Não foi muito duradoira a estadia do
Conde na nossa terra. Regressou novamente a Trancoso, onde faleceu no dia 9 de
Julho de 1903. Do segundo casamento nasceram 6 filhos: D. Maria Teresa (1876),
D. Maria Joana (1878), Francisco (1879), D. Maria Emília (1879), João (1881) e
D. Maria Antónia (1883). A Condessa de Tavarede faleceu em Trancoso a 1 de
Março de 1900.
Quando do falecimento do Conde de Tavarede, havia muitas
dívidas para pagar, certamente provenientes, em grande parte, das obras
mandadas fazer em Tavarede. Só ao Crédito Predial havia uma dívida de 10 contos
de reis. No património da herança do Conde D. João incluiam-se os foros da
Figueira da Foz, no valor de 4 254 770 reis. Estes representavam o último elo
de uma ligação há muito condenada com Tavarede. Viriam a ser partilhados com o
restante da herança. Quando isto aconteceu, em 1905, extinguiu-se aquela
relação, após ter durado mais de trezentos e sessenta anos. Pode-se assim dizer
que, com o falecimento do terceiro Conde, desapareceu a Casa de Tavarede,
fundada em 1540 por António Fernandes de Quadros. (A Casa de Tavarede)
…
E rememorando o passado, transformando numa saudade mista de
sorrisos e de lágrimas, a lembrança grata da figura do Conde de Tavarede, a
gente encontra logo a explicação do motivo porque Trancoso se civilizava e
aristocratizava noutro tempo e ainda hoje nos atrai e prende à sua
sociabilidade e convivência. É que na terra onde vivesse o ilustre neto do
Marquês de Pombal não podia deixar de ser influenciada pela sua individualidade.
Fidalgo no sangue, no aprumo, na ilustração, no carácter, no sentimento e
invariável nas acções, o grande amigo imprimia feição a Trancoso, dava-lhe a
sua vida, do seu tom, dos seus nervos, da sua qualificação social, anímica e
mental: alma de luz, propagava luz. (A Folha de Trancoso – 1 de Novembro
de 1914)
Resta
escrever alguma coisa da passagem do Conde de Tavarede pela nossa terra. As
qualidades referidas no jornal trancosense acima reproduzidas, também estiveram
bem patentes durante a sua curta estadia na terra do limonete. Entre as suas
várias actividades, não posso deixar de referir que foi o primeiro presidente
da direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz.
Criou
grandes amizades em Tavarede e na Figueira. A sua morte foi deveras lamentada
nestas localidades. A sua casa, em Tavarede, o solar onde mandou fazer obras
bastante criticadas pelo seu estilo, já então não pertencia à família Quadros.
Um
jornal figueirense noticiava, em Abril de 1898, que ‘segundo nos informaram, o solar e a quinta adjunta que o sr.
Conde possuia na povoação donde tomaram o nome’ havia sido vendida. Foi seu
comprador Luís João Rosa, que adquiriu os ditos imóveis pela importância de cinco contos de reis.
Antes de terminar, quero aqui
recordar um episódio ocorrido naquela ocasião. “…….. Quando o conde de Tavarede
resolveu vender a casa que aqui tinha (o Paço), e onde havia mobília valiosa, o
nosso Papa-jantares (alcunha
atribuída ao padre Costa e Silva, não sei a que propósito), dirigiu-se logo a
Trancoso a falar com ele, afim de lhe pedir um guarda-roupa para uma aplicação
religiosa………..”. O conde, que era uma pessoa religiosa e bastante generosa,
vendo o fim a que se destinava essa peça de mobília, não hesitou e de imediato
escreveu um pequeno bilhete, dirigido ao seu feitor, que tinha mandado a Tavarede
precisamente para embalar todas as mobílias existentes no palácio, e no qual
ordenava para “…. lhe dar o que fosse preciso para a igreja”.
…Realizada, entretanto,
a venda do palácio e da quinta, o conde veio à Figueira para ultimar tudo.
Depois de tudo tratado com a venda, foi o conde a Tavarede para concluir as
providências que havia ordenado ao seu feitor, quanto à embalagem da mobília,
que tencionava enviar, pelo caminho de ferro, para a sua casa de Trancoso.
Calcule-se, agora, o seu espanto quando o seu empregado lhe disse que a mobília
havia-a levado o padre Joaquim da Costa e Silva, a quem a havia entregado em
obediência às ordens do sr. conde, conforme o bilhete que lhe mandou e no qual
dizia para “entregar o que fosse preciso para a igreja”.
Após dar umas voltas
pelas salas, então já praticamente vazias, o conde, vendo que o padre, que lhe
tinha pedido unicamente um guarda-roupa, lhe levara as principais peças de
mobília que ainda cá tinha, teve o seguinte desabafo: “se a casa tivesse rodas
também era capaz de a levar para casa dele”!...
Acredito,
sinceramente, que haverá demasiado exagêro. Bastará recordar que, quando da
deslocação para Trancoso, o primeiro Conde de Tavarede, com a colaboração de
seu sogro, levaram tudo o que de valioso existia no solar, incluindo
determinadas mobílias. É certo que não terão deixado a casa completamente
vazia, pois recorde-se que, depois daquela mudança, ainda D. Antónia Madalena
para aqui veio residir algum tempo.
Nem
o primeiro, nem o segundo Conde aqui habitaram com suas famílias. Mesmo o
terceiro, e último, que mandou remodelar o solar, aqui residiu muito tempo. Mas
nesse pouco tempo, e durante os períodos de férias aqui passadas, com toda a
certeza que teriam as suas comodidades que, embora mínimas, incluiriam algumas
mobílias. Mas não tantas como o solícito correspondente nos faz crer… Os
tavaredenses sempre pecaram um pouco pelo exagêro…
Sem comentários:
Enviar um comentário