sábado, 3 de novembro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 52


1999.01.08     -     BI-CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALMEIDA GARRETT (O FIGUEIRENSE)

                A Sociedade de Instrução Tavaredense (SIT), à semelhança do que tem feito com outras figuras de relevo cultural, vai assinalar o bi-centenário do nascimento de Almeida Garrett, um dos grandes vultos da literatura portuguesa, numa data que será festejada pela SIT, e que se inicia com as festividades alusivas do 95º aniversário da colectividade, prolongando-se até ao 25 de Abril. Assim, são três comemorações culturais numa festa só.
                “Estas comemorações são para todo o concelho, nomeadamente para as camadas jovens”, explicava aos jornalistas Rosa Paz, presidente da direcção da SIT, quando apresentava a iniciativa que vai ter o apoio do município figueirense e que visa, entre outras coisas, promover um espectáculo cultural que inclua diversas facetas do escritor como dramaturgo, pois Garrett é um escritor estudado nas nossas escolas e “devorado com apetite”, dizia Ilda Simões.
                Integrado nas festividades do aniversário da SIT, nos dias 23 e 30 do corrente, vai ser apresentada a comédia “O Festim do Baltazar”, que terá na segunda parte “História Cantada de Tavarede”, uma peça que envolve cerca de 50 pessoas, ficando depois para Abril o grande espectáculo cultural alusivo a Almeida Garrett que, como disse Ilda Simões, é preciso “incentivar o gosto pelo teatro”. Mas os objectivos da iniciativa passam também por desenvolver atitudes de preservação e animação da cultura portuguesa; dar a conhecer a cultura teatral do concelho; desenvolver o espírito crítico e conhecer alguns modos de vida, pensamento e história do século XIX, contrapondo-os com os da actualidade.
                Mas ainda segundo Ilda Simões, para actuar nestes domínios, propõem-se realizar um espectáculo cultural que contemple diferentes facetas do grande escritor, porque “não é inédito em Tavarede comemorar-se datas marcantes da História da Cultura”, e por isso não vão deixar de o fazer agora no bi-centenário do nascimento de Garrett até porque, frisava a directora do grupo cénico da SIT, “Garrett é um grande vulto da nossa literatura; porque somos uma população rica em actividade teatral; porque há muitas crianças, jovens e até gente adulta que não conhece a obra de Garrett” e porque, como dizia o próprio Garrett, “o teatro é um grande meio de civilização, mas não próspero onde não o há”.
                O grande espectáculo cultural vai incluir excertos de algumas obras do homenageado, nomeadamente, “Folhas Caídas”, “Romanceiro”, “Viagem à Minha Terra”, “O Arco de Sant’Ana” e “Frei Luís de Sousa”, excertos da “Terra do Limonete”, de José da Silva Ribeiro, e textos de Maria Clementina Reis Jorge da Silva e Ilda Manuela Simões.
                Dado o interesse cultural do evento, o grupo promotor da SIT vai ser recebido pela Câmara Municipal para acertar as formas de apoio, nomeadamente levar o espectáculo às freguesias do concelho e trazer as crianças das escolas à Sociedade de Instrução Tavaredense para verem o teatro.

1999.02.11     -     O FESTIM DE BALTHAZAR (A LINHA DO OESTE)

                No passado domingo, a SIT levou à cena “O Festim de Balthazar”, um texto reeditado por esta secção cénica, da autoria de Gervásio Lobato.
                Trata-se de uma comédia num só acto que procura castigar os costumes dos que vivem à custa dos bens e da bondade dos outros. Balthazar (João Medina) refugia-se na província por forma a manter-se distante de um grupo de “amigos da onça” que frequentam a sua casa, apenas com o intuito de bem comerem e beberem. Como deste grupo faz parte uma jornalista (Ilda Simões) logo todos ficam a saber onde se encontra o infeliz. O seu aparecimento e a forma com vão perturbar a paz de Balthazar constituem o cerne dos trocadilhos de que a peça vive.
                Toda a peça vive da feliz interpretação de João Medina sendo de notar que, não obstante o facto de os mais novos mostrarem ainda algumas reticências, próprias de quem dá os primeiros passos, (sobretudo a nível da dicção) o conjunto é de uma enorme entrega e dedicação. Boas interpretações também da mulher de Balthazar (Lurdes ontro) e do caçador pitosga (Rogério Neves).
                O público responde bem à entrega dos actores e as gargalhadas são uma constante ao longo de toda a representação, o que prova que não há, neste teatro, qualquer divórcio com o público. O cenário e os adereços, naturalistas, enquadram-se na peça (vai sendo tempo de tirar os vasos de plantas da ribalta) pois, mais não parece ser de exigir. A iluminação poderia ter um uso mais adequado se usada de forma criativa.
                A SIT proporciona um rápido, mas bom momento de teatro, a provar que este também pode ser divertido sem cair no exagero das interpretações e na trapalhada das imitações revisteiras.

1999.05.20     -     GARRETT EM TAVAREDE (A LINHA DO OESTE)

                A secção cénica da SIT levou à cena, no passado sábado, em estreia e perante uma sala repleta, a peça “Na Presença de Garrett”.
                Num cenário a improvisar um estúdio de televisão, onde não faltava sequer uma câmara da TVT – Televisão de Tavarede – uma jornalista entrevista Almeida Garrett, o qual vai desfiando o passar da sua história de escritor, dramaturgo, político e combatente da liberdade.
                As referências às peças ou às obras, durante a entrevista, são motivo de representação de pequenos quadros a elas respeitantes.
                O carácter pedagógico da peça, que visava apresentar o homem e a sua obra, são patentes ao longo do espectáculo e nos textos cuidados que servem as falas das personagens, às vezes demasiado eruditos, diga-se, como as opiniões sobre as obras e as citações de mestres, de que é exemplo Vitorino Nemésio.
                Ainda pouco seguros nos seus papéis e com os movimentos a revelar algum nervosismo, os amadores da SIT conseguiram manter um ritmo no que constitui um espectáculo difícil e arrojado. De facto, querer mostrar tanto em tão pouco tempo, faz sempre correr o risco de mostrar pouco ou nada.
                As representações dos excertos de peças ou romances de Garrett pecaram justamente por aparecerem desgarrados e descarnados do seu contexto. É exemplo disto, o episódio do “Falar verdade a mentir”, um quadro humorístico mas que, isolado, não surtiu efeito. Um episódio do “Arco de Sant’Ana”, bem representado, perdeu-se por falta de seguimento.
                Julgamos que a homenagem a Garrett teria sido mais proveitosa com a representação de uma única peça do autor.
                Uma nota para o cenário e para as luzes. O primeiro, de uma inacreditável vulgaridade e mau gosto, onde ficaria melhor um pano negro, ao passo que as segundas mereceriam melhor aproveitamento.
                Para que não conhecer o teatro de Garrett vale a pena ir ver.

1999.05.27     -     “NA PRESENÇA DE GARRETT” (O DEVER)

                No Teatro Taborda de Brenha, uma sala de grandes tradições, teve lugar, em 21 de Maio, no âmbito das XXII Jornadas de Teatro Amador da Figueira da Foz, a representação da peça “Na Presença de Garrett” pela Sociedade de Instrução Tavaredense.
                Com a casa à cunha para poder apreciar essa arte reconhecida saída da escola de Mestre José Ribeiro, há que dizer que a expectativa não saiu defraudada, escrevendo-se naquele palco uma das páginas mais brilhantes das jornadas com a apresentação da peça com que Tavarede havia assinalado o bicentenário de Almeida Garrett, esse vulto do teatro português.
                E a primeira palavra, de muito apreço, vai para a sensibilidade artística que presidiu à escolha dos fragmentos das obras de Garrett – Viagens na minha terra; Fala verdade a mentir; O Arco de Sant’Ana; Folhas Caídas; Romanceiro e Frei Luís de Sousa – bem como na metodologia que serviu de fio condutor à sequência dos “quadros” que deram corpo à peça e deixaram na assistência uma visão da vida e obra de Almeida Garrett, trabalho meritório da responsabilidade de Ilda Manuela Simões a quem ficou a dever-se, igualmente, o enquadramento oportuno daquele desfiar de referências e no papel, determinante, de apresentadora/entrevistadora de Garrett.
                Outra distinção, igualmente, para o trabalho de direcção de palco pela forma profissional como se operaram as  mudanças de cena sem baixar o pano, aspecto de grande reflexo no êxito do espectáculo e que, só por si, define o alto nível do grupo.
                Na presença de Garrett (a que João José Silva emprestou aprumo e diálogo com a naturalidade e arte trazidas de muitos papéis) se passaram muitas situações a que deram vida artistas de créditos firmados, casos de Joaninha e da avó – uma cega cuidada ao pormenor do gesto -, o duplo de Garrett – José Medina, outra relíquia da escola de Tavarede – entre outros que com tanta arte completaram o ramo, naquela lição, ao vivo, de história onde o liberalismo de que Garrett foi percursor e por onde passaram José da Silva Ribeiro como referencial de Tavarede nesse movimento de esperança tão bem expresso naquele “E quem choramos nós” bem marcante na estátua de Manuel Fernandes Tomás com que a Figueira assinalou a sua vocação liberal ainda hoje actuante
                Escolhida para remate do espectáculo a obra mais representativa de Garrett, “Frei Luis de Sousa” foi devolvida à cena trinta e tal anos depois de em Tavarede ter obtido assinalável êxito; “exigida” por um espectador muito especial – oura relíquia da SIT, João Medina – que voltou a assumir o dramatismo de Telmo Pais naquela carga pesadíssima de emoção em que José Medina desempenhou com um realismo admirável o papel-chave de Manuel de Sousa Coutinho a que Maria Clementina (uma Madalena de nervos de aço) emprestou comoção entre uma Maria (Ana Filipa Paz Mendes) dimensionada à medida da tragédia, e a que Rogério Neves (um Frei Jorge à altura das circunstâncias) se juntou o dramatismo do Romeiro (José Luís do Nascimento) e a benção do Prior (José Silva).
                E porque a SIT é uma escola, lá estiveram alguns jovens a provar que o teatro tem... futuro.
                Para as jornadas ficou essa lição de bem representar e a certeza de que Tavarede continua a ter cátedra no Teatro Amador do Concelho e um exemplo a nível nacional.
                E, também, que esta feliz iniciativa do Lions Clube da Figueira não pode acabar!

1999.05.28     -     GARRETT REINCARNA EM TAVAREDE (O FIGUEIRENSE)

                No ano em que se comemora o duplo centenário do nascimento do grande dramaturgo não podia a “Capital do teatro” do nosso concelho deixar passar em claro tal efeméride.
                Fê-lo de modo bem vincado e digno partindo de um texto adrede escrito, permitindo-se ilustrar a representação com diversas incursões por algumas obras do polígrafo, com especial realce para o Frei Luís de Sousa, de que nos apresentou o terceiro acto, completo. Teve esta encenação a particularidade de, em simultâneo, manter quase sempre em cena o próprio Garrett, o qual ia respondendo a curioso e bem elaborado questionário de uma arguta jornalista e, ao mesmo tempo, revendo-se, emocionado e feliz, na sua própria obra, a dois séculos de distância.
                Confirmando o que alguém disse, muito justamente, ser Garrett “de entre todos os escritores do século XIX o mais lido, o mais estudado e o mais amado pelas novas gerações”, as autores do texto, dras. Ilda Manuela Simões e Maria Clementina Reis Jorge Silva, tiveram a feliz ideia – como esclarecidas pedagogas que se orgulham de ser – de pôr em palco vários alunos das nossas escolas, os quais, além de breve troca de impressões com o presencial autor, declamaram alguns dos seus mais significativos poemas.
                Também a História de Portugal, no que concerne à ligação ideológica do liberalismo defendido e vivido por Garrett no segundo quartel do século XIX, com a implantação da República em 1910, e, mais perto de nós, com a eclosão do 25 deAbril de 1974, foi feita uma abordagem oportuna e proficientemente pedagógica e digna de registo.
                Finalmente: ante os tão demorados agradecimentos expressos pela responsável a todo um ror de gente que contribuira para tal realização, fica a todos a certeza de que o teatro mexe, verdadeiramente, em Tavarede. Parabéns!

1999.06.04     -     PARABÉNS, TAVAREDE (O FIGUEIRENSE)

                Sou apreciador de teatro já há muitos anos. Talvez mais de 50, e também há já muitos anos comecei a ser admirador do teatro de Tavarede, mais precisamente da SIT, aquela que é a grande escola de teatro do nosso concelho, e que teve como professor o grande mestre José da Silva Ribeiro, meu grande e estremecido amigo.
                Assim, decidi ir a Brenha ver o teatro. Fui porque era a SIT que subia ao palco, e por outro lado porque tinha lido um artigo num jornal da nossa cidade, que me havia deixado intrigado. Não podia ser verdade o que o artigo dizia. Para acreditar teria de ir ver.
                O teatro começou, e não foram precisos muitos minutos para começar a pensar que afinal o que tinha lido não passava de uma brincadeira de mau gosto. Os amadores de Tavarede portaram-se condignamente. Foi uma apresentadora muito boa que conduziu a entrevista a Garrett (parabéns João José Silva!). Os quadros e textos muito bem escolhidos (ainda que alguns necessitassem de um pouco mais de texto para um melhor enquadramento) e as interpretações foram de alto nível. Parabéns àquela criada do “Falar Verdade a Mentir” que. com um à vontade fora de série, fazia inveja a muitos profissionais. As meninas do “Arco de Sant’Ana” também com grandes interpretações.
                Seguiram-se outras cenas, mas vou apenas referir-me a mais uma obra: “o “Frei Luís de Sousa”. Foi um interpretação majestosa por parte de todos os amadores. Garrett teria concerteza gostado!Assim, palavras para quê?
                Ah! já me esquecia de dizer que fui a Lisboa, ainda há poucos meses, ver o “Falar Verdade a Mentir” e o “Frei Luís de Sousa”, e só posso dizer que Tavarede está de parabéns, e que não se envergonharia se representasse ao lado dos profissionais do teatro nacional.
                Força e continuem, pois a “palavras loucas, orelhas moucas”.

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