1931
RÉCITA DE ANIVERSÁRIO
A Sociedade de Instrução Tavaredense comemorou nos passados sábado e domingo os seus 27 anos de vida, o que equivale dizer: os seus 27 anos de luta.
RÉCITA DE ANIVERSÁRIO
A Sociedade de Instrução Tavaredense comemorou nos passados sábado e domingo os seus 27 anos de vida, o que equivale dizer: os seus 27 anos de luta.
Não é demais, na notícia descritiva das festas da popular e prestimosa colectividade, dizer que a obra realizada durante estes 27 anos tem sido uma proveitosa obra de ensinamentos, uma patriótica obra de perfeição e educação.
As suas aulas têm dado a muitos espíritos a luz radiosa das letras, tornando mais aptos e mais úteis à vida individual, e a bem da sociedade, que se abeira dos ensinamentos que naquele templo de luz são ministrados.
E não poucas vezes a velha Sociedade tem vindo à Figueira, com o seu prestimoso grupo scénico, dar espectáculos em benefício dos doentes e dos pobres.
Não está mal, pois, que na hora festiva em que uma tão útil colectividade engrinalda as suas salas para festejar um dia cheio das mais caras recordações, que aqui, em homenagem, lhe dirijamos as nossas saudações pelo dia festivo que passou e os nossos cumprimentos pela obra de elevação e benemerência que tem realizado.
As festas comemorativas do 27º aniversário começaram no sábado. Engalanaram-se as salas, com flores e colgaduras de damasco, aliando-se a estas notas de beleza uma caprichosa iluminação eléctrica, a côres. No poste principal, subiu a bandeira glorioso símbolo da Sociedade, que era acompanhada por outras bandeiras que puzeram na frontaria uma nota de côr festiva. Ergueram-se ao ar os primeiros foguetes anunciando a festividade, emquanto a sala de espectáculos se ia enchendo de sócios e convidados.
Dera-se, no palco, o sinal de comêço; cá fora, nem um lugar vago. A orquestra, sob a regência do sr. António Simões, executa o hino da Sociedade, ouvido de pé, tendo a assistência aplaudido com entusiasmo.
E segue a ordem do programa, fielmente, como fôra traçada no programa-convite. Sobe à scena a linda opereta em 1 acto “Evocação” – seguindo-se a formosa opereta em 2 actos “Noite de Agoiro” – da autoria do sr. dr. Celestino Gomes, que teve, no final do 1º acto, uma chamada especial, sendo-lhe oferecido entre calorosas palmas um artístico ramo de flores pelo presidente da Direcção, sr. António Cordeiro.
O espectáculo de gala terminou com a representação da encantadora opereta “66” – tendo os amadores recebido muitos aplausos e sendo, no final do espectáculo, novamente tocado o hino da Sociedade, levantando-se entusiásticos hurras. (Voz da Justiça – 01.21)
TEATRO EM TAVAREDE
A peça que a direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense ofereceu no sábado às famílias dos seus associados, representada pelo seu grupo dramático, é, incontestavelmente, das melhores que ali têm subido à scena, e pode dizer-se que a melhor daquele género.
São três actos deliciosos, ricos de graça, com situações explêndidamente criadas e alguns trocadilhos de rara felicidade. O espectador ri com satisfação e, em scenas em que domina a nota sentimental, a ternura dum singelo amor, tão simples e tão puro, a gargalhada cala-se mas não se apaga nos lábios o sorriso que denuncia os inefáveis prazeres da alma. A Luz de Alvorada é uma peça que merece ser vista e escutada, uma peça absolutamente limpa, isenta de escabrosidades, sem duplos sentidos e as graças pesadas a que tanta vez recorrem os comediógrafos para fazer rir os que já não coram. Quando o pano desce sôbre o 3º acto, o espectador levanta-se com uma sensação de alegria e bem-estar moral que lhe dão por bem empregues as três horas que passou a ouvir a deliciosa peça.
A interpretação da Luz de Alvorada não é isenta de dificuldades e exige qualidades que não faltam nos amadores tavaredenses, os quais formam um grupo excelente. E a montagem é cuidada, podemos dizer perfeita dentro das condições do meio. Os scenários são dos distintos artistas Rogério Reynaud, os do 1º acto, e Alberto de Lacerda, os do 2º e 3º.
Resumindo, diremos que a representação da Luz de Alvorada é uma bela nota de arte que a Sociedade de Instrução Tavaredense regista na sua actividade teatral.
= A direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense comunica aos seus associados que resolveu repetir no próximo sábado, pela última vez, a peça “Luz de Alvorada”, satisfazendo o desejo de muitos sócios e famílias que não puderam assistir à récita passada. (Voz da Justiça –04.08)
A FESTA DO JARDIM ESCOLA
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E seguiu-se a representação da fantasia A Cigarra e a Formiga, pelo modesto e simpático grupo de amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense. Todos foram calorosamente aplaudidos, como era de justiça. No 1º acto houve a nota de arte culminante daquela noite de festa: Ilda Stichini disse primorosamente, com o seu formoso talento, e as suas poderosas faculdades de interpretação, A Fantasia e O Riso, belos versos dum artista de pintura que é também um distinto poeta – Alberto de Lacerda. Quando Ilda Stichini apareceu em cena, a assistência irrompeu numa extraordinária, prolongada e calorosa ovação, que bem lhe deve ter mostrado como é querida do público figueirense. Os versos da Fantasia disse-os a Artista ilustre com a vibração da sua delicada sensibilidade e a magia da sua voz. A assistência aplaudiu demoradamente, com sincero entusiasmo. Mas o número do Riso, que Alberto de Lacerda escrevera expressamente para Ilda Stichini, deixou verdadeiramente encantados os que o ouviram e se manifestaram com uma das mais vibrantes e expontâneas e demoradas ovações que naquele teatro se têm ouvido. (Voz da Justiça – 07.29)
OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA
Obteve um êxito fora do vulgar a representação da peça extraída do belo romance de Júlio Deniz, Os Fidalgos da Casa Mourisca. A escolha foi acertada, pois a peça está perfeitamente dentro do critério seguido pela Sociedade de Instrução Tavaredense, que só faz representar no seu teatro obras que contenham lição moral e educativa. É o caso dos Fidalgos: todos os seus actos são límpidos, sem a mancha dum só duplo sentido; nêles se exaltam as mais belas qualidades da alma, de faz a apologia do teatro como título de verdadeira nobreza, se combatem os privilégios de casta e defendem os principios liberais, com desgosto do egresso Frei Januário que em tôdas as manifestações de progresso moral e material vê a mão da Maçonaria. Magnífica lição que a Sociedade de Instrução proporciona aos seus associados através dum divertimento espiritual de pouco mais de três horas!
O desempenho, considerado como de amadores, é excelente, primoroso nalguns passos. Os papéis femininos foram entregues a três distintas amadoras: Violinda Medina e Silva, Emília Monteiro e Maria Teresa de Oliveira, que se houveram brilhantemente. Violinda fez a Baronesa de Souto Real com a vivacidade própria, sendo admiráveis a forma e as expressões irónicas nos diálogos com o padre. Muito bem! Emília Monteiro foi uma Berta delicada como no-la mostrou Júlio Deniz; algumas cenas com o orgulhoso D. Luís foram cheias de comoção, dominando o espectador. Maria Teresa interpretou a rude e bondosa Ana do Vedor de maneira que confirmou as suas qualidades já reveladas noutros papéis: é uma excelente característica. Nos papéis masculinos merece referência especial António Graça que fez o Frei Januário brilhantemente, entusiasmando as pessoas que conhecem e sabem apreciar teatro; foi sóbrio, correcto, sem caír em exagêros e ao mesmo tempo sem deixar perder um efeito, sabendo falar e sabendo ouvir admiravelmente. É um bom trabalho, do melhor que lhe temos visto fazer. António e Jaime Broeiro interpretaram respectivamente o D. Luís – orgulhoso dos seus pergaminhos, fechado no seu espírito reaccionário e a final vencido pela ternura e dedicação dos corações que o cercam – e o Tomé da Póvoa, o homem do povo sempre leal, símbolo do trabalho e da honra. Fizeram-nos pondo à prova em papéis de tanta responsabilidade os seus recursos de bons amadores. Nos filhos do velho fidalgo vimos João Cascão (Maurício), exuberante onde era preciso, irreflectido, uma criança grande em quem a bondade faz esquecer os disparates que pratica, e Manuel Nogueira (Jorge), sereno e grave, reflectido na sua pouca idade e sabendo sacrificar as aspirações do coração ao que êle considera o seu dever de filho. Cascão é um amador seguro, articulando primorosamente, sem deixar perder uma palavra mesmo quando a situação exige uma dição precipitada. Manuel Nogueira merece um elogio especial pelo muito que conseguiu fazer, entrando e vencendo quási sempre as dificuldades do papel. Interpretava pela primeira vez uma personagem daquele género, e nunca lhe coubera outro de tanta responsabilidade. Vimo-lo com prazer aproveitando o máximo e correspondendo a quanto dêle era legítimo exigir. Figura simpática e distinta sem afectação, voz bem timbrada, deu-nos um Jorge como o viram quantos leram o romance. Nos fidalgos do Cruzeiro, A. Santos e F. Carvalho; João Nogueira no filho de Ana do Vedor; J. Vigário e J. Gaspar, em papéis de menor responsabilidade, todos ocuparam o devido lugar e fizeram um bom conjunto.
Claro que houve hesitações, já atenuadas na segunda representação, e há ainda falhas; mas seria difícil que as não houvesse em amadores numa peça desta envergadura.
A Sociedade de Instrução não poupou esforços e despesas para apresentar convenientemente esta formosa peça, e consegui-o, embora dispendendo importante quantia em guarda-roupa, cenários, etc.
Felicitamo-la pelo êxito artístico alcançado e felicitamos o excelente grupo de amadores que tão brilhantemente se houve.
Nas duas primeiras noites a lotação esgotou-se. E para sábado, 12, é já grande o número de lugares marcados. (Voz da Justiça – 12.09)
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