1928
O SONHO DO CAVADOR
Não nos enganámos: nem a chuva impertinente que caíu durante todo o dia impediu que o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense se enchesse no último sábado.
O SONHO DO CAVADOR
Não nos enganámos: nem a chuva impertinente que caíu durante todo o dia impediu que o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense se enchesse no último sábado.
O Sonho do Cavador agradou extraordinariamente. A peça é mais opereta que revista. Tem acção que caminha do 1º. ao último acto, surgindo de longe em longe, nalguns dos quadros, uma ou outra scena arrevistada, de acentuado sabor local; e tem, a dar-lhe unidade, uma intenção ideológica e de moralidade que, graças ao desempenho, foi sentida mesmo pelos espectadores que não puderam compreendê-la em todo o seu simbolismo.
A peça encerra a história, que é apresentada com fantasia dentro da qual a verdade tem lugar, dum cavador que a ambição da riqueza leva a abandonar a aldeia, depois de atirar fora a enxada e amaldiçoar o trabalho. Como trabalha desde pequeno, julga ter conquistado o direito à felicidade – e para êle – a felicidade não se encontra fora da riqueza e esta não se alcança cavando a terra. Na própria ambição encontra o castigo do seu êrro; vê-se mais pobre do que era, e as figuras simbólicas dos três Homens Felizes mostram-lhe como os pobres, os humildes, também podem gozar a felicidade; o cavador regressa à aldeia, onde o esperam ainda a enxada leal e a noiva fiel – e a peça fecha com o elogio da vida simples e humilde do campo, na qual a saúde do corpo anda sempre junta à alegria da alma.
O Sonho do Cavador tem música lindíssima. É uma partitura em que António Simões foi muito feliz. As adaptações são perfeitamente ajustadas às personagens e às situações, como os números originais afirmam as qualidades brilhantes dêste distinto amador musical. Completam admiravelmente a beleza do conjunto alguns lindos versos do sr. João Gaspar de Lemos: esplêndido como inspiração os do final do 2º. acto, e maravilhosos de técnica, de ritmo e de singeleza aqueles em que o Pagem Amor-Perfeito conta à Rainha das Flores a história ingénua da andorinha que morreu apaixonada pela canção do rouxinol; As Uvas, e o terceto do Milho são versos graciosos e dum belo descritivo.
Valorizando a representação, há os scenários e um vistoso guarda-roupa, no qual se admiram cêrca de 40 interessantes e muito sugestivas fantasias.
Em resumo: O Sonho do Cavador marca em Tavarede, que é uma pequena e bem pobre aldeia, um acontecimento de certo relêvo artístico. Não admira que no próximo sábado se repita outra enchente, tanto mais que sabemos ser elevado o número de lugares que já no sábado ficaram marcados para pessoas desta cidade que nesse dia irão aplaudir os modestos e simpáticos amadores tavaredenses. (Voz da Justiça – 05.02)
O SONHO DO CAVADOR
Entre as diferentes diversões a que temos assistido nos últimos tempos, nenhuma nos surpreendeu tão agradavelmente como o espectáculo que há dias vimos no teatrinho de Tavarede. Foi o título que nos sugestionou e que quási nos obrigou a ir de abalada até à pitoresca localidade, facto êste que não deve admirar ninguém, pois, tratando-se de uma peça intitulada O Sonho do Cavador, natural seria que despertasse interêsse a um profissional de agricultura.
Não queremos ter a veleidade de armar em crítico teatral, que o não somos, nem para isso temos competência, mas não podiamos ficar silenciosos perante um espectáculo de costumes rurais em que a lavoura é glorificada, como glorificados são, no seu mais elevado grau, os dois maiores factores da felicidade humana: a Honra e o Trabalho.
Por seu turno estes são ali aplicados à agricultura, mãe de tôdas as indústrias, de tôdas as artes e (para que não dizê-lo?) de tôdas as sciências, pois que sem ela nada, absolutamente nada, seria possível nêste mundo!
É uma peça que, pela enormíssima lição de moral que encerra e ainda pela deliciosa música que tão apreciável a torna, muito gostaríamos de ver representar não só na Figueira, como ainda em outros centros populosos, visto a sua fácil adaptação a qualquer teatro do país.
Que ela agradou, claramente o diz a quente e bem significativa demonstração de simpatia e aprêço que o público, que completamente enchia a sala, manifestou, no final de cada acto, aos simpáticos amadores, que, com tanto brilho, acêrto e correcção interpretaram o pensamento – quer musical, quer literário – dos seus distintos autores, para os quais vão neste momento as nossas mais sinceras felicitações.
E foi ao som dêsses vibrantes aplausos que nós pensámos no que há de mentira torpe quando se afirma que o nosso público aprecia imenso as representações em que abunda a pornografia!
É falso! O povo continua a adorar hoje, como sempre, os espectáculos de boa doutrina e sã moral, a questão é darem-lhos.
Dir-nos hão agora: . Mas o público frequenta os teatros, embora recheados de pornografia.
. É certo, mas para onde há de êle ir distraír as suas mágoas, se não lhe dão outra coisa?(a) José Maria de Jesus (Voz da Justiça – 05.23)
O SONHO DO CAVADOR
A linda revista-fantasia em 3 actos e 10 quadros O Sonho do Cavador constitui, sem dúvida nenhuma, o maior êxito teatral registado em Tavarede. Nunca uma peça aqui foi representada tanta vez seguidamente, com um tão completo agrado.
Como nas récitas anteriores, o teatro da Sociedade de Instrução esteve no último sábado o que se chama à cunha. Muitas pessoas estiveram de pé, e cêrca de 60 não puderam obter bilhetes, pelo que é já avultado o número de lugares marcados para a representação de sábado próximo.
Os aplausos foram calorosos, atingindo por vezes o delírio e obrigando a bisar muitos números.
No final do segundo acto houve chamadas entusiásticas a José Ribeiro, João Gaspar de Lemos, António Simões, etc., sendo-lhes oferecidos lindos ramos de flores e lendo o dr. Luís Fernandes um soneto cheio de humorismo, da autoria do dr. Ernesto Tomé, dedicado a José Ribeiro.
A sala oferecia também lindo aspecto pela bizarra ornamentação feita com colchas de sêda, palmas e flores.
A grande maioria da assistência era da Figueira.
A assistência apreciou a aplaudiu o desempenho dado à peça pelos modestos amadores tavaredenses e a lindíssima partitura que para ela arranjou o distinto amador sr. António Simões. Foram também muito apreciadas as magníficas caracterizações, nomeadamente as do Ministro da Guerra, que é primorosa, do Saltadouro, e Quintal do Ferreira e Amola-facas-tesouras.
No próximo sábado dá o Sonho do Cavador a 7ª récita. É outra enchente certa... (Voz da Justiça – 06.06)
O SONHO DO CAVADOR
Casa cheia hoje na Sociedade de Instrução Tavaredense: - em festa de homenagem ao festejado grupo de amadores que ali tem representado O Sonho do Cavador, realiza-se hoje a última representação desta aplaudidíssima revista-fantasia.
Tinha-se anunciado uma matinée para amanhã: mas não pode efectuar-se por falta de elementos indispensáveis da orquestra.
Por isso, as pessoas que desejam apreciar O Sonho do Cavador, que tão bem caíu no agrado do público vão hoje a Tavarede, à sua despedida.
É numerosa a concorrência de pessoas da Figueira.
Nas montras de vários estabelecimentos desta cidade estão expostas interessantes fotografias de scenas e figuras do Sonho do Cavador.
A exposição feita na Havanesa, ao Cais, tem chamado a atenção do público. Algumas das fotografias expostas, são perfeitas e honram a secção fotográfica da Casa Havanesa, onde foram executadas. (Voz da Justiça – 06.30)
A DESPEDIDA DO SONHO DO CAVADOR
O teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense teve anteontem uma enchente formidável. Distintas famílias dessa cidade e muitas pessoas de outras localidades vieram assistir à última representação do Sonho do Cavador, que nesta matinée fazia a sua despedida.
Como nas anteriores, os aplausos foram vibrantes. Ao cabo de 10 representações seguidas, a peça manteve-se com o mesmo agrado, e são muitos e repetidos os pedidos para que ela volte à scena e vá à Figueira, ao que não é possível aceder.
Justifica-se plenamente êste interêsse do público. O Sonho do Cavador foi apresentado com um conjunto de elementos que o impõem ao agrado geral: representação correcta, perfeita e brilhante até por parte dos amadores que fazem os primeiros papéis; montagem interessante e com certo cuidado e critério artístico que é de notar numa pequena aldeia como Tavarede; scenários lindos e apropriados, alguns notáveis como o quadro das Flores e, principalmente, o quadro final da Lavoura, ambos do distintíssimo artista sr. Alberto de Lacerda; guarda-roupa de bom gôsto, com estilizações curiosas, executado pela srª. D. Belmira Pinto dos Santos; caracterizações esplêndidas, flagrantes de verdade, de António Esteves; e sôbre tudo isto, uma partitura riquíssima, inspirada – do melhor que António Simões tem composto.
Os amadores mereciam referências especiais que não fazemos para não roubar ao jornal muito espaço, que é precioso. Diremos somente que João Cascão fez com grande naturalidade e observação o cavador Manuel da Fonte, pelo que a assistência o distinguiu com chamadas especiais; António Broeiro no Papo-Sêco tem nas scenas do 2º. acto com o laparôto de Tavarede um dos melhores trabalhos que lhe conhecemos; esplêndido também o Homem da Vaca, diálogo que Jaime Broeiro (Carreiro) valoriza com os seus recursos de correcto amador; Jaime tem ainda outros tipos felizes: O amola-facas-tesouras, e, a destacar, o Ti’João da Quinta (perfeita a scena com a filha e o cavador, no 3º. acto); F.Carvalho no Ministro da Guerra; Emília Monteiro, na Rosa e na Grã-duquesa de Tavarede; Idalina Fernandes na Rainha das Flores e na Batota; Maria Tereza na Agricultura e na Horta; Maria José e Guilhermina de Oliveira, nas Comadres; Alzira Fadigas, nas Uvas; José Vigário, no Pôrto da Figueira e no Relógio; - dão à peça uma representação aceitável. Clementina Fernandes, Carolina Fadigas, Laura e Maria Gil e Maria Loureiro e ainda os outros rapazes que entram nos vários grupos e formam um seguro corpo coral também mereceram as palmas dos espectadores.
Vários números foram bisados e muitos outros aplaudidos. O Idílio, no 3º. acto, formoso dueto cantado por Emília Monteiro e João Cascão, arrancou à assistência uma ovação formidável, como não nos lembramos de ali ter ouvido.
Foi enorme o movimento de automóveis e camionetas, pois até das Regalheiras de Lavos veio um grupo de mais de 20 espectadores. À saída do espectáculo, as ruas de Tavarede apresentavam um movimento extraordinário. (Voz da Justiça – 07.11)
O SONHO DO CAVADOR
Com mais uma enchente enorme deu ontem, sábado, a 11ª récita a festejadíssima peça O Sonho do Cavador, que prossegue triunfalmente na sua carreira. Nunca aqui houve êxito semelhante.
O espectáculo agradou extraordinariamente, tanto aos que já conheciam a peça – alguns viram-na pela 9ª vez, e não estão ainda enfadados! – como os que vieram pela primeira vez.
Vários números de música foram aplaudidos com muitas palmas, como a Canção das Uvas, o último côro do 1º quadro, a bela estilização do patusco que fecha o 1º acto, o fado-canção, final do 2º acto e o lindo e difícil dueto do 3º acto, muito bem cantado por Emília Monteiro e João Cascão, que arrancaram à assistência uma ovação vibrante e prolongada, e ainda o côro dos cavadores e ceifeiras. Noutros números os aplausos atingiram o delírio, obrigando a bisar o Sulfato e Enxôfre, o côro dos Moinhos, o côro e canção da Rainha das Flores, o côro dos assobios e as Avemarias. O número do Concurso Hípico despertou um entusiasmo excepcional, sendo cantado três vezes.
António Simões verificou mais uma vez o agrado que a sua linda partitura obtem. A scena das comadres e a do amola-facas-tesouras provocaram riso franco e foram aplaudidas com palmas; outra boa scena a dos compadres, feita com simplicidade pelos dois bons amadores Broeiros. No protagonista, João Cascão brilhou mais uma vez, representando algumas passagens do seu papel com magniifica observação e naturalidade.
Continuou a notar-se uma assistência distinta, como mais uma vez foi grande o número de pessoas que não puderam assistir por se ter esgotado a lotação. Entre outras pessoas dessa cidade, cujos nomes não nos ocorrem, vimos........
O movimento de trens e automóveis foi enorme, dando a esta pequena aldeia uma animação excepcional. Para a repetição dêste espectáculo ficaram já marcados muitos lugares. (Voz da Justiça – 10.31)
O SONHO DO CAVADOR, EM BUARCOS
Como aqui noticiámos, O Sonho do Cavador deu no sábado e domingo passados em Tavarede as suas duas últimas récitas. Foram mais duas enchentes, não tenso sido possível atender todos os pedidos de bilhetes, por em ambos os espectáculos se ter esgotado a lotação.
Notícia que hoje damos vai com certeza agradar às muitas pessoas que ainda não puderam ver a festejadíssima peça ou desejem apreciá-le de novo: O Sonho do Cavador será representado no proximo sábado, em Buarcos, no teatro do Grupo Caras Direitas. Para esta récita, que é aguardada em Buarcos com excepcional interêsse, podem marcar-se lugares, nesta cidade, na Tabacaria Africana. Haverá carreiras de americanos para ida e regresso.
O Sonho do Cavador marca um triunfo invulgar em teatro de amadores. Quinze representações seguifdas dão bem a nota do agrado obtido. Esse mesmo agrado se verificará em Buarcos, onde a peça vai ser montada com o mesmo rigor com que o foi em Tavarede, com guarda-roupa e scenários próprios, sobressaíndo nêstes o formosíssimo quadro final da Lavoura, trabalho primorosamente executado pelo distinto artista sr. Alberto de Lacerda.
É já elevado o número de lugares tomados. (Voz da Justiça – 12.05)
A SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE, EM BUARCOS
De Buarcos – Como haviamos anunciado, o grupo dramático da SIT representou no pretérito sábado a interessante revista-fantasia O Sonho do Cavador, registando-se uma verdadeira enchente.
Não queremos destacar esta ou aquela personagem, no desempenho dos seus papéis, pois que tôdas formaram um conjunto digno de admiração pela forma correcta como sabem honrar a sua Sociedade, grangeando-lhe muitas simpatias e dando aos seus ensaiadores garantias que os animam e lhe dão ensejo para continuarem a dispensar o seu valioso e desinteressado serviço em prol da Sociedade de Instrução Tavaredense.
O Sonho do Cavador despertou vivo interêsse e levou ao Teatro dos Caras Direitas centenas de pessoas.
O agrado foi geral e muitos dos números de música foram bisados. E não só as personagens revelaram a sua correcção e apresentaram um esplêndido guarda-roupa: há também a notar os scenários, que são de bom efeito e vistosos.
Houve chamadas especiais ao ensaiador e aos srs. António Simões, João Gaspar de Lemos e Alberto Lacerda, elementos valiosos que cooperam desinteressadamente e com grande devoção na causa que a SIT defende.
O Sonho do Cavador, tão justamente aplaudido, é uma verdadeira peça moral, bem apresentada, com linda música e que deixa o público bem impressionado.
E para prova do seu brilhante êxito, bastará dizer que já está tomada quási tôda a lotação do elegante teatro dos Caras Direitas, onde no sábado, pela 2ª vez, vai ser representada a tão afamada peça. (Voz da Justiça – 12-19)
O SONHO DO CAVADOR
De Buarcos – A segunda récita levada a efeito pela SIT com o Sonho do Cavador marcou mais uma enchente “à cunha”.
Esta peça conta já 17 representações, o suficiente para afirmar a simpatia e a prova de aprêço em que tem sido tomada por centenas de pessoas, entre as quais se contam muitas de elevada categoria social, que, num gesto digno de nota, também quiseram prestar a sua gentileza à SIT, vindo admirar O Sonho do Cavador, que aos seus intérpretes grangeou fortes ovações e que proporcionou horas bem passadas.
O Sonho do Cavador, peça de muito agrado, constitui não só uma lição moral, mas ainda serve de estímulo para que os amadores que a representam continuem a levantar, com o seu auxílio, a prestimosa Sociedade de Instrução Tavaredense. (Voz da Justiça – 12.19)
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