sábado, 12 de maio de 2012

QUADROS - OS SENHORES DE TAVAREDE - 2

Os Senhores de Tavarede

1 – António Fernandes de Quadros

2 – Fernão Gomes de Quadros

3 – Pedro Lopes de Quadros

4 – Fernão Gomes de Quadros

(Pedro Lopes de Quadros – faleceu em vida de seu pai, pelo que não tomou o senhorio de Tavarede)

5 – Fernão Gomes de Quadros

6 – Pedro Lopes de Quadros e Sousa

7 – Fernando Gomes de Quadros

8 – Pedro Joaquim de Quadros e Sousa

9 – António Leite de Quadros e Sousa

10 – Antónia Madalena de Quadros e Sousa

11 – João de Almada Quadros Sousa de Lencastre

(Francisco de Almada Quadros Sousa Mendonça Lencastre da Fonseca Albuquerque – faleceu em vida de seu pai, pelo que não tomou o senhorio de Tavarede)

12 – João Carlos Emílio Vicente Francisco de Almada Quadros Sousa Lencastre Saldanha e Albuquerque

António Fernandes de Quadros

1º. Senhor de Tavarede e Instituidor do Morgadio
Foi António Fernandes de Quadros, senhor das Casas de Buarcos e Vila Verde, o fundador da Casa de Tavarede. Poucos anos depois de D. Manuel I dar foral a Tavarede, concedeu o senhorio, com vários ‘direitos dominicais’ e com a posse das Lezírias vagas de Buarcos e Vila Verde, a António Fernandes de Quadros, fidalgo de origem espanhola e de ascendência ilustre
Antes de relatar a vida do primeiro Senhor de Tavarede, permitam-nos uma breve historiação da família Quadros. Como se disse, era de origem espanhola. Teve o seu início, no nosso País, com Alonso de Coadros, fidalgo castelhano, senhor poderoso, alcaide-mór de Sevilha, que veio para Portugal fugido “por causa de um ‘homísio’ nos tempos dos reis D. João I e seu filho D. Duarte, ao lado de quem lutou contra os seus patrícios”.
“Diz-se que descendia de Pedro Ilhão e de sua mulher Urraca Pires de Quadros. Sabe-se que o avô e o pai desta Senhora estiveram na tomada de Toledo, aos mouros, com El-Rei D. Afonso VI, em 1083, no dia 25 de Maio, dia de S. Urbano. Não se sabe se casaram, mas, apenas, que foram seus filhos: Aires Gomes de Quadros, fidalgo da Casa do Infante D. Pedro, escrivão dos Coutos de Aveiro e vedor da Fazenda do rei D. Afonso V, que se recebeu com Brites Gil Barreto, filha de André Gil Barreto e de sua mulher Antónia de Melo, com geração: Brites de Quadros, casada com Nuno Gil Barreto, irmão inteiro de sua cunhada Brites Gil, com descendência; e Catarina Gomes de Quadros, que alguns autores fazem neta de Alonso de Quadros, talvez com maior verosimilhança, que se recebeu com Diogo Henriques, filho de Henrique Dias, flamengo, morador em Aveiro, e de sua mulher Maria Juzarte”
Segundo alguns autores, o referido Aires Gomes de Quadros, casado com Brites Gil Barreto, teve os filhos: Fernão Gomes de Quadros, que casou com Brites Alvares Rangel; Aires Gomes de Quadros, (mesmo nome do pai); Teresa Gomes Barreto de Quadros, que casou com Vasco Henriques Esteves da Veiga; e Leonor Gomes Barreto de Quadros, casada com João Nunes Cardoso. Do primeiro foi descendente António Fernandes de Quadros, mais tarde fundador da Casa de Tavarede. O segundo casou com Maria Henriques, filha do almoxarife de Aveiro, e tiveram, como descendentes, André de Quadros (a quem o rei D. João III mandou passar brasão de armas para a família) e Diogo Gomes de Quadros
Mas, de acordo com Pedro Quadros Saldanha, descendente dos Quadros de Tavarede, nos seus cadernos ‘A Casa de Tavarede’, António Fernandes de Quadros seria “filho de Fernão Gomes de Quadros e de D. Brites Alvares Rangel, nasceu, segundo alguns autores, em Tavarede, cabeça do Couto pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. A ser assim, no que não se põe a certeza, seus pais aí terão tido residência na segunda metade do século XV. Parece confirmar esta possibilidade o facto de um Aires Gomes de Quadros ter tido propriedades neste lugar, posteriormente compradas por António de Quadros no primeiro quartel do século XVI. Mas quem seria esse Aires Gomes? Seu avô? Seu tio? Ao que parece não era nenhum destes. Era, sim, irmão de António Fernandes, como diz o documento de 1535 que refere essas compras, feitas aparentemente em 1532. A existência deste Aires Gomes de Quadros não é referida em nenhum dos autores que dão António Fernandes como filho de Fernão Gomes de Quadros. Existem, porém, alguns elementos que permitem de alguma forma confirmar a sua existência. Refere uma obra que um Aires Gomes de Quadros ‘morreu, com outros fidalgos, esforçadamente na defesa da fortaleza de Diu, passado de parte a parte com um gangunho de arremesso, por crime de umas ameaças’.”
Conclui, um pouco depois, que “… sem dúvida que Aires Gomes de Quadros faleceu antes de 1530… …Fica, no entanto a dúvida se esse Aires Gomes de Quadros, militar, era o irmão de António Fernandes de Quadros. Mas que este teve um irmão assim chamado parece não merecer dúvida: as propriedades da herança de seu irmão, sitas a Tavarede, foram compradas antes de 1530 ao testamenteiro Jorge Rangel”.
Conforme se verá adiante, nesta família havia o costume de dar, ao filho primogénito, o nome de seu avô, pelo que se torna bastante difícil a identificação da genealogia real. Sabe-se, também, de alguns membros desta família prestaram “distintos serviços à Coroa Portuguesa, na ordenação, limpeza, secagem e regularização de valas, lezírias e paúis do reino”.
António Fernandes de Quadros, que se presume ter nascido por volta do ano de 1475, terá ingressado na vida militar, mas não se sabe nada da sua carreira até que, por carta dada em Lisboa, aos 7 dias do mês de Dezembro de 1516, é nomeado Adail da praça de Azamor, no norte de África.
Dom Manuel, etc., a quantos esta nossa carta virem, fazemos saber que, confiando na bondade e discrição de António Fernandes de Quadros, cavaleiro da nossa Casa, que é tal para que nisto nos sirvam bem e com toda a fidelidade e lealdade que ao nosso serviço cumpre e a tal ofício pertence, e o dele confiamos e assim querendo-lhe fazer graça e mercê pelos serviços que dele temos recebido e ao diante esperamos receber, temos por bem e o damos ora daqui em diante, para Adail da nossa cidade de Azamor a si e pela maneira que o era Fernando de Almeida, que o dito ofício de nós tinha e agora faleceu, e assim como são os outros nossos Adaís dos outros nossos lugares de além mar, o qual ofício não haverá nenhum mantimento, somente queremos que o hajam todos eles por vez e percalços, honras e liberdades que ao dito ofício diretamente pertencem e assim como tudo dirigiu o dito Fernando de Almeida e das ordenações e direito têm e devem de haver os outros nossos Adaís e jurem, mandamos ao nosso capitão da dita cidade que agora é e ao diante for, e a quaisquer outros oficiais e pessoas que na dita cidade estiverem ao presente e ao diante forem, que o hajam daqui por diante por seu Adail e a outro nenhum não o metam em posse do dito ofício e lho deixem servir e usar dele e haver os ditos prós e percalços, honras e liberdades, a ele ordenamos como dito é, sem nisso lhe porem dúvida e embargo algum, porquanto assim é nossa mercê, o qual jurou na nossa Chancelaria aos Santos Evangelhos, que bem e verdadeiramente obre do dito ofício, guardando a nós nosso serviço e as partes seu direito e que nos sirva nele com toda a fidelidade.

Dada em Lisboa aos 7 dias do mês de Dezembro. Gaspar Rodrigues a fez.
Prossigamos a nossa história com António Fernandes de Quadros, pois não dispomos de mais elementos conclusivos sobre a sua ascendência. Terá servido, com o posto de Adail de Azamor, até ao ano de 1518, porquanto neste ano o deve ter substituido Vasco Fernandes César, de quem, nos começos de 1520, se dizia ter exercido aquelas funções em Azamor durante dois anos. Em Maio de 1517, esta praça portuguesa encontrava-se debaixo da ameaça dum cerco. O rei de Fez, que era então o famoso Moâmede, o Português, preparava-se para mais uma vez correr as praças portuguesas do norte de Marrocos, e para tal já se estabelecera em Salé. Tomaram-se todas as disposições habituais e colocaram-se estâncias de combate ao longo dos muros. Ao adail coube, nesta emergência, o comando de 20 homens de cavalo para a inspecção do exterior da muralha. Mas a ameaça não se converteu em realidade, porque o sultão tinha objectivo diferente do que se lhe atribuia.
Por carta dada em Lisboa, pelo rei D. João III, em 15 de Setembro de 1522, e como recompensa pelos serviços prestados em África, foi-lhe concedida uma tença: D. João, pela graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, Daquém e Dalém mar em África, Senhor da Guiné, da Conquista, Navegação e Comércio na Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. A quantos esta minha carta virem fazemos saber que havendo nós respeito aos serviços que temos recebidos em África, de António Fernandes de Quadros, cavaleiro da nossa casa, e adaíl da nossa cidade de Azamor e assim aos que ao diante esperamos receber, e querendo-lhe fazer graça e mercê, temos por bem e nos praz que ele tenha e haja de nós de tença, em cada um ano do primeiro dia de Janeiro que vem, da era de mil quinhentos e vinte e três em diante, treze mil novecentos e vinte reis, que é outro tanto como tal sua moradia e cevada que de nós havia, o qual houveramos por bem que houvesse em sua casa, em quanto lhe não satisfizessemos o dito ofício de adaíl ou o não fôr por sua vontade servir, porém mandamos aos vedores de nossa fazenda que o façam assim assentar em os nossos livros dela e dar carta em cada um ano da dita tença, para alegar onde haja bom pagamento e nos livros de nossa cozinha, sem pôr verba, como o dito António Fernandes não havia de haver a dita moradia e cevada, para lhe assim mandarmos dar em tença por este padrão, que para firmeza dele, para sua guarda e nossa lembrança lhe mandamos dar, por nós assinado e selado do nosso selo pendente.

No dia 1 de Novembro de 1522, António Fernandes de Quadros é nomeado “Feitor da Alfândega de Buarcos”: Dom João etc., A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que, confiando nós de António Fernandes de Quadros, cavaleiro da nossa Casa, que nos servira bem e fielmente nas coisas em que por nós foi encarregado, e querendo-lhe fazer graça e mercê, temos por bem e o damos ora daqui em diante, por feitor da nossa Alfândega de Buarcos, o qual serviço ele servia quando a Alfândega não fôr prazendada e se arrecadar para nós, e queremos e nos apraz que haja de mantimento cada um ano, à nossa custa, dez mil reis, que é outrotanto como há alguns outros feitores das outras nossas alfândegas.

E mandamos ao nosso contador de Coimbra que o meta em posse do dito cargo e ao almoxarife e oficiais dele que sirvam com ele quando a dita alfândega se arrecadar para anos como dito é, sem dúvida nem embargo algum que a ele seja posto, porquanto havemos por bem que o dito António Fernandes de Quadros utilize a renda da dita alfândega e mandamos aos vedores da nossa fazenda que quando ele servir, lhe despachem os ditos dez mil reis na dita renda e o dito António Fernandes jure aos Santos Evangelhos na nossa Chancelaria, que o servisse bem e verdadeiramente o dito cargo, guardando a nós nosso serviço e as partes seu direito e por sua guarda e firmeza dele lhe mandamos esta, por nós assinada e selada de nosso selo pendente.

Dada em Lisboa, no primeiro dia de Novembro de 1522.

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