Ao tempo em que iamos a Tavarede, época em que tem lugar o que descrevemos, as estradas para lá eram quasi intransitáveis, isto, quer fossemos pela estrada do Pinhal, quer pela da Varzea.
Pela primeira, era barranco que succedia a um barranco, pela outra, um assordeiro a outro assordeiro, entremeados de correntes d’agua. De noite, senão de dia, era preciso muito boa coragem para um menos affoito por lá passar.
E justamente n’este tempo havia uma troupe de rapazes d’aqui que, até nas mais caliginosas noutes de inverno tinha a coragem de ir a Tavarede, a um theatro ou a um presepio. Bellos tempos! De quanto és capaz, mocidade!
De 1865 a 1868 frequentámos aquella pequena aldeia que, pela sua posição e naturaes attractivos se assimilha a Saint-Denis, na Africa Franceza. Como esta, ao sopé de montanhas que a circundam, aqui e além choupos a emmoldural-a, e de d’onde por entre as vareiras da vegetação nos espreita a medo, de longe.
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Até que chegámos ao ponto de explicar a razão porque deveriamos antes dar a estes rabiscos o titulo - Uma viagem á China. Imagine-se que de 1868 para cá apenas estivemos em Tavarede uma hora, isto em Julho de 1874.
Uma declaração tal, a respeito de quem vive ha tantos anos perto d’essa povoação, para aquelles que quasi diariamente a frequentam, a gosar a amenidade da sua posição e do trato lhano e affavel dos seus habitantes, parece quasi inacreditavel.
Pois é uma verdade.
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Por uma noute de Dezembro do anno passado fomos ali.
Um amigo nosso, e muito estimado, lá e aqui, o Antonio de Lavos (como é mais conhecido), commerciante, achando-se bastante doente mostrou vontade de ver-nos. Vencendo a reluctancia ou esquecimento forçado de 22 annos largamos a nossa thebaida da Figueira e depois d’uns preliminares para tão extensa viagem, em dez minutos nos achámos em casa do doente.
O nosso Antonio, que não contava que tivessemos tal heroicidade, ficou espantado ao ver-nos no seu quarto, a horas já um pouco adiantadas da noute.
Felizmente que o achámos melhor, bem capaz de lá para o S. João mimosear os rapazes d’aqui, com mais umas dansas e descantes d’um rancho catita que costuma organizar no seu quintal. A mulher, a Rosita, que em tempos se dedicava ao palco, e que nos deu uns exemplares traquinas, folgasões, cheios da vivacidade da idade dourada, parecia-nos a mesma, com o mesmo genio franco, risonho, endiabrado, somente modificado um pouco pela idade que já se acompanha d’uma filha, a Josephita, loura, brincalhona, viva como a mãe.
Como pouco tempo nos podiamos demorar entre aquella boa gente porque o carro em que haviamos ido... urgia, fomos aproveitando alguns minutos no percurso do povoado, indo quasi ás cegas, levado pelas recordações do passado á cata de amigos e conhecidos.
E dizemos ás cegas por pouco vermos de noute, ás cegas porque aquelle conjuncto de casas amodernadas poucos indicios nos dava dos seus traços passados, e aggravadas mais estas circumstancias, por estarmos habituados aqui á luz clara, brilhante, do gaz, quando ali caminhavamos atravez d’uma densa escuridão, que se não modificava nem ao menos por uns beneficos raios prateados de luar.
(Gazeta da Figueira - 15/2/1896)
senhor Vitor e familia
ResponderEliminarquantas histórias ainda tens de minha querida Tavarede, que bom conhecê-las, espero que continue ainda por muitos anos a nos dar tantas informações desta querida terra, desejamos a todos um FELIZ ANO NOVO, muita paz, saúde, alegrias, votos dos amigos Preciosa Fileno Mota, Serafim Mota e Lilian, de Pederneiras, Brasil
Amigos tavaredenses e brasileiros
ResponderEliminarFico contente por ver que as minhas historietas sobre Tavarede são do vosso agrado.
Claro que espero continuar.
Agradeço e retribuo os desejos de um NOVO ANO DE 2012 cheio de felicidades para todos.