1965.01.14 - BREVE ENTREVISTA COM MESTRE JOSÉ RIBEIRO (A VOZ DA FIGUEIRA)
Continua a Sociedade de Instrução Tavaredense a dar execução ao seu programa de educação e cultura popular através do teatro. A actividade do seu grupo cénico é verdadeiramente excepcional, se atendermos ao meio onde, desde há mais de meio século, ela se desenvolve. Depois do notável programa “Noite de Teatro Português”, com obras de Gil Vicente e Luís Francisco Rebelo, um novo espectáculo está a ser preparado, que será duplamente assinalável: pela peça em si e pela circunstância de se tratar de um autor estrangeiro até agora ainda não representado em Portugal. Referimo-nos à peça “Omara”, que terá a sua estreia no sábado, 16 do corrente, em Tavarede. O facto parece-nos realmente sensacional, e por isso quisemos ouvir o director do grupo cénico da benemérita colectividade, sr. José Ribeiro, que sem o menor constrangimento se dispôs a atender-nos.
. É verdade que os amadores tavaredenses vão representar uma peça estrangeira ainda não representada em Portugal?
. É exacto. A peça “Omara” vai ter a sua estreia em Portugal na Sociedade de Instrução Tavaredense.
Ante a nossa admiração, o nosso entrevistado acrescentou:
. Compreendo perfeitamente que o facto o surpreenda. São tantas e tais as dificuldades dos grupos de amadores na obtenção de peça representável, que causa certo espanto poder o grupo de Tavarede representar uma obra ainda não levada à cena nos palcos portugueses.
. Isto é muito honroso para a Sociedade de Instrução Tavaredense, pois não é assim?
. Sem dúvida, muito honroso, não apenas pela estreia da peça, mas também pela categoria do seu autor, o notável dramaturgo hispano-mexicano Sigfredo Gordon, ainda até hoje não representado em Portugal.
. Como chegou essa obra a Tavarede?
. Foi o figueirense dr. Joaquim Montezuma de Carvalho, critico de alta craveira e apaixonado estudioso das literaturas latino-americanas, que nos proporcionou o ensejo feliz de travarmos conhecimento com o autor de “Omara”. Poeta e escritor, Sigfredo Gordon é um grande, um autêntico dramaturgo, com uma vasta obra de teatro: aos 54 anos de idade, 33 peças, 12 das quais já publicadas nos seus 4 volumes de teatro. E, deixe-me que lhe diga, é lástima que os nossos palcos, onde tantas vezes se exibem traduções de obras cujos méritos residem somente no facto de serem estrangeiras, não tenham apresentado até hoje nenhuma deste notável escritor de teatro, que tão bem usa a forma clássica como a moderna e cuja apurada técnica é servida por uma linguagem de riquíssima expressão teatral, um grande poder de síntese criador de belas e vigorosas situações dramáticas e uma extraordinária facilidade de dialogar, seja nos domínios da arrojada fantasia ou na teatralização realista.
. E foi o autor que indicou a peça para Tavarede?
. Não. “Omara” foi escolhida por nós. É admirável, e exultamos por nos ter sido permitido representá-la. Como igualmente muito gostariamos de representar outras do mesmo autor, por exemplo, La Venus de Sal, Uma Casa en lo Alto, La Muerte, Manda Tres Rosas...
. Pode dizer-nos alguma coisa acerca da interpretação pelos amadores tavaredenses e do critério seguido na encenação de “Omara”?
. Lá o poder, posso – mas não devo. Essas coisas vêem-se no palco – e podem ver-se no sábado em Tavarede, sem necessidade de nos pormos a fazer crítica antecipada, que poderia parecer... desnecessária justificação ou tentativa de desculpa... Direi, isso sim, que todos na SIT nos empenhamos em apresentar a peça com a dignidade e o respeito que a obra e o autor merecem.
. Ainda uma pergunta: a Sociedade de Instrução Tavaredense toma parte no festival de Teatro Amador de Coimbra?
. Sim. Esse Festival, cuja realização se fica devendo ao corajoso Ateneu de Coimbra e ao seu ilustre orientador dr. Mário Temido, está a decorrer com grande brilho. Nele intervêm os grupos de teatro do CITAC, das Caldas da Rainha, de Aveiro, do Ateneu de Coimbra, do TEUC e da Sociedade de Instrução Tavaredense, que levará “Omara”.
Agradecemos a franqueza com que as nossas perguntas foram respondidas. E ao despedirmo-nos arriscámos ainda:
. Ouvimos dizer que esta peça de Sigfredo Gordon foi cedida a Tavarede com isenção de pagamento de direitos de autor, o que nos parece extraordinário, sabendo-se como é difícil aos grupos de amadores obterem autorização para representar certas peças, mesmo pagando direitos...
. Sim, sim... É o caso de Para Cada Um Sua Verdade, do Processo de Jesus... Mas isso é outra história. Adiante... Por muito estranho que pareça, a verdade é que Sigfredo Gordon, com uma gentileza que nos desvanece e muito honra os tavaredenses, autorizou a Sociedade de Instrução Tavaredense a traduzir a peça, no que foi generosamente secundado pelo seu representante, sr. D. Juan Enrique Bécker (Agência Internacional de Teatro e de Literatura Latino-Americanos, com sede na Suiça), que logo autorizou a representação de “Omara” com total isenção de pagamento de direitos de autor. E agora permita-nos a nós uma pergunta: Que diz a esta tão expressiva, e tão rara, manifestação de simpatia pela actividade dos grupos de teatro amador?
Não dissemos nada. E assim terminou a entrevista, com uma pergunta do entrevistado que deixámos sem resposta.
1965.01.16 - TEATRO EM TAVAREDE (O FIGUEIRENSE)
Pode considerar-se excepcional a actividade da velha colectividade da vizinha Tavarede. O grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense, que ainda há pouco apresentou o notável programa “Noite de Teatro Português”, com obras de Gil Vicente, Garrett e Luís Francisco Rebelo, oferece hoje ao seu público um espectáculo com foros de sensacional: representa a peça em 1 prólogo, 2 actos e 1 epílogo Omara, original de Sigfredo Gordon.
Trata-se de um grande dramaturgo hispano-mexicano, até hoje ainda não representado em Portugal. E não deixa de ser digno de registo que tenha sido dada aos amadores de Tavarede a honra de a representarem pela primeira vez no nosso país.
Pela peça que hoje subirá à cena em Tavarede – e Omara é uma obra-prima – pode aquilatar-se da craveira do seu autor, cuja vasta produção teatral vai já em 33 peças de teatro, além de outros volumes de prosa e verso. Ora, precisamente porque se trata dum grande escritor, esta estreia de Omara em Portugal reveste-se de significado especial. Foi o próprio autor que autorizou a Sociedade de Instrução Tavaredense a fazer a tradução da peça para o seu grupo cénico, e seguindo-o na mesma atitude, o seu representante internacional D. Juan Enrique Bécquer (Suiça) logo autorizou a representação de Omara com total isenção de direitos. Regista-se o facto, que traduz uma calorosa e eficiente manifestação de simpatia pelos grupos de teatro amador, e que é tanto mais digno de ser posto em foco quando são bem conhecidas as dificuldades que tanta vez impedem os amadores de representarem certas peças, mesmo pagando direitos.
Por todos os motivos se aguarda com invulgar interesse a representação de Omara, hoje em Tavarede.
1965.01.21 - UMA PEÇA NOTÁVEL “OMARA” (A VOZ DA FIGUEIRA)
Foi verdadeiramente sensacional o espectáculo de sábado passado – e que se repete no sábado próximo, dia 23 – na Sociedade de Instrução Tavaredense. A representação de “Omara” despertou uma curiosidade fora do vulgar: porque se tratava de uma obra dramática de alta categoria que ia ter a sua estreia em Portugal no teatro de Tavarede.
Muitas horas antes do espectáculo já a lotação estava esgotada! E muitos foram os sócios da benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense que não conseguiram obter lugar, tendo por isso de esperar pela repetição da peça, o que desde já assegura uma nova enchente.
A espectativa não foi iludida. Às qualidades da obra, solidamente construída, forte no realismo das figuras e do conflito e rica de beleza literária, correspondeu um desempenho equilibrado, atingindo por vezes um alto nível artístico, numa moldura cénica ajustada, que honra os amadores tavaredenses.
Sem dúvida, “Omara” é uma admirável obra teatral, e a sua economia de meios avoluma as responsabilidades da representação: o drama surge e é vivido entre mãe e filho, uma criada velha e o velho médico amigo íntimo daquela reduzida familia. Nele intervêm, também, episodicamente, a noiva do rapaz, o jardineiro da casa e um inspector da polícia que nos dá o prólogo e epílogo da peça. Com este reduzido elenco, Sigfredo Gordon escreveu uma obra de grande intensidade dramática, porque o caso é desenvolvido com personagens que são figuras humanas, que têm corpo e têm alma.
O grupo de amadores tavaredenses brilhou na interpretação de “Omara”, e não obstante uma ou outra ligeira hesitação própria duma noite de estreia, mostrou-se à altura do seu grande cometimento. Violinda Medina e Silva (Omara) foi a mãe apaixonada pelo filho que criou com um amor doentio, ultrapassando o puro amor maternal. Figura dominante da peça, exigindo intérpretes de grandes faculdades histriónicas, Violinda soube dar com espantosa verdade cénica o carácter daquela mulher forte, apaixonada, tão duramente tratada pelo destino e que se não deixa vencer, capaz de todas as violências – até a de matar o filho para que outra mulher, uma noiva, lho não venha roubar – e de todos os sacrifícios – até o do aniquilamento total, que consuma proferindo pela primeira vez a palavra – Mãe. Deu-lhe excelente réplica, no seu difícil papel do filho (Carlos), José Medina, que marcou bem no 1º. acto a alegria dum moço feliz e subiu alto na tragédia do 2º. acto e na renúncia sublime do epílogo, que põe inesperado e belo fecho à peça. João Cascão, excelente, cheio de carácter, rico de naturalidade e de intenção no velho médico da casa (Dr. Ayala); Fernando Reis confirmou seu méritos dando-nos um Inspector seguro no seu ofício, mas desviado pela força das aparências e um tanto por deformação profissional, do caminho da verdade; João Medina meteu-se na pele de Tobias, marcando com sobriedade a nota cómica do Jardineiro. Mas no naipe feminino há ainda dois elementos, duas excelentes amadoras, que merecem referência e mereceram os aplausos: Maria Dias Pereira (Ana), a velha ama, “fiel como um cão” à sua senhora; dolorosa no prólogo e no epílogo, deu a necessária vivacidade nos 2 actos intermédios; e Maria de Lourdes Moura, uma nova amadora que já se evidenciara nas duas peças anteriores (O Fim do Caminho e O Dia Seguinte) e que no papel de Virgínia, a noiva de Carlos, nos deixou a certeza dos seus progressos.
Os espectadores que enchiam a sala a transbordar, aplaudiram calorosamente, com palmas e chamadas: ao contrário do Inspector, que viu o crime onde só existiam total abnegação e sublime amor filial, os espectadores fizeram justiça. O mesmo vai suceder no próximo sábado, de novo com a casa cheia na repetição desta bela obra de Sigfredo Gordon – “Omara”.
1965.01.23 - OMARA (O FIGUEIRENSE)
O extraordinário interesse com que se guardava a nova peça do grupo cénico tavaredense encontrou plena justificação na representação de Omara, no pretérito sábado. Tratava-se de apresentar pela primeira vez em Portugal um escritor e poeta que figura nas primeiras filas da dramaturgia latino-americana – Sigfredo Gordon, autor de mais de três dezenas de obras de teatro, entre as quais Omara, gentil e generosamente cedida à Sociedade de Instrução Tavaredense, e agora posta em cena e representada com a dignidade e o brilho que tanto impressionaram os espectadores desta estreia sensacional.
A assistência era enorme, pois cedo a lotação do teatro se esgotou, pelo que foi grande o número de sócios que teve de resignar-se a esperar pela repetição da peça para poderem admirar uma verdadeira obra-prima teatral e um conjunto de interpretações de incontestável nível artístico. Foram por isso calorosos os aplausos que coroaram a representação de Omara – a cargo dum núcleo de excelentes amadores: Violinda Medina e Silva, Maria Dias Pereira, Maria de Lourdes Moura, José Medina, João Cascão, Fernando Reis e João Medina.
Omara constituíu, sob todos os aspectos, um belo êxito para a Sociedade de Instrução Tavaredense.
Merece especial registo o facto, muito honroso para os tavaredenses, de Sigfredo Gordon e o seu representante internacional, D. Juan Enrique Becquer terem facultado ao grupo tavaredense a representação de Omara, em estreia em Portugal, com total isenção de direitos de autor. Eis uma manifestação activa de simpatia pela obra cultural dos grupos de teatro amador, que não é frequente!
1965.01.28 - “OMARA” (A VOZ DA FIGUEIRA)
Novamente o excelente teatro de Tavarede se encheu no pretérito sábado, e os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense confirmaram o êxito da sua nova peça “Omara”: esta obra admirável foi mais uma vez calorosamente aplaudida por um público interessadíssimo.
Incluida no “I Festival de Teatro Amador”, o grupo de Tavarede levará Omara a Coimbra na próxima segunda-feira, pelo que a peça será representada em Tavarede, pela última vez, no sábado próximo, 30 do corrente.
Esta representação está a ser aguardada com especial interesse pois se trata duma festa de homenagem ao Autor, o grande dramaturgo hispano-mexicano Sigfredo Gordon. Estará presente o ilustre Director da Agencia Internacional de Teatro e Literatura Latino-Americanos, com sede na Suiça, D. Juan Enrique Becquer, representante de Sigfredo Gordon, que, em viagem a Lisboa, Madrid e Barcelona se deslocará propositadamente a Tavarede no sábado próximo, para assistir à representação de “Omara” pelos amadores tavaredenses.
Tem foros de sensacional a despedida do palco de Tavarede de “Omara”. Sábado será uma grande noite de festa na SIT, que está a ser esperada com enorme espectativa.
1965.02.06 - OMARA (O FIGUEIRENSE)
Como anunciámos, subiu á cena, no pretérito sábado, mais uma vez, no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, a peça “Omara”, obra-prima do notável intelectual hispano-mexicano Sigfredo Gordon, tradução de José da Silva Ribeiro.
Foi uma noite inesquecível, de verdadeira apoteose, que dificilmente se desvanecerá da memória de todos quantos tiveram a felicidade de assistir à memorável récita, que teve a presenciá-la, além dos srs. Presidente da Câmara, vereador do pelouro da Cultura, Director do Museu e Biblioteca Municipais e outras individualidades e distintas senhoras da melhor sociedade figueirense, o sr. D. Juan Enrique Becquer, que, tendo vindo da Suiça ao nosso país em viagem relacionada com os interesses dos seus representados, se deslocara propositadamente a esta localidade para conhecer e apreciar o teatro tavaredense, que mestre José Ribeiro dirige com a maior dignidade e seu profundo saber há mais de 50 anos.
Antes do início do espectáculo, José Ribeiro dirigiu brilhante saudação ao nosso ilustre hóspede e manifestou-lhe o reconhecimento da SIT pela sua tão honrosa visita, que enchia de orgulho os tavaredenses.
O público, de pé, irrompeu numa calorosa manifestação, como raramente temos assistido na SIT, a D. Juan Enrique Becquer.
Então o ilustre diplomata, transmitindo as saudações de que era portador para a prestigiosa colectividade, de sua Exª o sr. Embaixador do México em Lisboa, agradeceu num vibrante improviso as demonstrações de simpatia e carinho de que estava sendo alvo.
A representação decorreu em elevado nível artístico, salientando-se, sem desprimor para os seus companheiros, a actuação da excepcional comediante que é Violinda Medina e Silva, na interpretação de “Omara”, que por isso a numerosa assistência lhe testemunhou e aos restantes intérpretes o seu alto apreço com entusiásticos e prolongados aplausos.
No final do espectáculo e em cena aberta foi oferecido pela Direcção ao sr. D. Juan Becquer um lindo ramo de cravos, que lhe foi entregue por Violinda Medina, depois do que teve lugar um fino “copo de água”, a que assistiram, além do homenageado, as ilustres individualidades presentes e o pessoal que tomou parte na inolvidável representação. Fizeram uso da palavra os srs Presidente da Câmara, Professor Rui Martins, Jerónimo Pais, António Lopes e D. Juan Becquer que renovou o seu reconhecimento pela encantadora recepção que lhe havia sido dispensada.
O sr. D. Juan Becquer, que chegara à Figueira na sexta-feira, regressou a Lisboa no domingo, tendo comparecido a apresentar-lhe cumprimentos e a desejar-lhe boa viagem, directores da SIT, Professor António Vitor Guerra e outros elementos da colectividade.
Durante a sua curta estadia nessa cidade, sua exª visitou, acompanhado dos srs. Professor António Vitor Guerra e José Ribeiro, a Casa do Paço, onde apreciou os artísticos e valiosos azulejos ali existentes, o Museu e Biblioteca, o Grande Hotel e a Serra da Boa Viagem, confessando-se encantado com a Praia da Claridade e o mais que lhe foi dado observar.
Na segunda-feira foi o mesmo grupo cénico a Coimbra, representar no Teatro Avenida, “Omara”, com que tomou parte no I Festival do Teatro Amador, da organização do Ateneu daquela cidade.
O público apreciou a peça e aplaudiu vibrantemente os tavaredenses.
No próximo domingo, 14, subirá à cena, em “matinée”, no teatro da SIT, a notável obra, para corresponder às exigências do público que ainda não teve possibilidades de assistir às representações anteriores de “Omara”.
Também no dia 22 do corrente e a convite da Empresa do Teatro Avenida o grupo dramático da SIT se deslocará a Aveiro para ali repetir o esplêndido espectáculo.
1965.02.11 - TEATRO NA SIT (A VOZ DA FIGUEIRA)
Alto momento de vibração bairrista foi vivido na récita de homenagem ao autor da peça “Omara”, que a Sociedade de Instrução Tavaredense conseguiu representar em condições honrosíssimas, como este jornal já largamente noticiou.
Estiveram presentes categorizadas individualidades figueirenses, mas a presença do sr. D. Juan Enrique Becquer, Director da Agência Internacional de Teatro e Literatura Latino-Americano (Suissa) imprimiu à festa um cunho do mais alto significado.
A abrir o espectáculo, mestre José Ribeiro saudou, num brilhante discurso, o ilustre visitante, testemunhando-lhe a gratidão da Sociedade de Instrução Tavaredense pela sua gentileza.
A plateia ergueu-se em peso para se associar, em estrondosa ovação, às palavras finais do orador.
O sr. Enrique Becquer agradeceu, em termos cativantes, o testemunho de simpatia e carinho com que o tinham distinguido, afirmando que era portador das saudações do sr. Embaixador do México em Lisboa, o qual só por motivos estranhos à sua vontade deixara de estar também ali presente.
No final do espectáculo, em cena aberta, foi oferecido ao sr. D. Juan Becquer um lindo ramo de cravos. A actriz amadora D. Violinda Medina e Silva fez a entrega.
Num copo de água realizado a seguir, fizeram uso da palavra o Presidente do Município, sr. Engº. José Coelho Jordão, prof. Rui Fernandes Martins, José da Silva Ribeiro, Jerónimo Pais, António de Oliveira Lopes e D. Juan Becquer, que reiterou o seu vivo agradecimento, pela recepção que lhe haviam dispensado.
Em suma, uma festa que deixou as melhores recordações.
É de justiça assinalar o êxito que o grupo cénico da SIT alcançou em Coimbra, no “I Festival de Teatro Amador”, com a representação da peça “Omara”, êxito eloquentemente traduzido nas vibrantes aclamações que o público lhe dispensou.
1965.02.07 - TEATRO (O FIGUEIRENSE)
Com a “matinée” de domingo último na Sociedade de Omstrução Tavaredense, terminou a série de espectáculos que o seu grupo cénico vinha efectuando com peça “Omara”.
Na segunda-feira, como anunciámos, foi a referida peça levada à cena no Teatro Aveirense.
Como sucedera em Tavarede e Coimbra, onde os intérpretes e seu ensaiador foram ardentemente aclamados, a distinta plateia aveirense também rendeu seus vibrantes louvores aos nossos conterrâneos.
De facto, a dignidade com que a notável obra foi posta em cena, impõe-se de tal maneira a quantos apreciam o chamado teatro sério, que o público, vivendo ardentemente o desenrolar da acção, não pode deixar de exteriorizar com seus aplausos entusiásticos o prazer espiritual que lhe porporciona o grupo de amadores tavaredense.
O pessoal do teatro Aveirense, assinalando a primorosa representação, ofereceu a mestre José Ribeiro uma artística lembrança e um ramo de bonitos cravos a Violinda Medina e Silva, que, na difícil interpretação da principal personagem, Omara, tem uma das suas mais brilhantes criações.
Antes, porém, o distinto advogado dr. David Cristo, saudou os tavaredenses, tecendo-lhes rasgados elogios, tendo palavras do maior apreço para com José da Silva Ribeiro pela persistência com que no decurso dos 50 anos de seu orientador artístico, vem contribuindo, poderosamente, através do teatro, para a elevação do grau de cultura do povo da sua e nossa terra.
José Ribeiro, num dos seus peculiares e sempre brilhantes improvisos, agradeceu a homenagem que lhe havia sido prestada pelos humildes servidores do Teatro Avenida, arrebatando a numerosa assistência que lhe tributou grandiosa ovação.
Como sempre, pelo que lhe ficamos profundamente gratos, a direcção da Empresa cumulou de gentilezas, que não esquecem, a caravana tavaredense.
1965.10.09 - TEATRO (O FIGUEIRENSE)
Com a presença de altas individualidades da Figueira da Foz, que emprestaram ao acto solenidade, representou-se no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, no último sábado, como referimos, o espectáculo Vicentino, para assinalar o início das comemorações do V Centenário do nascimento do fundador do Teatro em Portugal, a que se propôs o grupo cénico daquela associação.
Noite grande de teatro a que tivemos o grato prazer de assistir. Espectáculo inesquecível, dominante, íamos a dizer de glória para o Teatro Tavaredense. E ousamos esta afirmação em face das opiniões que nos foram manifestadas por grande parte dos espectadores e que eram unânimes em reconhecer que a SIT possui, presentemente, em boa verdade, um esplêndido conjunto de amadores que honra sobremaneira a terra do limonete. É que a sua actuação em qualquer das obras de Gil Vicente representadas, foi de molde a merecer os maiores encómios do público.
Depois, aquele maravilhoso guarda-roupa da Casa Anahorym os artísticos cenários de Manuel de Oliveira e José Maria Marques, a impecável montagem de mestre José Ribeiro, que adequado jogo de luzes mais fazia realçar, quem poderá esquecer?
Antes de subir o pano, José da Silva Ribeiro veio ao proscénio para falar de Gil Vicente. No final da sua brilhante alocução, a numerosa assistência tributou-lhe calorosa ovação.
O grupo dramático da SIT está de parabéns e nós, que admiramos a sua dedicação pelo teatro, não podemos deixar também de lhes testemunhar o nosso melhor apreço e simpatia.
O distinto actor sr. Joaquim de Oliveira, grande estudioso de Gil Vicente, veio propositadamente de Lisboa assistir à memorável récita.
O espectáculo foi repetido no domingo, em “matinée”, tendo alcançado idêntico êxito.
1965.10.09 - UMA NOITE VICENTINA (O DEVER)
A Sociedade de Instrução Tavaredense dá-nos uma admirável lição, cheia de significado e consequências no momento presente: a de que é possível, num meio de características nitidamente populares, numa época em que qualquer actividade amadora que vise apenas a Cultura, parece votada, de antemão, ao mais total malogro, fazer Teatro, manter um genuíno amor por esse Teatro e através dele, educar, na mais bela e verdadeira acepção do termo.
Esse desmentido cotidiano aos que duvidam e aos que se rendem, produto de tanto sacrifício e devotamento, reveste-se de uma extraordinária importância. Mostra a todos nós que vale a pena lutar, que nunca o sacrifício é inglório, mesmo que o pareça, e que não é a bajular covardemente os instintos primários de um público ignorante que se serve esse mesmo público, mas sim a mostrar-lhe o que ele encerra em si de riquezas insuspeitas.
No esplêndido Teatro de Tavarede, sob a batuta de um mágico, repetiu-se o milagre. Gil Vicente ressuscitou, com mais vida, sem dúvida, do que nos saraus da corte joanina, porque ele “vive” nas suas personagens eternas e não nos seus dados biográficos, tão raros, tão vazios e tão inúteis...
Representado por aqueles que lhe forneceram a seiva vivificadora e para quem criou, não teve, é fora de dúvida, neste ano do Centenário homenagem mais digna dele próprio!...
1965.10.30 - SARAU VICENTINO (O DEVER)
Integrado nas festas comemorativas do V centenário do nascimento de Gil Vicente, realizou-se, no passado dia 27 do corrente, no teatro do Grande Casino Peninsular, um sarau Vicentino, que a todos agradou, plenamente, pelo alto nível em que decorreu.
Este espectáculo foi promovido pela Biblioteca Pública Municipal Pedro Fernandes Tomás e a ele assistiram, além de um numeroso e selecto público, individualidades de muito destaque da nossa cidade universitária.
Num brilhante improviso o distinto Director da Biblioteca, sr. Prof. António Vitor Guerra, agradeceu a todos os que com a sua presença pretenderam, também, homenagear a sublime figura de mestre Gil Vicente, o criador do teatro nacional. Com palavras altamente elogiosas endereçou, também, os seus agradecimentos ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, que na arte de representar tem sabido honrar as tradições do nosso concelho, graças ao muito saber e dedicação do seu encenador e director sr. José da Silva Ribeiro, que há 50 anos criteriosamente o dirige.
Antes da representação dos Autos foi a distinta assistência brindada, com uma magistral alocução, pelo sr. José da Silva Ribeiro, que em breves palavras traçou o perfil do criador do teatro português de sabor cómico e hierático de essência popular, revelando-nos a sua vida e obra com a fluência da sua palavra, sendo por isso muito aplaudido ao terminar a sua lição plena de eloquência e erudição.
Finalmente seguiu-se a representação de 2 autos e 4 fragmentos de obras vicentinas, que pela forma como foram desempenhados mereceram de todos, quantos a este sarau assistiram, os melhores elogios e as mais justas ovações.
No intervalo do 2º acto, em representação do sr. Presidente da Câmara, ausente em missão oficial, o sr. Vice-Presidente, Dr. Alfredo Antunes dos Santos, acompanhado do Director da Biblioteca, ofereceu um ramo de flores à intérprete mais representativa do grupo cénico, D. Violinda Medina, que, com os restantes elementos e o seu Director, agradeceram esta significativa e muito justa homenagem do nosso Municipio.
1965.11.01 - V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE GIL VICENTE (A VOZ DA FIGUEIRA)
Em espectáculo promovido pela Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás, desta cidade, que sob a proficiente direcção desse alto valor local que é o prof. António Vitor Guerra, não só cada vez mais se prestigia, engrandece e valoriza, como não desperdiça pretexto para exercer relevante e profícua acção cultural no nosso meio, veio até ao Teatro do Peninsular dar-nos uma noite vicentina, esse adnirável grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense, em que pontifica a arte, o saber, o talento, a dedicação, o amor ao teatro e o próprio espírito de sacrifício de José Ribeiro.
E sem exagero se pode afirmar que com este espectáculo a Figueira marcou brilhante lugar de destaque nas comemorações do “V Centenário do Nascimento de Gil Vicente”, encaradas estas à escala nacional. Opinião com que, sem dúvida, não haverá ninguém discordante entre a numerosa assistência, mesmo tendo em conta que entre ela se encontravam destacadas individualidades do corpo docente da Universidade de Coimbra e até um mestre e um apaixonado do teatro vicentino como o professor doutor Paulo Quintela.
Usou em primeiro lugar da palavra o prof. António Vitor Guerra, que encantou positivamente todos os presentes com o seu verbo fácil, elegante, em que a beleza da forma se aliou a justeza do conceito. Palavras precisas e convincentes sobre a actuação da Sociedade de Instrução Tavaredense e dos seus amadores, tanto sob o aspecto artístico como beneficente. Objectiva apreciação dos méritos de José Ribeiro nas múltiplas facetas sob que tem dado ao teatro cinquenta anos de persistente actividade, com uma isenção absoluta e uma proficiência notável. Preito de homenagem ao Homem e aos seus dotes de inteligência, de talento e de carácter e também exaltação da sua integridade moral e do exemplo de civismo que representa toda a sua vida. Louvor da obra de Gil Vicente, esse grande português que deslumbrou a Europa do seu tempo e para ler o qual Erasmo aprendeu a nossa língua. Em resumo, uma oração que só por si, na opinião de alguns dos presentes, já justificava a deslocação até ao Peninsular.
Foi depois a vez de José Ribeiro. Um homem do povo de talento falando com compreensão, carinho, paixão e saber, de outro homem do povo, esse tocado pela centelha do génio. Um desfiar de ensinamentos que se procurou tornar acessíveis a toda a gente, independentemente do seu grau de cultura e capacidade intelectual e que para toda a gente tiveram o mesmo interesse. Uma lição sobre Gil Vicente e o seu teatro e, simultaneamente, uma lição de que de todos os assuntos se pode falar com profundidade e elevação e ao mesmo tempo com simplicidade e clareza. Assim se possuam invulgares qualidades e dotes que permitam fazê-lo, o que está por isso ao alcance de poucos.
E com esta excelente preparação se passou a ver representar Gil Vicente, através de primorosa interpretação dos amadores de Tavarede, em “Auto da Barca do Inferno”, “Fragmentos de 4 obras vicentinas” (I – Auto Pastoril Português; II – Romagem dos Agravados; III – Breve Sumário da História de Deus; e IV – Pranto de Maria Parda) e Auto da Feira.
O teatro de Gil Vicente dos amadores de Tavarede é um teatro popular, acessível aos nobres e vilões do tempo em que foi criado e às heterogéneas plateias dos nossos dias. Dele foram, portanto, banidos todos os preciosismos, todas as manifestações de interpretação com pruridos de exótica e qualquer espécie de snobismo falsamente intelectualizado. Respeita-se assim, com consciência e honestidade, a raíz de tal criação artística e presta-se também ao autor a merecida homenagem de considerar a sua obra com mérito bastante para se impor por si própria e em circunstâncias o mais semelhantes possíveis àquelas em que Gil Vicente a fez representar. O que nos parece só merecer elogio e aplauso.
Mas dentro deste critério quanto escrúpulo, cuidado, zelo, carinho, persistência e saber foi mister pôr em jogo para conseguir aquele milagre de assim fazer representar Gil Vicente pelos amadores de Tavarede.
É preciso que nos convençamos de que popular não é sinónimo de grosseiro, tosco, boçal, rude e inferior, pois ao povo podemos e devemos ir procurar as bases das melhores tradições artísticas.
Não cabe, como é óbvio, nos limites de uma simples notícia como esta, apreciação detalhada do desempenho. No entanto não é descabido o apontamento de que a nota mais frisante dele deve sem dúvida consistir na homogeneidade, apuro e equilíbrio do conjunto. Um bravo pois a todos os intérpretes e com muito mais razão a José Ribeiro, que conseguiu o milagre de pôr de pé espectáculo de tal categoria e de assim fazer representar o povo de Tavarede. Evidentemente que a ninguém, por ingenuidade ou má fé, é licito chegar à conclusão, em face do que fica dito, que de qualquer forma se pretenda ignorar ou sequer diminuir, o mérito, até excepcional, da intervenção nas peças representadas, de vários e justamente consagrados amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense. Bastaria o exemplo de Violinda Medina para tornar ridícula tal conclusão. A sua “Maria Parda” constitui uma interpretação notável, com a qual só seriam capazes de emparceirar as de algumas das nossas primeiras actrizes. Mas também Fernando Reis (onde estão os profissionais que desdenhassem dos méritos e da correcção do seu Gil Vicente?), António Jorge da Silva (cuja reaparição se saúda e sobretudo em “João Murtinheira, vilão”, deu convincente prova dos seus invulgares dotes histriónicos), João Cascão e outros, tiveram intervenções pessoais que muito contribuiram para o brilho do espectáculo. E até aquela jovem Ilda Manuela Duarte Gomes foi um encantador e verdadeiro “Serafim”. O que não invalida, porém, a nossa já expressa opinião de ser a homogeneidade, o apuro e o equilíbrio do conjunto, a faceta mais destacada do notável espectáculo agora oferecido aos figueirenses, em comemoração do “V Centenário do Nascimento de Gil Vicente”.
1965.11.06 - GIL VICENTE (O FIGUEIRENSE)
Promovido pela Biblioteca Pública Municipal, dessa cidade, realizou-se no dia 27 de Outubro findo, no teatro do Grande Casino Peninsular, o espectáculo celebrando o V Centenário do nascimento de Gil Vicente, pelo grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, com o mesmo programa que havia sido representado na sede, nos dias 2 e 3 do referido mês, com que a benemérita colectividade local se associou também às comemorações que estão a decorrer em várias localidades do país, em homenagem ao fundador do Teatro Português.
Antes do início do espectáculo, o sr. Professor António Vitor Guerra, ilustre Director daquele notável estabelecimento cultural – que honra altamente a cidade da Figueira da Foz – veio ao proscénio dizer algumas palavras acerca de Gil Vicente e manifestar o seu reconhecimento ao admirável grupo dramático da SIT, de modo particular ao seu proficiente orientador.
Como estava anunciado, o sr. José da Silva Ribeiro, conhecedor profundo da obra de Gil Vicente, proferiu uma brilhante alocução sobre o Grande Mestre de Teatro, que a numerosa assistência, que enchia literalmente a ampla sala, ouviu religiosamente, tributando-lhe no final calorosos e prolongados aplausos.
Sobre a representação, que foi mais um singular êxito alcançado pelos tavaredenses, dizem-no o interesse e o entusiasmo com que a plateia figueirense assistiu e premiou o trabalho dos modestos amadores e ainda as inúmeras saudações recebidas pelo seu ensaiador.
Num dos intervalos, foi pelo sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal, que se fazia acompanhar pelo director da Biblioteca, entregue à distinta amadora Violinda Medina e Silva um bonito ramo de flores.
1965.11.13 - COMEMORAÇÕES VICENTINAS (O FIGUEIRENSE)
Em comemoração do V Centenário do nascimento de Gil Vicente, realizou-se no Teatro do Casino Peninsular um grandioso espectáculo oferecido ao povo figueirense pela Biblioteca Pública Pedro Fernandes Tomás, com a colaboração do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Usou da palavra o sr. professor António Vitor Guerra, director da Biblioteca, que, numa oração brilhantíssima, enalteceu a obra consagrada do fundador do “Teatro Português”. Em seguida falou o sr. José da Silva Ribeiro, fazendo o elogio da vida e actividade de Gil Vicente, em palavras simples mas expressivas.
O “Grupo Cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense” que, além do Auto da Barca do Inferno e Auto da Feira, nos deu fragmentos de 4 obras vicentinas, pode orgulhar-se de possuir um elenco de artistas-amadores digno dos maiores encómios.
O seu director e ensaiador sr. José da Silva Ribeiro, que há longos anos trabalha na organização e aperfeiçoamento do grupo, não se poupando a canseiras, deve sentir-se satisfeito de ter realizado um Festival Vicentino à altura do acontecimento nacional e, portanto, digno dos maiores elogios e reconhecimento do público da Figueira da Foz.
Entre os intérpretes, que mais se distinguiram, queremos salientar o nome de Violinda Medina e Silva que, no “Pranto de Maria Parda”, teve trabalho verdadeiramente excepcional, assim como o de Fernando Reis que nos deu um “Arrais do Inferno” de grande incremento satânico.
De aspecto geral, todos os componentes se portaram com brilho e de forma a dignificar o “Teatro Português”.
O público manifestou o seu entusiasmo, aplaudindo, no final de cada obra, todos os artistas com vibrantes e calorosas palmas.
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