segunda-feira, 1 de agosto de 2011

VISITA A TAVAREDE

Andamos a dar volta aos nossos velhos apontamentos, rebuscados na imprensa figueirense e referentes a 'coisas' da nossa aldeia (hoje, novamente vila), e já alguns temos publicado, referindo o jornal e a data da publicação. Desta vez, e porque a achamos muito interessante, vamos copiar uma pequena reportagem inserida em 'O Figueirense', de 10 de Julho de 1864. Trata-se de uma festa ao S. João de Tavarede. Já estamos fora do tempo, mas, como sabemos, o S. João a todo o tempo tem vez:


Ora vejamos se no meio d'esta extraordinária escassez de noticias em que nos achamos, podemos dizer alguma cousa que entretenha o espirito dos nossos leitores. Há de ser difficil, mas experimentemos sempre.


Terminaram no domingo finalmente os festejos aqui pelas proximidades da villa ao milagroso S. João. É a antiga villa de Tavarede quem todos os annos, permitta-se-nos a expressão, cobre a rectaguarda neste famoso e nunca alterado systema de festejar o santo com mascarada, cavalhada, corridas de prémios, etc.


Como succede todos os annos, pela volta do meio dia appareceu a bandeira seguida de numerosos cavalleiros, uns mais bem, outros mais mal montados, mas todos fazendo-se conduzir por um quadrupede de qualquer especie, que é o que se pretende e contra o que não há disputa. Deram as competentes voltas em torno da egreja, desceram depois à praça do Commercio e em seguida à praça Nova, d’onde dadas também as competentes voltas, se encaminhou a cavalgada para o porto da saida, que subsequentemente se ia tornar o theatro de maior gloria.


Depois das 2 começou então a Figueira a despovoar-se, encaminhando-se toda a gente para o local da festa, aonde se reuniram pelo meio da tarde extraordinário numero de pessoas de todas as classes. É que nestas occasíões não há fidalgos nem plebeus: a mascara e os mascaras confundem tudo. Alli o que principalmente se viam eram numerosos ranchos de rapazes e raparigas da Figueira. Buarcos, e da própria localidade, que todos, ou dentro das casas ou na rua, tocavam, cantavam, berravam e dançavam á porfia, como quem queria para si maior gloria. De resto também se encontrava um bom numero de mirones, que não faltam nunca nestas occasiões, uns para se divertirem, vendo; outros, para darem fé do que se passa.


Quando o sol já era menos e permittia ás cabeças naturalmente esquentadas o exporem-se aos seus vivificantes raios, começou então um simulacro de corridas de prémios, que se não era cousa para admirar como bom, era contudo excellente cousa para fazer rir e fez rir muito.Acabada a corrida veio-se aproximando o frio da noite, que não deixara de chegar muito a propósito, começando o povo a retirar; e nós, que também éramos povo, viemos vindo com a multidão, protestando desde logo escrever uma larga notícia sobre o S. João de Tavarede, em virtude d'um cavaco que nos deu um nosso amigo, por fallarmos no numero passado do Figueirense tão resumidamente do S. João que ha de vir.

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