1999.01.08 -
BI-CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALMEIDA GARRETT (O FIGUEIRENSE)
A Sociedade de Instrução
Tavaredense (SIT), à semelhança do que tem feito com outras figuras de relevo
cultural, vai assinalar o bi-centenário do nascimento de Almeida Garrett, um
dos grandes vultos da literatura portuguesa, numa data que será festejada pela
SIT, e que se inicia com as festividades alusivas do 95º aniversário da
colectividade, prolongando-se até ao 25 de Abril. Assim, são três comemorações
culturais numa festa só.
“Estas
comemorações são para todo o concelho, nomeadamente para as camadas jovens”,
explicava aos jornalistas Rosa Paz, presidente da direcção da SIT, quando
apresentava a iniciativa que vai ter o apoio do município figueirense e que
visa, entre outras coisas, promover um espectáculo cultural que inclua diversas
facetas do escritor como dramaturgo, pois Garrett é um escritor estudado nas
nossas escolas e “devorado com apetite”, dizia Ilda Simões.
Integrado
nas festividades do aniversário da SIT, nos dias 23 e 30 do corrente, vai ser
apresentada a comédia “O Festim do Baltazar”, que terá na segunda parte
“História Cantada de Tavarede”, uma peça que envolve cerca de 50 pessoas,
ficando depois para Abril o grande espectáculo cultural alusivo a Almeida
Garrett que, como disse Ilda Simões, é preciso “incentivar o gosto pelo
teatro”. Mas os objectivos da iniciativa passam também por desenvolver atitudes
de preservação e animação da cultura portuguesa; dar a conhecer a cultura
teatral do concelho; desenvolver o espírito crítico e conhecer alguns modos de
vida, pensamento e história do século XIX, contrapondo-os com os da
actualidade.
Mas
ainda segundo Ilda Simões, para actuar nestes domínios, propõem-se realizar um
espectáculo cultural que contemple diferentes facetas do grande escritor,
porque “não é inédito em Tavarede comemorar-se datas marcantes da História da
Cultura”, e por isso não vão deixar de o fazer agora no bi-centenário do
nascimento de Garrett até porque, frisava a directora do grupo cénico da SIT,
“Garrett é um grande vulto da nossa literatura; porque somos uma população rica
em actividade teatral; porque há muitas crianças, jovens e até gente adulta que
não conhece a obra de Garrett” e porque, como dizia o próprio Garrett, “o
teatro é um grande meio de civilização, mas não próspero onde não o há”.
O
grande espectáculo cultural vai incluir excertos de algumas obras do
homenageado, nomeadamente, “Folhas Caídas”, “Romanceiro”, “Viagem à Minha
Terra”, “O Arco de Sant’Ana” e “Frei Luís de Sousa”, excertos da “Terra do
Limonete”, de José da Silva Ribeiro, e textos de Maria Clementina Reis Jorge da
Silva e Ilda Manuela Simões.
Dado
o interesse cultural do evento, o grupo promotor da SIT vai ser recebido pela
Câmara Municipal para acertar as formas de apoio, nomeadamente levar o
espectáculo às freguesias do concelho e trazer as crianças das escolas à
Sociedade de Instrução Tavaredense para verem o teatro.
1999.02.11 -
O FESTIM DE BALTHAZAR (A LINHA DO
OESTE)
No
passado domingo, a SIT levou à cena “O Festim de Balthazar”, um texto reeditado
por esta secção cénica, da autoria de Gervásio Lobato.
Trata-se
de uma comédia num só acto que procura castigar os costumes dos que vivem à
custa dos bens e da bondade dos outros. Balthazar (João Medina) refugia-se na
província por forma a manter-se distante de um grupo de “amigos da onça” que
frequentam a sua casa, apenas com o intuito de bem comerem e beberem. Como
deste grupo faz parte uma jornalista (Ilda Simões) logo todos ficam a saber
onde se encontra o infeliz. O seu aparecimento e a forma com vão perturbar a
paz de Balthazar constituem o cerne dos trocadilhos de que a peça vive.
Toda
a peça vive da feliz interpretação de João Medina sendo de notar que, não obstante
o facto de os mais novos mostrarem ainda algumas reticências, próprias de quem
dá os primeiros passos, (sobretudo a nível da dicção) o conjunto é de uma
enorme entrega e dedicação. Boas interpretações também da mulher de Balthazar
(Lurdes ontro) e do caçador pitosga (Rogério
Neves).
O
público responde bem à entrega dos actores e as gargalhadas são uma constante
ao longo de toda a representação, o que prova que não há, neste teatro,
qualquer divórcio com o público. O cenário e os adereços, naturalistas,
enquadram-se na peça (vai sendo tempo de tirar os vasos de plantas da ribalta)
pois, mais não parece ser de exigir. A iluminação poderia ter um uso mais
adequado se usada de forma criativa.
A
SIT proporciona um rápido, mas bom momento de teatro, a provar que este também
pode ser divertido sem cair no exagero das interpretações e na trapalhada das
imitações revisteiras.
1999.05.20 -
GARRETT EM TAVAREDE (A LINHA DO
OESTE)
A
secção cénica da SIT levou à cena, no passado sábado, em estreia e perante uma
sala repleta, a peça “Na Presença de Garrett”.
Num
cenário a improvisar um estúdio de televisão, onde não faltava sequer uma
câmara da TVT – Televisão de Tavarede – uma jornalista entrevista Almeida
Garrett, o qual vai desfiando o passar da sua história de escritor, dramaturgo,
político e combatente da liberdade.
As
referências às peças ou às obras, durante a entrevista, são motivo de
representação de pequenos quadros a elas respeitantes.
O
carácter pedagógico da peça, que visava apresentar o homem e a sua obra, são
patentes ao longo do espectáculo e nos textos cuidados que servem as falas das
personagens, às vezes demasiado eruditos, diga-se, como as opiniões sobre as
obras e as citações de mestres, de que é exemplo Vitorino Nemésio.
Ainda
pouco seguros nos seus papéis e com os movimentos a revelar algum nervosismo,
os amadores da SIT conseguiram manter um ritmo no que constitui um espectáculo
difícil e arrojado. De facto, querer mostrar tanto em tão pouco tempo, faz
sempre correr o risco de mostrar pouco ou nada.
As
representações dos excertos de peças ou romances de Garrett pecaram justamente
por aparecerem desgarrados e descarnados do seu contexto. É exemplo disto, o
episódio do “Falar verdade a mentir”, um quadro humorístico mas que, isolado, não
surtiu efeito. Um episódio do “Arco de Sant’Ana”, bem representado, perdeu-se
por falta de seguimento.
Julgamos
que a homenagem a Garrett teria sido mais proveitosa com a representação de uma
única peça do autor.
Uma
nota para o cenário e para as luzes. O primeiro, de uma inacreditável
vulgaridade e mau gosto, onde ficaria melhor um pano negro, ao passo que as
segundas mereceriam melhor aproveitamento.
Para
que não conhecer o teatro de Garrett vale a pena ir ver.
1999.05.27 -
“NA PRESENÇA DE GARRETT” (O DEVER)
No
Teatro Taborda de Brenha, uma sala de grandes tradições, teve lugar, em 21 de
Maio, no âmbito das XXII Jornadas de Teatro Amador da Figueira da Foz, a
representação da peça “Na Presença de Garrett” pela Sociedade de Instrução
Tavaredense.
Com
a casa à cunha para poder apreciar essa arte reconhecida saída da escola de
Mestre José Ribeiro, há que dizer que a expectativa não saiu defraudada,
escrevendo-se naquele palco uma das páginas mais brilhantes das jornadas com a
apresentação da peça com que Tavarede havia assinalado o bicentenário de
Almeida Garrett, esse vulto do teatro português.
E
a primeira palavra, de muito apreço, vai para a sensibilidade artística que
presidiu à escolha dos fragmentos das obras de Garrett – Viagens na minha
terra; Fala verdade a mentir; O Arco de Sant’Ana; Folhas Caídas; Romanceiro e
Frei Luís de Sousa – bem como na metodologia que serviu de fio condutor à
sequência dos “quadros” que deram corpo à peça e deixaram na assistência uma
visão da vida e obra de Almeida Garrett, trabalho meritório da responsabilidade
de Ilda Manuela Simões a quem ficou a dever-se, igualmente, o enquadramento
oportuno daquele desfiar de referências e no papel, determinante, de
apresentadora/entrevistadora de Garrett.
Outra
distinção, igualmente, para o trabalho de direcção de palco pela forma
profissional como se operaram as
mudanças de cena sem baixar o pano, aspecto de grande reflexo no êxito
do espectáculo e que, só por si, define o alto nível do grupo.
Na
presença de Garrett (a que João José Silva emprestou aprumo e diálogo com a
naturalidade e arte trazidas de muitos papéis) se passaram muitas situações a
que deram vida artistas de créditos firmados, casos de Joaninha e da avó – uma
cega cuidada ao pormenor do gesto -, o duplo de Garrett – José Medina, outra
relíquia da escola de Tavarede – entre outros que com tanta arte completaram o
ramo, naquela lição, ao vivo, de história onde o liberalismo de que Garrett foi
percursor e por onde passaram José da Silva Ribeiro como referencial de
Tavarede nesse movimento de esperança tão bem expresso naquele “E quem choramos
nós” bem marcante na estátua de Manuel Fernandes Tomás com que a Figueira
assinalou a sua vocação liberal ainda hoje actuante
Escolhida
para remate do espectáculo a obra mais representativa de Garrett, “Frei Luis de
Sousa” foi devolvida à cena trinta e tal anos depois de em Tavarede ter obtido
assinalável êxito; “exigida” por um espectador muito especial – oura relíquia
da SIT, João Medina – que voltou a assumir o dramatismo de Telmo Pais naquela
carga pesadíssima de emoção em que José Medina desempenhou com um realismo
admirável o papel-chave de Manuel de Sousa Coutinho a que Maria Clementina (uma
Madalena de nervos de aço) emprestou comoção entre uma Maria (Ana Filipa Paz
Mendes) dimensionada à medida da tragédia, e a que Rogério Neves (um Frei Jorge
à altura das circunstâncias) se juntou o dramatismo do Romeiro (José Luís do
Nascimento) e a benção do Prior (José Silva).
E
porque a SIT é uma escola, lá estiveram alguns jovens a provar que o teatro
tem... futuro.
Para
as jornadas ficou essa lição de bem representar e a certeza de que Tavarede
continua a ter cátedra no Teatro Amador do Concelho e um exemplo a nível
nacional.
E,
também, que esta feliz iniciativa do Lions Clube da Figueira não pode acabar!
1999.05.28 -
GARRETT REINCARNA EM TAVAREDE (O
FIGUEIRENSE)
No
ano em que se comemora o duplo centenário do nascimento do grande dramaturgo
não podia a “Capital do teatro” do nosso concelho deixar passar em claro tal
efeméride.
Fê-lo
de modo bem vincado e digno partindo de um texto adrede escrito, permitindo-se
ilustrar a representação com diversas incursões por algumas obras do polígrafo,
com especial realce para o Frei Luís de
Sousa, de que nos apresentou o terceiro acto, completo. Teve esta encenação
a particularidade de, em simultâneo, manter quase sempre em cena o próprio
Garrett, o qual ia respondendo a curioso e bem elaborado questionário de uma
arguta jornalista e, ao mesmo tempo, revendo-se, emocionado e feliz, na sua
própria obra, a dois séculos de distância.
Confirmando
o que alguém disse, muito justamente, ser Garrett “de entre todos os escritores
do século XIX o mais lido, o mais estudado e o mais amado pelas novas
gerações”, as autores do texto, dras. Ilda Manuela Simões e Maria Clementina
Reis Jorge Silva, tiveram a feliz ideia – como esclarecidas pedagogas que se
orgulham de ser – de pôr em palco vários alunos das nossas escolas, os quais,
além de breve troca de impressões com o presencial autor, declamaram alguns dos
seus mais significativos poemas.
Também
a História de Portugal, no que concerne à ligação ideológica do liberalismo
defendido e vivido por Garrett no segundo quartel do século XIX, com a
implantação da República em 1910, e, mais perto de nós, com a eclosão do 25
deAbril de 1974, foi feita uma abordagem oportuna e proficientemente pedagógica
e digna de registo.
Finalmente:
ante os tão demorados agradecimentos expressos pela responsável a todo um ror
de gente que contribuira para tal realização, fica a todos a certeza de que o
teatro mexe, verdadeiramente, em Tavarede. Parabéns!
1999.06.04 -
PARABÉNS, TAVAREDE (O FIGUEIRENSE)
Sou
apreciador de teatro já há muitos anos. Talvez mais de 50, e também há já
muitos anos comecei a ser admirador do teatro de Tavarede, mais precisamente da
SIT, aquela que é a grande escola de teatro do nosso concelho, e que teve como
professor o grande mestre José da Silva Ribeiro, meu grande e estremecido
amigo.
Assim,
decidi ir a Brenha ver o teatro. Fui porque era a SIT que subia ao palco, e por
outro lado porque tinha lido um artigo num jornal da nossa cidade, que me havia
deixado intrigado. Não podia ser verdade o que o artigo dizia. Para acreditar
teria de ir ver.
O
teatro começou, e não foram precisos muitos minutos para começar a pensar que
afinal o que tinha lido não passava de uma brincadeira de mau gosto. Os
amadores de Tavarede portaram-se condignamente. Foi uma apresentadora muito boa
que conduziu a entrevista a Garrett (parabéns João José Silva!). Os quadros e
textos muito bem escolhidos (ainda que alguns necessitassem de um pouco mais de
texto para um melhor enquadramento) e as interpretações foram de alto nível.
Parabéns àquela criada do “Falar Verdade a Mentir” que. com um à vontade fora
de série, fazia inveja a muitos profissionais. As meninas do “Arco de Sant’Ana”
também com grandes interpretações.
Seguiram-se
outras cenas, mas vou apenas referir-me a mais uma obra: “o “Frei Luís de
Sousa”. Foi um interpretação majestosa por parte de todos os amadores. Garrett
teria concerteza gostado!Assim, palavras para quê?
Ah!
já me esquecia de dizer que fui a Lisboa, ainda há poucos meses, ver o “Falar
Verdade a Mentir” e o “Frei Luís de Sousa”, e só posso dizer que Tavarede está
de parabéns, e que não se envergonharia se representasse ao lado dos
profissionais do teatro nacional.
Força
e continuem, pois a “palavras loucas, orelhas moucas”.
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