou, agora, uma pequena brochura com a sua história. Julgo que valerá a pena adquirir a mesma, pois ajuda a associação e fica a conhecer-se um belo passado no campo do Associativismo.



Como recordação, vou copiar a reportagem da primeira saída que o grupo cénico fez para fora da região. Foi à Marinha Grande e já lá vão oitenta e tal anos...~



“Noticiou o “Figueirense” a ida do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, com a sua tuna e secção dramática, á laboriosa e sempre hospitaleira Marinha Grande. Todavia, o mesmo jornal não disse - a partir do principio de que não tinha procuração para o fazer - que o povo excursionista da minha terra regressou da Marinha cumulado de indeleveis gentilezas e cativantes provas de amizade.


Ora eu, como excursionista e na qualidade de rabiscador de noticias para o “Figueirense”, já de há muito devia ter cumprido a obrigação de dizer aos meus prezados leitores, embora ligeiramente, o que foram esses momentos de verdadeira apoteose para a colectividade tavaredense. Mas, por falta de vagar, e ainda por uma simpática constipação que me converteu em um dos mais impacientes escritores..., eu tenho imperdoavelmente cometido essa falta, que certamente nesta altura a Consciencia me relevará.

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A excursão á Marinha, leitor amigo, levada a efeito há proximo de 15 dias, tinha em mira duas coisas: - proporcionar aos socios da simpática colectividade que na minha terra vive do povo e para o povo, alguns momentos de alegre e feliz passa-tempo espiritual; e dar ali dois espectaculos para adquirir fundos de receita com que, conjunctamente com outros que da mesma honesta fórma noutras partes tem auferido, possa ir amortizando a sua dívida - que não é pequena, mas que já foi maior, pois ainda não há um ano que inaugurou a sua nova séde, que é vistosa e decente, e já amortizou proximo de 10 contos.


E tudo se conseguiu na Marinha Grande. Tudo. Os tavaredenses souberam ser tavaredenses, pois se conduziram sempre com garbo e com aprumo, motivo porque colheram loiros para si e para a terra que orgulhosamente representavam.

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À chegada da excursão - sábado á noite, 10 - a tuna, sob a proficiente direcção do amigo sr. Pinto d’Almeida, executou uma “marcha” de saudação á Marinha. Percorreu as ruas principais da vila, no meio das maiores aclamações, sempre acompanhada de muito povo conduzindo archotes acêsos. Deu ingresso na benemérita e simpática colectividade dos Bombeiros Voluntários, onde lhe foram dadas as boas vindas, sendo-lhe servido um “copo d’água”, após o que se dirigiu ao teatro “Stephens”, tendo pouco depois começado o espectaculo, que agradou plenamente.
António d’Oliveira Lopes apresentou no palco, antes desse espectaculo, todos os amadores dramaticos e o regente da tuna da sua terra, e um dos mesmos amadores leu uma saudação ao povo marinhense.


Seguiu-se depois o espectaculo, que felizmente decorreu á medida dos desejos de todos que nele tomaram parte. Houve chamadas especiais e muitas aclamações. Alguem me disse:- “O espectaculo de hoje foi o melhor réclame para o de ámanhã. Vão ter uma casa á cunha, com certeza”. E, digo-o com satisfação, assim sucedeu, pois nunca o teatro Stephens deu uma verba tão bôa, tão rechonchuda como no domingo, 11 de Outubro, em que os humildes amadores dramaticos e musicaes da minha colectividade viram coroada de exito toda a sua espectativa, dando por abençoado o tempo que ali fôram.


Chegada a hora do espectaculo d’este dia, uma comissão de cavalheiros pediu encarecidamente que alterassemos a ordem do programa e representassemos o drama da vespera, ao que gostosamente acedemos. A tuna, fazendo a sua apresentação no palco, tocou várias peças, constituindo um acto. Seguiu-se “O Erro Judicial”, em 3 actos, e a terminar a hilariante operêta em 1 acto “Herança do 103”, ornada de 7 lindos numeros de musica, tudo tendo agradado plenamente. Houve tambem um grande pedido, no sentido de a excursão se prolongar por mais um dia, afim de dar outro espectaculo - que pela certa redundava em nova enchente. Todavia, não poude ser, em atenção aos compromissos morais de cada um.

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A tuna, com todos os demais tavaredenses, cumprimentou, durante o dia de domingo, a Camara Municipal, todas as colectividades e algumas entidades marinhenses, tendo sido recebidos duma maneira verdadeiramente cavalheiresca - apanágio do povo da laboriosa Marinha Grande. Em todas as colectividades houve trocas de inequivocas provas de franca e sincera cordealidade para de futuro.


Aos Bombeiros Voluntarios, em cuja séde formava aprumadamente uma pleiade de benemeritos que tem por diviza dar a “vida por vida”, foi pela Direcção do Grupo Musical Tavaredense oferecida uma fotografia da sua Tuna, com amavel dedicatoria. Não podemos explicar o que foi esse momento - dos mais solénes e imponentes que se gosaram naquela viagem feliz que jámais se apagará dos espíritos de todos os rapazes do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense. O brioso comandante dos Bombeiros, meu amigo sr. Joaquim de Carvalho, aceitou, vizivelmente comovido, essa singela oferta, que perpetúa a data em que um punhado de tavaredenses soube ir nobremente apertar, cada vez mais fortemente ainda, o laço da antiga amizade que une a Marinha Grande á Figueira da Foz. Ora Tavarêde é uma ramificação das mais vitalicias do concelho da Figueira da Foz e não a desprestigiou. Houve uma troca de abraços, muitos abraços, emquanto os “urrhás” se confundiram com as notas vibrantes do Hino do Grupo Musical.

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No domingo, em pleno palco do teatro José Stephens, que funciona por conta dos Bombeiros, foi esta colectividade nomeada socia honorária do Grupo Musical Tavaredense, como preito de gratidão e respeito por tão filantropica e benemerita instituição marinhense, a quem a excursão deve, em parte, os maiores loiros e os maiores triunfos ali alcançados. Pois a Direcção dos Bombeiros Voluntários, em face disto, quiz provar-nos ainda, e doutra fórma, a sua maior estima, a sua maior admiração. Ofereceu-nos, tambem em pleno palco, uma bela fotografia do seu corpo activo e respectiva direcção, com penhorante dedicatória.


A imensa massa de espectadores irrompe então em delirantes aclamações e a comoção dos tavaredenses não consente que doutra fórma se agradeça aquele nobre gésto dos beneméritos marinhenses - a não ser com uns abraços bem fortes, bem cordeaes - com uns abraços bem significativos.

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Em conclusão, leitor amigo. Se esta noticia não foi por mim dada ha mais tempo, e duma fórma mais completa, é porque o tempo me escasseiou para o fazer. Mas como vale mais tarde do que nunca, eis o motivo porque eu não quiz, embora extemporanea e pálidamente, contarte algo do que os meus olhos viram na feliz excursão do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense - a que me honro de pertencer desde ha 14 anos, quando a ajudei a fundar.

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Singular coincidencia. Um méro acaso disse-nos na Marinha, na segunda-feira, 12, que fazia anos o nosso regente - o amigo sr. Eduardo Pinto d’Almeida. Imediatamente a Direcção do Grupo, representada por João d’Oliveira, José Francisco da Silva e António Medina, por António Lopes e ainda pelo despretencioso autor destas linhas, da assembleia geral do mesmo Grupo, comprou numa fabrica um bonito objecto de vidro a que fez gravar a seguinte dedicatória: -”Ao maestro Pinto d’Almeida, no dia do seu aniversário natalicio - 12-X-925 - oferece a Direcção do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense”, que lhe foi oferecida, bem como uma batuta artística, na séde do mesmo Grupo, em Tavarêde, sob a influencia dos loiros colhidos na Marinha Grande, que tambem foi fartamente aclamada.


O amigo Pinto d’Almeida, agradeceu comovido a amavel lembrança do Grupo Musical, que ele acompanhou com todo o gosto para a Marinha e que acompanhará com toda a satisfação seja para onde fôr. Porque - disse - a companhia dos rapazes do Grupo Musical honram seja quem fôr, demais nos seus casos.

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Muito propositadamente, guardei para o fim os especiaes agradecimentos do Grupo Musical Tavaredense, de quem tenho procuração para o fazer, aos srs. Joaquim Carvalho e Luiz António Faria, da Marinha, pela fórma incansavel e deveras penhorante como ali auxiliaram a excursão da minha terra. Eles foram, sem desprimor para ninguem, os melhores cooperadores do feliz sucesso obtido pelos tavaredenses na sua linda terra, encantadora e hospitaleira.
Obrigado, pois, amigos Joaquim Carvalho e Luiz Faria, obrigado. E creiam que a minha colectividade jámais esquecerá os vossos preciosos favores. E obrigado, tambem ao sr. Guilherme Roldão, que na sua colossal fabrica de vidros quiz mimozear todos os excursionistas com lembranças da Marinha Grande. Esses agradecimentos ainda são extensivos a António Fonte, a Alvaro Roldão, e seu cunhado Barros, a José Barosa e ao bom Carlos d’Almeida Galo, etc. - todos amigos de ha muitos anos e que na sua terra em muito nos auxiliaram tambem”.



O Figueirense, Outubro de 1925.


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